segunda-feira, 6 de julho de 2015

lembranças literárias - 225 - AMIGO


AMIGO
225

 
Amigo - palavra fácil de dizer e difícil de viver!
 
Um amigo é tão raro quanto um trevo de quatro folhas.
 
Há tempos em que as pessoas nos sufocam de tantos cuidados: telefonemas, e-mails, recados em redes sociais, visitas, anúncios, principalmente quando se ocupa algum cargo executivo, alguma função profissional importante ou algum ministério cristão que apareça. São muitos quando temos dinheiro, quando temos influência, quando temos algo do que as pessoas precisam.
 
Em outros tempos tais amigos desaparecem. O telefone não toca, os e-mails diminuem, os recados em redes sociais são clichês, chavões e frases usuais. As visitas só aparecem quando precisam de algo; do contrário, desaparecem. Quando envelhecemos, nos aposentamos, nos mudamos de cidade, de igreja, os amigos parecem que já nos deixaram junto ao túmulo do "aqui jaz um amigo que se foi".
 
Mas há um amigo - um amigo legítimo, fiel, leal e que fica quando todos vão embora, cujo contato não é dimensionado no tempo e no espaço, mas na alma e no coração. Um amigo preterido quando temos muitos amigos, e lembrado quando a solidão se apresenta. Um amigo que continuará esquecido, caso escolhamos o caminho da tristeza e decepção (normal para quem se surpreende com as falsas amizades), mas que se deixa encontrar, caso o busquemos definitivamente e de coração.
 
E essa amizade começa na contrição de uma alma que o busca, que o invoca, que o deseja, que lhe dedica atenção. Ele, cortês e sério, não se deixa seduzir pelo vazio em nosso ser que o busca subitamente nas horas de melancolia e de carência. Ele bem conhece a natureza humana e sabe que tal busca não passa de emoção ferida e preenchimento do espaço até que novos amigos surjam para nós. Ele não se deixa iludir e sabe que não estamos em busca de sua amizade. Ele, que conhece o coração humano, não serve de apetrecho, assessório ou estepe para preencher as nossas decepções.
 
Somente quando reconhecemos que ele teria que ser a primeira e mais leal amizade, o amigo mais chegado que um irmão e a prioridade número um para todos os dias, tanto os dias em que não temos ninguém quanto os dias em que temos muitos amigos, então Ele se deixa encontrar, correspondendo de forma positiva, presente e integral a essa amizade sincera e verdadeira. Ele sabe avaliar quais são as nossas sinceras expectativas. E se forem de consciência, de mudança de valores e de recolocação perpétua dele em primeiro lugar, mesmo que outros amigos surjam, então tal amizade transformará radicalmente a nossa vida. Porque Ele, melhor amigo e sempre presente, sabe interagir de forma completa aos estímulos de nosso compartilhamento. Ele se dá nessa relação como socorro bem presente na hora da solidão.
 
Jesus é o verdadeiro amigo, o primeiro, de quem quaisquer outras amizades que porventura tenhamos terão que ser secundárias. Se tivermos que optar por um dos dois, Jesus será a escolha. Essa é a verdadeira e legítima amizade. Ele jamais nos deixa sós. E nós só aprendemos essa verdade quando perdemos muitos amigos ou quando temos que optar por Ele ou pelos outros. Quase sempre ficamos com os outros. Mas só o encontramos como o verdadeiro amigo quando o tornamos a nossa escolha definida e permanente. Daí, sim, vale a pena!
 
Quem tem esse amigo sabe ser bom para com outros amigos. Sabe ser leal. Quem tem Jesus como amigo torna-se amigo de quem desejar e sabe ser leal. Jesus nos faz melhores!
 
Wagner Antonio de Araújo

 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

memórias literárias - 224 - TEMPLO


 





 
Templo
224
 
 


Onde está o nosso Altar? E onde está o nosso Templo?

Lembro-me que, ao visitar a igreja onde converti-me, estranhei não encontrar um altar à frente, nem uma imagem para veneração, nem o próprio símbolo da cruz. Chamei o pastor e reclamei-lhe: “pastor, onde está o altar? Onde estão os santos?” Ele disse-me: “Wagner, o altar está em nosso coração; nós não temos imagens”. Pensei: “Pois deveriam ter!”.

Após aquele culto eu converti-me à Cristo e só então pude entender o que significava ter um altar dentro do coração. Altar era o lugar onde se ofereciam sacrifícios. Eram repetidos continuamente, porque a eficácia dos mesmos era apenas simbólica, pois o verdadeiro sacrifício estava por vir. Um dia, porém, veio o Filho de Deus às águas do Jordão, e João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Ali estava o sacrifício a ser oferecido no altar.

Sim, no Altar de Deus. Altar que não era de bronze, de ferro, de latão, de ouro ou de pedra; Altar construído no alto da montanha, composto de uma cruz sangrenta. Ali estava o autêntico, legítimo e definitivo sacrifício. Cristo seria oferecido como Cordeiro de Deus, em favor de todos os homens, de todas as gerações, de todas as línguas, povos, raças, tribos e nações. Oh, Santo Amor de Deus, que levou Seu Filho às últimas conseqüências, doando-se em favor da humanidade!

Sacrificado, Cristo satisfez às exigências da justiça divina. Ressuscitado ao terceiro dia, apareceu diversas vezes e, no quadragésimo dia, subiu ao Pai. Dez dias depois o Espírito Santo foi derramado sobre todos o que criam, tornando-se residente em Sua igreja, e mostrou-se presente através de sinais e maravilhas. Agora "todos" somos batizados em um mesmo Espírito, independente dos dons que o Senhor distribui para a edificação da Igreja.
 
E quem é essa Igreja? Os chamados para fora do mundo, para dentro do Reino, os salvos e redimidos. Os crentes num local determinado, que se reúnem num edifício, numa palhoça, numa casa, num barco, não importa. E também os crentes de toda a Terra, em todos os lugares. E onde estaria o Templo Maior, o Templo Principal, a sede, a matriz? Em Jerusalém? Judéia? Samaria? Roma? Confins da Terra? No Rio de Janeiro ou em São Paulo? Não. O templo seria o corpo de cada um de nós, os novos tabernáculos de Deus no mundo! Sagrado mistério, insondável dádiva dos Céus!

A Igreja, como um todo, é um templo ambulante do Deus vivo. Onde estivermos ali estará também a Igreja de Cristo. Cada membro, em particular é também um templo. Nossos corpos, antes servindo às paixões e aos desejos diversos, chamados "desejos dos gentios", às vaidades e às satisfações sensuais e culturais, tornaram-se santos, limpos moralmente, e dignos de serem honrados como puros vasos onde o Espírito Santo habita, de tal sorte, que a glória não esteja no vaso, mas em quem enche esse vaso.
 
Assim, na teologia paulina, discorre-se a tese de que os nossos corpos não são mais nossos, mas de Deus! Que verdade fabulosa! Isso nos faz entender que não é lícito continuar a servir às vis paixões e sensualidades físicas, às vaidades de aparência ou embelezamentos com finalidades meramente estéticas. Agora os nossos corpos são extremamente importantes, pois neles vivemos, e neles santificamos a Cristo como Senhor, através da oração, da leitura bíblica, da verdadeira adoração, da pureza sexual. Há em nós um altar, há em nós um templo!
 
O altar é o lugar onde nós, ofertas vivas, diariamente oferecemos ações de graças e confessamos o senhorio de Cristo em nossas vidas. O altar é o lugar onde renunciamos às nossas vontades, pela vontade divina. O altar é o lugar onde o “não se faça o que eu quero” acontece. É ali que Deus está. Quem procura Deus numa sala, num oratório, numa parede, numa gruta ou numa cidade, não o achará. Porém, se entrar no “Santo Lugar”, lugar de oração, adoração íntima e contrita, o achará! Não precisa ser no Monte Sinai, Monte Horebe ou Colinas do Vaticano. Pode ser numa favela, num beco, numa aldeia, numa metrópole, num submarino, numa aeronave, num buraco. O Altar é dentro do coração do crente.
 
E o templo? O templo também não está num lugar geográfico, numa cidade, numa capital, num país. O templo é o nosso corpo, limpo moralmente, dedicado integralmente à adoração de Deus, não de acordo com os costumes pagãos que encontramos em todo o sincretismo religioso do nosso mundo, mas dentro das determinações do próprio Deus, contidas em Cristo, contidas nos princípios registrados nos dois testamentos bíblicos. O cristianismo é uma nascente puríssima, com águas cristalinas. Encontramo-lo em sua essência nas páginas sacrossantas das Escrituras Sagradas. Quando o adaptamos ao belprazer de nossas culturas, torcendo-o ao ponto de justificá-lo culturalmente, torná-lo mais autóctone, mais colorido à luz de nossas lentes interpretativas, sujamo-lo, tal qual um esgoto suja um rio puro.

Quem quer enfeitar o templo ao seu bel-prazer, corre o risco de fazer um altar para Baal, uma igreja sincrética que mais provoca ira do que glória ao Senhor. De noiva do Cordeiro será chamada Jezabel e Babilônia. Para vergonha nossa o digo: talvez sejamos mais Babilônia do que quem constantemente acusamos disso! Julgamos estar em pé, mas amargamos algo pior que um magistério autoritário: abraçamos uma "re-leitura" bíblica, tão em moda na década de 70, hoje com outros (ul)trajes, mais modernos, mais "politicamente corretos". Não convém que seja assim, amados!
 
Assim, ferir seu corpo, tatuar-se, enfiar ferrinhos no nariz, umbigo, na testa e em outros lugares escusos, ou grafar à ferro e fogo, ou à tinta e máquina o nome de Deus, versos bíblicos ou manifestações religiosas, nomes de homens que não são mais que meros cooperadores do evangelho (quando o são de fato), se chama idolatria. É paganismo disfarçado de cristianismo, numa continuidade crônica do sincretismo religioso do mundo. Faz-nos lembrar Judá, que se consagrava tanto na época das perseguições, e se emporcalhava pior do que antes, quando o profeta, juiz ou rei piedoso morria. Precisaremos de uma boa perseguição para voltar à pureza de Cristo?

Servir a Deus purifica. Servir a Deus simplifica. Nossos corpos não precisam de símbolos ou embelezamentos culturais, para bendizer a Deus. Pelo contrário, segundo é santo aquele que nos chamou, devemos também ser santos. A nossa santidade deve também ser simples, sem adaptações culturais. Todas as vezes que os hebreus ou posteriormente os cristãos, buscaram adaptar Cristo à cultura, fazendo-o imergir num batismo mundano, transformaram a igreja num paraíso maldito, emporcalhando o nome de Cristo. Hoje Cristo é surfista, tatuado, superstar, jogador de basquete, vôlei e futebol, guerrilheiro socialista e sabe-se lá mais o que! Esse não é o verdadeiro Cristo. E esses não são os verdadeiros cristãos. O Deus que sonha não é o Deus vivo, pois esse não dormita e nem dorme.

Somos chamados a não perder tempo com símbolos, com aparências, com bandeiras meramente humanas, mas a gastar tempo com Deus, em oração; com o próximo, em serviço; com o perdido, em evangelização; com o doente, em assistência; com o enlutado, em consolo; com o esfomeado, em suprimentos; com o aprisionado, em libertação; com o irmão em edificação.

Na glória, quando ressuscitarmos, ganharemos vestes alvas, sandálias e cintos dourados, coroa na cabeça e mais nada; a nossa glória virá de dentro para fora, não de fora para dentro. E assim devemos ser hoje: astros a brilhar, mostrando a glória de Cristo, luzeiros neste mundo tenebroso.

Vamos imergir o mundo em Cristo, e transformar este século com o Evangelho! Deixemos de fazer o contrário.

Que Deus nos fortaleça.
Amém.
 
wagner antonio de araújo
igreja batista boas novas de osasco, sp

memórias literárias - 223 - É PRECISO PARAR PARA CONTINUAR



 
10 - 11 / 08 / 2012

É PRECISO PARAR
PARA CONTINUAR
223
 
As grandes máquinas industriais nos dão uma grande lição. O acúmulo de trabalho cria fuligem, sujeira e exige lubrificação dos equipamentos. Como são máquinas grandes e pesadas fica impossível fazer a sua manutenção em funcionamento. Assim, de quando em quando, de forma organizada, os responsáveis pela utilização dos equipamentos fazem uma parada obrigatória. Desligam as máquinas, limpam-nas, lubrificam-nas, trocam as partes danificadas, recarregam baterias, enfim, fazem tudo o que não era possível fazer enquanto elas estavam em uso. Terminada a manutenção, ligam novamente e a produção continua. Não raras vezes, com maior produtividade, pois agora tudo está a funcionar perfeitamente.
 
Os lenhadores também têm a "sessão de afiar machados". O uso contínuo da ferramenta nos troncos pesados e duros das árvores tira o fio da navalha e o machado torna-se quase que improdutivo. O esforço do lenhador dobra, triplica e não consegue desenvolver a sua atividade perfeitamente. É necessário parar e afiar o machado. Um trabalho que demanda algum tempo e esforço, mas que provoca resultados fabulosos na produção e na facilidade de manuseio. Se não fizer isso trabalhará muito, mas não obterá quase nada.
 
Nós, crentes no Senhor Jesus Cristo, também precisamos de uma parada. Alguns talvez imaginem que tirar uns dias de descanso seja a solução. Outros, que fazer uma pequena viagem, gastar um pouco de dinheiro, assistir alguns filmes venha fazer alguma diferença. Pode até fazer, mas não no sentido que queremos dar nesta meditação. Parar, viajar, divertir-se não resolve a nossa manutenção interior. É necessário PARAR PARA CONTINUAR.
 
As lutas desta vida nos desgastam espiritual e psicologicamente. O acúmulo de trabalho, as tentações uma após outra ou todas de uma vez; as discussões familiares, a administração de crises, a existência de doenças, a falta de tempo; as críticas; a traição dos amigos; a falta de dinheiro; o sono atrasado; as atividades na igreja etc. O acúmulo de tudo isso muitas vezes tira de nós o brilho do mais importante de tudo: a autêntica e verdadeira comunhão com Deus!
 
Vemos isso na cena em que Jesus avalia duas mulheres que estavam próximas dele, hospedando-o. Marta e Maria. Enquanto Marta corria para servir bem a Jesus, provendo-lhe alimento, água para os pés, talvez preparar-lhe a pousada, etc, Maria sentava-se para ouvir a Palavra de Deus que saía de Sua boca. Marta ficou indignada e pediu para Jesus mandar Maria unir-se a ela naquele frenético serviço de hospedagem. Jesus, contudo, mandou-a PARAR. Sim, Ele não disse "Marta, pare com isso", mas disse: "Marta, Marta, estás atarefada com muitas coisas e só uma é necessária; Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada" (Lucas 10.41).
 
Jesus estava dizendo, em outras palavras: "Marta, una-se a Maria na melhor parte!". Sim, porque se a parte de Maria era a melhor, convinha que Marta também  aproveitasse essa grande bênção. Afinal, estavam com Jesus em casa!
 
Precisamos também PARAR PARA CONTINUAR. Parar de correr, parar com a preocupação, parar com a ansiedade, parar com o planejamento, parar com tudo. Não parar para sempre, ou "fechar para balanço", mas parar POR UM BOM INSTANTE, durante o dia, e buscar a presença de Deus, reajustando os nossos marcadores com os marcadores de Deus: acalmando o coração, tranquilizando a fé, reconduzindo a esperança, direcionando o olhar para o Alto, para cima, para Deus; tirando a confiança nos homens e entregando-a a Deus; deixando de reclamar e passando a agradecer. Cristo não dispensava uma boa madrugada à sós com o Pai!
 
Ah, meus amigos, este é o segredo para uma correção de curso, de rumo, de sentimentos, de destino! Precisamos parar na presença de Deus e buscar-lhe a face! Precisamos entrar em nosso quarto, dobrar os joelhos e falar com Deus! Precisamos entrar na igreja e sentar no banco, em silêncio, para ORAR! Precisamos desligar o celular, a internet, a TV, fechar o livro, desligar o telefone, e conectarmos mente e coração no Senhor! Precisamos sair do CRÓNOS (relógio comum) e entrar no KAIRÓS (no tempo de Deus). Quando fazemos isso parece que o mundo para e que nós continuamos! Não é tanto a QUANTIDADE DE TEMPO desta parada diária, mas a QUALIDADE desse tempo exclusivo, só com o Senhor!
 
E como se faz isso? Muitas vezes estamos tão atordoados, tão cheios de adrenalina na mente, no sangue que não sabemos nem como parar. Não importa. Mesmo que não saiba, COMECE. Feche-se com o Senhor em oração íntima, profunda e interior. Isole-se em comunhão e devoção. Só você e Deus. Só você e o Senhor. E se não souber o que dizer, não diga nada. Apenas escute. Elias teve a sagrada experiência de verificar que Deus não estava nem no terremoto, nem no vendaval e nem no fogo, mas NA BRISA MANSA E SUAVE, trazida pelo coração apaziguado pelo Senhor dos senhores (cf. I Rs 19.12). E para ouvirmos a voz de Deus em nosso coração, além de ficarmos sós, que levemos a nossa Bíblia, revelação escrita de Deus, e que meditemos em seus preciosos textos evangélicos, nos seus salmos, nas epístolas, nas profecias. A fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Cristo (Romanos 10.17)
 
A sociedade nos ensina a ficarmos "ligados" o tempo todo, conectados, plugados, acesos. Deus nos ensina diferente: "Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus" (Salmo 46.10). É claro que não é para trazer displicência ao nosso trabalho, e sim para investir num momento único, ímpar, sui generis, precioso, a cada dia, diante do nosso Deus. Por falta de comunhão temos nos tornado os cristãos mais bem informados e menos comungantes de todas as épocas. Comunhão não é êxtase, comunhão é equilíbrio no Senhor, é domínio próprio, é fruto da presença do Espírito Santo em nós. Em comunhão eu não reclamo, eu agradeço; quando há comunhão eu troco o lamento pela gratidão; troco a dúvida pela fé; troco o desespero pela paciência; troco a tragédia pela vontade melhor de Deus. Quando estou em comunhão eu me assento "nas regiões celestiais em Cristo" e lá de cima posso contemplar as coisas com muito maior clareza, nitidez e sentido.
 
PARAR PARA CONTINUAR.
 
Paremos agora! E busquemos ao Senhor! Sozinhos, nós e Deus. PORQUE DEUS E NOSSA ALMA SE CONHECEM.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

memórias literárias - 222 - TÃO PERTO E TÃO LONGE ...

 
11 - 11 / 08 / 2012

TÃO PERTO E
TÃO LONGE...
222
 
Eu iria usar um nome fictício, mas pensei bem: pra quê? Os meus leitores são gente como eu: pecadoras, imperfeitas, carentes da graça de Deus. Então uso o meu próprio exemplo.
 
Hoje eu sou um homem casado, e muito bem casado! Louvo a Deus por não ter me casado com outra pessoa; Deus me preservou para ser feliz! Mas houve tempo em que eu gostava de quem não gostava de mim. E lamentava muito o fato junto de minha mãe. Um dia minha mãe morreu. O vazio que ficou foi tão profundo, tão denso! Foi então que compreendi um grande erro: eu era feliz por ter mamãe junto comigo e não sabia! Eu tinha uma mãe maravilhosa, amável, compreensiva, temente a Deus, mas estava o tempo todo buscando algo distante, um amor longínquo, quase que inaccessível... Eu tinha a felicidade tão perto e a buscava tão longe! Claro que era uma felicidade diferente, a de um filho grato por sua mãe. Claro que eu era feliz e expressava para a minha mãe todo o amor e o cuidado que com ela deveria ter. Mas eu poderia ter uma consciência muito mais apurada do fato de que, ao invés de lamentar o que não tinha, agradecer pelo que tinha!
 
E sei que muitos que me lêem vivem a mesma situação, talvez com papéis invertidos ou em áreas diferentes. Percebo muitos comentadores de teologia ou assistidores de pregações, por exemplo. Somos tão admiradores de grandes ícones, de nomes estrangeiros, de pessoas projetadas pela mídia internacional e que muitas vezes fazem jus aos nossos elogios; porém, não raras vezes, temos um pastor, um escritor pobrezinho, brasileiro, um irmão de nossa igreja que não tem a escolaridade de tantos outros, a quem Deus tanto usa e nunca, nunca tecemos para ele um único comentário, um único elogio, nunca valorizamos o nosso próprio pastor por alguma mensagem ou por algum escrito seu! É que o nosso olhar está projetado para ver só o que está bem longe, bem distante, e às vezes temos um tesouro tão perto e não sabemos...
 
Maridos admiram esposas de outros amigos, colegas ou mulheres da mídia. E muitas vezes se esquecem da mulher que está ao seu lado. Mulher de fibra, que o acompanha, que o conhece, que compartilha de sua intimidade, que vive as suas alegrias e chora as suas tristezas. Mulher que é a mãe de seus filhos, que prepara a sua comida, que lava a sua roupa, que o ajuda na hora da crise e da dificuldade. Mulher que muitas vezes tem jornada dobrada, dentro e fora de casa, tem uma vida profissional tão importante quanto a sua. E, ao invés de dar valor a essa pérola, tem a sua imaginação aguçada e atraída para as jóias douradas das vitrines do mundo, as inatingíveis estrangeiras ou as esposas alheias. É hora de olhar para perto e não para longe! "Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade." (Ml 2:15)
 
Muitas vezes deixamos de viver uma vida profissional frutífera por pensar em outras profissões melhores, mais rentáveis. Lembro-me de um dentista que me atendia,  que queria de toda forma ter sido um fazendeiro, um criador de gado e um plantador de soja. Não perdia um programa rural da tv. E lamentava o fato de ter que cimentar dentes e fazer dentaduras. Claro, o seu serviço deixava marcas de quem fazia o que fazia sem vontade. Quantas vezes fazemos o nosso trabalho com tamanha má vontade que a qualidade deixa a desejar? Tornamo-nos maus funcionários, maus profissionais, o nosso produto sai de qualquer jeito e ainda nos lamentamos da vida! Talvez não tenhamos sido o que gostaríamos no início, mas precisamos crer que Deus está no controle de nossa história, que Ele permitiu que fôssemos o que somos e que devemos fazer o melhor, fazer com zelo, com ardor e, principalmente, fazer como se fosse para o Senhor! Lembremo-nos de José, filho de Jacó, escravo no Egito: ele não queria ser escravo, mas foi o melhor que pôde; ele não queria ser funcionário da penitenciária, mas foi obrigado a sê-lo. E em ambas as funções que não queria foi o melhor! Claro, no final Deus lhe deu uma função com a qual sonhara desde pequeno, e ele foi também o melhor. Mas poderia não ter recebido a chance e continuaria a ser o melhor no que fazia. Que ele nos sirva de exemplo. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, " (Ec 9:10);
"E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens," (Cl 3:23)
 
Dias atrás a nossa igreja ganhou algumas mesas. Mas nem todas cabiam e eu as reparti com o Pr. Aparecido Fernandes. Posteriormente o visitei em seu gabinete e admirei-me de sua bela mesa. Perguntei onde a conseguira. Ele disse: "foi a que o irmão Roberto havia lhe doado". Pensei: "nossa, eu não sabia que era tão bonita!" De fato, estava suja quando a recebi. Mas o valor que o Pr. Aparecido deu naquela mesa fez dela uma jóia, uma beleza. Muitas vezes somos assim no resto da vida. Achamos a sala feia, a cozinha feia, o quarto feio, a casa feia, o carro feio, e, quando nas mãos de quem é grato e de quem realmente dá o devido valor, as coisas ganham brilho, beleza, virtude, valor e grande importância. Eu pergunto: o que está ao meu lado e eu não estou vendo? O que tem gerado lamentos e não gratidão? O que tem trazido ansiedade e não tranquilidade? Está na hora de dar valor ao que tenho e não lamentar a falta do que não tenho! Preciso fazer um inventário das coisas pelas quais devo agradecer e não lamentar. "E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos." (Cl 3:15); "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." (1Ts 5:18)
 
"Senhor, ajuda-me a dar valor ao que está perto, ao que está disponível, a quem é vivo e comigo convive, a quem eu possa valorizar e elogiar. Em nome de Jesus. Amém."
 
Wagner Antonio de Araújo
 

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...