sexta-feira, 31 de março de 2017

memórias literárias - 430 - A VELHA AGENDA DE TELEFONES


A VELHA
AGENDA DE
TELEFONES

 
430
Paulo arrumava a garagem. Ele guardava tudo o que era usado e supérfluo ali. Um autêntico depósito de tralhas, móveis velhos, papéis amarelados, fotos antigas, máquinas quebradas. Era preciso arrumar aquilo tudo.
 
Ao remexer numa velha caixa de bombons, cheia de papéis, encontrou uma agenda velha. Ali estavam nomes e telefones de pessoas queridas, velhos amigos, colegas de trabalho e de escola.
 
Paulo sentou-se e manuseou o velho caderno. Quanta recordação!
 
"Ah, o Sérgio. Grande colega! Trabalhávamos juntos na preparação de dados dos documentos do banco. Como era cômico! Enquanto somava, contava piadas. Eram tão ridículas e sem graça, que ficávamos perplexos ao ouvi-lo. Só que ele mesmo ria e com tanto gosto, que não aguentávamos e ríamos também! Ah, Sérgio! Por onde anda?"
 
"A Ritinha! Que menina! Cada dia uma história de atraso. Um dia era o ônibus; no outro o trem; e no outro um velório. Não sei nem quantas vezes ela foi ao velório da tia. A chefe sabia que era mentira, mas relevava, pois era boa funcionária. Mas era fofoqueira. Nossa, como gostava de contar sobre a vida alheia! Saiu da firma pra casar. Soube que teve um filho. Como será que está?"
 
"Seu Pacheco! Como me esquecer? Já tinha seus setenta anos, vinha à pé para a firma. Tomava conta do quadro de chaves do prédio. Tinha uma barriga! Lembro-me quando entalou na catraca de entrada. Que sufoco para sair! E como ele ficou bravo com a risada da gente! Depois o aposentaram de vez, porque ele já não conseguia andar. Ora, ora, já deve ter morrido. "
 
"Carlinhos! Éramos colegas de turma de office boys! Que turminha! Pela manhã tomávamos café todos juntos, uns quarenta! A firma dava pão, frios e refrigerante de máquina à vontade. Carlinhos comia seis pães repletos! Ninguém ganhava dele. E não engordava. Será que hoje ele é gordo?"
 
"Quanta saudade! Nunca me importei em saber como estão. Que vida têm hoje? Quanto tempo faz? Deixe-me ver: 1979, 1982, 1985... Meu Deus! Eu não acredito! Tudo isso? Será que estes telefones funcionam ainda?"
 
Paulo vê que os números são curtos demais. As linhas têm sete números. Então resolve procurar na lista telefônica da internet. Ele os procura pelo nome, pois os conhecia decór, pois auxiliava na distribuição das correspondências internas da empresa. 
 
Ligou para o número do Sérgio. Uma voz feminina atendeu. A resposta:
 
"Paulo, sinto muito. O meu pai morreu há seis anos. Teve câncer. Ele sofreu muito. Você trabalhou com ele? Ele sempre falava que um tal Paulo prometera ligar. E posso dizer que ele esperava um telefonema seu. Que pena que não deu tempo. Obrigado por procurá-lo."
 
Paulo ficou triste. Só ligou porque viu na agenda. Então foi para o próximo número: o da Ritinha. Procurou o nome, não encontrou. Mas lembrava-se do nome do rapaz com quem iria casar-se. Procurou, achou, ligou. Foi ele mesmo quem atendeu.
 
"Paulo, tudo bem? Não, Paulo, eu me divorciei da Ritinha. Ela me traiu. Deixou a filha comigo. Criei-a e levei-a à faculdade. Depois de formada casou-se. E deixou que eu morasse com ela nos fundos da casa. Eu nunca mais me casei. Agora vivo aqui cuidando dos meus netinhos. Obrigado por ter ligado, tá? Um abraço!"
 
Que tragédia! Paulo nunca esperou que Ritinha tivesse abandonado a filha e o marido. Talvez se a tivesse procurado para repartir o evangelho com ela como tantas vezes prometera, Ritinha pudesse ter se convertido e agido diferente... Quanta coisa poderia ter sido compartilhada e melhorada, mas que não acontecera...
 
Paulo então ligou para a casa do Seu Pacheco. Como a linha era 263, sabia que havia mudado para 3673 (a sua mesmo era a mesma). Um homem atendeu.
 
"Oi, Seu Paulo! O Pacheco era o meu avô. Ele morreu há trinta anos. Tenho muitas fotos dele com aquele barrigão. Ele me colocava sobre a barriga e brincava de cavalinho. Quanta saudade! O meu nome é o mesmo dele, papai o homenageou. Tenho orgulho disso. Passe aqui pra tomar um café, combinado? Tchau".
 
Paulo lembrou-se do dia em que o Seu Pacheco saíra. Na porta da firma disse:
 
"Seu Pacheco, vou passar em sua casa para tomar um café e levar uma bíblia e um disco de hinos para o senhor ouvir, tá?" Essa bíblia e esse disco nunca chegaram para o Seu Pacheco. E agora? O que fazer com a consciência pesada?
 
Paulo liga agora para o Carlinhos "bom-de-lanche". É ele mesmo quem atende o telefone.
 
"Paulo, é você mesmo? Rapaz, quanta história pra contar, né? Como era divertido! Lembra daquele dia em que descemos na Praça da Sé pra comer coxinhas e perdemos o dinheiro de volta? Tivemos que vir andando da Sé para a Lapa, três horas de caminhada! Que bronca que o Sales nos deu, hein? Pois é. E dos lanches? Seis todo dia! Hoje as firmas não dão nem um pão com manteiga. Velhos tempos! A gente era feliz e não sabia!"
 
"Ah, sim, me casei. Sou pai e avô, acredita? Quem diria? E sou crente também! Graças a Deus! Eu me lembro de você lá no restaurante, toda vez que íamos comer você abaixava a cabeça e orava. Aquilo me incomodava, sabe? Eu pensava: por que ele não faz isso só pra ele e Deus? Hoje eu sei que aquilo mexeu comigo; se você não tivesse orado em público eu não me interessaria pela fé. Eu cresci, me formei, fui promovido, fiz carreira e hoje tenho o meu próprio negócio. Adivinha o que? PADARIA!(risos, muitos risos). Gostei tanto de pães que sou o dono da padaria agora! Venha aqui tomar um café reforçado. O pão é por minha conta. Deus te abençoe, Paulo. Obrigado por lembrar-se de mim!"
 
Paulo dobrou os joelhos em lágrimas. Orou assim:
 
"Senhor, perdão! Quanta gente que passou pela minha vida, quantas histórias eu vivi, mas quão pouco me importei com essa gente! Poderia ter sido mais presente, mais amigo, mais influente. Eu me esqueci delas. Para algumas eu nem agradeci o que me fizeram e o quanto me ajudaram, me ensinaram. Senhor, me perdoe! Ajuda-me a ser mais amigo e a ter mais interesse por aqueles que fizeram e fazem parte de minha vida. E obrigado, Senhor, por pelo menos eu ter influenciado uma pessoa a buscar a Tua face, mesmo que tenha sido apenas por dar graças pela comida em público. Em nome de Jesus, amém".
 
Paulo levantou-se, enxugou as lágrimas, arrumou a garagem e foi para o escritório. Lá anotou o nome de dez pessoas mais próximas e comprometeu-se a ser mais atencioso e a buscar mais proximidade com elas, sem esperar que elas fizessem isso por ele. Afinal, se alguém não começar, o ciclo de isolamento e de falta de calor humano nunca será rompido.
 
E assim foi dormir, depois de ter o amor reacendido por uma velha agenda de telefones.
 
"Quero trazer à memória o que me pode dar esperança" (Lm 3.21)
 
"Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos." (Jo 15:13)
 
Wagner Antonio de Araújo

31/03/2017

quinta-feira, 30 de março de 2017

memórias literárias - 429 - 4 PILARES DA IGREJA VERDADEIRA


4 PILARES
DA IGREJA
VERDADEIRA

 
429
O império da mídia social popularizou o pecado. Tornou-o banal aos nossos olhos. Tirou de nós a hostilidade e o choque contra as coisas bíblicamente erradas. Já não nos importamos mais com que os outros façam ou deixem de fazer. Criamos o mote de que cada um deve cuidar de sua própria vida e que ninguém deve dar lições em ninguém. E nos conformamos em viver assim, num mundo absurdamente isolacionista e desprovido de senso de sociedade. Quem nasce agora é criado neste caldo de complacência e de despudor.
 
Sites de moças que vivem juntas, relacionam-se sexualmente e filmam suas noites tórridas tornaram-se banais. Filmes de rapazes se amando loucamente transformaram-se em top de audiência nas redes. Não se discute mais o que é certo ou errado, mas se os casais são felizes e intensos. Transformamos a homossexualidade em virtude e lhes damos a audiência necessária, tornando-os jornalistas de sucesso, apresentadores famosos, comentaristas requisitados, animadores de auditório etc. Em função disso esse grupo se torna formador de opinião. Logo, o seu pensamento torna-se o politicamente correto para o resto da humanidade.
 
Igrejas foram invadidas por esse permissivismo. Uma grande seita evangélica, oriunda da Austrália, cujas músicas emotivas, do tipo worship-românticas, cruzou os oceanos, conquistou os Estados Unidos e agora logrou fundar na zona sul da capital paulista uma filial. Seu diferencial: permissivismo. Uniões homossexuais são permitidas e até desejadas. A vida nas baladas, nas orgias, nas excentricidades é cultuada e valorizada. Tudo com muito luxo, juntando a nata rica da juventude das igrejas evangélicas tradicionais, somadas aos dissidentes de igrejas neopentecostais desgastadas pelo tempo. O glamour de seus shows e o uso da bíblia sem causar preconceitos atrai um público gigantesco, geralmente os que se dizem desigrejados.
 
Quem é criado nessa cultura tem dificuldade em avaliar que os pilares dessa libertinagem estão trincados. Esse espírito é diametralmente oposto ao da Santa Bíblia, a única e exclusiva Escritura Sagrada, que nos revelou a vontade de Deus e o único mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, Rei dos reis e Senhor dos Senhores, o Messias de Israel, o Filho de Deus!
 
Quero destacar quatro pilares que são incompatíveis com este mundo tenebrosamente maligno e com estas igrejas malignamente constituídas por Satanás. Lembre-se de que qualquer igreja que não se sujeite aos crivos das Escrituras Sagradas está, indubitavelmente, nas mãos do opositor, do Maligno, do Diabo. Portanto, quem não abraça estas verdades que mencionarei continua debaixo do Império das Trevas, mesmo que tenha nome cristão, o que tenha nome de "que vive, mas está morto". Diferentemente dos pilares fragilizados dos permissivos, os pilares bíblicos que mencionarei dão sustentação à fé e ao futuro do cristianismo.
 
01 - PECADO É DESOBEDIÊNCIA A DEUS E AGRIDE A SUA SANTIDADE - O pecado é a quebra da Lei de Deus. O homem é pecador por origem, por natureza. Sua tendência sempre é quebrar a vontade de Deus, rebelar-se, opor-se. Nenhum homem pode agradar ao Criador, mantendo a sua natureza do jeito que está. É necessária uma regeneração, um novo nascimento. E este acontece no dia em que o pecador reconhece os seus pecados e crê de todo o coração em Jesus como Filho de Deus, como Cordeiro de Deus e como ressuscitado pelo poder de Deus. Então, à partir daí, não vive mais debaixo do pecado, mas no centro da vontade de Deus. Deixa de viver no pecado e busca agradar a Deus em tudo o que fizer.
 
Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 6:23)
 
Qualquer que comete pecado, também comete iniqüidade; porque o pecado é iniqüidade. (1Jo 3:4)
 
Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. (Jo 3:7)
 
A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. (Rm 10:9)
 
Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. (Rm 6:14)
 
02 - NÃO PODEMOS SERVIR A DOIS SENHORES - O tipo falso de evangelho que apregoam nestes macrocentros de cultura gospel é que podemos ser quem somos e, ainda assim, sermos crentes. Isto é, podemos ser homossexuais, prostitutas, promíscuos, corruptos, mentirosos, agentes de jogos de azar, políticos criminosos, e, ainda assim, dizermos que somos crentes, pastores, missionários, "levitas" (ainda que isto não exista no cristianismo). Acontece que a Bíblia diz diferente. Jesus expressa-se como quem não admite gente que sirva a dois senhores. Para Ele, quem não ajunta, espalha. Para Ele, só há um caminho: o estreito. Só há uma condução: a cruz. Só há um acordo: tudo. Qualquer coisa diferente não O satisfaz e não leva ao Reino dEle.
 
Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. (Mt 12:30)
 
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. (Lc 16:13)
 
E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. (Lc 14:27)
 
Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. (Lc 13:24)
 
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. (Mc 10:21)
 
03 - A IGREJA É SANTA E COMO SANTA DEVE PERSEVERAR - A palavra santa significa separada, consagrada, dedicada. A igreja de Cristo, o grupo de seguidores do Senhor que, unidos, prestam culto, adoram a Deus, servem ao próximo e exercitam dons e talentos que o próprio Espírito Santo distribui, deve viver em santidade, separada dos meios pecaminosos e consagrada ao Senhor. Ela é chamada de Noiva do Cordeiro e está em fase de preparação, adorno, dedicação, para o grande dia do casamento. Como tal ela deve ser fiel ao Senhor e não compactuar com o mundo. Igrejas mundanas, que se misturam com a sociedade contemporânea, não estão a evangelizar, pois evangelizar é levar boas-novas. Elas estão a sujar-se, contaminar-se, misturar-se, transformar-se à semelhança do pecado, julgando, com isto, serem mais próximas do povo. Cristo, o Noivo, rejeita a noiva mundana e conclama os salvos a não tomarem a forma deste mundo.
 
Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; (1Pe 2:9)
 
E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (Rm 12:2)
 
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1Co 6:20)
 
Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. (Ef 5:27)
 
Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria. (Ap 2:20)
 
04 - O MUNDO, A CARNE E O DIABO, INIMIGOS CONTRA QUEM DEVEMOS LUTAR A TODO INSTANTE - A autêntica igreja de Cristo, os salvos por Ele da perdição deste tempo, não vive para celebrar, para festejar, para fazer piqueniques, passeios, tardes de boliche ou entretenimento. Ela vive para combater o mundo, isto é, este padrão de pensamento que se opõe à Palavra de Deus. Ela vive para auxiliar cada crente a lutar contra a carne, que é a tendência que temos para desagradar ao Senhor e voltar à prática do pecado. Ela vive para lutar contra o Diabo, a quem resiste em nome de Jesus, depois de submeter-se à vontade de Deus. A autêntica igreja do Senhor Jesus não está em férias duradouras, mas em batalha decisiva; por isso não descuida de sua santidade e comunhão.
 
Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. (1Jo 2:15)
 
Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. (Gl 6:8)
 
Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; (1Pe 5:8)
 
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. (Ef 6:12)
 
 Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. (Tg 4:7)
 
Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais. (1Ts 4:1)
 
Quem vive numa igreja permissiva vive no mundo. Tem versículos decorativos e canta canções cristãs, mas não tem parte no Reino de Deus. Seria melhor definir-se: ou pula para dentro do Reino, renegando o mundo, ou parte de vez para o pecado e aguarda o juízo divino.
 
Que cada um faça a sua decisão.
 
Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. (Ap 22:11)
 
Pastor Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

30/03/2017

sexta-feira, 24 de março de 2017

memórias literárias - 428 - AS ORAÇÕES QUE EU NÃO FIZ ...

AS ORAÇÕES
QUE EU NÃO FIZ...
 

 
428
O meu vizinho morreu. Tão novo, tão cheio de sonhos! Deixou esposa e dois filhos. Eu havia desejado orar por ele. Mas não orei. Sinto remorso.
 
A minha filha acidentou-se no trabalho. Quebrou a perna. Está internada. A pressão está alta. Há quanto tempo eu tencionava apresentá-la diariamente em minhas orações e não o fiz? Estou arrependido.
 
Minha esposa não entendeu a brincadeira. Eu quis provocar risos e provoquei ira. Falta de vigilância. Não oro pelo nosso casamento há mais de seis meses. Ensaiei retomar o culto doméstico, mas ficou apenas na vontade. Nada mais. Se eu tivesse orado essas desinteligências poderiam ter sido evitadas.
 
Quebrei o orçamento. Comprei num site falso. Agora não consigo o reembolso. Pensei que era uma pechincha, mas era uma armadilha. Gastei o que não tinha. E vou ter que me valer do cheque especial. Juros, dores de cabeça, o que eu fiz! Se eu tivesse pedido a orientação de Deus antes da compra, ou se tivesse apresentado a Deus o desejo e deixasse que Ele falasse! Se bem que nem precisava, pois era algo supérfluo e eu não deveria ter feito a compra. Tenho orado tão pouco pela minha vida administrativa...
 
Orações que eu não fiz! Quantas oportunidades perdidas! Quantas bênçãos que nunca recebi porque não as pedi. E quanto prejuízo humano, patrimonial, sentimental e espiritual obtive!
 
E se eu tivesse orado, as coisas poderiam ter sido diferentes? Deus não é soberano e Sua vontade irrevogável? Não há uma certa fatalidade em tudo? Na verdade, eu me pergunto: vale a pena orar? Algo pode mudar?
 
O qual, fixando os olhos nele, e muito atemorizado, disse: Que é, Senhor? E disse-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus; (At 10:4)
 
Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras. (Dn 10:12)
 
E Deus ouviu a voz de Manoá; e o anjo de Deus veio outra vez à mulher, e ela estava no campo, porém não estava com ela seu marido Manoá. (Jz 13:9)
 
E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía. (Jo 42:10)
 
Sim. As orações que eu não fiz poderiam ter interferido. Certamente Deus jamais teria sido pego de surpresa; em Sua presciência este fator teria sido considerado. Porém, como eu não orei, jamais poderei ouvir a Sua voz a declarar-me: "Eu ouvi as tuas orações". Eu não as fiz!
 
E o que me impede de fazê-lo agora, neste momento?
 
Ah, agora não posso! Tenho que terminar o TCC (trabalho de conclusão de curso); tenho que chegar ao fim da leitura daquele livro; tenho que lavar o carro, levar o cachorro para passear, a esposa para fazer compras, o filho para a natação, assistir o jogo do meu time, ir à igreja participar da reunião. Ou então tenho que dormir, tenho que tomar banho, fazer caminhada, cortar as unhas, jogar bola.
 
Enquanto todas as coisas forem mais importantes do que as orações que eu poderia fazer, continuarei a conviver com um vizinho que se vai, com um acidente inesperado ou com uma briga repentina, sem ao menos sentir paz no coração e a convicção de que eu havia orado por aquilo e que a minha parte foi feita. Terei sempre em minha companhia a consciência pesada, fruto da tristeza do Espírito Santo em mim, convencendo-me de que estou em pecado e conduzindo a minha vida num abismo sem fim. Eu estou extinguindo o Seu Espírito em mim.
 
Senhor, ajuda-me a não conter as orações que devo fazer.
 
Quero orar agora! Dá-me forças, dá-me decisão, dá-me determinação!
 
E, olhe que maravilha, esta é a primeira oração da qual não precisarei dizer: mais uma oração que não fiz!
 
Orai sem cessar. (1Ts 5:17)
 
E quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes vos ensinarei o caminho bom e direito. (1Sm 12:23)
 
Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei. (Sl 5:3)
 
Wagner Antonio de Araújo

24/03/2017

memórias literárias - 427 - TUDO LIGHT

TUDO LIGHT
427
Dias atrás um jornal publicou esta manchete: "a tecnologia está nos emburrecendo". E o fez com categoria.
 
Vivemos no tempo do "tudo light", pequeno, bem fatiado, para não engasgar.
 
Quer uma meditação bíblica? Tem que ser curtinha, para ser lida num semáforo, ao parar o carro, ou entre um ponto de ônibus e outro. Deve se encaixar a uma ida ao banheiro de vez em quando, bem curtinha.
 
Quer um artigo de conhecimento? Tem que estar bem mastigado, bem resumido, apenas os dados essenciais. Nada de discussões longas, nada de histórico da questão. Não nos importamos com etmologia, nem com antologia, nem com sociologia da matéria.
 
Quer uma conversa? Tem que ser resumida. "OI TD BM? DS T AB ABS" (oi, tudo bem? Deus te abençoe. abraços). Estamos chegando à era dos códigos. Tudo bem simples. É como o desenvolvimento daquele pronome de tratamento: "Vossa Mercê". "Vósmecê", "Vancê", "Você", "Ocê", "Cê"; o próximo passo é um cutucão no outro...
 
Nós, os escritores, vemos bem clara a linha demarcatória na aceitação da literatura. Um artigo pequeno, resumido, ganha muitos "likes" e "curtidas". Um grande e analítico quase não tem referência.
 
Por isso, quem quer ter sucesso, que escreva pouco. Quem quer escrever o que sente ser necessário, que não espere muita apreciação.
 
E vou terminar porque isto aqui já está muito longo.
 
OBG ABÇS BY
 
Wagner Antonio de Araújo
24/03/2017

quinta-feira, 23 de março de 2017

memórias literárias - 426 - PAULO, PAULO, SEJA TOLERANTE!

PAULO, PAULO,
SEJA TOLERANTE!

426
"Prezado Apóstolo Paulo:

Ref. Práticas de Intolerância em Seu Ministério

Caríssimo companheiro de jugo

Kharis Eyrene! *

Encaminhamos esta carta com os votos de que esteja feliz e no centro da vontade de Deus.

Contudo, analisando o conteúdo das epístolas que tem escrito às igrejas dos gentios, precisamos tecer algumas observações e solicitar algumas providências.

Consta que o irmão vem ensinando e propagando algumas coisas que, ao nosso ver, são incompatíveis com a mensagem do evangelho.

O irmão solicitou que as irmãs de Corinto usassem véu e que tivessem cabelos longos.

O irmão sugeriu e interpôs-se como modelo para recomendar que homens e mulheres não se casassem.

O irmão ordenou que os judeus abandonassem suas vestes cerimoniais e os ritos judaicos, adotando, inclusive, a inobservância da circuncisão de seus filhos.

Também falou que o amor conjugal entre pessoas do mesmo sexo era condenado por Deus e inadmissível na igreja.

O irmão ordenou que não se comesse carne dos açougues dos templos pagãos e afirmou que participar daquilo seria banquetear-se com demônios.

Finalmente, tomou decisões unilaterais de disciplina eclesiástica, condenando um homem que ajuntou-se com a madrasta (ou mãe, não se sabe ao certo), dizendo que ele seria entregue a Satanás.

Apóstolo Paulo, o irmão deveria envergonhar-se de ser tão intolerante. Afinal, Cristo nos ensinou a amar e a acolher a todos. Como nenhum de nós é Cristo, então não é possível exigir uma imitação de Cristo por parte de ninguém. Logo, cada um tem suas próprias características e opiniões e devemos respeitá-las, tolerando os irmãos diferentes.

Gostaríamos que o irmão reescrevesse seus textos, fazendo as seguintes modificações:

1) Que as mulheres cortem os cabelos ou os mantenham compridos do jeito que quiserem, e que o uso do véu seja uma opção pessoal;

2) Que os homens se casem ou se ajuntem à vontade, independentemente de serem homens com homens ou mulheres com mulheres, e que desfrutem de todo o amor conjugal uns com os outros;

3) Que os judeus observem o que quiserem dos ritos mosaicos e das suas festividades nacionais; e não só eles, mas que cada um dos gentios traga para a igreja os seus próprios costumes, rituais, manifestações musicais e atos de culto, no enriquecimento mútuo e na edificação da fé cristã;

4) Que os crentes comprem toda a carne que quiserem, comam o que quiserem e participem de todas as festividades pagãs que quiserem, independentemente de serem dedicadas a ídolos, pois estes são apenas tipos e arquétipos sem valor; Deus não olha para isso;

5) Que o irmão parasse de falar em demônio, reino do mal, obras da carne, que só traz sentimento de culpa e dedo acusatório às congregações.

6) Finalmente, que o irmão autorize o rapaz que ajuntou-se com a mãe ou madrasta a viver a vida comum do lar, fazendo dela uma esposa feliz.

Com zelo pela Obra,
Concílio de Laodicéia"

............

Como diriam os gaúchos, "barbaridade, tchê"! Já imaginaram um absurdo destes?

Pois é. Isto não aconteceu. Pelo menos não ali. Está acontecendo aqui, agora, no meio do mundo chamado cristão.
E como começou?

Em 323 A.D. Constantino, imperador de Roma, oficializou o cristianismo como a religião oficial do Estado. Como a porta de ingresso não foi a conversão, admitiu-se que cada um trouxesse debaixo do braço o seu próprio deus, a sua própria cultura, os seus próprios costumes, as suas próprias feitiçarias, a sua própria moralidade. Juntou-se tudo e formou-se uma colcha intragável de paganismo. Ao longo da história desta igreja inúmeros clérigos buscaram a vida monástica, os mosteiros, as grutas, para fugir da orgia religiosa deste cristianismo forçado. Em séculos a massa heterogênea transformou-se num bolo homogêneo de doutrinas, de dogmas, de crendices, de tradições e de regras. Pouco do cristianismo original ficou.

Um milênio e muitos séculos depois, na década de 60 do século XX, o Papa Paulo VI convocou um concílio da Igreja Católica Apostólica Romana. Deste concílio participaram as autoridades eclesiásticas chamadas de Sagrado Magistério (Papa, Cardeais, Bispos). Durante muito tempo discutiram as doutrinas e práticas cultuais católicas e chegaram a um consenso: o catolicismo deveria abrir-se às outras expressões religiosas, principalmente às chamadas cristãs sectárias (protestantes e pentecostais), acolhendo a fé diferente, ainda que considerando a católica romana única representante da verdade completa.

Lefèvre, um bispo francês, opôs-se e iniciou um levante, um cisma no catolicismo. Sua tese era a seguinte: "Se eu, como bispo católico, creio que a minha fé é a verdade, como posso aceitar que outra fé, diferente da minha, também seja verdade? Se ambas são verdadeiras (e discrepantes), ambas são falsas, porque se anulam. Logo, aceitar que o catolicismo abra mão de suas tradições e fé em prol de outras maneiras de crer é negar a própria fé. Queremos continuar católicos e não admitimos a relatividade da verdade, que é unica." Esse bispo foi uma pedra no sapato de Roma. E o é até hoje, anos depois de sua morte. Bento XVI  o reconciliou pós-morte, mas o atual Papa, Francisco, é o absoluto antagonismo de Lefèvre.

Essa onda de abrir mão da fé para tolerar a fé alheia inundou o meio evangélico também. Antes, com modelos teológicos e eclesiológicos claros, o mundo protestante e evangélico tinha um modelo, um ideal e um limite; as pessoas aderiam buscando adequação a esta fé e a este modelo. Começando com os luteranos e atravessando o presbiterianismo e o metodismo, a onda chegou aos batistas e pentecostais. Hoje é muito difícil distinguir quem é quem, pois o caldo é tão denso e são tantas as misturas, que perdeu-se, inclusive, o motivo de se aderir à fé evangélica (ela tornou-se igual a qualquer coisa, inclusive a nenhuma fé).

Em minha denominação, a batista, a onda começou na outra América. Atravessou a Europa e, finalmente, arrebentou no Brasil. Uma tsunami de mudanças, de alterações, de agir no "politicamente correto". Hoje isso tem outro nome: "INCLUSÃO", "DIÁLOGO" e "TOLERÂNCIA".

A carta fictícia lá em cima teria o seguinte teor nos dias de hoje:
1) A igreja deve ser inclusiva, recebendo pessoas em qualquer estado civil; não há necessidade de mudar nada.

2) A igreja deve aceitar a opção sexual de cada indivíduo e família, buscando incluí-los na normalidade do serviço e da comunhão.

3) A igreja deve aceitar toda manifestação cultural como boa e possível na eclesiologia; logo, podemos usar os ritmos africanos das religiões ocultistas, o rock americano e europeu, as músicas das tribos indígenas, a música contemporânea, o funk de favela, qualquer uma, pois nenhuma é boa ou ruim em si; manifestam-se apenas como expressões de uma cultura.

4) A igreja deve ser totalmente democrática, optando pela forma de cultuar, de servir, de decidir as suas questões, independente de qualquer regra pré-estabelecida, pois isso seria uma intolerância e ditadura do poder religioso.Nem a Bíblia pode servir de regra, uma vez que era a expressão de uma época antiga e primitiva.

5) A igreja não é dona da verdade, ninguém o é; portanto, a verdade deve ser relativizada, buscando um consenso e uma tolerância entre as opiniões divergentes. Qualquer verdade é verdade se crida e abraçada.

6) A juventude pode se tatuar, usar piercings, drogas, bebidas, participar de festas e de vida sexual ativa, desde que respeite ao próximo e mostre bondade em tudo o que fizer.

7) O pastor deve ser, acima de tudo, um agente do diálogo, nunca repressor, jamais intolerante; deve buscar na contemporaneidade a resposta às questões de vida da comunidade, tornando-se referência de boas escolhas.

Poderíamos estender a lista à infinitude. Estes ítens nos bastam.

Isto prova uma coisa: perdemos um MODELO, UM ALVO, UM PADRÃO. Antes o padrão era Cristo e o "assim diz o Senhor". Hoje abandonamos o padrão e consideramos tudo como "opinião pessoal". Isso é bem explorado no filme "A JORNADA", de Rich Christiano. "O pecado se tornou lentamente aceitável para nós porque nós o vemos o tempo todo e não nos choca mais. Satanás é mais esperto do que pensamos. À medida em que as pessoas se tornavam mais liberadas, parecia haver cada vez menos convicção. Porque não havia absolutamente qualquer autoridade; por isso as pessoas podem blasfemar contra o nome do Senhor e não pensam nisso." Antes se dizia: "não roube porque Deus diz que é pecado". Hoje se diz: "não roube porque é pecado"; então alguém afirma: "esta é a sua opinião; a minha é outra". Na primeira havia uma autoridade, um alvo, um padrão, um Deus de autoridade. Hoje não há mais fé, não há mais padrão, não há mais uma uma voz de autoridade. E por que? PORQUE DEIXAMOS DE SER CRENTES. Somos qualquer coisa, mas não somos crentes. Parafraseando Lefrève, se o que eu creio como verdade na Bíblia não me é mais absoluto, então não há verdade e não há sentido na fé.
Mas, bendito seja Deus, nem todos foram atingidos por essa "TOLERÂNCIA", esse "DIALOGAR", essa "INCLUSÃO" generalizada.

Assim,

1) Igreja não é O SEU LUGAR, mas o lugar de quem está ligado a Cristo, por arrependimento e fé, através da regeneração pela conversão.

2) O corpo não é papel para ser rabiscado com tintas, vestido como palhaço ou furado como uma borracha; o corpo é templo do Espírito Santo.

3) O sexo não é mero meio de prazer, mas instrumento de perpetuação da espécie; meio de estabelecer o padrão divino na criação da família e célula principal na formação de uma sociedade cristã.

4) Homens com homens e mulheres com mulheres não são opções que Cristo, em Sua Palavra, tenha tolerado, permitido ou desejado; homem e mulher no princípio, no meio e no fim SEMPRE foi o ato criador de Deus; o que passa disso é de procedência maligna.

5) O Paulo que considerou toda a sua herança judaica como refugo por causa da sublimidade de Cristo, tem a mesma postura de uma igreja bíblica onde os costumes gentílicos e os pecados pagãos são banidos; logo, não há espaço num meio cristão legítimo para a admissão de bailes, de festas religiosas pagãs, de fazer do esporte um ídolo ou de transformar a liturgia do culto numa colcha cultural de retalhos étnicos. Também não há espaço para judaizar a igreja, transformando-a numa sinagoga, observadora de luas novas, de sábados, de festas nacionais de Israel ou de meros braços daquela nação. Somos da Nova Aliança no sangue de Cristo, que derrubou as muralhas e de ambos os povos (judeus e gentios) fez um!

6) A igreja verdadeira não admite outras verdades; para ela, Cristo é a verdade e a Bíblia é a regra de fé e prática, não sujeita às correntes e vertentes culturais da contemporaneidade sociológica; seus valores são milenares e não são reconciliáveis com o padrão comportamental de qualquer tempo. Está no mundo, mas não milita com ele em sua forma de pensar, agir ou conviver; sua proposta é muito, muito mais elevada.

7) Num mundo verdadeiramente cristão os homens são convertidos e são TRANSFORMADOS em novas criaturas, não recebidos com os seus múltiplos pecados e tolerados como jóias;

8) A igreja do Senhor não é uma costura de muitos membros de corpos diferentes, como um Frankestein sem alma; ela é padronizada pelo Senhor Jesus, onde cada crente é instado dia e noite a ser como o Seu Senhor, a andar como Cristo andou, a padronizar comportamento e fé à Palavra de Deus; e isto é obra do Espírito Santo no coração convertido, não a força de um condicionamento cultural ou massificação psicológica ou doutrinamento político.

Finalizando.

(E sei que Paulo não me ouve; é apenas força de expressão):

Paulo, Paulo, graças a Deus você foi quem foi! Temos orgulho de você!

Bendito seja Deus por sua vida de fidelidade ao Senhor, à Sua Palavra e à verdadeira fé.

Que nos inspiremos em você e em todos os outros apóstolos, colocando no topo o nosso Senhor Jesus Cristo, para não nos tornarmos mortos e falsos como a maioria dos crentes contemporâneos.

Seja Deus engrandecido.

Pastor Wagner Antonio de Araújo

* Graça e paz.

memórias literárias - 425 - NÃO TENHO TEMPO

NÃO TENHO
TEMPO

 
425
 
De fato não tenho. O tempo não me pertence; pertence a Deus.
 
Pertence ao meu Criador por direito. Ele me deu vida; logo, concedeu-me um prazo de validade. Por mais que eu queira preservar o meu livre-arbítrio, não posso ignorar que todos os meus dias estão escritos em Suas mãos divinas, um tempo limitado, contado, certo.
 
Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta quanto sou frágil. (Sl 39:4)
 
Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e voltam para o seu pó. (Sl 104:29)
 
Quando fui convertido a Cristo pelo convencimento do Espírito Santo, reconheci que a minha vida Lhe pertencia e dediquei-me completamente a Ele. Em Cristo recebi um tempo eterno, em glória, nas regiões celestiais em Cristo, dádiva, favor imerecido. Mas eu ainda não estou lá; e, enquanto aqui, tenho que viver cada dia para Ele, como testemunha, como Seu servo.
 
Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. (Gl 2:20)
 
Sou testemunha do Senhor, do que Ele fez em mim. Assim, enquanto vivo aqui, devo olhar com atenção as oportunidades de servi-Lo: testemunhar da fé em Cristo; servir ao próximo; acolher ao necessitado; utilizar os dons e talentos para o serviço dEle; amar a família e trabalhar com dedicação, fazendo sempre o melhor e para o Senhor.
 
De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. (2Co 5:20)
 
Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. (At 1:8)
 
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças. (Ec 9:10)
 
Não é a vontade de Deus que deve adequar-se às minhas limitações de agenda; é a agenda que deve ser subordinada à vontade do Senhor. Ele, como provedor de vida, saúde, trabalho e salvação, sabe bem conduzir a minha história; basta que eu me coloque exatamente no centro de Sua vontade.
 
Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus. (1Pe 4:2)
 
Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo. (Tg 4:15)
 
Em cada anoitecer devo deitar a minha cabeça no travesseiro e agradecer pelo tempo dEle que me foi confiado. Entregar-me uma vez mais à Sua inteira graça, rendendo-lhe o espírito, pronto para partir, se assim Ele o desejar. Ou oferecer-lhe com amor o sono e o dia seguinte, glorificando-O em tudo. Ou ainda rogando pela volta de Jesus, evento que mais anima e incendeia a nossa alma, pois assim "estaremos sempre com o Senhor".
 
Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. (Fp 1:23)
 
Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. (Fp 1:21)
 
Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras (1Ts 4:18)
 
À propósito, que tal usar algum tempo para refletir em tudo isso?
 
Wagner Antonio de Araújo

23/03/2017

memórias literárias - 424 - O HUMILDE E O SOBERBO



O HUMILDE
E O SOBERBO

A soberba do homem o abaterá, mas a honra sustentará o humilde de espírito. (Pv 29:23)
 
424
Há duas atitudes antagônicas, presentes em maior ou menor escala em cada um de nós. Uma é obra da carne; outra é fruto da comunhão com Deus.
 
A arrogância é achar que tem direitos, privilégios, que é moralmente superior, que tem maior grau de conhecimento e técnica, que conta com mais relações importantes, que possui maior riqueza, que é mais experiente e maduro. A arrogância mostra o orgulho e a ostentação. Quantos filhos querem ser mais do que os pais; quantos contratados julgam-se melhores do que os contratantes; quantos amigos acabam com os relacionamentos por não estarem iguais, mas julgarem-se superiores!
 
A humildade, pelo contrário, é exatamente inversa. É a característica de quem tem consciência de suas próprias limitações, de sua própria simplicidade e finitude, de que não sabe todas as coisas. A humildade é um caminho honesto de quem quer ser real e não imaginário. Há muito tempo escrevi uma reflexão sobre este assunto. Diz assim:
 
A HUMILDADE É A CHAVE QUE ABRE TODAS AS PORTAS.
O ORGULHO É A TRANCA.
 
Diante disto, gostaria de tecer algumas conjecturas sobre um e outro.
 
O arrogante pensa que já sabe tudo; o humilde sabe que não sabe nada ainda.
 
O arrogante não respeita os mais velhos por considerá-los incultos e pouco evoluídos; o humilde respeita a idade e, acima de tudo, o outro indivíduo.
 
O arrogante quer ser mais sábio que o seu professor; o humilde contenta-se em aprender sempre mais; e, mesmo que ultrapasse o professor em seus conhecimentos, não cessará de respeitá-lo, admirá-lo e honrá-lo por tudo o que lhe possibilitou.
 
O arrogante é prepotente e quer ter a última palavra sobre a questão. O humilde, pelo contrário, é dependente da verdade e quer que esta seja o fundamento de sua opinião, ainda que contrarie o seu gosto pessoal.
 
O arrogante quer impor o respeito pela força; o humilde pela sinceridade e respeito, pela paulatina conquista.
 
E no Reino de Deus? Como agem os dois na igreja?
 
O arrogante quer saber mais do que qualquer um, inclusive mais do que o pastor; o humilde não quer saber mais do que ninguém, apenas mantém-se fiel às Escrituras, que o orientam.
 
O arrogante debate sobre tudo, principalmente aquilo que não entende; o humilde ouve muito, escuta muito e procura falar pouco e com propriedade.
 
O arrogante coloca fogo de dissensão numa reunião; o humilde faz os ânimos serenarem com sua mansidão e sabedoria.
 
O arrogante não consegue dizer: errei; o humilde, pelo contrário, age como Jó: falei nesciamente, arrependo-me. E acaba por conquistar o respeito.
 
O arrogante julga rápida e erroneamente; o humilde analisa, pondera, estende a mão e faz o que a Bíblia diz.
 
O arrogante já sabe tudo; o humilde aprende o quanto pode.
 
Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. (Pv 16:19)
 
A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda. (Pv 16:18)
 
Em vindo a soberba, virá também a afronta; mas com os humildes está a sabedoria. (Pv 11:2)
 
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus;
 
Oh, Deus, faz-me mais humilde a cada dia. E que Cristo cresça, e que eu diminua. E que a autoridade de minha vida não seja a minha arrogância, mas a revelação de Tua Palavra, que é lâmpada para os meus pés, luz para os meus caminhos, bálsamo para a minha alma, vida para os meus ossos e fundamento sólido para as minhas decisões.
Ensina-me a respeitar os mais velhos como a pais.
 
Ensina-me a respeitar as cãs como aqueles que palmilharam muito mais longo caminho do que eu.
 
Ensina-me a respeitar quem está na lida do ministério, da profissão ou dos estudos de forma verdadeira e não irônica, pois se a experiência deles existisse em mim, eu poderia enxergar tudo com olhos diferentes.
 
Ensina-me a amar o meu pastor, orar por ele e ponderar nas suas palavras, desde que bíblicas e fundamentadas no evangelho.
 
Por fim, ensina-me a não ser arrogante com a minha família, os meus familiares, os meus colegas de escola, de trabalho e com os meus irmãos da igreja e da fé em Cristo.
 
Em nome de Jesus. Amém.
 
 
Wagner Antonio de Araújo

23/03/2017

sábado, 11 de março de 2017

memórias literárias - 423 - UMA INCURSÃO EVANGELÍSTICA - 11/03/2017


UMA INCURSÃO
EVANGELÍSTICA
11/03/2017


 
423
Planejamos, no início do ano, incursões evangelísticas à partir de março deste ano. Durante o mês fizemos as convocações. Ao longo da semana oramos pelo evento. Na noite anterior gastei muito tempo formatando o celular de minha esposa, pelo que deixei para preparar os convites que seriam anexados aos folhetos na manhã seguinte.
 
Bem cedo acordei, preparando o convite. Nele lê-se:
 
IGREJA BATISTA BOAS NOVAS
Rua Urano, 99
Jardim Novo Horizonte
CEP 06341-480 – Carapicuíba SP
Cultos aos domingos 9:30 e 18:30 hs
Quartas-feiras às 20:15 hs

OFERECEMOS GRATUITAMENTE:
VISITAS A IDOSOS E ENFERMOS
 CURSO BÍBLICO DE 4 SEMANAS
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VISITEM-NOS! TODOS SÃO BEM-VINDOS!
 
Imprimi 200, perfazendo 800 folhetinhos. Elaine veio auxiliar-me no corte e no encarte. Rutinha também fez a parte dela e o seu galardão está garantido: pegou folhetos no armário e os deu a nós. Enquanto eu me arrumava Elaine organizava os embornais, preparados graciosamente pela irmã Cleonice dos Reis Pinheiro (são os da foto acima).
 
Seguimos para a Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel. O tempo inspirava cuidados, pois uma forte chuva se formava. Chegamos à igreja. Encontramos Shiro, Dival e Esmeralda, os fiéis. Estes são "pau pra toda obra", "pés de boi". Se ninguém mais aparecesse, eles estariam à postos. Logo mais o Serginho também chegou.
 
Explicamos o que faríamos: uma dupla (Dival e Shiro) iria pela segunda rua acima, Esmeralda e eu pela Av. Júpiter (a rua de baixo) e o Serginho ficaria na pracinha e no perímetro da Av. Plutão. Cada embornal tinha 100 folhetos; havia 8, tinhamos fé, mas não atingimos os oito voluntários. Elaine e Rutinha ficariam na retaguarda, orando pelos semeadores.
 

Elaine e Rutinha

Esmeralda

Serginho

Shiro

Dival

Pr. Wagner
 Esmeralda e eu seguimos para a Av. Júpiter, a segunda travessa de quem sobe a Av. Plutão, que dá acesso à Rua Urano, local de nossa igreja. Nosso alvo era distribuir cem folhetos com convites nas caixinhas de correio dos vizinhos e para os transeuntes. E isto fizemos.
 
Enquanto caminhava e suava, lembrava-me da própria conversão. Lembrei-me do dia em que o Pr. Timofei Diacov entregou-me um folheto na porta de minha casa. Converti-me no domingo seguinte. Lembrei-me das inúmeras vezes em que o meu irmão Daniel e eu cobrimos a Vila Pompéia, Vila Romana, Vila Anglo Brasileira, Sumarezinho, de folhetos evangelísticos. Só nos dois, um em cada lado da calçada, evangelizando. Quanta saudade!
 
Entreguei para algumas pessoas na porta dos bares, das casas, nos pontos de ônibus. Algumas foram receptivas. Outras nem tanto. Um rejeitou. E alguns jogaram fora, depois de amassá-los. Não fizeram em minha frente; encontramos os restos na rua. Gentilmente tomei os pedaços e trouxe comigo.
 
Esmeralda demorou-se um pouco mais, pois entrou numa rua perpendicular. Disse que amanhã terá uma casa para eu visitar, fruto desta sua evangelização. Voltei à igreja, passando primeiro numa vendinha, onde comprei sorvete e sacolé para todos (sacolé é o mesmo que gelinho, dim-dim, chup-chup, um saquinho plástico com suco congelado, parecendo uma salsicha plástica). Ao chegar na igreja encontrei Elaine e Rutinha nos esperando.
 
Os evangelistas foram chegando, tomando o sorvete, água e contando as experiências. Quinhentos folhetos com convites distribuidos nesta tarde. Aqui estão elas, filmadas para que os amigos ouçam dos próprios missionários:
 
 

 
Oramos ao Senhor, agradecendo pela oportunidade de falar de Seu amor aos outros e pedimos para que as sementes tenham atingido terrenos férteis, para que pessoas sejam salvas. Particularmente temos orado por quinze batismos até o final do ano.
 
Planejamos nova incursão no reino do mundo, indo até a feira livre do domingo, o outro, levando literatura para distribuir. E, depois, poderemos alcançar também portas de escolas, de hospitais e dos pontos de ônibus. Mas tencionamos quinzenalmente agir. Oração é isso: pedir e agir. Pedir, temos pedido, e muito! Agir, começamos a fazê-lo.
 
Amanhã receberemos o jovem seminarista Vandor Pinho, da Igreja Batista Maranata, que estudará a fixação de uma bela placa com o nome da igreja (estamos sem). Não sei quanto custará, mas sei que é necessária e que chegou a hora de confeccioná-la.
 
Serginho levou Shiro e Dival para casa. Esmeralda ficou a tomar conta da igreja (ela mora ao lado) e eu com a família fomos embora. No caminho comemos um pastel com a Rutinha.
 
Espero que este testemunho tenha edificado o coração dos amigos e irmãos queridos.
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

 

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...