quarta-feira, 25 de março de 2015

memórias literárias - 163 - CORAÇÕES ANGUSTIADOS


CORAÇÕES

ANGUSTIADOS
163
Talvez ninguém veja. Aliás, quem vê diz que é manha, dengo, falta do que fazer. Outros dão receitas para curar a angústia: rir, gritar, viajar, passear, namorar, acampar, navegar, pescar etc. Há ainda aqueles que insistem em dizer que é obra de Satanás, que o cristão não pode sentir angústia; acabam por nos deixar com a consciência pesada!
A verdade é que a ANGÚSTIA é uma realidade, quer queiramos ou não. Disse o sábio Salomão: "Até no riso o coração sente dor e o fim da alegria é tristeza." (Pv 14:13). O próprio Senhor Jesus angustiou-se, quando estava prestes a passar pelo Calvário. Disse Ele: "Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!" (Lc 12:50). Doutra feita, próximo de sua prisão, vimos a sua angústia: "E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se." (Mc 14:33)
A angústia é uma ansiedade acompanhada de dor e sentimentos diversos. Geralmente precede fatos ou segue tragédias vividas. A angústia é íntima, é própria de um ser, não sendo possível que todos a experimentem na mesma medida; por isso que se diz no adágio popular: "pimenta nos olhos alheios é colírio". Só nós sabemos o quanto sente o coração!
Às vezes a angústia é pelo luto ou pela realidade do luto iminente. Como dói! Como é triste aguardar a partida de quem se ama! O sentimento profundo de impotência, de protesto, de súplica, vem banhado de lágrimas e dores. Quando é luto de quem se foi, então o vazio da ausência, da falta do ente querido, da pequenez diante da morte, traz uma angústia tão real, tão profunda que é como se conseguíssemos pegá-las na mão, como se pudéssemos apalpá-la, como as trevas no Egito, no tempo das dez pragas!
Outras vezes é por um sentimento quebrado, uma aliança desfeita, um sonho que transmutou-se em quimera, em algo impossível. Talvez um emprego perdido, um concurso reprovado, uma viagem cancelada, um encontro desastroso, uma separação matrimonial, um filho que fugiu etc. Há tantas coisas que podem dar errado e podem gerar angústia!
Há a angústia por causa da injustiça. Um sentimento íntimo de profunda pequenez ante tanta perversidade no mundo, talvez em algum caso onde o erro foi recompensado e o acerto foi punido. Que angústia no coração! Um processo justo perdido, uma mentira acreditada, uma herança roubada, uma opinião desprezada, uma prisão injusta, um ladrão eleito, um projeto absurdo, quanta angústia!
Ficaríamos muito tempo citando as várias possibilidades da angústia humana e não conseguiríamos esgotá-las.
A verdade é que angústia tem fim e o seu fim pode ser melhor do que esperar pelo fim da própria vida. Sim, porque há pessoas que acreditam que só se libertarão da dor de um coração angustiado quando morrerem. Algumas chegam a buscar a própria morte. Porém é possível antecipar essa libertação, sem morte ou tragédia, tornando a solução real, presente, atual e duradoura. E essa solução está em pular no colo de Deus como uma criança pula no colo de seu pai ou de sua mãe, abraçá-lo no íntimo da alma e dizer: "Deus, estou angustiado!"
Diz um belíssimo hino cristão, escrito por Elisha Albright Hoffman e traduzida por Salomão Luiz Ginsburg (hino 345 do Cantor Cristão):
A  Jesus Cristo contarei tudo
que haja em meu peito a me perturbar;
os meus problemas, meus sofrimentos,
só Ele pode suavizar.
A Jesus Cristo, meu Mestre amado,narrarei sempre minha aflição;aos meus cuidados, meus sofrimentos,só Ele pode dar solução.
Não há angústia que seja perpétua aos pés da cruz de Cristo. NEle temos consolo, paz, perdão, abrigo. Quando olhamos a nossa dor, vemos a dor que Cristo suportou; quando pensamos em nossas limitações, contemplamos a pobreza em que Cristo viveu voluntariamente, para que "por sua pobreza nos tornássemos ricos". Cristo enxuga as lágrimas dos que o buscam, tenham elas os motivos que tiverem. Ele nos mostra a verdade, pois Ele é a Verdade (João 14.6).
Quem busca em Cristo o remédio livra-se da angústia derradeira, que irá para além do túmulo, qual seja, a angústia de não ter escolhido o caminho da Luz. Para aquela angústia não haverá remédio, pois o remédio deveria ter sido usado em vida. No além, para onde vamos, se partirmos sem Cristo, sentiremos grande angústia, só que o será para sempre. "E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes." (Mt 8:12)
Agora mesmo, enquanto lê este artigo, busque ao Senhor. Ele pode ser achado! Procure-o em oração, crendo em Sua graça. Conte todas as suas dores, abra o coração para Ele. Entregue tudo a Deus. "Lançando sobre Deus toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós" ( I Pedro 5.7). Mesmo que a sua angústia já esteja fazendo aniversário, creia-me: nas mãos de Deus "o choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria virá ao amanhecer" (cf. Salmo 30.5). E se entregar o seu coração inteiramente a Deus, recebendo Cristo como seu Senhor e Salvador, então a promessa de conforto será para toda a eternidade: "E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas." (Ap 21:4)
Aceite a sugestão. Quem escreve sabe o que é a dor de uma angústia. Mas também experimentou de perto "o consolo bem presente na angústia", experimentou a Graça de Deus. Experimente também!
"E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração." (Jr 29:13)

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuiba, São Paulo, Brasil
pres. da Ordem dos Pastores Batistas Clássicos do Brasil
10/06/2012

segunda-feira, 23 de março de 2015

memórias literárias - 162 - PODEMOS CONVERSAR, PASTOR?


 PODEMOS
CONVERSAR,
PASTOR?

161 
- Alô?

- Alô, é da igreja? Quem fala?

- É a secretária Maria. Pois não?

- Irmã Maria, aqui é o irmão Juca. Estou precisando conversar com o pastor sobre alguns problemas que estou a atravessar. Quando eu poderia estar no gabinete dele?

- Irmão Juca, o irmão é membro desta igreja?

- Sim, irmã, desde 2004.

- Ah, certo. O irmão sabe que temos todo um sistema administrativo a obedecer, não é mesmo?

- Que sistema, irmã?

- Bem, o irmão precisa entrar no site da igreja e abrir uma solicitação de entrevistas. Então receberá um protocolo em 72 horas. Assim que tiver o número começará o processo de agendamento. Entre no site e inscreva-se. Deus lhe abençoe.

Juca fez o que a secretária pediu. Abriu uma “ficha de solicitação de entrevista pastoral”.  Aguardou dez dias e então um protocolo chegou pelo celular, dizendo-lhe que entrasse novamente no site com um password e uma senha. Ao fazê-lo, descobriu que podia escolher entre três datas e horários, todos eles após seis meses! 
Juca ligou novamente para a igreja. Agora a secretária não atendia mais; colocaram uma máquina com mensagens pré-gravadas. Ele acompanhou o "menu":

- Olá! Só Jesus Cristo Salva! Se você é membro, disque 1...” Ele discou. “Se já tem um protocolo, disque 1...” Ele discou. “Digite o seu protocolo pausadamente...”. Ele o fez. A voz disse: “número inválido. Tente novamente amanhã. Felicidades”. "AMANHÃ?!!"
Juca estava nervoso.

No dia seguinte tentou novamente. Conseguiu. Então a voz disse:
“Se quer oração, disque 1, se quer contribuir, disque 2, se quer ser membro, disque 3, se deseja ... e se nenhuma das opções resolveu, disque 9 e aguarde o atendimento. Informamos que esta ligação está sendo gravada. Anote o seu protocolo;..."
Após dois minutos de silêncio, uma voz falou:

- Pois não?

- É a secretária?

- Sim, com quem falo?

- Aqui é Juca, irmã. Eu estou há dias tentando falar com o pastor, preciso de ajuda, será que poderia me ajudar? As datas eletrônicas no sistema estão muito distantes e eu preciso de ajuda urgente!

- Irmão, infelizmente não poderei ajudá-lo, uma vez que temos um procedimento interno...

- Irmã, estou falando de ajuda, preciso falar com o pastor!

- Um momento - respondeu rispidamente a irmã.

Uma música entrou. Depois uma mensagem de 2 minutos, gravada. Voltou a mesma música. E assim foi passando o tempo. Em meia hora a secretária retornou:

- Irmão Juca, desculpe a demora e obrigado por ter aguardado. O pastor só poderá atendê-lo nas datas fornecidas pelo sistema. Mas o irmão poderá falar com ele por e-mail. Aqui está o endereço eletrônico...

Juca estava muito nervoso. Havia deixado a sua pequena igreja porque julgou ser muito pobre e medíocre. Com filhos pequenos, achava que a educação cristã estava deficiente. Também considerava o culto muito pouco frequentado, com pouca especialização e sem novidades. Ele queria uma igreja forte, pujante, que tivesse expressão. Geralmente conversava com o pastor às tardes de quinta, pois o pastor atendia no gabinete sem nenhum sistema de protocolo. O protocolo era o amor, a amizade e a disponibilidade. Também pudera, igreja tão pequena! Ele lembrou-se das palavras do pastor quando informou-o sobre a decisão de deixar a igreja:

- Juca, não se vá! Somos poucos, mas somos missionários neste bairro tão carente! Suas crianças não estarão desprovidas aqui, os meus também estão crescendo, fazemos o possível e o Senhor tem abençoado! Nós lhe amamos muito!

E lembrou-se do que respondeu:

- Pastor, gosto muito do senhor e amo muito a igreja, mas a fila andou e minha esposa e eu estamos virando a página de nossa história com esta congregação. Nós queremos um lugar onde nos sintamos felizes, onde tenhamos condições para o desenvolvimento, onde as coisas sejam mais organizadas. Infelizmente esta igreja é muito limitada e, perdoe-me, o irmão também. Obrigado por tudo, sempre os amaremos!  Até um dia, pastor!

Agora Juca, encrencado profissionalmente e atravessando uma grave crise conjugal, não conseguia falar com o seu atual pastor!

Ele não titubeou: foi até a sua igreja, nos horários em que acreditava que o seu pastor atendesse. Passou a manhã toda no carro, em frente a catedral. Não apareceu ninguém, exceto os funcionários de administração. Almoçou no bar da esquina e continuou esperando. Por fim, às 15 horas, o pastor entrou no portão da igreja, sendo imediatamente interpelado pelo Juca:

- Pastor, com licença?

- Pois não? Quem é o senhor?

- Sou sua ovelha, Juca.

- Oh, olá, Juca. Em que posso lhe ajudar?

- Em muito, pastor! Preciso conversar um pouco. O senhor me daria dez minutinhos, por favor? 

- Irmão, sinto muito, mas não poderei dar-lhe os minutos. Preciso  assinar alguns cheques e já estou de saída; alguns colegas me esperam. Mas faça o seguinte: entre no site e abra um cadastro. Terei prazer em atendê-lo!

- Mas, pastor, é urgente!

- Eu compreendo, irmão, mas a vida é assim, nem sempre temos tudo o que queremos na hora em que queremos. Mas agradeço o seu apoio e as suas contribuições. Deus o abençoe! Orarei pelo senhor. É Júnior, não é?
- JUCA, pastor, JUCA!
- Está bem, irmão. Passar bem.

E lá se foi o ocupado obreiro, ávido de amor pelo seu rebanho.
Decepcionado, Juca se foi. A única alternativa era aquela que não queria usar: procurar o seu velho, despreparado e inexpressivo pastor da igrejinha de bairro.
Telefonou-lhe:

- Pastor José?

- Sim?

- Aqui é o Juca.

- Olá, Juca, quanta saudade!

- Ué, pastor, faz um ano e meio que saí, não esqueceu-se de mim?

- Nem por um dia, irmão. Cada membro e ex-membro é lembrado dia após dia por mim em minhas orações. Em que posso ajudá-lo?

- Bem, pastor, estou precisando conversar, mas o irmão deve estar ocupado.

- Irmão, venha aqui em casa. Tenho um cafezinho esperando pelo irmão. E poderá conversar o tempo que for necessário.

- Mas, pastor, não sou ovelha de sua igreja, o senhor tem outros afazeres.

- De que adianta outros afazeres se eu não tiver tempo para ajudar o meu irmão? Venha logo, o café vai esfriar.

E lá foi Juca para a casa do pastor da igrejinha. No caminho viu um cartaz  com a foto do seu atual pastor, avisando sobre um congresso: “CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO - TEMA: COMO CUIDAR DO SEU REBANHO COM AMOR – mensagem do pastor fulano, grande obreiro da primeira igreja batista – não perca!”

Então pensou: “Que ironia! Tão sábio e tão mestre, mas não tem tempo para suas próprias ovelhas! Vai ensinar teoria, sua prática é zero!”

Juca conseguiu resolver o seu problema. Seis meses depois recebeu uma mensagem no celular, dizendo: “Olá, recebemos o seu pedido de entrevistas. Estamos avisando que temos agenda para o próximo ano. Entre no site para marcar a data e o horário. Obrigado”.
Juca sorriu e deletou a mensagem.

Obs: Qualquer semelhança com a realidade ... é verdadeira.
Wagner Antonio de Araújo

23/03/2015

sábado, 21 de março de 2015

memórias literárias - 161 - O MEU VOTO

O MEU VOTO
161

Uma das mais difíceis tentações ao ministro do evangelho é entrar em discussões político-partidárias. Ele pode debater como cidadão que é, como contemporâneo que é. Porém, a questão não é se pode, mas se deve fazê-lo no seio de sua comunidade.
É algo absolutamente comum subir o tom das discussões diante de plataformas de candidatos em evidência, principalmente quando estes se identificam como cristãos e se comprometem com pautas não-cristãs, como o aborto, o casamento homossexual ou a liberação dos tóxicos. A língua do ministro coça e ele é severamente tentado a apontar o dedo e a criticar os candidatos cristãos hipócritas, como acontece hoje na mais recente notícia de um dos candidatos à presidência da República.
Mas após as eleições - e alguém sempre vence, é óbvio -, tudo fica como dantes no quartel de Abrantes; cada um volta para o seu mundo particular, para as suas funções pessoais. Mas uma página lamentável ficou escrita, maculando o ministro de Deus, cujo tema deveria ser o ideal, não o pessoal. Aquele velho dito bíblico, esquecido que foi, agora é razão de grande lamento no coração do pastor: Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tg 1:19); Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã. (Tg 1:26)
Como lidar com essa luta interior? Deve ou não deve opinar? Deve ou não deve politizar a sua prédica? Deve ou não influenciar nos votos e nas manifestações ideológicas? Pode ou não fazer campanha explícita a favor de alguém ou contra outrem?
Acredito que a vida do ministro de Deus deve apontar para um comportamento claro e direcionado para aquilo que é justo e correto, não apenas em épocas de eleição, mas em todas as épocas. Deve ser ele um defensor da verdade, da honestidade, da honradez, do compromisso, da coragem, da condenação do pecado e dos vícios em todas as esferas, doa a quem doer. Deve ser inimigo dos conchavos, inimigo dos acordos por vantagens, inimigo da mistura entre púlpito e palanque político.
Acredito que deve denunciar o pecado em todas as suas formas e denunciar projetos pecaminosos à sua congregação. Condenar um projeto ou um sistema que visa amaldiçoar mais ainda a sociedade não é envolver-se em política partidária, mas ensinar o povo a discernir entre o certo e o errado, entre o pagão e o cristão. É obrigação do ministro ser a voz de um profeta, ser o "assim diz o Senhor" para a sua congregação. Os seus escritos devem ter coragem de denunciar. Não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão de conselhos há segurança. (Pv 11:14)
Mas condicionar um povo a votar num determinado partido ou num determinado candidato não é o seu papel. Os batistas clássicos, em particular, mantendo a sadia tradição que receberam dos batistas norte-americanos do passado, não transformam os seus púlpitos em plataformas políticas; antes, doutrinam as suas congregações para um comportamento civil responsável, sadio e fundamentado na justiça, na Lei e na ordem, nos valores bíblicos cristãos e na separação entre a Igreja e o Estado. Além do mais não loteiam suas igrejas em troca de forros, de cimento, areia, pedras, lotes, cargos ou posições sociais.
Aqui no Brasil vivemos um tempo difícil, onde os três candidatos majoritários são à favor do casamento homossexual. Como votar diante de indivíduos que certamente serão perniciosos para uma sociedade sadia à luz do evangelho? Votar neles seria assinar um atestado de autorização para que o Brasil chafurde na lama da depravação. Não votar neles também não resolveria os outros problemas, como a falta de condução econômica e de perspectiva nacional. Trata-se de dura escolha: votar ou anular o voto? Há alguém digno de ser eleito? Talvez os dignos sejam inexperientes ou nem estejam entre os concorrentes. Deixar o país no vácuo não será o caminho. Como escolher?
Penso que é hora dos ministros de Deus dobrarem os joelhos diante do Rei dos reis e orarem com insistência para que o Senhor tenha misericórdia do Brasil. Que Ele nos dê um líder que tenha firmeza e pulso para conduzir esta grande nação, mas que não venha a trazer a sodomia e a depravação institucionalizada para o seio das famílias brasileiras, nem sob o pretexto de tornar o Brasil um país de todos, laico para uma sociedade laica. Laico ou não, o país tem uma família definida em constituição e esta precisa ser defendida.
Creio que também não se devem iludir com as aparências cristãs que uns e outros possuem. Não sei se há algum cristão entre estes "santos de pau oco". Se forem são réprobos e deveriam ser disciplinados por suas igrejas, pois vendem seus valores pelo engrossamento do seu eleitorado. Também deveriam aprender que a traição não é um valor dos seguidores do Senhor, mas de Judas Iscariotes; fazer-se alguém sob um selo e romper com os valores que os tornaram conhecidos no meio do caminho é um mal gigantesco que não dignifica a ninguém. Quem trai um, trai outro, e certamente trairá o eleitor também.
Não precisamos necessariamente de crentes no poder; alguns deles acabam sendo mais danosos para a causa cristã do que se não fossem cristãos. Há não crentes corretos e que entendem bem de administrar com eficácia e com justiça. E, infelizmente, a maioria dos que se dizem crentes não passa de joio disfarçado de trigo; aliás, nem disfarçam mais, são capazes até de sair em revistas pornográficas!
Por fim, é bom que saibamos que não deteremos o mal. Quando muito seremos como Josias, a protelar o grande juízo sobre Judá; o mal já semeado no Brasil é grande demais para deter o juízo divino. Se ainda houver esperanças para um governo menos ruim, menos injusto, menos invasivo, menos ladino, menos intervencionista, menos anti-cristão, que seja assim e que Deus nos dê o discernimento para descobrir qual é. Certamente não será um dos que militam contra valores da família e do evangelho. Se ainda pudermos ter um país menos pior para os nossos filhos e netos, que Ele nos ajude a escolher com sabedoria.
O meu voto eu ainda não sei a quem darei, e se darei. Mas certamente já sei a quem não darei nem que fosse a única alternativa viável.
E tenho dito.
Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 160 - TOLERÂNCIA ZERO

TOLERÂNCIA ZERO


160
Na entrada do restaurante o recepcionista acolhe com um sorriso:
- Bem-vindos, amigos! Mesa para dois?
Felix, o marido, responde imediatamente:
- Não, mesa para um só. Eu sento e minha esposa fica de pé!
- Pára com isso, Felix! Viemos aqui para relaxar, não para brigar!
Seguiram para a mesa, sentaram-se e pegaram o menu. Outro garçon aproxima-se e fala:
- Vão almoçar, senhores?
- Não, viemos jantar ao meio dia, não gostamos de almoçar a esta hora!
- Felix, eu já avisei! Se continuar assim largo-lhe sozinho aqui!
Felix não era um homem mau, mas estava no limite. Tudo era motivo para se aborrecer. Não perdoava nada! Acabava sendo grosseiro com suas respostas prontas e imediatas. Três casos foram inesquecíveis.
O primeiro foi na igreja. O pastor mandara que todos se dividissem em duplas. O irmão que se aproximou dele perguntou:
- Posso orar pelo senhor, irmão Felix?
- Não, não pode. E se orar eu grito!
O segundo foi no estacionamento. O funcionário o viu andando pelos corredores e gritou:
- Procurando uma vaga, patrão?
A resposta veio certeira:
- Não, estou desfilando com o meu carro para fazer inveja aos demais! Tire uma foto!
O terceiro foi perigoso. Estava para entrar no banco. O sensor apitou quando tentou passar. O segurança falou com autoridade:
- Tem objetos de metal no bolso?
A resposta não tardou:
- Não, é que os meus ossos são de titânio e o meu punho de aço; quer experimentar?
O segurança sacou de um revólver e com muito custo foi que o gerente apaziguou a situação, exigindo que Felix fosse embora.
Maria, a esposa, já não suportava mais. Não casara com um homem grosseiro assim. Ele era gentil e educado, polido e calmo. Foi justamente a sua elegância e educação que o atraíra para ela. Eram jovens, ele ainda servia o exército. O que teria acontecido? Resolveu agir e deu-lhe um ultimato:
- Felix, se você não procurar ajuda eu vou lhe deixar. Prefiro viver sozinha do que passar o resto da vida ao lado de um cavalo que só dá coices. Quero que vá procurar o Pastor Pedro. Ele é um bom conselheiro e diz sempre que ora por nós. Quero que vá falar com ele.
- Sim, vou procurá-lo. Mas será para dar-lhe um tapa na orelha, porque não admito que ninguém se meta na minha vida.
- Então está bem. Estou indo embora.
E Maria não estava brincando. Foi ao quarto e começou a tirar as roupas do guarda-roupa. Felix, a princípio, pensou que se tratava de encenação. Contudo, quando viu o táxi parado na porta e as malas sendo carregadas, assustou-se.
- Você está blefando, não é, Maria? Só porque não vou falar com o pastor você está querendo me deixar?
- Não, Felix. Eu só não quero mais estar ao lado de um homem que irá explodir a qualquer momento, que me faz passar vergonha em público e que não consegue mais relacionar-se com ninguém. Ou você conversa com o pastor ou eu estarei indo embora, e não voltarei mais.
Felix ponderou, pensou, refletiu. Maria não era mulher de voltar atrás no que dizia. Aliás, foi isso que o atraiu a ela, seu caráter, sua decisão, sua personalidade marcante e profundamente decidida. Maria era mulher temente a Deus. Fora ela que o levara à igreja, quando ainda não era convertido. Se para ela significava tanto procurar ajuda com o pastor, então não lhe restava alternativa.
- Está certo. Mas será uma vez só, e já vou avisando: não trará nenhum resultado.
Maria aceitou a proposta. Ligou para o pastor, marcou o horário e foram à igreja. Chegado o momento o pastor abriu a porta e Felix entrou. Sentaram-se e o pastor olhou firme para Felix, em absoluto silêncio.
- O reverendo não vai me dizer nada?
- Quem me procurou foi o senhor, Irmão Felix, não eu. Quem quis conversar comigo foi o senhor. Estou aqui para lhe ouvir.
- Não fui eu quem lhe procurou; foi minha mulher. Quer que eu a chame para que ela converse? Afinal, se ela marcou, ela deve ter assunto; eu não tenho.
O Pastor Pedro, que já estava bem preparado para os atos de "tolerância zero" do Felix, apenas olhava para ele, sem dizer nada. Encarava-o com seriedade, mas sem pressa. Felix, depois de alguns minutos, ficou sem jeito e não sabia para onde olhar. Às vezes olhava para o teto, outras para os objetos na mesa, outras para as mãos que não paravam de se movimentar.
Algo em especial chamou-lhe a atenção. Um vaso de cactus, ao lado do computador.
- Que planta é essa, pastor?
- Ah, esse cactus. Foi um presente de minha mãe.
- E por que está desse jeito?
O vaso estava embrulhado com borracha. A planta, que media uns 20 centímetros, estava envolta com uma rede de arame, e algumas agulhas o espetavam na parte de cima. Seus três galhos estavam amarrados com arame farpado.
- É que eu fui espetado por um cactus quando era criança. Estava brincando, caí sobre um, creio que devo ter sido espetado por uns 50 espinhos. Desde então tenho pavor dessa planta. Como foi mamãe quem o deu, recebi-o, mas quero ter certeza de que não irá me machucar mais.
- Pastor, isso é loucura! O senhor está espetando o cactus com agulhas! Ele não é culpado pelo seu tombo e pelos espinhos que lhe feriram!
- E daí? Não é um cactus? Acho que todo cactus deveria ser espetado para ver o quanto nos machuca.
- Bom, pastor, acho que o senhor é louco. Me perdoe, mas isso não é normal.
- Tem certeza, irmão Felix?
- Claro! Nunca ouvi falar de alguém que espeta cactus por vingança ou por precaução!
- Eu ouvi.
- Ah, é? E quem, além do senhor?
- Você, irmão Felix!
Felix levantou-se veemente e gritou:
- Eu, pastor? Como pode dizer uma besteira destas?
- Sente-se, Felix. Você está em meu escritório.
Felix, já alvoroçado, sentou-se.
- Felix, você faz isso com todo mundo! Que sentido há em brigar com o garçon, com o segurança do banco ou com quem quer que lhe pergunte alguma coisa? Ninguém é culpado de você ter sido injustiçado, ou maltratado, ou agredido em algum momento do passado. Mas você, para não sofrer mais, para não apanhar mais, bate em todo mundo e agride a todo mundo. Você trata a todo mundo como eu ao meu cactus! Portanto, você também está fazendo uma loucura!
Felix não esperava essa resposta. Felix gostava muito de plantas e até cultivava um jardim em casa. Não podia entender como alguém fazia uma plantinha sofrer. E foi justamente por isso que caiu na armadilha do pastor: ele estava sendo cruel também, não com as plantinhas, mas com as pessoas.
- Pastor, eu já fui muito humilhado! O sargento que comandava a nossa companhia zombou de mim e todos riram, no quartel. Eu virei motivo de piadas. Quando saí do serviço militar, na porta da estação, não percebi que haviam colocado cascas de banana e me fizeram cair, e todos riram muito. Fui um palhaço para as esposas dos soldados e dos seus filhos. Fui humilhado. Fiquei sem dormir várias noites até que decidi que ninguém mais riria de mim.
- Felix, meu caro irmão. Ah, Felix! As outras pessoas não são culpadas! Nem todo mundo estava lá e nem todo mundo quer ferir a você! Maltratá-las por antecipação ou espetá-las com respostas ácidas não trará a sua salvação daquele fato do passado e nem lhe protegerá de novos fatos no futuro. As pessoas não podem pagar pelos erros que cometeram contra você. Mas gostaria de fazer um trato.
- Que trato, pastor?
- Se você orar agora, pedindo ao Senhor que lhe ajude a perdoar quem lhe ofendeu no passado, conforme Jesus nos ensina, e se você implorar a Deus para ajudá-lo a controlar-se e não descontar sua ira e vingança nos outros, então eu vou tirar as agulhas, os arames e a borracha do meu cactus, deixando-o livre para desenvolver-se, sem sofrimento. Que tal?
Felix estava vermelho e emocionado. Um misto de raiva, de ira, mas também de arrependimento e de dor.
Resolveu  aceitar o desafio.
- "Senhor, não tenho sido justo com as pessoas ao meu redor. Estou descontando nelas o que fizeram comigo no quartel. Elas não têm culpa, Senhor! Ajuda-me a tratá-las bem, e, acima disto, ajuda-me a perdoar os meus algozes do exército. Que eu consiga perdoá-los por completo. E também ajuda o pastor a parar com a insanidade de ferir a plantinha que não lhe fez nada... (nisto Felix chorou)... Em nome de Jesus, amém".
Após uns minutos recobrando-se, Felix ergueu-se e disse:
- Trato feito, pastor. Obrigado pelo conselho.
- Felix, poderia me fazer um favor?
- Diga, pastor!
- Leve esse cactus e cuide dele para mim. Sei que você tem jeito com isso e ele estará mais seguro com você.
Felix não titubeou. Pegou o cactus e imediatamente libertou-o das agulhas e do arame farpado. Saiu do escritório, tomou sua esposa, pegou o seu carro e foi para casa.
Não foi uma mudança imediata, mas dia após dia Felix recuperou a doçura, a elegância e a postura que tanto encantara a Maria. Na igreja tornou-se um companheiro e em toda parte onde ia passou a ser benquisto.
O cactus? Está lindo e até floriu. Ele não foi culpado pelos espinhos do pastor. Agora é bem tratado, tanto quanto são bem tratadas as pessoas ao redor de Felix. (que não se diga nada ao Felix, mas o pastor havia preparado aquele cactus para receber o Felix. Não mentira sobre ter sido presente da sua mãe, mas as agulhas tinham sido espetadas pouco antes da entrevista...)
Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem (Rm 12:21)
Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. (Lc 6:37)
O homem se alegra em responder bem, e quão boa é a palavra dita a seu tempo! (Pv 15:23)
Wagner Antonio de Araújo

28/09/2014

sexta-feira, 20 de março de 2015

memórias literárias - 159 - AMIZADES BOAS


Amizades

Boas
159
Amizades boas são aquelas que não exigem de nós compromissos de dependência. Tudo o que ocorrer tem que ser movido pela iniciativa própria.


Elas não criam expectativas falsas e nem se ofendem quando a distância se torna maior do que a proximidade.
Boas amizades são portas abertas, acessíveis sempre quando se deseja entrar, mas suficientemente livres para se sair a qualquer momento.
Amizades boas possuem um limite de privacidade, para evitar um relacionamento de cumplicidade exagerada, de conivência devido à intimidade ou de comprometimento com o que não se quer fazer.
Amizades boas não sufocam; libertam.
Wagner Antonio de Araújooutubro de 2014

memórias literárias - 158 - FALSAS EXPECTATIVAS


 
FALSAS
EXPECTATIVAS
158
 
Realizaram uma festa e não incluiram o seu nome. Organizaram um almoço e você não fez parte do grupo. Mandaram cartões e brindes, mas esqueceram de você. Quantas decepções desse porte já computou ao longo de sua vida? Esperou que telefonassem, não telefonaram; aguardou que agradecessem, não agradeceram. E o coração ficou partido.
 
Jesus nos deu o antídoto para situações desse porte. "Mais bem-aventurado é dar do que receber". Jesus vai no cerne da questão. Ele vai às origens: a ansiedade na  expectativa de receber. Nós esperamos muito dos outros. Esperamos que nos reconheçam. Esperamos que nos agradeçam. Esperamos que nos incluam. Esperamos que nos percebam. Esperamos que não nos esqueçam. E muitas vezes somos os grandes "deixados para trás". Às vezes somos lembrados, mas muitas vezes não.
 
Cristo disse que é mais feliz quem dá, não quem espera receber. Aliás, já pensou em quantas pessoas esperavam algo mais de você e não receberam? Quantos aguardam aquele telefonema que você nunca deu? Quantos aguardam um convite para uma visita que você nunca fez? Quantos aguardam aquele tempo de prosa, aquele passeio, aquela atividade em família e você nunca teve tempo? Aliás, tempo teve, o que não teve é vontade. Os outros não são prioridade para você. Pois bem: você também não é prioridade para outros tantos! Se você quer reclamar, aceite a sua própria culpa em igual medida!
 
Duas atitudes podem resolver. A primeira: não tenha mais expectativa do que os outros irão fazer por você. Eles não farão tudo o que você espera! E se fizerem será uma dádiva, um lucro, uma festa, algo a ser festejado! Não esperar e receber é muito melhor do que quem manter falsas expectativas que nunca se concretizarão. Alguém de meu convívio diz que não sofre quando não o convidam para festas, encontros ou passeios. Porém faz diferente: ele inclui pessoas em suas alegrias e realizações. Esta é a segunda atitude: faça pelos outros o que gostaria que fizessem por você!
 
Ligue você para ele. Convide você para um almoço, uma visita, uma reunião. Lembre da data e presenteie. Invista de você para o outro. Não espere recompensa e não busque reconhecimento. Jesus nos disse que quem faz sem esperar recompensa e faz em nome do Senhor, receberá no Céu a recompensa devida. Além disso o coração alegre aformoseará o rosto. E não tendo expectativas de consideração não haverá sofrimentos maiores. O importante é ser conhecido no Céu, como diz a minha esposa. Basta-nos sermos reconhecidos por Jesus. O resto é resto.
 
Tenham um bom dia!
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

OPBCB

memórias literárias - 157 - QUE BRASIL MINHA FILHA ENCONTRARÁ?




 
QUE BRASIL
MINHA FILHA
ENCONTRARÁ?
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Em julho, se Deus permitir, virá ao mundo a minha filhinha. Oramos por isso, desejamos isso!
 
Porém, que Brasil essa menina irá encontrar?
 
Reflito sobre algumas realidades que vivemos hoje, em março de 2015.
 
Tramas de novelas criadas para a divulgação e disseminação de idéias avessas ao cristianismo: casais de lésbicas velhas, homens gays namorando, exploração das possessões espirituais e rituais espíritas, a legalização e a necessidade do aborto legal e desejado, o ensino de técnicas para se manter duas ou três mulheres ou cinco ou seis homens para o relacionamento, o deslumbramento da vida de filhos com pais separados etc.
 
A mesma sociedade que critica e protesta contra os crimes hediondos ou contra os terroristas islâmicos que matam com crueldade, faz vistas grossas com as divas da televisão que dizem, sem pejo e sem medo, que abortaram seus bebês e que o fariam quantas vezes desejassem. Mulheres que se tornaram ícones das novelas, apresentadoras de TV, mestras e políticas defendem a matança dos inocentes no ventre, como algo tão banal quanto tirar um tumor ou arrancar uma amígdala!
 
Criminalidade absurda e absorvida: homicídios e latrocínios crescem sem trégua, sem qualquer esperança de solução. O dinheiro público roubado é distribuído a políticos e pessoas influentes, que, conquanto criminosas, continuam poderosas, populares e eleitas. A justiça, que deveria punir os criminosos, acaba por ter um de seus juízes tomando o bem do próximo de forma trágica e pública. As grades das casas cada vez mais altas e as cadeias cada vez mais cheias; contudo, as cadeias estão se tornando postos de negócio e os lares as verdadeiras prisões, muitas vezes invadidas pelo crime.
 
Mentiras aceitas e frustrações concretizadas: jovens que acreditaram na Pátria Educadora descobriram uma pátria lesadora: não conseguem a matrícula em suas faculdades. Ou o site do ministério da educação não completa a matrícula, ou a faculdade não está mais qualificada ou o curso não é mais prioridade para o financiamento. As cômicas PRONATEC estão fechando as portas porque não há mais dinheiro para financiá-las. E os professores em greve, ganhando misérias, não encontram mais estímulos para ensinar um populacho que foi criado sem respeito às autoridades, sem valorização do estudo e sem dar qualquer significado ao cultivo da cultura. Enquanto um universitário que consumiu 5 longos anos de estudo e outros 5 pagando o financiamento ganhará um salário insuficiente e, quase sempre, fora da sua área escolhida de atuação, um moleque que chuta bola ou uma mulher que tira a roupa em público, ou um gay que extravasa sua sensualidade e humor nas mídias ganhará centenas de vezes mais de salário, comissão, propaganda e fama.
 
Igrejas falsas com pregadores nojentos. Igrejas lotadas! Um apóstolo cospe num copo de água mineral barata e faz uma mulher bebê-lo, fingindo ter sido curada da esterilidade. A mulher soa o nariz na toalha e esfrega no rosto das incautas que se reúnem sob sua tutela. Multidões se expremem nos cultos dessa gente falsamente chamada evangélica, para ouvir cantores gospel que não são crentes (divorciados, adúlteros, mafiosos e incrédulos), pregadores que prometem mentiras recorrentes (cura completa, prosperidade absoluta, vitória em tudo). Quanto mais mentem, mais a gentalha é atraída. Quanto mais bizarros os cultos, mais exercem os papéis de xamãs ou de pajés desse grande vale tupiniquim. Pregadores e cantores a cada dia são denunciados por atos imorais, vídeos gravados e descobertos em celulares roubados, encontros privados com políticos de prestígio, e quanto mais a sujeira fede, mais poder e dinheiro obtêm.
 
Oh, Brasil, até quando? O que o pecado fez de você! Oh, brasileiros, por que tanta cegueira? Onde estão os poucos valores que cultivamos pelos anos que vivemos como Nação? É uma pena que não tenhamos boas tradições para evocar. Colonizados como colônia penal, divididos para dar lucro a espertalhões, usando mão de obra escrava por séculos e dizimando os autênticos proprietários das terras, os índios, não sobrou muito para lembrar, exceto uns poucos momentos de lucidez localizada em um ou outro lugar.  A lei do mais esperto, do mais corrupto, do mais malandro, do que grita mais alto, do que usa da espingarda, do que compra o poder, do que corrompe o juiz do que não tem pejo na língua, do que mente deslavadamente, é tudo o que sempre tem vencido.
 
Enquanto o país não abrir o coração para Deus e para a Sua Lei será sempre a troca de seis por meia dúzia. Mudam-se as siglas mas o pecado será o mesmo. Mudam-se os clientes mas os fornecedores continuarão os mesmos.
 
Que país minha filha terá? Que Nação ela habitará? Acredito que está chegando o tempo da "SITUAÇÃO NOÉ". Sim. Numa sociedade absolutamente bizarra, maldita e corrompida, do período chamado antediluviano, conta-nos a Bíblia sobre esse tal Noé. E diz dele: "era homem justo e íntegro, andando com Deus" (cf . Gn 6.9).
 
Noé destacou-se como justo diante de um mundo injusto. Era alguém que não se vendia, que não seguia a multidão, que não mudava de opinião a cada propaganda mais eficaz. Ser justo é ter valores íntimos, é ter conceitos sobre certo ou errado. E não firmados em moralismo barato. Ser justo é concordar com aquilo que Deus considera certo e ser contra aquilo que Deus considera errado. E isso para os outros e para consigo próprio. A Escritura Sagrada afirma que "não há um justo sequer", mas "justificados por meio da fé temos paz com Deus", e isto só pode vir através de um relacionamento efetivo com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que se revela em Sua Palavra, a Bíblia Sagrada.
 
Também destacou-se por ser uma pessoa íntegra. Era um homem por inteiro, um homem que não tinha duas caras, que não fingia, que não dava brechas para que as fraquezas o consumissem. Ser íntegro é não manter relacionamentos duplos, não ter sexualidade inconforme com a vontade divina, é ser fiel no casamento e com as pessoas que lhe são preciosas. Ser íntegro é guiar-se por valores interiores, por princípios, e não por dólares, por audiência  televisiva ou por vitória em eleições. Ser íntegro é não se vender, não aceitar suborno, não fazer o jogo do poder, não submeter-se a comportamentos que lhe deixarão comprometido. Tal integridade não existe no homem pecador, pois a bíblia diz que "todos juntamente se corromperam", mas anuncia gloriosamente que "se alguém está em Cristo é nova criatura", e que  "as coisas velhas já passaram e que tudo se fez novo".
 
Noé destacou-se naquele mundo corrompido porque andava com Deus. Sim, ele admitia crer em Deus num mundo que não cria. Admitia ser guiado pela presença divina quando todos se guiavam pela consciência popular, pelos costumes, pelas convenções locais, pelas conveniências sociais. Andar com Deus é ousar ir de encontro ao que todos esperam, quando é tão fácil andar sem Deus. Neste Brasil do século XXI andar com Deus pode significar ser contra a tudo aquilo que a vasta maioria do povo defende como bom. Significa fundamentar-se no dito antológico: "em seus passos o que faria Jesus?" Significa cuidar do corpo, da mente, dos relacionamentos, da família, do trabalho, do planeta, da alma, usando critérios revelados na Bíblia como autênticos, e não guiados pelas mentiras que a sociedade cria, inventa e reinventa para iludir as pessoas.
 
Meu Brasil brasileiro: volte-se para o Senhor! Converta-se a Cristo! Leia a Bíblia! Afaste-se da multidão, aproxime-se do Calvário! Conheça a história do Senhor e entenda que em breve Jesus Cristo voltará! Será um dia triste para quem seguir a vasta multidão, mas feliz para os ousados, que buscaram a Deus.
 
Minha oração pelo Brasil que minha filha irá encontrar, e pela Pátria que ela ajudará a construir, caso o Senhor Jesus não venha antes.
 
Wagner Antonio de Araújo
13/03/2015

quarta-feira, 11 de março de 2015

memórias literárias - 156 - VOCÊ GOSTA DE MIM?

VOCÊ GOSTA DE MIM?
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"Mamãe, a senhora gosta de mim?" Uma pergunta bem comum na época da infância, quando queremos ter ciência e confirmação do amor de nossos genitores por nós. O tempo passa e as relações aumentam. A primeira namorada, a primeira paixão, e fazemos a mesma pergunta: "Você me ama? Você gosta de mim?" Nos casamos, temos os filhos, amadurecemos e deixamos de pronunciar a questão. Contudo, lá dentro do íntimo continuamos a perguntar: "Será que o meu chefe gosta de mim? Será que minha sogra gosta de mim? Será que a minha esposa me ama?  Será que o pastor gosta de mim? Será que o mundo gosta de mim?"
 
Longe de ser infantilidade ou fraqueza psicológica, a questão nos remete à necessidade que temos da apreciação de alguém, do bem-querer do próximo e das pessoas que nos são mais caras. É precioso lembrarmo-nos do diálogo entre Jesus e Pedro, em João capítulo 21: "Pedro, tu me amas? Tu me amas? Tu gostas de mim?" (nossas versões são capengas na tradução, uma vez que o diálogo mostra duas questões de mesma ênfase e palavra para "amar" e a última com uma palavra para "gostar"). Jesus quis ouvir de Pedro a verdade sobre os seus sentimentos e sobre a sua consideração por si. Como amar não era possível para Pedro, Jesus lhe pergunta se ao menos gostava dele.
 
Buscamos a mesma coisa. E sem palavras esperamos dos outros alguma pista, algum sintoma de que gostam de nós. Talvez uma felicitação, um telefonema, uma carta, um e-mail, um SMS, uma visita, algum destaque específico para nós. Quando não temos essa manifestação a dúvida em nós reaparece e nos perguntamos no íntimo: "será que gosta de mim?" Essa necessidade de ser amado é profunda, é real, e, não raras vezes, a falta do suprimento torna-se impeditivo de nossa felicidade. Há pessoas que dizem: "Não ligo para quem não liga para mim"; "tenho que gostar de quem gosta de mim". E há aqueles que chegam à triste conclusão: "ninguém gosta de mim!"
 
Pois a Palavra de Deus desmente tudo isso!
 
Primeiro: Deus nos ama e nos amou primeiro do que nós o amamos! Assim diz a Bíblia: "Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro." (1Jo 4:19). Se a condição que o nosso coração impõe para podermos amar alguém é que alguém nos tenha amado primeiro, então essa condição já foi preenchida! Deus nos ama! "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3:16). Fomos alvos do amor divino, quando Deus mandou o Seu Filho para nascer, viver, sofrer, morrer e ressuscitar por nós! Alguém nos amou, então somos capazes de amar também!
 
Segundo: Por termos sido amados por Deus, podemos amar a todos, até aqueles que não nos amam e que nada expressam por nós! "E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam." (Lc 6:32). Não precisamos restringir o nosso amor apenas a quem o merece (às vezes bem poucos fazem jus a ele!). Como cristãos, somos responsáveis em amar até os inimigos! "Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;" (Mt 5:44). Isto é impossível aos incrédulos e falsos cristãos; e, mesmo difícil, é possível aos verdadeiramente crentes.
 
E como amar? Em nosso mundo ocidental e contemporâneo o amor passou a conotar sensualidade, sexualidade, sentimentos carnais e atitudes promíscuas. Nada mais distante da realidade! O amor aqui expresso não trata de expressões físicas ou atração carnal, mas de atitude interior de quem quer o bem do próximo, de quem deseja a felicidade do outro, de quem tenciona expressar reconhecimento e cooperação com alguém. Assim, amor é atitude, é gesto de gratidão, é busca da felicidade, inclusive, se necessário, dar a vida em favor do próximo. Neste ato estão incluídos sacrifícios pessoais (auxílio, acolhimento, ajuda etc). Cristo mostra em um trecho de sua prédica algumas expressões deste amor: "Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me." (Mt 25:35-36).
 
Isto significa: estar acessível, disponível, atento às necessidades, primeiramente dos domésticos da fé (irmãos em Cristo), dos familiares (quem não cuida dos seus tem negado a própria fé); e então, de todos os demais (do próximo, que cruza o nosso caminho).
 
"Você gosta de mim?" é a questão que fazemos. Vamos mudá-la?
 
"Eu realmente gosto de você?"
 
Essa pergunta causa desconforto? Algumas vezes sim, pois muitas vezes o nosso isolamento e marginalização é fruto de nosso próprio comportamento de ostras, fechados que somos em nós mesmos ou em nosso mundo. Jogamos a responsabilidade em quem conosco não se importa, quando, na verdade, nós construímos um muro imenso entre nós e os outros, intransponível para ambos! Não há pontes de contato, não há meios de comunicação! Será que eu gosto dos outros? Será que eu tenho interesse real no que se passa com os outros? Avaliemos!
 
Meu pai sente-se amado por mim? Se não, o que posso fazer para mudar isso? E minha mãe? E meu irmão, irmã? E minha esposa e filhos? E minha sogra? E meus vizinhos, colegas de trabalho, escola, faculdade? E meus irmãos da igreja? Se eu morrer hoje, farei falta? Ajudo a carregar o fardo alheio ou sou um peso para os que convivem comigo? O verdadeiro amor " Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; "(1Co 13:5)
 
Você gosta de mim? Não? Não faz mal. Cristo gosta! E se Ele gosta, eu também posso gostar de você. Mesmo que nada receba em troca. Porque, como já sou amado, posso amar, desejando o bem, dispondo-me a acolher se precisar, orando por sua feliciade e realização.
 
Que Deus nos ajude a gostarmos dos outros. Porque quem ama ao próximo  tem cumprido a Lei de Deus. "O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor." (Rm 13:10)
 
Wagner Antonio de Araújo

11/03/2015

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...