segunda-feira, 29 de maio de 2017

memórias literárias - 456 - OLHEI E VI

OLHEI
E VI

 
456
 
"Eis que olhei e vi.
 
No alto do céu, no meio do azul, um gigantesco tentáculo descendo com curvas e voltas por toda a parte. Um tentáculo escuro, viscoso e cheio de ramais, tentáculos menores, todos longos, grossos e assustadores.
 
Um deles entrava pela torre do canal de TV. Nas casas em que havia televisão o tentáculo saía, enrolando-se pela cabeça dos telespectadores, tapando os seus olhos e penetrando pelos ouvidos, chegando ao cérebro.
 
Outro penetrava pela torre de telemóveis, dos celulares. Propagava-se pelo ar, entrando pelos celulares dos consumidores. Estes, de olhos fixos para os ecrãs, recebiam bem no fundo dos olhos a penetração do tentáculo; outros, com o ouvido atento, o recebiam pela audição. Ainda outros através do consumo de produtos, sacando dinheiro das contas, entregando-os aos empresários movidos pelo tentáculo.
 
Havia outro mais assustador ainda. Ele penetrava pelas prensas dos jornais. Em cada página estampava frases que, ao serem lidas, geravam na mente um portal de penetração do tentáculo, amarrando a todos com o poder emanado deste sombrio ser.
 
Vi ainda o tentáculo subir do púlpito das igrejas. Semelhantemente eclodia das guitarras, das baterias, dos microfones de vocais e do auditório religioso. Impressionante foi vê-lo a sair das bíblias modernas, as novas traduções em equivalência sociológica, que igualam o texto à realidade do público-alvo. Pequenos tentáculos agarravam-se aos versos adulterados, cegando a vista dos cultuantes.
 
Tal visão me trouxe grande receio.
 
E falei: "Senhor, o que é isso? O que significa, Deus bendito?
 
E o Espírito Santo trouxe-me à mente estes textos:
 
E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. (Ap 12:9)
 
E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação. (Ap 13:7)
 
E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs. (Ap 16:13)
 
Recebi o entendimento. Neste tempo do fim Satanás tentará de todas as formas escravizar o mundo, os reinos, os povos e até as igrejas de Cristo, no seu projeto maligno de consumir o cristianismo e os padrões morais das nações. E conseguiu, através da tecnologia, propagar os seus tentáculos com a facilidade da presença maciça e completa em toda parte, através da comunicação das redes. Ele entretém a todos. Dá a todos o que lhes faça deixar de pensar, de reagir, de construir. Aos festeiros dá festas; aos promíscuos dá pornografia; aos filósofos dá discussões e debates que levam do nada a lugar nenhum; aos corruptos dá vistas grossas aos magistrados; aos religiosos dá sinais e maravilhas para crerem na mentira. E, mediante esse poder maligno asfixia a verdadeira cristandade ainda presente no mundo. Estes, servidores do próximo, propagadores do Reino, anunciadores de boas-novas, acabam sucumbindo à solidão da contracultura, perdem o foco da luta pela pureza da mensagem e padrão bíblico de seus cultos. Satanás vai junto com cada um, levando seu self service de opções para entreter, para divertir, para gerar profundo e completo afastamento do genuíno altar de Deus (a oração submissa, a intercessão, o desvio do mal, o abandono do pecado, o cultivo da fé, a humildade da vida, a pureza de mãos e a autoridade das Escrituras Sagradas).
 
Perguntei: Senhor, há solução para isso? Afinal, a corrupção avassala o país, a Europa se destrói com o terrorismo que lhe chega, a América do Norte dividida abandona a fé cristã de seus pais e o mundo abandona o temor de Deus; há alguma solução?
 
Mais uma vez o Espírito Santo trouxe-me a Palavra:
 
Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. (Ap 22:11)
 
Porque a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará. (Hc 2:3)
 
Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima. (Lc 21:28)
 
Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais. (Lc 12:40)
 
O vento frio da montanha gelava-me o rosto. Já entardecia. E os tentáculos espalhados pela cidade, quiçá pelo mundo, continuavam ali, feios, horrendos e em plena proliferação. Mas vi também que nem todos estavam por ele dominado, pois havia gente liberta e que caminhava ereta e imune a este poder. Então olhei para mim e emocionei-me, pois nenhum tentáculo me envolvia, ainda que alguns estivessem bem próximos. Lembrei-me da Palavra:
 
Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. (1Co 10:12)
 
Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. (Rm 11:21)
 
Orei então:
 
Deus bendito, tem misericórdia de Teu povo! Aviva a Obra de Tuas mãos e santifica a Tua Igreja!
 
Foi então que, enquanto orava contrito, ajoelhado e, depois, prostrado, ouvi no coração esta inesquecível mensagem:
 
Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. (2Tm 2:19)
 
Apartar-me-ei, pois, Senhor, da iniquidade. Glorifica o Teu nome em mim.
 
Amém".
 
 
Wagner Antonio de Araújo
29 de maio de 2017

quinta-feira, 25 de maio de 2017

memórias literárias - 455 - SOCORRE-NOS, Ó DEUS!

SOCORRE-NOS,
Ó DEUS!

 
455
 
O Brasil chafurda na lama da crise. Por todo lado que se olha há indícios de corrupção. Em toda pesquisa publicada há sintomas de lavagem de dinheiro, de propinas (luvas, em Portugal) distribuídas às pampas, à muita gente. Toda empresa bem sucedida nos últimos anos, que se tornou gigantesca, que enriqueceu com empréstimos do BNDES ou com serviços públicos acaba por demonstrar que participou, de alguma forma, de algo ilícito que prejudicou o país e favoreceu aos poderosos que governam. Até igrejas que supostamente prosperaram, com grandes multidões de incautos seguidores e patrimônios faraônicos, acabam por demonstrar, lá na frente, que seus líderes usaram do ilícito, seja nos contatos políticos, seja em ofertas milionárias de esquemas de corrupção, seja no leilão de seus púlpitos para candidatos ou ideologias políticas.
 
Isto me faz lembrar um precioso versículo da Palavra de Deus:
 
"ELEVO OS MEUS OLHOS PARA OS MONTES; DE ONDE ME VIRÁ O SOCORRO? O MEU SOCORRO VEM DO SENHOR, QUE FEZ OS CÉUS E A TERRA". Salmo 121.1
 
O salmista não vivia num mundo diferente do nosso. Se lermos os livros de Samuel, dos Reis e das Crônicas, perceberemos que poucos eram os anos em que Israel ou os dois reinos divididos viveram em paz, prosperidade e felicidade nacionais. Ao contrário, quase sempre o país e os reinos divididos atravessavam crises. Um rei era bom e o outro era um ímpio. Dez anos de relativa tranquilidade e vinte anos de perseguições e invasões. Um rei pacato e, em seguida, um ímpio idólatra. E o povo era muito pior do que o de hoje: eles tomavam os seus filhinhos e os queimavam vivos nos altares dos deuses. E não estou falando de pagãos; estou falando de judeus!
 
Se bem que, se formos analisar à fundo, os crentes de hoje queimam também a sua prole a outros deuses. Oferecem-nos ao deus do mundo, com todas as suas manifestações ímpias. Entregam os seus filhos à música pornográfica e chula, permitindo que construam o seu gosto musical com o que há de pior em termos de formação. Oferecem aos filhos o deus da tecnologia, dando-lhes carta branca para navegarem livremente pela internet e baixarem o que quiserem, sem avaliar se o que assistem é construtivo, de boa moral ou formativo. Entregam os seus filhos à vaidade, permitindo que se firam com piercings, com tatuagens e com as fantasias de seus grupos, gangues e times de futebol. Por isso o sacrifício no altar do demônio só mudou de ritual; a dedicação a Satanás continua a mesma...
 
Com um índice que chega a perto de quarenta por cento de toda a população brasileira, os evangélicos não funcionam como sal da terra, como luz do mundo, como semeadores do evangelho. Pelo contrário, assemelham-se aos judeus que acendiam um sacrifício ao Deus Eterno e sacrificavam a Baal. Poucos são os Elias, cujos sete mil joelhos não se dobraram ao inimigo. Poucos, mas reais. E por serem reais, ainda representam uma esperança. "Se houver dez justos no Brasil, destruirás o justo com o ímpio?", poderíamos conjecturar, usando a frase de Abraão ao referir-se à iminente destruição de Sodoma e Gomorra. Mas será que temos dez justos?
 
ELEVO OS OLHOS - Não conseguiremos a solução da crise brasileira olhando no nível em que todos olham. A solução não está em nossa sociedade, em nossas instituições, em nossas empresas, em nossos partidos. Enquanto os olhos estiverem voltados para os lados, a solução não virá.
 
ELEVO OS OLHOS - A solução vem de cima, não de um avião ou foguete, não de uma bomba devastadora, não de tempestades destruidoras. Os olhos devem voltar-se para além, mais acima; os olhos devem focar-se em Deus, que habita os Céus e que não se corrompe com absolutamente nada. Ele é quem tem a solução!
 
ELEVO OS OLHOS PARA OS MONTES - Às alturas é que devemos olhar. E quem olha para as alturas tem esperança, tem o que ver. O auxílio virá do alto. Deus até pode usar as instituições que existem ou fazer-se valer desta ou daquela pessoa. Mas, acima de tudo, a solução vem de cima, vem de Deus, vem do Criador. E Ele não abandonou o Brasil, pois está atento à oração dos Seus servos, que clamam noite e dia por uma solução.
 
O MEU SOCORRO VEM DO SENHOR - É Deus quem socorre. É Deus quem surpreende. É Deus quem tem a resposta certa. E Sua resposta está acima do que qualquer um de nós possa oferecer. Quando Samaria padecia de fome e mães comiam os seus filhos defuntos, Deus reverteu a situação em vinte e quatro horas, afugentando os soldados que sitiavam a cidade e oferecendo todos os víveres que eles mantinham em suas barracas. Em vinte e quatro horas a comida era tão farta que o preço era ínfimo. Noutra situação os hebreus estavam encurralados diante do Mar Vermelho, perseguidos por Faraó. Não havia humana alternativa senão morrer. Então Deus veio do céu a soprar o mar e a abrir um caminho seco para que eles passassem. E toda aquela gente encontrou a solução que veio de cima. Um último exemplo: as pessoas estavam tão concentradas nos ensinos de Jesus, que nem perceberam que o dia declinava e que não havia o que comer. Então Jesus transforma uns poucos peixes e pães em alimento para mais de cinco mil homens, sem contar as mulheres e inúmeras crianças! O meu socorro vem de Deus, só de Deus!
 
DEUS FEZ OS CÉUS E A TERRA - Não se trata de um iniciante, de um estagiário, de um incompetente, de um imperfeito. Não se trata de alguém que pode tentar solucionar uma situação. Deus é o criador, Ele tem a solução para os problemas. Conquanto vivamos os dias do fim, onde o juízo divino virá sobre todas as nações, não sabemos se este é o fim propriamente dito. Se for, Ele arrebatará a Sua Igreja. Se não for, de duas uma: ou uma perseguição nos dará a oportunidade de sermos mártires da fé, ou então Ele acolherá a nossa súplica e trará uma solução na qual não havíamos pensado, algo que Ele, somente Ele, pode e faz acontecer. Quem esperava que numa ordem imperativa do Senhor Jesus o mar fosse se aquietar naquele dia de tempestade? Todas as soluções viáveis (jogar coisas ao mar, pular na água para nadar, chamar por socorro) eram fatalmente inviáveis e impossíveis. A solução de Jesus foi, além de inesperada, eficaz: Sua voz aquietou o mar.
 
A voz de Deus pode afugentar esse ataque de demônios que acomete o Brasil e colocar as coisas em seus lugares, de uma forma nunca antes vista. Não sabemos se Ele o fará. Se não o fizer, seremos gratos e aceitaremos a Sua vontade. Mas, enquanto não temos certeza disso, podemos e devemos clamar, clamar, clamar.
 
E olhar para os montes, de onde nos virá o socorro.
 
Socorre-nos, ó Deus!
 
Wagner Antonio de Araújo

25/05/2017

segunda-feira, 22 de maio de 2017

memórias literárias - 454 - O CRENTE EM CAMADAS


O CRENTE

EM CAMADAS


454

O técnico de informática consertava o meu computador e, enquanto conversávamos a máquina atualizava as informações. Falávamos sobre a falta de integridade das pessoas. Ele confidenciava-me sobre a decepção tida com certas pessoas públicas a quem conhecera. Eu mencionei um artista de TV, que faz o boneco de um programa de auditório. Também faz um papel num programa de humor daquele canal, representando um professor promíscuo que gesticula chulamente enquanto disfarça suas conquistas. Esse artista é evangelista (identificado como pastor pelo apresentador) de uma grande denominação evangélica. Já pregou naquele congresso neopentecostal do sul do país, jactando-se da vida dupla. Então o técnico me perguntou: "Por que as pessoas são assim? Não combina! Como conseguem?"

Eu lhe disse: "Você, que conhece tudo de computação, sabe que pode fazer camadas de programação. Assim, sobre a plataforma do meu sistema consegue rodar diversas coisas diferentes, algumas completamente diversas. São camadas de funcionamento da máquina. A vida de certas pessoas também é assim. Esses homens que se dizem crentes e vivem no pecado são crentes em camadas, dedicando apenas um espaço da vida à fé, sem deixar-se influenciar no todo pelo poder de Cristo. Podem ser promíscuos, podem ser adúlteros, podem ser desonestos, podem usar vocabulário chulo, mas, quando vão à igreja ou quando fazem seus ritos evangélicos, rodam uma outra camada de si mesmos. Eles pensam que são crentes, mas, na verdade, são homens em camadas. E pessoas assim não se converteram por inteiro. Cristo sempre salva o homem por completo.  Logo, se só uma camada roda o evangelho, então essa salvação é periférica e falsa. Ele não está salvo; é um blefe". Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt 7:20)

De fato Jesus insistiu com os apóstolos quanto a ser ÍNTEGRO, inteiro, em sua fé e prática, quando disse:

Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa (Lc 6:49)

Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. (Mt 10:37)

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. (Mt 6:24)

Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. (Lc 13:3)

Geralmente esses "crentes em camadas" procuram igrejas periféricas na mensagem, cujo conteúdo não afeta a vida dos seguidores. Hoje tais igrejas são explícitas nos convites: "somos inclusivos, não temos preconceitos, aceitamos toda sorte de sexualidade, de comportamentos, de posições políticas, de práticas de vida. Todos podem compor esta igreja". Há muitas assim. Em minha denominação há igrejas tão liberais que não exigem nem conversão e nem a presença; apenas o cartão de crédito cadastrado. Há igrejas que só pedem tolerância. No meio neopentecostal tem igrejas para lésbicas, para gays, para práticas de religiões ocultistas, para livres pensadores, para judaizantes, para roqueiros, para fanqueiros etc. Isto é, as pessoas são crentes numa camada, a intelectual, a emocional, a comercial, mas não o são no íntimo, de uma forma que altere radicalmente a sua existência. E um evangelho que não corta pela raiz a vontade do pecado não é realmente o evangelho de Cristo.

Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. (1Jo 3:9). Entenda-se por "não peca" (nesta versão antiga) o sentido de "não vive pecando". Afinal, no mesmo texto, escrito está: Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. (1Jo 2:1)

Se uma suposta conversão a Cristo mantém o indivíduo do mesmo jeito que era, modificando apenas a sua prosperidade, popularidade, cura física ou felicidade emocional, então não houve verdadeira conversão; ouve adaptação externa, uma camada fina de verniz sobre um coração tão pecaminoso como antes.

E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? (Lc 6:46)

A verdadeira conversão exige obediência. Se não houver obediência a fé é vã e a pessoa não passa de um "crente em camadas", isto é, um cristão de mentirinha.

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. (2Co 5:17)

Ou Jesus é o Senhor de tudo e muda o homem na plataforma principal, ou não é senhor de nada, ainda que haja muitos crentes em camadas. Finda a vida acabam-se as camadas e não sobra nada. Essa fé não me interessa.

Wagner Antonio de Araújo

23/05/2017

memórias literárias - 453 - PESADO FOSTE NA BALANÇA

PESADO FOSTE

NA BALANÇA


453
Um grande banquete. O filho de Nabucodonosor regozijava-se com os seus convivas. Bebia, comia, ria, dançava, desfrutava de todo o poder e luxo que o seu pai Nabucodonosor lhe deixara como herança. Mas era um rei medíocre.

Então orgulhou-se de quem era e mandou buscar nos depósitos do palácio os utensílios de adoração do Deus de Israel, armazenados pelo pai há anos, quando invadira o templo em Jerusalém. Tomou-os e celebrou aos seus deuses, bem como sorveu vinho e bebidas misturadas, junto com suas mulheres e convidados.

Imediatamente uma mão surgiu na parede, vinda de outra dimensão. Escreveu na parede palavras inintelegíveis. O rei percebera que forças maiores do que as dele estavam presentes e que boa coisa não era. Buscou alguém que as interpretasse. Não encontrou, ainda que prometendo cargos e presentes. Sua esposa lembrou-o de um velho funcionário público da alta administração, que também era profeta, Daniel. Mandou chamá-lo.

Perguntou o que era aquilo e disse que se a resposta fosse satisfatória, fá-lo-ia o terceiro no império e dignatário de inúmeros presentes. Daniel, homem velho e muito experiente, manda ele fazer o que quiser com os presentes, que não tinha interesse em nada daquilo. Mas que daria a interpretação daquela escrita.

MENE - MENE - TEQUEL - UFARZIM. Esta é a interpretação daquilo: mene: Contou Deus o teu reino, e o acabou. Tequel: Pesado foste na balança, e foste achado em falta. Peres: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas. (Dn 5:26-28).

Naquela mesma noite o rei foi capturado e morto. Acabou-se a arrogância deste homem que não soube administrar as coisas que recebera.

Isto serve de exemplo para muitos de nós. Quando necessitados clamamos a graça de Deus. Pedimos uma esposa. Pedimos um carro. Pedimos uma oportunidade de emprego. Pedimos a solução de um problema. Suplicamos por uma cura. Deus, em Sua infinita misericórdia, acolhe o nosso clamor e nos abençoa. A bênção é maravilhosa! Recebemos os recursos, o emprego, a saúde, a solução dos problemas, enfim, recebemos as bênçãos do Senhor.

Então, de barrigas cheias e bem nutridos, esquecemo-nos de quem nos abençoou e dos compromissos que assumimos com o Senhor. Agora não precisamos mais dEle. Antes O buscávamos por interesse, por necessidade. Aceitávamos a oração de todos e íamos à Casa de Oração até em dias em que não havia culto. Considerávamos importante ler as Escrituras Sagradas, fazer as nossas ofertas e entregar os nossos dízimos e manter de forma correta a nossa vida particular.

Mas agora, quando não precisamos mais de nada, esquecemo-nos de quem nos salvou, de quem nos curou, de quem nos resgatou e acolheu as nossas inúmeras súplicas. Vamos às festas! Sim, aos festejos distantes de Deus. Festas por si só não são ruins, mas nós festejamos os motivos errados e de forma mundana, descompromissada com os valores de Deus. Se compramos o sítio tão sonhado, deixamo-lo arrancar o Dia do Senhor da nossa agenda, porque agora temos que cuidar da fazenda. Se foi um emprego, atulhamos o domingo de atividades profissionais, sem pejo em arrancar de Deus as preciosas horas de adoração. Se fomos curados, nem sequer nos lembramos de consagrar o próprio corpo ao serviço divino, buscando ao Senhor em Sua casa e servindo ao próximo.

Nós tomamos as coisas santas e as secularizamos, transformando a fé numa mera discussão de opiniões. Abandonamos a igreja e passamos a considerar um grupo de internet como suficiente para um compromisso pessoal com o evangelho. Deixamos a Casa de Deus, o exame da bíblia, o serviço comunitário, o investimento nos dons e talentos e usamos tudo o que recebemos no mundo, de onde fomos resgatados.

É tão típico do ser humano! O grande jogador de futebol da atualidade foi um garoto de igreja e hoje não tem tempo para o evangelho e nem dá testemunho do que aprendeu. Mas dá ofertas polpudas e cala a boca dos seus pastores. Compra com dinheiro e usa os utensílios do templo numa carreira mundana. Aquele cantor de rock, de quem dizem que não morreu, aprendeu a cantar na igreja. Não só ele, mas a outra que se suicidou aos 37 anos, o cantor cego que virou ícone da música negra, o outro que inventou o funk americano etc. Tomaram os utensílios do templo e foram beber com as devassas. E muitos pastores, que entraram nos seminários humildes, com o desejo de um preparo melhor para servir a Deus nos cultos e na evangelização, tornaram-se políticos e politiqueiros da fé, favorecendo a si próprios e à família, envolvendo-se com o pecado, com os desmandos, desvios e fraudes. Que vergonha! São uma metamorfose ambulante, no dizer do poeta mundano.

Ah, você que me lê! Cuidado com a mão de Deus na parede! Pois um dia destes, sem avisar, o Senhor poderá escrever em letras garrafais: PESADO FOSTE NA BALANÇA E ACHADO EM FALTA.  Quando Deus desistir de tocá-lo, conduzindo-o ao arrependimento, não haverá nada que possa ser feito. Não adiantará chorar por ter perdido o emprego, nem reclamar pela doença grave que regressou ou o acometeu, ou pelo patrimônio que esfarelou como areia (não que essas coisas apenas signifiquem penalidades, mas que, associadas com o abandono da fé, são!) Naquele dia você poderá chorar, lamentar, clamar, mas já será tarde demais.

Volte-se para Deus. Regresse ao primeiro amor do evangelho. Seja um simples cristão praticante e abandone toda essa jactante teologia que faz de você um polemista de desculpas. Volte-se para o Deus a quem um dia você serviu. E não perca o patrimônio espiritual que um dia recebeu das mãos do Pai. Senão, aguarde que a mão virá e você terá que ler sozinho o que estiver escrito, pois Daniel não lhe socorrerá com a interpretação.

Tenha Deus misericórdia e desperte os que ainda dormem no pecado.

Wagner Antonio de Araújo

22/05/2017

sexta-feira, 19 de maio de 2017

memórias literárias - 452 - INTEGRIDADE


INTEGRIDADE

 

 
452
 
Essa tal de integridade anda escassa no Brasil. Talvez no mundo.
 
Qualquer um tem direito de ser quem o que quiser e pensar como desejar. Porém, se ao longo da vida faz mudanças bruscas, sem a justificação de uma conversão ou de uma legítima motivação, a imagem que transmite é de que não é uma pessoa íntegra.
 
Pior que isso é quando na frente das câmeras porta-se de uma forma e, por trás, vive uma outra realidade. Hoje, estarrecidos, os brasileiros enxergam o quanto os políticos são corruptos. Nesse mar de lama contemplam pessoas que, sob uma câmera oficial, falam bonito, falam o que todos gostam de ouvir, seja para os de direita, seja para os de esquerda. Eles sintetizam um desejo nacional e polarizam a popularidade. Porém, quando filmados, gravados ou descobertos por detrás das câmeras, o resultado é terrível: são exatamente iguais, corruptos e devassos.
 
A Bíblia já falava sobre isso há muito tempo. O profeta Jeremias já dizia a Israel: Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! (Jr 17:5)
 
Quando tornamos uma pessoa a quem admiramos nosso ídolo, cedo ou tarde descobriremos que ele não é realmente tudo aquilo que nós idealizamos. Mais grave ainda é quando ele é um enganador, que simula na nossa frente uma realidade que não lhe diz respeito. Jesus disse isso dos fariseus, quando exclamou: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. (Mt 23:27)
 
Há pastores que são um blefe perfeito. Nos púlpitos são verdadeiros anjos de gravata. Falam os oráculos divinos e simulam um poder e uma fé absolutamente verdadeira. Posteriormente, quando descobertos em suas vidas privadas, mostram que não passavam de hipócritas e mentirosos. Nesse rol está aquele pastor pentecostal, que, ao gravar com sua esposa um programa, aborreceu-se e xingou-a no áudio. Não sei como o material veio parar na internet. O outro, filho que leva o nome do missionário seu pai, dono de uma das maiores denominações neopentecostais do país, foi descoberto num caso de sedução a moças, com conversas prá lá de impróprias para uma pessoa de bem. Um outro foi filmado com uma amante, flagrado pelo marido dela. Coisas como essa geram um escândalo tão profundo, que afastam os incrédulos do evangelho e tornam insustentável a vida de muitos crentes escandalizados. Por isso a Bíblia afirma: Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! (Mt 18:7)
 
E antes que uma porção de pedras sejam atiradas nestes citados acima, seria bom que fizéssemos uma análise de nós mesmos. O que seria de nossa imagem pública se fôssemos gravados ou filmados em nossa vida privada, em nossos negócios particulares, em nossos relacionamentos afetivos, em nossa vida espiritual? Por exemplo, uma câmera em nosso quarto: flagraria a imagem de uma pessoa crente, que tenha ou não família, ou o comportamento idêntico aos não cristãos? Se uma câmera nos filmasse ao volante do automóvel no trânsito, será que a linguagem que usamos poderia ser reproduzida no púlpito de uma igreja ou numa reunião entre os nossos familiares? E a nossa vida financeira, seria de fato uma vida de honestidade ou há coisas ilícitas que praticamos para benefício próprio ou de terceiros? Como diria a personagem Luna dos desenhos infantis, "são tantas perguntas!"
 
A coisa mais linda é um crente ser flagrado em sua vida privada comportando-se como um crente. Um homem de Deus tem vida honrada na frente dos outros e na sua vida privada. Que coisa linda quando os políticos da época buscaram flagrar Daniel numa ilicitude nacional. Foram até a sua casa para testemunhar o fato. E testemunharam. Não, ele não estava com uma mala de dinheiro, não estava xingando os mais variados palavrões e nem amotinando-se contra o poder. Vejam o que acontecia: Então aqueles homens foram juntos, e acharam a Daniel orando e suplicando diante do seu Deus. (Dn 6:11) Passou pela provação de ser punido por ser um homem crente; mas Deus o libertou e fez dele um exemplo: Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. (Sl 37:5).
 
 
No início do livro ESTE MUNDO TENEBROSO volume 1, Frank Perretti conta a estória de dois anjos que corriam para a pequenina igreja da cidade. Havia uma bem grande, mas não a procuraram. Passaram pela parede da igreja e encontraram, entre um banco e outro, um pastor sofredor e lutador, que, de joelhos, rogava a graça de Deus pela sua igreja e pela conversão da sua cidade. Os anjos dizem: "É por causa dele que estamos aqui". Ah, quantos que me lêem, sejam pastores, sejam leigos, sejam homens, sejam mulheres, sejam jovens, sejam crianças, poderiam também ser flagrados pelo Céu a orarem? Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras. (Dn 10:12)
 
"Oh, Deus, peço a Ti que eu tenha integridade! Que eu seja o mesmo na frente dos outros e na ausência de todos! Que a minha fé não seja hipócrita, mas séria e verdadeira! Peço-Te que me ajudes a vigiar, para que eu não entre em tentação. Que eu não escandalize a ninguém, seja por palavras, por atos ou por pensamentos. Que a minha vida seja íntegra, que eu seja verdadeiro e que o Teu Nome seja honrado no meu viver. Em nome de Jesus, amém."
 
Wagner Antonio de Araújo

19/05/2017

sábado, 13 de maio de 2017

memórias literárias - 451 - A ESTÓRIA DE SOLANO


A ESTÓRIA
DE
SOLANO

 
451
 
Solano entrou na igreja como quem não queria nada. Chegou, sentou-se e ouviu os hinos. Gostou. Depois ouviu a pregação. No momento do apelo, entregou-se a Cristo.
 
Sua conversão foi genuína e rápida. Ele foi transformado pelo poder de Deus e em três meses foi batizado. Tornou-se membro da igreja. Trouxe a sua família para assistir. Eles gostaram, ficaram, converteram-se e também foram batizados. Uma família de seis, papai, mamãe e quatro filhos.
 
Mas Solano estava desempregado. Não tivera grande chance para estudar; suas qualificações profissionais eram muito limitadas. Os amigos diziam que ele não iria conseguir nada. Mas ele confiou no Senhor.
 
Fez fichas em todos os lugares disponíveis. Às vezes um ou outro irmão,  ao cumprimentá-lo, deixava dez ou cinquenta reais em sua mão. Ele, constrangido, não queria aceitar. Mas a insistência era grande e ele pegava. Sua esposa fazia artesanato para vender entre as vizinhas. As irmãs da igreja souberam e pediram para que trouxesse ali também, para que, após o culto, pudessem comprar. E assim garantia o leite e o pão das crianças.
 
Enfim, Solano encontrou uma vaga para trabalhar numa empresa de ônibus urbanos. Não era grande coisa. Seria faxineiro da garagem, lavando os ônibus que estacionavam após o expediente. Os colegas eram sizudos e reclamavam das condições e do salário. Solano, no entanto, ao chegar, trouxe uma luz para aquela empresa. Seu período da madrugada tornou-se muito agradável. Os colegas gostavam de ouvi-lo cantarolar os hinos que cantava. Ele o fazia baixinho, mas eles pediam que cantasse mais alto. E assim ia esparramando a mensagem de Cristo. Os ônibus passaram a ser lavados com mais cuidado, pois a paz que ele trouxera fez bem até para a produção. Em quatro meses chamaram-no no escritório. Ofereceram-lhe o serviço de cobrador (trocador).
 
Ele alegrou-se. Aceitou. E tornou-se um cobrador muito querido. Como a sua linha era fixa, conhecia as pessoas que utilizavam-se daquele ônibus. Os idosos, os trabalhadores, as mocinhas chegavam sorrindo, pois ele as recebia com carinho. E sabia o nome de muitas delas! No dia de Natal muitos passageiros trouxeram cartões e presentes para ele e para o motorista. Também pudera: ele pedia ao condutor para esperar a Dona Maria subir, dava um jeitinho para que alguém não ficasse sem a condução por faltar todo o recurso e, assim, conquistou o carinho da comunidade. Foram onze meses. Chamaram-no de novo. Promoveram-no a motorista! Sim, ele fez curso, habilitou-se e tornou-se motorista do próprio ônibus onde cobrava!
 
Dias inesquecíveis. Quando o fechavam no trânsito, ele não xingava. Pelo contrário, acenava e dizia: "Deus lhe abençoe, vá com Deus". Acabava por trazer paz nas ruas e avenidas onde estava. À noite, quando passava na porta da escola, via que muitos adolescentes corriam para pegar o ônibus. Então ele ia bem devagarinho, até que o grupo todo chegasse. A moçada amava o Solano! Ele não era só um motorista, era um amigo.
 
E na empresa ele não gerava ciúmes; pelo contrário, os colegas gostavam dele, porque "quebrava o galho" de muitos, cobrindo folgas, ajudando com horas extras, sendo camarada de todos.
 
Foram três anos. Promoveram-no a fiscal. Agora ele era o encarregado de uma grande turma. Foi o melhor período daquelas linhas. Os motoristas e os cobradores trabalhavam felizes, porque o Solano era humano, era gentil, respeitava a todo mundo. E, enquanto trabalhava, semeava a mensagem que o transformara: Cristo, o Senhor, o Salvador, o Rei dos reis. Solano nem sempre podia estar no domingo na sua igreja, mas, se não estava no domingo, estava na quarta-feira. Ele sempre amara o Dia do Senhor. Como era obrigado a trabalhar em alguns domingos, fazia do dia de sua folga o dia dedicado a Deus. Evangelizava, distribuia folhetos, cantava na igreja e dava conselhos à mocidade.
 
Muitos dos colegas de Solano tornaram-se crentes no Senhor Jesus. Ele comprava bíblias e folhetos e presenteava aos colegas, fora do horário de trabalho. Visitava alguns nas enfermidades, ajudava-os nas necessidades. Mais de quinze colegas tornaram-se crentes.
 
Solano aposentou-se. Seus quatro filhos o homenagearam quando completou oitenta anos. Todos casaram-se e se tornaram pais de família, amorosos e honrados. A esposa ficou doente, mas contou com os cuidados amorosos do esposo Solano com ela.
 
Faz pouco tempo o Senhor o chamou. Ele partiu para o Céu. No seu sepultamento estava quase toda a companhia de ônibus. Também os passageiros que por anos utilizaram-se dos ônibus que ele conduzia. Igualmente muitos motoristas que aprenderam a ter educação no trânsito com ele. Além destes estava a igreja onde congregava, os amigos dos filhos, a família, enfim, centenas de pessoas. E no seu epitáfio cravou-se em concreto a seguinte frase: AQUI AGUARDA A RESSURREIÇÃO O IRMÃO SOLANO, HOMEM QUE VIVEU A FÉ COMO NINGUÉM.
 
Que outros Solanos possam surgir no coração deste Brasil! Que a fé cristã seja vivida e encarnada com tamanha beleza como o foi no peito deste homem!
Wagner Antonio de Araújo
 

(ficção cristã)

memórias literárias - 450 - LOUVOR DE CONSUMO

LOUVOR
DE CONSUMO

450
 
Enquanto voltava com minha esposa da médica que a acompanha após o parto, ouvia a obra DE VENTO EM POPA, de Vencedores Por Cristo. Esse LP que virou CD teve até uma comemoração de seus trinta anos, celebrada com alegria e graças ao Senhor.
 
Não se trata apenas deste CD na discografia de Vencedores por Cristo. LOUVOR 1, SE EU FOSSE CONTAR, MAIS AMOR, são outras obras que ultrapassam o tempo e as gerações, chegando intactas às mãos dos ouvintes de todas as épocas.
 
Podemos citar o inesquecível GRUPO ELO com CALMO, SERENO E TRANQUILO, um LP gravado na garagem de um dos componentes, que se tornou épico. OUVI DIZER, UM SÓ REBANHO, UM DIA, outras produções que são, por si só, um monumento ao bom gosto e aos valores cristãos.
 
No campo dos solos, Luiz de Carvalho é imbatível com seus LPs inesquecíveis. OBRA SANTA, O REI ESTÁ VOLTANDO, ALVO MAIS QUE A NEVE, VEM VER, têm vida própria, não podem ser vistos com músicas individuais, mas no todo, no grupo das doze canções de cada um.
 
E aqui está o segredo: os louvores gravados antigamente tinham um projeto, um objetivo, um propósito: fazer conhecida a mensagem de salvação de Cristo Jesus, o Senhor. Os grupos jovens usavam os ritmos que se consumiam no período dos anos setenta, tanto aqui quanto nos Estados Unidos, e apresentavam ao pecador o plano de salvação, a razão para a vida, um rumo certo para que se seguisse. As canções eram cristocêntricas, as músicas do LP trabalhadas num projeto inteiro, um todo, objetivando, ao final, uma produção completa, com princípio, meio e fim. O resultado todos nós sabemos: tornaram-se atemporais, presentes em todos os tempos depois de produzidas.
 
Hoje, entretanto, não temos mais nada. O que temos é louvor de consumo. Grava-se não para apresentar a mensagem do evangelho para o pecador, mas para supostamente cantar a Deus louvores, que, para Deus, pouco sobra, pois o objetivo é criar baladas de entretenimento de culto. Tivemos um  tempo em que os chamados worships (louvores de adoração) invadiram as produções, e fizeram época, com músicas inesquecíveis sob a direção de Daniel Souza, Asaph Borba, Adhemar Campos e outras comunidades que gravavam Hillsong, ASCAP, Maranatha etc. Mas nem isso durou, pois hoje o que há é um grande nada, uma mistura de tudo sem qualquer sentido. O resultado: música de consumo, música descartável, música absolutamente de nicho, localizada, que só serve para uma determinada faixa (com exceções).
 
O pecador inconverso, coitado, foi esquecido. A música não é mais produzida para apresentar-lhe a mensagem de salvação. Pressupoe-se de que não há mais necessidade de evangelizar. As músicas precisam ser mantras, cantados "ad infinitum", até cansar, até que todos fiquem suando e entrem em transe. É preciso sentir arrepios e fazer rodopios. Por outro ângulo, muitos cantores mundanos, encontrando o mercado gospel, trouxeram para este público o sertanejo universitário, o axé, a lambada, o funk carioca, o forró pé-de-serra. Há produções feitas pelas mesmas empresas milionárias dos artistas do mundo. E o preço dos shows (sim, são shows) é caro o bastante para consumir parte do salário de um trabalhador. Mas, como produz muita emoção e como está no top do sucesso, os incautos pagam. E pagam caro!
 
Experimente falar a uma igreja comum sobre hinário, Cantor Cristão, Harpa Cristã, Salmos e Hinos, Melodias de Vitória. Eles pensarão que estamos falando em línguas ou citando museus. As canções que cantam são contemporâneas; leia-se: foco no homem que supostamente adora, não no Deus eterno e na Sua mensagem de salvação. Há exceções, e graças a Deus por elas. Mas são tão poucas que chegam a desanimar.
 
Está em tempo de voltarmos a fazer LOUVOR PERPÉTUO, LOUVOR PERMANENTE, fundamentado na Bíblia e que objetive a glória de Deus e a transmissão da mensagem de Cristo. A música cristã entrou na vida da igreja primitiva depois da era apostólica e o seu propósito sempre foi complementar, tanto para quem adora, fornecendo a melodia e a poesia, quanto evangelística, fornecendo a mensagem bíblica. Precisamos voltar às origens e abandonar esse mar de corrupção da música evangélica, cheia de astros humanos, mas sem a Estrela Maior, sem o Sol da Justiça, sem Cristo!
 
Ouvimos DE VENTO EM POPA várias vezes. E vamos ouvir muitas outras. E quando os meus filhos crescerem, se Deus quiser, estarão em contato com a boa música cristã, música cristocêntrica e evangelística, de produções que tiveram projeto, propósito e foco, e não do louvor de consumo, louvor que vence na próxima semana, louvor feito pra vender e não para evangelizar.
 

As benignidades do Senhor cantarei perpetuamente; com a minha boca manifestarei a tua fidelidade de geração em geração. (Sl 89:1)

memórias literárias - 449 - O CRENTE E AS BOAS OBRAS

O CRENTE
E AS OBRAS

449
 
Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta (Tg 2:26)
 
Nós, crentes em Cristo Jesus, somos pródigos em falar da Palavra de Deus, falar do Seu amor, do Seu perdão. Mas, infelizmente, muitos que se apresentam como cristãos, são meras árvores infrutíferas que, em lugar dos frutos só apresentam desculpas.
 
E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto. (Mc 11:14)
 
Nós falamos muito sobre o perdão. Dizemos que o perdão vem de Deus, que é preciso perdoar, que Cristo nos perdoou. Mas basta que alguém nos faça uma desfeita, falte com a verdade ou nos ofenda, para não provarmos do mesmo remédio no coração. Não perdoamos, criamos raízes de amargura e, não raras vezes, rompemos quaisquer laços de amizade e amor. O coração perdoador de Deus, que proclamamos, encontra um coração duro em nosso peito. E a incoerência se torna evidente.
 
Outras vezes nós é que somos os ofensores. Explodimos com alguém, ofendemos, fazemos algo que prejudica a alguém, o desmoralizamos publicamente ou em particular. Ganhamos a consciência de que fomos os errados na história. Mas pedir perdão? Jamais! "Pastor, o meu pai ofende a minha mãe e depois tenta consertar com atitudes; mas dizer: me perdoe; jamais o ouvi usar essa expressão. Ele nunca pede perdão!" Quantos crentes semelhantes a esse existem! Quantos crentes não pedem perdão ao pastor! Quantos pastores não pedem perdão aos irmãos! Mas continuamos a pregar sobre o amor e o perdão de Deus! Filhos, pais, sogros, cunhados, colegas, sócios, perdão é palavra fora do dicionário...
 
Falamos sobre a necessidade de uma vida de oração. Porém, na prática, não temos a tal vida. Temos o desejo, não a prática. E apresentamos inúmeras desculpas diárias: muitas atividades, trabalho, escola, namoro, cuidado para com os filhos, contas a pagar, muito cansaço. Então dormimos tranquilos, certos de que Deus compreenderá que não oramos porque Ele nos tem atulhado de coisas e de atividades. Ou seja, no final Ele é o culpado de nossa prédica diferente da prática! Síndrome de Adão, que culpou Eva, Eva que culpou a serpente, e serpente que não foi questionada, senão culparia a Deus por existir!
 
Proclamamos uma nova vida em Cristo, mals vivemos como os velhos mundanos de todo o dia. Onde nos encontram? Nos estádios, nos restaurantes, nos clubes, nas praias, nos encontros familiares, nos cinemas, em toda parte. E na igreja? Bem, se minha igreja for "prafrentex", então tem muitas coisas "da hora" pra fazer lá. Pode ser que eu esteja. Se Deus precisar de mim terá que me avisar com dez dias de antecedência, senão não terei condições de atendê-lo. Creio que será por isso que tais crentes não subirão no arrebatamento: Deus não poderá avisá-los com tal antecipação...
 
Chega de fé sem obras! Chega de palavras lançadas ao vento! Chega de crentes corruptos, presos na Lava Jato! Chega de pastores adúlteros! Chega de convenções guiadas por ordem judicial! Chega dessa vergonhosa falta de testemunho! Fé sem obras é morta! A fé que não vive o que prega pode até cantar bem, falar bem, ensinar bem, pregar bem, construir bem, prosperar bem, ser feliz bem. Mas não tem parte no Reino de Deus e não passará desta vida.
 
Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. (Tg 3:15)
 
A fé simples de um homem crente é tudo o que Deus requer de nós. Fé que prega o amor de Deus e encanta o coração deste homem com tal amor. Amor que se expressa em bondade, em auxílio ao próximo, em humildade, em desejo de repartir. Amor que sabe perdoar a quem o tenha ofendido. Amor que sabe pedir perdão quando erra e quando machuca o próximo. Fé que não dispensa a igreja, porque igreja é Corpo de Cristo e manifestação dos dons para serviço coletivo, além da edificação dos salvos. Fé que conduz à oração. Não a mera oração-clichê, oração de rotina, mas a uma vida de verdadeira busca do Altíssimo, prazer em deter-se com o Senhor! Fé que abre a agenda para a vontade de Deus, mesmo que seja uma vontade súbita, algo de momento. Afinal, se não fosse o Senhor que nos deu vida, saúde, trabalho, sabedoria e convívio, não teríamos agenda alguma!
 
Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. (1Jo 3:18)
 
Está na hora de vivermos o que pregamos. Pregar bem e viver bem. O mundo está olhando para nós.
 
Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. (Mt 5:16)
 
Wagner Antonio de Araújo

13/05/2017

memórias literárias - 448 - CRENTOLATRIA

CRENTOLATRIA


 
448
 
Eu moro em São Paulo e tenho acesso à Rua Conde de Sarzedas. É o reduto dos evangélicos. Eu lá estive para adquirir lembrancinhas para as mamães e buscar algumas bíblias. E, mais uma vez, voltei estarrecido e perplexo.
 
Não se trata de dizer que são lojas pentecostais ou neopentecostais. Hoje não há mais essa nomenclatura divisória. Os evangélicos misturaram-se de tal forma que até membros das seitas adventistas e mórmons estão com fatias deste mercado, com participações em nichos de música e de estudos bíblicos. Isto seria inconcebível há alguns anos; não hoje, porém!
 
Fui buscar uma bíblia da que uso, Almeida Atualizada das letras extra-gigantes. Não encontrei loja que me fornecesse uma sem letras vermelhas. A editora lança algo e o mercado tira o resto da prateleira. A editora não parou de publicar; os lojistas é que querem empurrar uma mercadoria só. Fiquei sem comprar.
 
Mas vi nas lojas, nas vitrines, nos balcões e nas promoções bíblias novas, de versões de fundo de quintal, bíblias modernas com retoques de marketing para serem adquiridas. Agora lançaram a bíblia tupiniquim. Quem a edita já fez duas versões da bíblia e coloca na capa: "esta bíblia vai falar ao coração do brasileiro". Então agora temos bíblias ao gosto das nações, ao gosto dos fregueses? Adaptamos o texto para o público? O tal editor, muito festejado e graduado, quando terminou a sua primeira versão, apareceu nos congressos, empurrando outra. Eu, valendo-me de conhecê-lo, perguntei: "você gostou do trabalho feito naquela primeira?" "Sim", respondeu-me. "Então por que está fazendo outra? A primeira não estava boa?" Ele saiu sem dar-me resposta. A quem essa gente deseja enganar? Vi uma tal versão restaurada, outra reformada, outra histórica, outra da graça, e cada um muda um pouquinho, para dizer que a sua é melhor. Quanto a bíblias de estudo, são uma vergonha! Um pastor tradicional é contratado de uma grande editora e já comentou todos os livros da bíblia e agora lançou a sua bíblia. Pelo que ele diz, que é diretor, cantor, pregador, preletor, teólogo, doutor etc, precisaria de 3 vidas de 50 anos para ter toda essa qualificação. Mas o povo, incauto, compra a idéia de que é ele mesmo quem comenta. E compra as toneladas! Cada apóstolo, doutor, dono de programa agora tem sua bíblia de estudo. Pensei: o que fizeram com a Sagrada Escritura?
 
Entrei em outra loja. Encontrei tudo dourado. Arcas da aliança com querubins, com andadores e com réplicas das tábuas da lei e da vara de Arão. Só não vêm com a glória de Deus, porque esta não se mistura com o mercantilismo diabólico. Havia roupas judaicas com franjas para todo o tipo de evento. Shofares e berrantes de várias espécies. Como o deus dessa gente é adaptável, é melhor tocar berrante e chamar o espírito do que um shofar. E os óleos de unção? Meu Deus, que fedor! Cheiro de mirra, de aloé, de bálsamo, de óleo de cozinha, quantos vidros e cores! Unção para vários tipos de coisa. Pensei nos dias em que trafegava pelos corredores do shoping da catedral de Aparecida do Norte: qual a diferença? As bugigangas só mudam de tema, mas a idolatria é a mesma.
 
E a luterolatria e calvinolatria? Uma aberração. Bíblia da reforma, devocional da reforma, livro de Calvino, livro de Spurgeon, livro de Lutero. Fotos por toda parte, como se estes nomes fossem os nossos santos protetores e diretores, que conduzem a nossa fé e a nossa vida. Que moral temos para falar da idolatria de fora, quando criamos o nosso próprio panteão de ídolos? Creio que se esses líderes do passado soubessem o que esta geração fez com eles, teriam os ossos a tremer no cemitério...
 
E a ostentação? Moda evangélica. Moda saia santa. Moda terno da prosperidade. As mesmas ostentações dos pastores da tevê vendida por eles mesmos, para ganhar um dinheirinho, formando clones. E nas ruas pregadores em início de carreira, vendendo dvds e cds de mensagens. "Irmão, tenho aqui uma mensagem poderosa de cura dos enfermos. Leve-a por vinte reais". "Irmão, Deus me deu uma revelação e eu a venderei por cinquenta reais em três dvds. Vamos levar?" "Irmão, quero te abençoar em sua igreja. Cobro só a condução e a alimentação. Vamos fechar agenda?".
 
Imaginei Jesus naquela rua. Uma guasca, um chicote bem caprichado e chutes aos montes naquelas prateleiras malditas da ostentação evangélica. A música que ali tocava nada tinha de louvor, senão de baladas para vender. "Chove, chuva, chove em minha vida, chove, chove, chove..." Ah, Senhor, quanta coisa errada!
 
Comprei o que precisava. Entre as mil lojas ainda há um restinho que se salva. Ainda há alguma livraria que vende coisa que presta. Ainda há um ou outro crente verdadeiro. Mas confesso: aquilo é um termômetro do quão distantes estão os evangélicos da Palavra de Deus. Cabe a nós, pastores deste tempo e que enxergamos isto (a maioria não enxerga) cuidarmos bem de nossas congregações, pregando o autêntico evangelho e orando para que os fiéis não se misturem com essa geração perdida.
 
Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; (1Tm 4:1)
 
Wagner Antonio de Araújo

13/05/2017

terça-feira, 9 de maio de 2017

memórias literárias - 447 - SAUDADES


... SAUDADES ...
 
447
Hoje, entre um toque do despertador e outro, fui conduzido a uma viagem pelas asas da saudade.
 
Senti saudades. Muita saudade!
 
Tive saudades da Good News, do Pr. Ralph Metcalf, da irmã Dorothy Whitehead. Tive saudades desta equipe inesquecível com a qual trabalhei por quinze anos. Eles eram de Carolina do Norte. Anualmente vinham duas ou três vezes com equipes de dez a trinta voluntários. Eu e a minha equipe dividíamos o grupo em duplas e os distribuíamos pelas igrejas solicitantes. Passavam uma semana em atividades evangelísticas. Visitavam escolas, hospitais, orfanatos, asilos, pregavam em conferências e faziam inúmeras visitas aos lares. Lembro-me de cada grupo. Quantos momentos de alegria, de indizível regozijo espiritual! Quantas vidas transformadas pelo poder de Deus! Quantas igrejas atendidas! Ralph aposentou-se. Dorothy está no céu. Ouço dizer que a Good News continua com alguns pioneiros e outros mais novos. Mas sinto muita saudade...
 
Saudades do Pr. Josué Nunes de Lima e da Igreja Batista em Jardim Brasil, zona norte da capital paulista. Ah, quantas vezes estive com ele, primando da bênção do aconselhamento pastoral e fraternal! Ele, um dos maiores pregadores que este Brasil já teve, era ao mesmo tempo um líder eficaz e um homem extremamente simples e gentil. Quantas vezes tomei café em sua casa, ao lado da irmã Albertina, sua esposa! Quantas lágrimas derramei no ombro daquele conselheiro e quantos sábios conselhos trouxe para a minha vida! Vi o Pr. Josué reformar o templo que ele tanto amava e estive na inauguração. Preguei naquele púlpito, que ele fazia questão de manter apenas para a hora do sermão, conduzindo o pregador de forma solene e grave. Josué hoje está no céu, sua primeira esposa também. Soube que o Jardim Brasil hoje vai bem e louvo a Deus por isso. Mas sinto muita saudade...
 
Saudades do Shalom! Sim, anos oitenta. Eu era um novo convertido adolescente, ávido para testemunhar de Cristo aos colegas. Encontrei o Albert, o Roger, a Sandra e começamos a nos reunir na hora do recreio, período noturno do Thomás Galhardo na Vila Romana, São Paulo. Aos poucos outras pessoas queriam juntar-se a nós, ou para ouvir uma mensagem ou para receber oração. Tornamo-nos fortes, mais de quarenta adolescentes na sala de aula no recreio. Chamamos a atenção dos professores. Um deles converteu-se. A diretora vinha assistir. Levávamos bíblia, violão, folhetos e aos finais de semana cantávamos em igrejas que nos convidavam. Foram quase três anos de trabalho. Os colegas cresceram. Uns tornaram-se pastores; outros perderam o contato. Mas foi um tempo inesquecível. Sinto muita saudade...
 
Saudades da Ordem dos Pastores Batistas do Estado de São Paulo, nos tempos do Pastor José Vieira Rocha. Como era bom! Ele, o líder máximo no respeito de todos nós. Sábias palavras, administração perfeita, bondade e piedade em tudo o que fazia. Lembro-me dos cultos às segundas-feiras mensais na Primeira Igreja Batista do Brás. Momentos ímpares, onde os colegas de toda parte da Grande São Paulo reuniam-se e trocavam experiências e desenvolviam amizade. O Pr. Vieira tratava-me com tamanho carinho paternal que acabava sendo um pai espiritual para mim. Mesmo sendo eu um pastor mais jovem levou-me a pregar na grande igreja que pastoreava, não uma e nem duas vezes. Ah, que honra, que graça inesquecível! O Pr. Vieira continua ativo no reino, agora um pastor emérito daquela igreja. Ele e sua esposa Diail fazem parte da minha história e da história de minha família, é meu conselheiro pessoal. Aquela ordem de pastores não existe mais, foi fundida com a nacional. Os cultos mudaram de horário e de estilo. Mas sinto muita saudade!
 
Saudade das visitas aos pastores idosos! Lembro-me quando o Pr. Josué Nunes de Lima, Pr. Edson Borges de Aquino e Pr. Tiago Lima precisavam de mim para levá-los a visitar colegas doentes ou idosos. Quantas viagens fizemos! Lembro-me das visitas que fizemos com o Pr. José Vieira Rocha e irmão Grigório. Fomos nas casas de obreiros que sofriam e trouxemos a eles o conforto tão especial naquelas horas de tanta necessidade. Saíamos confortados e com o coração repleto de gratidão! Sinto saudade...
 
E o que fazer com tanta saudade?
 
Transformá-la em gratidão, pois são memórias que o Senhor nos dá no exercício da fé cristã. Sou um bem-aventurado, pois pude lembrar-me do meu Criador nos dias em que não tinha meia idade. Assim, evocando as lembranças, posso trazer à mente coisas que me alegram e que puderam ser atos de louvor ao Senhor de minha vida. Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; (Ec 12:1)
 
Motivar-me para a continuidade do serviço, porque não me aposentei. Pelo contrário, enquanto eu tiver vida, saúde, fôlego de vida, continuarei a servir ao Senhor em todo o tempo e lugar, seja de uma forma ou de outra. As lembranças de felicidades passadas no serviço do meu Rei me incentivam a continuar e a viver outras tão boas ou até melhores do que aquelas. Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Fp 3:14)
 
Quero servir ao Senhor até o fim e ter a felicidade que o Apóstolo Paulo teve, ao deparar-se com a morte próxima. Ele, que não economizara tempo algum no serviço do Senhor, que dedicara cada minuto, cada segundo, cada passo, cada palavra a semear a Palavra de Deus, a testemunhar de Cristo como o Messias prometido e a fundar igrejas onde a mensagem fosse pregada e vivida, pôde constatar, nos seus últimos momentos, e para a glória de Deus, que buscara fazer o possível e o impossível para manter-se fiel e produtivo. Quero que assim aconteça comigo, independente do tempo de vida que ainda tiver pela frente.  Quero poder dizer como Paulo: Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. (2Tm 4:7)
 
A saudade dói, principalmente quando aqueles a quem amamos já não estão mais entre nós. Dói quando as obras que fazíamos não são mais do jeito que eram. Dói quando somos privados daquelas mesmas experiências que tínhamos. Mas não não nos impedem de descobrir novas oportunidades, novas pessoas, novas alegrias e novas chances de servir mais e melhor. Para o crente a vida é sempre uma dádiva; as folhas que hoje caem adubam a terra para que a nova produção seja mais frutífera e bonita.
 
Bendito seja Deus pela dádiva da saudade!
 
Wagner Antonio de Araújo

09/05/2017

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...