quarta-feira, 27 de novembro de 2013

memórias literárias - 129 - A NUVEM DE TESTEMUNHAS


129 - A NUVEM
DE
TESTEMUNHAS
 
Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, (Hb 12:1)
 
O texto bíblico acima nos fala sobre uma nuvem de testemunhas. Que nuvem seria essa? Uma nuvem de crentes que já morreram e que estão a olhar para nós? Certo dia ouvi um pastor pregando tal opinião e lamentei profundamente o seu desconhecimento bíblico. É impossível que crentes mortos acompanhem e "torçam" pela nossa vitória e pela continuidade de nossa carreira. Champlim, o comentarista universalista, assim compreende. Ledo engano! As muitas letras fazem os comentaristas orgulhosos delirarem num espiritismo velado! Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. (Ec 9:5). Saul foi condenado pelo Senhor por ter consultado médiuns, por ter conversado com um suposto "samuel", inexistente e falso. E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou. (1Sm 28:14). Saul "entendeu" que era Samuel; entendeu errado, como quase tudo que fez na vida. Sobre contato com os mortos, vemos a impossibilidade desse contato na revelação do rico e de Lázaro: ao solicitar a volta de Lázaro para a Terra, para orientar os familiares a não irem para o inferno, Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. (Lc 16:29). Quis ele dizer: têm a Bíblia (Moisés, o Pentateuco, e os Profetas, 4 maiores e 12 menores, o Velho Testamento). Conclusão: não há contato entre os dois mundos.
 
Então quem seriam as testemunhas da nuvem? Os crentes que venceram e que deixaram seus sólidos exemplos de heroísmo, de fé, de abnegação, de resistência às tentações, de amor a Deus, de coragem para lutar, de suprimento de tudo quando nada possuiam. É o testemunho dos heróis da fé em todos os tempos.
 
Urge perguntarmos: e o que essas testemunhas que nos rodeiam como nuvem dizem?
 
Elas dizem:
 
1) Suportem as provações! Jó foi um exemplo disso. Aguentou toda sorte de sofrimentos. No final obteve a sua vitória.
 
2) Suportem as tentações! José, no Egito, suportou as insinuações da mulher de Potifar. E Jesus, no monte, foi tentado por Satanás, mas aguentou com vitória e maestria. Eles venceram e nós poderemos vencer também.
 
3) Suportem as enfermidades! Paulo deveria ter forte problema visual e Timóteo problemas estomacais. No entanto foram vasos de bênção nas mãos do Senhor maravilhoso!
 
4) Tenham o suprimento de todas as suas necessidades, mesmo que nada possuam! Elias comeu do bolo que a viúva lhe ofereceu e teve o suprimento de todas as suas necessidades. Na seca comeu carne e pão trazidas pelos corvos e bebeu água do rego que passava junto à sua habitação.
 
5) Vençam mesmo quando o inimigo for mais forte do que vocês! Maior é Deus! Assim Gideão com 300 venceu um exército de milhares. Assim Davi venceu inúmeras batalhas. Assim Israel conseguiu derrubar as muralhas de Canaã.
 
6) Perseverem em oração e as respostas chegarão! Foi dessa forma que Daniel, o profeta político, conseguiu interpretar a tremenda visão do futuro; ele aguardou em abstinência alimentar e consagração profunda 21 dias, até que chegasse dos céus a resposta às indagações feitas.
 
7) Suportem as perseguições! Paulo e Silas, Barnabé e Timóteo, tantos servos do Senhor, suportaram perseguições cruéis, mas suas vidas estão escondidas em Cristo, com Deus!
 
8)  Semeiem a Palavra e o fruto virá abundantemente! Foi assim com os 12 apóstolos: num ministério tão pequeno, propagaram-se em 120, em 3 mil, em 5 mil e depois em número sem conta, a ponto de serem chamados "perturbadores de todo o mundo".
 
9) Dêem graças em toda e qualquer circunstância, pois o Senhor está edificando a fé! Moisés passou 40 anos no deserto, sendo preparado pelo Senhor para libertar Israel do Egito. Davi teve que fugir de Israel e viver na Caverna de Adulão, até que chegou o tempo de seu reinado e glória. Abraão teve que levar seu filho Isaque para ser  sacrificado na montanha, mesmo que acreditasse em sua posterior ressurreição; e assim todos os servos do Senhor lutaram, deram graças e venceram.
 
10) Aguardem a glória que está por vir! Os heróis da fé sabiam que este mundo jazia no maligno e esperavam uma pátria além da morte, uma terra nova, santa, pura, uma terra onde não existisse morte, pranto, doença ou saudade. Eles já venceram e estão com Cristo. Nós também venceremos e com Ele reinaremos!
 
Eis a grande nuvem de testemunhas! Pedro, Paulo, Abraão, Noé, Moisés, Tiago, João, Maria, Débora, Jesus. Suas vidas inspiram-nos. Seus exemplos ensinam-nos. Sua fé motiva-nos.
 
Tenhamos paciência e corramos a carreira que nos foi proposta, sem embaraços que nos derrubem. Na nossa paciência, fidelidade e imitação das testemunhas do passado, obteremos a nossa vitória. E um dia serviremos também de modelo para novos crentes, que serão inspirados com a nossa própria vida.
 
Para a glória de Deus.
 
Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 128 - SE EU FALAR UM PALAVRÃO


 128 - SE EU FALAR UM PALAVRÃO

São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. (Lc 7:32)

Vivemos um tempo esdrúxulo! É a época do coroamento da mediocridade! A facilidade com que as informações chegam para nós tornou tudo banal. Não há surpresa alguma em ouvirmos sobre um assassinato, uma guerra, uma enchente, uma crise. Outrossim, notícias normais ou de coisas boas nem sequer são lidas! Quem gasta tempo para ler algo do tipo "Jardim Floresce na Avenida Principal", "Escola Celebra 100 dias Sem Greve" ou "Empresa Pagou o 13o. Integralmente a todos os funcionários?"

Isso nos faz lembrar o texto bíblico citado por Jesus como ditado popular em sua época: meninos que reclamavam da falta de atenção. Se cantavam, ninguém chorava; se tocavam, ninguém dançava. Seu significado era claro: ninguém olhava para eles.

E o que essa geração medíocre repleta de tecnologia está a fazer? Buscando atenção. Hoje, diferentemente dos tempos passados, temos comunicações imediatas: SMS para celulares/telemóveis, temos e-mails e internet, temos facebook , temos chats de toda espécie, e temos vídeos. Ah, sim, as pessoas querem ver, ver coisas diferentes, coisas que chamem a atenção! E para tanto, usam dos meios mais esdrúxulos: nudez, sexo, violência e palavrões.

Sim. Basta alguém soltar um palavrão e a popularidade fica garantida. Basta alguém tirar a roupa e o número de "curtições" no facebook ou de vezes acessadas no youtube sobe às alturas. Logo os programas televisivos convidam as celebridades de um palavrão para dar entrevistas e celebrar o sucesso. Do mesmo jeito que vieram, se vão: sucessos temporários. Se forem mulheres que xingaram, então passam para o segundo ato: tiram a roupa. Nova celebração da fama! E daí para tornar-se apresentadora de programa de tv é um passo mais curto. Ou então grupos criam canais de vídeos ridículos, chulos, torpes, muitos deles evangélicos, para zombar de tudo e de todos, sem qualquer censura. E, em havendo palavrões, ficam mais populares ainda.

A moda é tão extensa que já tomou conta dos púlpitos! Pregadores que querem a celebridade buscam um estilo despojado, esportivo, popular, e, principalmente, um linguajar esdrúxulo, feio, jocoso e com maliciosidade evidente! E como se tornam populares! Como são celebrados!

Será que o mundo enlouqueceu? Será que todos ficaram insanos? "Parem o mundo que eu quero descer!", é o que sentimos na alma ao contemplarmos tamanha nivelação ao mais baixo nível! Mas o mundo não mudou. Ele é podre desde a entrada do pecado no mundo. 

Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno. (1Jo 5:19); E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. (1Jo 2:17); Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. (1Jo 2:15); Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! (Is 5:20)

O mundo não presta. A imprensa de lazer está construída no pecado, na maldade, nos palavrões e na vida despida de compromissos diante do Senhor. Ontem, dia 26 de novembro de 2013, vimos claramente tais manifestações na celebração do Rio Sem Preconceito. Ali estavam sendo premiados todos os que edificam suas vidas, carreiras e sucesso em palavrões - e quero conceituar "palavrão" como uma vida de contestação aos valores bíblicos, cristãos e morais, a agressão à família e o império da promiscuidade, o império do hedonismo e a declaração da antinomia. Ali estava o escritor de novelas celebrando a homossexualidade. Estavam as cantoras, atores, profissionais celebrando a nudez, a promiscuidade, a androgenia,  o racismo disfarçado de não-preconceito (conforme uma mãe-de-santo a declarar na ONU que  não há brancos no Brasil, como se isso fosse uma declaração de não-preconceito). Ali estava o deputado-celebridade, que ganhou fama num "reality show" e fez-se a voz dos que falam palavrões.

Isso faz sucesso. Ser gay faz sucesso. Ser indecente faz sucesso. Aparecer nu faz sucesso. O divórcio faz sucesso. Brigar em público faz sucesso. E ser um pregador universalista, de linguagem chula, sem compromisso com a Bíblia faz sucesso.

Que bom que não ficaremos neste mundo, nós, o os que nos incomodamos com essa realidade medonha! 

Jesus disse: Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. (Jo 18:36). 

Que bom que haverá um novo lugar! 

E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. (Ap 21:1). 

Que bom que haverá seleção de habitantes no céu! 

Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira. (Ap 22:15).

Enquanto estiver por aqui, serei representante do Reino de lá. Não me intimidarei e nem reduzirei os meus valores no nível mais baixo. Manterei um padrão que pode não dar "ibope", pode não trazer fama, dinheiro, poder ou fazer de mim uma celebridade, mas certamente me manterá em comunhão com Aquele que me salvou, salva e salvará para sempre! 

Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos. (1Co 16:13); Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; (1Pe 2:11)

Que Deus nos ajude a não precisarmos falar nenhum palavrão.

Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 127 - AS TRÊS ATITUDES DO LEPROSO

 
127 - AS TRÊS ATITUDES
DO LEPROSO
 
E aconteceu que, quando estava numa daquelas cidades, eis que um homem cheio de lepra, vendo a Jesus, prostrou-se sobre o rosto, e rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me. E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, sê limpo. E logo a lepra desapareceu dele. (Lc 5:12-13)
 
Encanta-me a sensibilidade de Jesus. Há muito tempo tive oportunidade de pregar sobre o tema. Havia muitas viúvas a perder filhos na época do Senhor. Mas nenhuma passara por ele a levar o filho morto para o cemitério. Em Naim uma viúva passou; encaminhava-se ao cemitério para sepultar o filho falecido. Cristo viu aquela mãe sofrida. Olhou para a sua face carcomida pela dor, pelo pranto, pelo cansaço. Avaliou o custo desse jovem ceifado em tenra idade, provavelmente seu ajudador e sustentador. Essa viúva nada pediu. Jesus ofereceu-lhe o consolo. "Não chores!" E, em seguida, ordenou ao defunto para que se levantasse. O rapaz ressuscitou e essa mãe recobrou o filho perdido. Que sensibilidade, que amor, que delicadeza a do Senhor!
 
Neste caso, um leproso cruza o seu caminho. Leprosos eram isolados em seus territórios como seres repugnantes e deploráveis. Sua comida era colocada à distância. Suas vestes eram trapos que facilmente se identificavam. Se viessem no meio da população provocariam grande tumulto, sob gritos desesperados da multidão: "leproso! leproso!". Enquanto o leproso fosse o vizinho ou o desconhecido, era algo natural. O difícil era quando a lepra vitimava a mãe, o pai, o filho, a esposa, o marido! Que sofrimento! Que angústia, que dor! Um romancista imaginou algo assim ao escrever seu conto "Ben-Hur", vitimando mãe e irmã com a lepra marginalizante.  Conta-nos a história dos batistas no Brasil que o Dr. William Edwin Entzminger, missionário dos mais consagrados e operosos no início do século XX, adquiriu morféia e observou que os seus mais próximos amigos se afastavam, com medo de adoecerem também. Sentiu na própria pele a lepra física e a lepra da rejeição. No caso do Dr. Entzminger, tempos depois, numa choupana isolada nos Estados Unidos, Deus ouviu a sua súplica e ele foi miraculosamente curado, voltando ao Brasil para continuar a sua obra monumental (é o segundo maior compositor de hinos do Cantor Cristão).
 
Um leproso se aproxima de Jesus. Ele vai até o Salvador. Ele o busca. Ele o procura. Assim deve ser o pecador, cuja lepra não é física, mas espiritual (o pecado é comparado à lepra da alma). Deve-se ir até Jesus. Jesus Cristo é a única esperança, o único e legítimo curador da alma. No caso do homem leproso, ele foi ao encontro de Jesus, conforme lemos no texto paralelo de Mateus 8.2.
 
Esse leproso prostra-se diante de Jesus. Ele não vai até o Salvador com ares de quem exige, de quem ordena, de quem manda. Triste é ver pregadores famosos ensinando a determinação das coisas com ares de grande sabedoria, espiritualidade e poder. Nem em Jesus vemos tamanha petulância! No Getsêmani, próximo da hora de sua dor e crucificação, não vemos Cristo dizendo: "Eu determino em meu nome, que este cálice seja afastado sem que eu o beba!"; pelo contrário, vemo-lo prostrado, orando ao Pai, dizendo humildemente: "Pai, se possível, afasta de mim esse cálice; todavia, não se faça como eu quero, mas como tu queres". O leproso de nosso texto vai com esse espírito ao Salvador. Prostra-se. Essa é a atitude com a qual devemos buscar a Deus em nossos encontros diários! Prostrar-se é mais que ajoelhar-se. Prostrar-se é deitar de bruços, vencido, absolutamente dominado, completamente disponível e sem restrições. É reconhecer no outro a completa e absoluta autoridade. Prostrar-se diante de Deus tem que começar na alma, não apenas no corpo. Há muita gente prostrada de corpo, mas ereta na alma, fingindo humildade e extravasando arrogância. O leproso não; ele prostrou-se por dentro.
 
Sua oração denota absoluta dependência, confissão explícita de que ali era a sua última esperança, única alternativa: "se quiseres podes purificar-me!" Não impõe, não obriga, mas confessa: somente Jesus poderia trazer-lhe libertação daquela moléstia horrenda e cruel. A atitude do leproso deve ser também a do pecador que busca em Cristo o perdão para os seus pecados e a salvação para a sua alma! Converti-me ao Senhor cantando isso:
"Jesus, Senhor, me achego a Ti,
Ó, da-me alívio mesmo aqui;
O teu favor estende a mim,
Aceita um pecador!
 
Eu venho como estou; eu venho como estou;
Porque Jesus por mim morreu, eu venho como estou!" (Hino 270 CC)
 
Quem se aproxima do Senhor e busca nEle o perdão para os pecados tem que reconhecê-lo como última e única alternativa: somente Ele pode curar a alma, somente Ele pode perdoar os pecados; somente Ele pode dar vida eterna! No caso do leproso Jesus era o único remédio para a sua enfermidade e ele o buscou de todo o coração.
 
E qual foi a reação de Jesus? "Quero! Sê limpo!" Oh, graça inefável, ó, Salvador bendito e benfazejo! Como é doce e terno o cuidado e o amor do Salvador! Ele quis curá-lo! E curou-o gloriosa e miraculosamente! Assim também ocorre com o pecador arrependido que busca no Senhor o perdão de todos os seus pecados! Foi Cristo quem disse: Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. (Jo 6:37). Ele acolhe o arrependido pecador, o limpa e o transforma.
 
Assim, na atitude do leproso súplice, encontramos as três atitudes que o curaram, atitudes que podem salvar e libertar a todo pecador também:
 
1) O leproso foi a Jesus. É preciso ir até Jesus, buscá-lo, invocá-lo, procurá-lo.
2) O leproso prostrou-se diante de Jesus. É necessário render-se aos pés de Cristo, reconhecendo Sua autoridade e a nossa absoluta impotência.
3) O leproso clamou com toda a determinação de sua alma, reconhecendo em Cristo a única saída. É preciso ir até Jesus reconhecendo-O como a única esperança.
 
O resultado: cura. O nosso resultado: perdão dos pecados. E, se Ele desejar, se for para a Sua glória, até a saúde Ele pode nos recobrar.
 
Busquemos ao Senhor com a atitude do leproso curado.
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, SP, Brasil

memórias literárias - 126 - AS ESMOLAS DE CORNÉLIO


126 - AS ESMOLAS DE
CORNÉLIO
 
E eis que diante de mim se apresentou um homem com vestes resplandecentes, e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas estão em memória diante de Deus. (At 10:31)
 
O texto bíblico citado trata de um homem chamado Cornélio. É dito sobre ele que era temente a Deus com toda a sua casa; fazia esmolas ao povo e de continuo orava ao Senhor. Em um desses encontros com Deus um anjo lhe aparece e diz: suas orações foram ouvidas e suas esmolas foram lembradas. Na sequência do texto o anjo lhe orienta sobre o que fazer: deveria buscar a Pedro, que lhe anunciaria as boas-novas de salvação. Interessante observação: o anjo não lhe prega o evangelho, pois não era de sua responsabilidade portá-las. Diz-nos a Bíblia que os anjos até que gostariam de fazê-lo, mas o privilégio foi confiado aos homens convertidos.
 
Deus conhece os que são sinceros, independentemente da fé que tenham. Ele sabe quem tem buscado uma verdadeira comunhão com Ele. E, segundo o que entendemos do texto, é capaz de intervir na história dessas pessoas e lhes apontar o verdadeiro caminho da salvação. Não é qualquer caminho, qualquer religião, qualquer fé que salva. Mas quem é sincero em sua busca de Deus acaba por encontrar o rumo da verdade em Cristo Jesus. Foi o que aconteceu com Cornélio, um ignorante sobre Jesus Cristo: Deus lhe manda buscar um evangelista.
 
Isso me faz lembrar do ex-padre Aníbal Pereira dos Reis. Ele amava a Deus, era religioso ao extremo, mas não conhecia a verdadeira boa-nova de salvação. Deus se revelou a ele. Também Martinho Lutero: sua busca teve êxito, pois foi guiado a encontrar na carta aos Romanos a direção da verdadeira fé que salva independentemente das obras. Posso citar o meu caso: um religioso sincero, consagrado, mas perdido nos próprios pecados. Ainda adolescente Deus tocou em meu coração, mostrando-me que não haveria outra encarnação para resolver-me diante do Criador. Foi quanto através de um folheto ("Previsão Científica do Fim do Mundo") fui conduzido à reflexão bíblica e ganho para Jesus, através da instrumentalidade do Pastor Timofei Diacov, a quem serei eternamente grato.
 
Deus vê as nossas esmolas. Aliás, na maioria dos casos, ninguém precisa conhecê-las. Nem a mão direita deve dizer à esquerda. Ofertas e dízimos sim, são conhecidos (como a viúva pobre, vista por todos, inclusive por Jesus). Mas ainda que sejam ofertas ou esmolas desconhecidas pelos homens, no livro de Deus são anotadas uma por uma. Ele conhece cada uma delas. Sabe com que intenção foram dadas. Sabe qual foi a motivação delas. Se foi mera ostentação de falsa piedade, se foi busca de notoriedade, se foi para obter admiração pública, ou se foi motivada por um coração misericordioso e piedoso. No rol das esmolas entra também a nossa fidelidade à Obra de Deus e a nossa generosidade para com o trabalho do Senhor. Ele conhece a nossa disposição. Muitas vezes 10 reais de um assalariado, ofertados com amor e com muita devoção são tremendamente mais preciosos do que 10 mil reais entregues mecanicamente. Quantos maços de verdura, quilos de arroz, roupas usadas, casas varridas, jardins aparados, não foram ofertados com tamanha dedicação? Segundo a Bíblia, nenhum deles passa despercebido pelo Senhor.
 
Deus ouve as nossas orações. É importante que se diga: é a única pessoa que realmente importa ouvir-nos. Pena que muitas igrejas não pensem assim, e que muitos pastores não ensinem isso às suas igrejas. Quando oram fazem questão de dar um microfone e ligarem um som altíssimo, com alguém a esgoelar-s, berrando como um jumento ferido, envergonhando o evangelho, transformando a Casa de Oração numa casa de insanos e mal educados! Pensam que quanto mais se grita mais se é ouvido por Deus. Talvez porque nem creiam num Deus que ouve; querem é que o povo escute. Mas Cornélio mostrou por sua prática que Deus o ouvia no recôndito privado do seu lar, orações que só ele e Deus conheciam. Deus ouve quando oramos!
 
Esmolar, ofertar e orar não salvam. Cornélio não estava salvo por ser um homem temente a Deus. Ele precisava inteirar-se do único caminho de vida eterna, Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores. Para isso foi preciso chamar a Pedro. Se o anjo lhe tivesse anunciado as boas-novas certamente teria pecado contra Deus, ou, certamente, teria mentido ao pobre pecador. Anjos não devem pregar mensagem de salvação. Mas podem ajudar, indicar e facilitar o contato entre um evangelista e um pecador perdido. Quantas vezes já vimos isso acontecer! Quantas pessoas já foram colocadas no caminho de mensageiros de boas-novas! É nítida a ação angelical em tais casos! Mas é notório também que Cornélio só foi salvo quando ouviu a Palavra e recebeu-a em seu coração.
 
Como estão as suas esmolas? Como vai a sua generosidade? Como anda o seu bolso? Deus está vendo e anotando o uso que faz do dinheiro que Ele permite chegar às suas mãos. Poderia um anjo dizer-lhe: "suas esmolas foram anotadas no Céu?"
 
Como estão as suas orações? São honestas? São constantes? São sinceras? Deus as está ouvindo. E se forem relevantes serão certamente atendidas! Ele não as esquece! Ele não as ignora! Mas pesa a honestidade de cada uma delas e decide como e quando respondê-las. Há orações em sua vida? Ou não passam de fórmulas bobas de alívio de consciência, do tipo "obrigado, Senhor pelo alimento", ou "dá-me uma boa noite de sono?" Agradecer o pão e pedir pela noite é bom, mas só isso não se constitui numa oração relevante; pode ser circunstancial, mas não pode ser rotineira na vida de quem diz orar de verdade. Coração quebrantado, alma dedicada, témpo despendido são condições necessárias para que, de fato, as orações sejam chamdas de "oração" diante do memorial de Deus.
 
Deus viu a esmola de Cornélio, Deus ouviu suas súplicas. Ele verá a sua dedicação e também atenderá às suas orações.
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, SP, Brasil

memórias literárias - 125 - QUITÉRIA & SOLEDADE

 
125 - QUITÉRIA
& SOLEDADE
 
 
QUITÉRIA era uma crente fiel. Convertera-se em idade adulta, já casada, viúva, e batizara-se numa igreja batista tradicional. Seu marido chegou a converter-se, mas faleceu logo após o fato. Quitéria, então, dedicou-se ao Senhor com amor, empenho e completa consagração. Enquanto podia locomover-se, não faltava a nenhum culto. Estava sempre nos primeiros bancos. Frequentava a Escola Bíblica Dominical, participava da Sociedade de Senhoras, era dizimista consagrada, ofertante voluntária e hospedava com amor e dedicação a quem procurava o seu lar. Seus filhos também eram crentes. Mas Quitéria envelheceu e suas pernas não deram mais a resposta necessária. No começo ainda andava pela casa. Depois, só de cadeira de rodas. E, por último, ficou restrita ao seu leito de dor. Quitéria não ficou descrente. Pelo contrário, empenhou-se muito mais: pedia cultos em casa, enviava seus dízimos para a igreja, convidava o pastor para almoçar, recebia as senhoras para estudos em casa. Até pedia para que gravassem as mensagens do pastor para que pudesse ouvir em seu aparelho de som. O seu telefone tornou-se um ministério: orava com todos, ajudava, instruía, encorajava. E estava sempre feliz, feliz com Cristo, feliz com Jesus.
 
SOLEDADE também conheceu o evangelho. Estava ao lado de seu esposo. Juntos consagraram-se ao serviço do Reino. Já em idade avançada, tudo faziam para participar das atividades. Eram muito festeiros, muito alegres, mas também solidários e tremendamente amorosos. Seu esposo morreu e, com ele, o empenho no Reino do Senhor. Aos poucos Soledade foi perdendo o interesse pela igreja. Dizia-se muito crente, falava de forma agradável com quem a procurasse para conversar. Mas não sentia mais a alegria e o desejo de servir a Deus. Deixou de cooperar com a sua igreja. Não dizimava, não ia aos cultos e sempre tinha uma boa desculpa: falta de condução, falta de saúde, falta de mobilidade. Mas na verdade era falta de temor do Senhor mesmo: sua hidroginástica, almoços no shoping e churrascos familiares não faltavam.
 
Quitéria morreu. Soledade também. Ambas foram sepultadas no mesmo cemitério. Uma lápide parecida, flores semelhantes.
 
Mas o destino de ambas pode ter sido absolutamente distinto.
 
Quitéria amou ao Senhor de todo o seu coração e a Ele deu-se por completo. Mesmo com o marido falecido ela não abortou Cristo de sua vida. Pelo contrário, dedicou-se muito mais. Quitéria descansou no Senhor e ainda hoje, depois de muitos anos passados, em sua igreja o seu nome continua sendo citado, lembrado e celebrado. Ela deixou frutos e saudades. Saudades intensas de sua igreja. Saudades no coração de seu pastor. Dela dão testemunho os irmãos, citando as palavras bíblicas: "E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem." (Ap 14:13)
 
Soledade coxeou entre dois senhores: o Salvador e o mundo. Já há muito ela não fazia falta na igreja, uma vez que a congregação aprendera a viver sem ela. Soledade deixou uma grande dúvida no coração de seus irmãos de igreja: será que ela realmente era convertida? Será que ela amava ao Senhor? Por que só servia a Deus quando o seu marido era vivo? Por que tantas desculpas? Por que tinha tempo para a vida social e para si própria e não tinha tempo ou condição de servir ao Senhor? Ao invés de saudades e admiração Soledade deixou uma tristeza no coração da igreja: não tinham certeza se sua fé era real. Aliás, os sintomas evidenciavam uma fé vã e temporária, não a fé salvífica eterna e transformadora. Restou para a igreja as lembranças de muitos anos atrás, quando ela e o marido serviam a Deus. Só isso, mais nada.
 
Essas mulheres realmente existiram, mas com nomes diferentes. Algumas coisas são reais, outras apenas fictícias. Mas o comportamento de ambas é o retrato do comportamento de tantas, esparramadas por nossas igrejas. A idade e as condições físicas não são sinônimo de incapacidade espiritual e falta de comunhão. Um crente verdadeiro não se afasta do Senhor, não perde a comunhão da igreja e nem deixa de ser fiel. Já os crentes falsos são assim, possuem uma fé decadente. "Não tenho carro". Use um ônibus! "Não tem ônibus". Peça carona! "Não tenho mobilidade física". Solicite um culto em casa! "Meu dinheiro é pouco". Seja fiel no pouco, não só no muito! "Estou entrevado" Escreva, telefone, chame o pastor ou os irmãos e atue! Desculpas, desculpas, desculpas! Para estes cumpre-se  a Palavra: "Assim sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua necessidade como um homem armado." (Pv 6:11)
 
As Quitérias morrem e deixam saudades. As Soledades morrem e são esquecidas. E isso está na Bíblia: "E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1Jo 2:17).
 
Para a igreja, Quitéria está no primeiro andar, no aguardo da grande ressurreição do Senhor; ela é uma vencedora na fé. Ela deixou um rastro de luz pelo caminho e seu nome está escrito nos Céus.
 
Quanto a Soledade, nem a igreja e nem ninguém pode dizer com tranquilidade onde ela está. Talvez o restaurante e o shopping possam afirmar com certeza: a cliente não voltou mais e já a substituimos. Os festeiros poderão dizer: as festinhas que ela nos oferecia acabaram e já encontramos outros realizadores. Mas onde estará hoje Soledade? Só Deus sabe. Talvez até saibamos, mas gostaríamos de não saber...Triste destino de uma crente nominal!
 
Foi o Senhor mesmo quem disse: "Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." (Mt 7:20)
 
Que Deus converta as Soledades de hoje, transformando-as em Quitérias. de Jesus!
 

Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...