terça-feira, 28 de abril de 2020

memórias literárias - 877 - QUE VALORES?

QUE  VALORES?

 
 
877
 
Políticos que combatem a fake news fizeram fake news.
 
Políticos que ganharam as eleições para não roubarem e não permitirem a corrupção corrompem e dão o país aos mesmos bandidos de gestões passadas.
 
Pais ensinam aos filhos para que não sejam desonestos. Mas mentem aos cônjuges, ao fisco e a eles mesmos.
 
Querem os lares filhos que não falem palavras chulas, mas alimentam-nos com o lixo da TV e dos desenhos modernos.
 
Pastores pregam a santidade e são descobertos nos motéis, nas bebedeiras e nas linguagens chulas de seus áudios. Crentes que ostentam um evangelho que não foi capaz de transformá-los.
 
Médicos mandam que usemos máscaras e saem em festas e aglomerações proibidas. "Mantenham a distância", dizem eles, mas nos bastidores das entrevistas abraçam-se e festejam sem pudor.
 
Policiais combatem o crime e envolvem-se em situações constrangedoras de parcerias locais com o tráfico de drogas. E agora, para evitar que a polícia prenda quem se corrompe, colocam-se amigos dos corruptos em sua direção.
 
Juízes sentenciam a uns de um modo e a outros de outro, dependendo do nível econômico e político dos réus, e ainda postulam estar com a balança da justiça nas mãos. Depois, com uma desculpa sanitária soltam 30 mil marginais pelo país, cujas tornozeleiras não valem nada.
 
Canais de TV postam-se como paladinos do direito, da decência e da verdade e penduram as suas contas com a previdência em prazos que nunca chegarão. Além disto promovem lives com milhões em patrocínio para não fecharem os seus sinais pouco assistidos pelo público.
 
Falsos apóstolos postam consultas proféticas, sacrifícios e revelações em lives noturnas, mas mentem e só expressam o que possa render ofertas em suas contas. Prometem bênçãos e vitórias se ofertas forem dirigidas às suas contas, esquecendo-se que terão que prestar contas eternas a quem nunca os enviou a serem publicanos do Céu!
 
Pais querem filhos honrados, mas se esquecem que estes se espelharão naquilo em que eles são. O tratamento que dão ao cônjuge, o nível de conversa com os amigos nas redes sociais e a maneira de reagirem darão aos filhos o norte que eles não gostariam de dar. Hipocrisia familiar.
 
Textos reflexivos só são lidos, curtidos e replicados quando curtos e que inflam o ego do leitor; textos longos e com conteúdo são desprezados, pois o mundo não tem tempo para pensar, para ponderar, para avaliar. Estamos no século do fast food, da comida pronta, do controle remoto. Mande uma foto fofinha e milhares replicam; mande um texto sério e poderá contar em uma mão a quantidade de leitores que retornam.
 
Manter a integridade diante de tudo isso: o desafio que Deus nos apresenta. Não é fácil. Sentimo-nos como numa grande ilha a deriva, prestes a afundar. Que o Senhor nos mande em breve o resgate!
 
Ajuda-nos, Senhor, a olhar para Ti e a não perdermos o tino diante de uma Sodoma moderna como é o mundo do século 21!
 
Wagner Antonio de Araújo
 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

memórias literárias - 876 - FOLHA DE PAPEL

FOLHA
DE PAPEL

 
 
876
 
Estava a limpar as gavetas de minha escrivaninha. Estas gavetas costumam estar desarrumadas, pois tudo o que fica sobre a mesa vai para lá, dando-nos a impressão de que deixamos o ambiente limpo. De quando em quando é preciso organizar.
 
Em uma delas encontrei muitos papéis velhos, notas de compras, propagandas recebidas, início de artigos e sermões que nunca foram terminados, recados, papéis sem importância nenhuma. Mas havia lá uma folha em branco de sulfite, bem amassada, de pouca utilidade e por quem ninguém, em sã consciência, daria qualquer vintém para adquiri-la. Eu ia jogá-la fora depois de picá-la em pedaços. Mas, antes disso, pensei:
 
"Uma folha velha de papel, sem valor e sem nenhum atrativo. E se fosse colocada na mão do Apóstolo Paulo, ou dos evangelistas, ou de algum dos profetas bíblicos? E se fosse colocada na mão dos grandes gênios da literatura brasileira? Nas mãos de Machado de Assis, de Maria José Dupret, de Olavo Bilac, de Rui Barbosa? Ou servisse de base para pregadores como Spurgeon, Moody, Welsey, do passado, ou de Timofei Diacov, David Gomes, Josué Nunes de Lima, William Carey Taylor, Rubens Lopes, do presente? Já pensou se esta folha fosse o único lugar onde se pudesse registrar um pedido de socorro? Ou a única anotação da senha de um cofre? Ou o lugar onde se registrasse a fórmula de um remédio contra a covid 19? Ou o código que descobrisse uma língua morta? O valor deste papel iria às alturas!"
 
Eu concluí que o valor de algo não está em sua beleza, em seus elementos químicos, em seu preço elevado ou em sua complexidade, mas no propósito que cumpre e no conteúdo que carrega. Esta folha não terá qualquer valor se não for usada devidamente e para uma missão que lhe valha a existência. Faz-se necessário dar-lhe um destino, uma meta, uma missão.
 
Há bilhões de seres humanos a viverem sobre a Terra. Gente de toda espécie, de todo tamanho, de toda procedência, com múltiplas aparências, com diferentes cores, linguagens variadas e obras distintas (ou nenhuma). O que torna alguém especial diante da multidão, diante da abundância e do número quase incontável de pessoas? A sua alma, o seu espírito, o conteúdo de seu ser interior. Ele é tão precioso e importante que levou Deus, o Pai, a enviar Jesus Cristo, o Filho, para escrever uma nova história na página de cada uma dessas pessoas que se colocam como folhas diante de Sua mão de escritor. Jesus Cristo, com Sua morte na cruz, derramou sangue precioso, puro, limpo, que tem poder para alvejar a página de cada um de nós e, depois disto, escrever em seu corpo uma nova história, um novo poema, algo que lhe torne incomensuravelmente valioso. Sim, cada um de nós, folhas velhas e amareladas de papel comum, nos tornamos manuscritos de Deus a exibir para todos a mensagem que o Senhor nos trouxe.
 
Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. (2Co 3:2)
 
Espero escrever nesta folha velha que encontrei um poema. E que os meus filhos guardem com carinho. Espero que o Senhor escreva em minha vida e na dos meus leitores, a cada dia, a mensagem de Seu amor e graça.
 
Obrigado, Senhor, por nos tornar valiosos. Não por nós, mas pela Tua escrita em nós.
 
Amém.
 

Wagner Antonio de Araújo

domingo, 26 de abril de 2020

memórias literárias - 875 - SEBASTIÃO EMERICH

Partilho com todos um texto que circulou em 2014, quando do falecimento do irmão Sebastião Emerich. Tal escrito é uma preciosa biografia daquele que conheci aos 14 anos e aos pés de quem aprendi a ser cristão. O texto não é meu, mas, para evitar perdê-lo, decidi colocá-lo em meu blog.
 
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SEBASTIÃO EMERICH – UM HOMEM QUE VIVEU SUA FÉ
E PARTIU PARA DEUS, AOS 94 ANOS, NO DIA 16.09.2014.
UM DOS PRECURSORES DA IGREJA BATISTA DE IACANGA,
ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL.

Conforme noticia recebida através do Pastor Rinaldo Bonifácio Lange, noticiamos o falecimento de um dos últimos pioneiros do evangelho em nossa região: SEBASTIÃO EMERICH.

A família de imigrantes tomou conhecimento do evangelho nos primordios do nascimento da Igreja Batista de Ibitinga, ainda nos anos quarenta. Há controvérsias sobre quem teria sido o primeiro convertido. Seu irmão José Emerich (já falecido), costumava chamar essa honra para si, muito embora o vício do tabaco tenha prolongado seu batismo até o início dos anos sessenta.

A Igreja em Ibitinga começou na Fazenda Monte Alegre mas logo depois ela foi transferida para a Fazenda Lagoa dos Patos, às margens do Rio Tietê. E foi nessa fazenda que a família Emerich conheceu o Senhor Jesus como Senhor e Salvador.

A primeira menção de seu nome data de 7 de março de 1948. Nesse dia a Igreja aprovou a criação de um núcleo de estudos bíblicos no sitio de Vicente Gouveia, um novo convertido. Sebastião Emerich foi nomeado Tesoureiro desse “ponto de pregação”, nome que se dava às missões rurais daqueles dias. Joaquim, irmão de Sebastião, era o Dirigente.

Em meados de 1959, Sebastião Emerich se transferiu para a Fazenda Santa Clara, no municipio de Iacanga. Nesses dias a Igreja de Ibitinga era pastoreada pelo Pastor Ciro Costa e Silva e sob a direção dele um núcleo se instalou nessa Fazenda. Desse núcleo saiu o grupo que mais tarde deu orígem à Igreja Batista de Iacanga. A Fazenda Santa Clara tinha um grupo de presbiterianos e junto a eles, todos os domingos, um culto era realizado na chamada “Casa do Boiadeiro”. O dirigente era exatamente o irmão Nenê Emerich (Sebastião).

Foi nessa Fazenda, no dia 28 de junho de 1959, que o primeiro grande batismo da Igreja de Iacanga foi realizado. Entre os que foram batizados contava-se Ruth Emerich, sua primeira filha. O crescimento do grupo levou a Igreja a transformar o “ponto de pregação” em Congregação Batista da Fazenda Santa Clara. O dirigente eleito continuou sendo o irmão Sebastião Emerich. E como Dirigente ele continuou até 2 de julho de 1961 quando se transferiu para a cidade de Itaju onde já residia seu irmão José Emerich. Um novo ponto de pregação já estava começando em Itaju.

A Congregação da Fazenda Santa Clara continuou a existir até que parte dos seus integrantes se transferiu para a cidade de Iacanga e deu início à Igreja da cidade, até hoje uma das grandes obras missionárias de nossa região. De seu casamento, o Senhor lhes concedeu cinco filhas: Rute, Damaris, Vasti, Ester e Clotilde.

De Itaju o irmão Sebastião se transferiu para a capital vindo a se tornar o fundador da Igreja do Sumarezinho onde permaneceu como membro até que Deus o chamou para o Lar Celestial. Era o dia 16 de setembro de 2014, ano em que celebrava seu 94º ano de nascimento.
“Foi um homem que pautou sua vida pelas Sagradas Escrituras. É o exemplar típico do homem que é fiel até o fim. Foi um estudioso leitor das Escrituras Sagradas. Alegrava-se em afirmar que já tinha lido o livro sagrado mais de cem vezes. Embora fosse um pregador apaixonado pelo que pregava, viveu sua vida inteira como Diácono da Igreja. Nunca quis o reconhecimento do ministério pastoral que na verdade exerceu. Seu maior desejo era pregar e ensinar o evangelho. E foi assim que ganhou sua família para o Reino de Deus (palavras do Pastor Rinaldo)”.

Seu corpo foi velado no templo da Igreja paulistana que ajudou a nascer, a Igreja Batista do Sumarezinho. Pelo privilégio de ter conhecido esse valente de Deus e por fazer parte da Igreja que o viu nascer, graças damos ao Pai Celestial. Que seus familiares desfrutem do consolo que o Santo Espírito tem reservado para quem confia e espera no Senhor. A DEUS NOSSO LOUVOR E GLÓRIA PARA SEMPRE. AMEM.


(Notas de Marcos Lourenço e Rinaldo Lange - pastores).

sábado, 25 de abril de 2020

memórias literárias - 874 - REALITY SHOW

REALITY SHOW
 
874
 
Às vezes eu me pergunto: "Por que a política, a arte e os conflitos invadem a nossa mente com tanta frequência e força?" Parece que um político, ao dar um espirro, tem que nos ouvir a dizer: "Saúde". Temos a impressão de que precisamos seguir as pessoas passo a passo, desde quando acordam até quando se deitam. O mesmo acontece com os jogadores de futebol, os artistas prediletos e o mercado financeiro. Nesta crise de coronavirus queremos saber se algum médico na Inglaterra insinuou que houve sucesso com a vacina ou se um remédio está dando resultado nas tentativas da China ou se o número de mortos diminuiu um por cento. A nossa mente tornou-se platéia de um grande "reality show". Nós não temos mais privacidade e nem admitimos viver sem ela.
 
Não há nada de mal em mostrarmos uma foto familiar ou um vídeo de um momento alegre, desde que com cuidados de privacidade. Mas a pública exposição das instituições ou a nossa falta de pudor familiar tem levado ao caos a sociedade.
 
Até nas igrejas tem sido assim. Queremos que tudo seja transmitido, que tudo seja visto, que tudo seja testemunhado. Vivemos o fantasma da pouca repercursão de um vídeo transmitido ou buscamos meios de fazer a transmissão atingir centenas ou milhares de curtidas. Vivemos de público, de assistência, de popularidade, de ibope. As grandes redes de comunicação investem nos espetáculos de artistas diretamente de suas casas, pagando milhões em patrocínio, pois descobriram que se assim não fizerem não terão mais audiência.
 
Como as coisas eram diferentes antigamente! Quem era informado lia pela manhã o jornal impresso, comprado na banca ou entregue pela editora. As notícias eram comentadas, analisadas, feitas com mais cuidado, reflexão e análise. Ou então ouvíamos o noticiário matinal e nos informávamos das principais coisas que haviam acontecido ao longo do dia anterior. À noite assistíamos um noticiário e nos inteirávamos dos acontecimentos do dia. Mas era algo informativo,  não tóxico. Não tínhamos acesso a salas de reuniões dos outros, à cozinha alheia e ao dia a dia dos famosos. Quem queria isso comprava revistas inúteis que se dedicavam a tais alfarrobas.
 
Hoje tudo mudou. Somos expectadores da vida alheia. Somos lançados em reuniões como se lá estivéssemos assentados e como se pudéssemos resolver as coisas à distância. Infundem-nos a impressão de que, quando contrariados poderemos bater panelas ou ir até a avenida berrar, xingar e mostrar as massas nervosas, como se a vida não passasse de uma caixa acústica que repercute. Usamos as redes para fomentar mentiras, para disseminar ódio, para compartilhar a nossa contrariedade. Assistimos cheios de volúpia e lascívia o que acontece nas casas de confinamento de gente sem moral, que se despe, se xinga, se ilude e se mata diante das câmeras, ávida por um prêmio milionário que não chegará às nossas contas bancárias. E no caso das igrejas queremos assistir a reunião da diretoria onde houve conflito, ao atendimento privado do pastor e às suas reprimendas, aos detalhes dos cultos, vendo quantas lágrimas tal irmão derramou ou se o seu "glória a Deus" foi verdadeiro ou não! 
 
Leio em minha bíblia: Bebe água da tua fonte, e das correntes do teu poço. (Pv 5:15); Sejam para ti só, e não para os estranhos contigo. (Pv 5:17). O texto fala sobre a vida conjugal e a privacidade de um casal. Hoje eu vejo nas redes mulheres crentes a exibirem barrigas nuas para mostrar a gravidez, quase desnudas, com maridos apaixonados agarrados e sem a menor lembrança de que essas coisas são PRIVADAS, não PÚBLICAS! Vejo cristãos que se vestem e se despem sem pejo e que depois reclamam do assédio dos que assistem ou das piadas que fazem de seus corpos. Jogaram a água de suas fontes na bacia das massas e depois reclamam que invadiram as suas fontes!
 
Vejo reuniões de igrejas onde há conflitos a serem expostos com socos, xingamentos e pontapés, só para que se tenha assunto a se comentar na roda dos escarnecedores de muitos grupos de comunicação virtual. Vejo gente que envia política, fotos, vídeos e lives de análises dos mestres graduados em escola alguma, que muito falam e nada dizem, que falam do que não sabem, que acusam aquilo de que não têm prova, que são grandes técnicos de tudo, mas péssimos exemplos de virtude, de sucesso ou de seres humanos. Não são raras as vezes em que votamos em quem a tudo critica e depois nos arrependemos, pois não apenas fazem o mesmo que criticavam, mas destróem a tudo e a todos ao seu redor.
 
Vejo pastores que fazem questão de orar para que os outros vejam. Choram, gritam, falam as línguas estranhas da mentira e gemem para mostrar serviço, poder e espiritualidade. Sabe o que o Mestre afirma sobre isso? E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. (Mt 6:5). O exibicionismo atingiu tamanha eficiência que hoje até a macumba, o candomblé, a umbanda, a mesa branca, o kardecismo e a mediunidade tornaram-se espetáculos para serem vistos em casa, sentados com uma bacia de pipocas nas mãos! As redes de televisão católica zombam de sua própria fé quando colocam roupas apertadas de cowboy em seus padres, os deixam mostrar todo o seu mundanismo nos bailões, enquanto as suas imagens de escultura ficam expostas diante da orgia mundana! A religiosidade virou apenas bibelô de enfeite na sala dos nossos shows! Os cultos viraram programas de auditório e as pessoas deixam pregações e louvores rodando nas mídias enquanto estão no banheiro a fazer necessidades! E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. (Ex 3:5). A reverência mostrada por Jesus ao dobrar os joelhos no falar com o Pai, ou ao erguer os olhos no abençoar dos alimentos, ou em ordenar que se orasse em privado diante do Pai, ou com respeito ao fazê-lo publicamente, estão longe da maioria dos cristãos!
 
Enquanto assistimos o "reality show" da política, dos artistas e das religiões a nossa família e a nossa vida estão abandonadas. Os pais celebram a vitória da personagem da novela, a derrocada do político do qual não gostam e o prêmio do único que resistiu a ser expulso de uma casa de confinamento, e não olham para o filho ou a filha que estão trancados no quarto, ou absorvidos por um celular, ou em relacionamentos libidinosos com os seus namorados, ou a usar drogas junto com os amigos, ou a atravessar uma depressão profunda por se sentirem sós. Cuidamos tanto da vida dos outros e deixamos a nossa em ruínas. Bem, talvez vá servir como espetáculo num programa policial de baixa qualidade, quando as câmeras virem à nossa casa mostrar onde foi que alguém se matou ou que matou a outrem...
 
Voltemos à privacidade de nossos corações! Limitemos o acesso às nossas intimidades! Não sejamos expectadores da intimidade de outrem! Oremos pela política e auxiliemos no que estiver ao nosso alcance, mas não nos deixemos enlouquecer por colocar a vida deles como uma sequência da nossa! Tornemos a mensagem do Senhor pública em nossas igrejas, levando pregações e hinos evangelísticos ao povo, mas não transmitamos as nossas reuniões privadas e as nossas orações íntimas ao Senhor. Quem tem que saber de nossas preces é o Senhor, não o auditório! E que não lavemos mais as roupas sujas em público, mas que o façamos no privado de nossas relações. Que não exibamos mais os nossos corpos ou o corpo de nossos cônjuges. São nosso patrimônio e não devem servir de inspiração sexual ou piada para ninguém!
 
Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. (Gl 6:7)
 
Wagner Antonio de Araújo

 

sexta-feira, 24 de abril de 2020

memórias literárias - 873 - NÃO MISTURE!

NÃO
MISTURE!
 
 
873
 
Não misture Deus com política. A única nação levantada pelo Senhor, Israel, pecou por emporcalhar a fé quando subordinou-se aos ditames dos imperadores que pecavam deslavadamente.
 
As mãos dadas entre a Igreja Romana e os impérios europeus trouxeram a Idade das Trevas, o período mais nebuloso do saber humano, onde apenas Roma poderia representar oficialmente o cristianismo, com as mãos sujas pelas ações políticas próprias ou de seus subordinados. Quem mexe com carvão sempre se suja.
 
O protestantismo seguiu caminho similar, quando ajudou a martirizar os cristãos que não seguiam a cartilha das organizações oficiais. Os anabatistas foram dizimados pelas mãos de cristãos de ambas as linhagens e maculam de púrpura a história de muitas denominações.
 
O nazismo, ao erguer-se, contou com o apoio de inúmeros pastores protestantes, pois sabiam metade da verdade e deram apoio incondicional. Durante o curso vários deles romperam, sendo mortos pelo poder político, mas foi um rompimento tardio demais para os seus países. O cristianismo oficial já estava comprometido com os erros políticos. E foi perseguido.
 
John Pitt em seu livro "QUANDO VEM A PERSEGUIÇÃO" aborda vários fatos que levaram os países da antiga CORTINA DE FERRO a perseguir cristãos que, no início, deram os braços para o poder que se levantava como messiânico, salvador das pátrias. O resultado foi o que a história conta e as cidades do interior do Brasil registram: milhares de imigrantes que fugiram por causa da perseguição. Os que ficaram ou morreram, ou aguentaram, ou sucumbiram ao poder político.
 
O Brasil vive algo semelhante. O farto desejo de um país melhor fez as igrejas e inúmeros pastores tornarem-se declaradamente militantes políticos. Ter posição política é um direito de todos, mas não deve ser confundido com mistura entre igreja e estado. Os chamados "teólogos da corte" justificam cada erro e desacerto como uma virtude. E isto é a repetição da história. Agora, quando os ventos mudam de lado por eventos políticos neste ambiente horrendo que vivemos desde as últimas eleições (não há um único dia em que a DISPUTA dê lugar à PAZ), vários pastores oportunistas vão mudar de lado, vão buscar a isenção. Mas lhes digo: será tarde demais.
 
O papel dos cristãos deve ser levado a sério: orar pelos governos, por justiça, cumprir os seus deveres e sempre estar ao lado da verdade. O nosso papel não é transformar o púlpito numa plataforma partidária e nem a mensagem do Reino num projeto de poder seja de quem for. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Devemos ajudar em tudo aquilo que nos compete, mas não devemos lançar as igrejas na bacia das almas acorrentadas pelas disputas políticas. O nosso assunto não é endeusar políticos ou demonizar oponentes. O nosso assunto é Deus, o homem, a cruz, a ressurreição, a vida eterna e a salvação.
 
Que Deus tenha compaixão do Brasil e que olhe para os cristãos que não se envolvem nesse mar revolto de misturas tóxicas entre Reino e Política. Que os políticos cristãos dêem testemunho de Cristo e não se vendam. E que não façam da igreja um partido político. E aos que já se sujaram, aos que se atolaram nessa lama, que o Senhor tenha misericórdia.
 
Wagner Antonio de Araújo
 
 obs: aos discordantes de plantão: não me encaminhem suas réplicas, pois não irei discutir com ninguém. Se divergem de minha opinião DELETEM.
 

 

memórias literárias - 872 - MOTIVO MAIOR

MOTIVO
MAIOR
 
872
 
Será que existe? Será que há algum?
 
Um menino, um filho, um homem. Ele não existia. Ele sequer sabia que seria gerado. Mas lá na glória, no coração de Deus, em Sua sabedoria eterna e completa, o seu nome, a sua estatura e a sua existência estavam marcados e registrados.
 
Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia. (Sl 139:16)
 
Nem eu e nem sua mãe nos encontramos durante longo tempo de nossas vidas. Mas Deus já investia a Sua graça e a Sua condução para os nossos passos. Assim como ela, eu também pedi a Deus que me tomasse pela mão e que me concedesse alguém de Seu agrado e que, se fosse de Sua vontade, que me desse a graça da paternidade. Ele sabia. Ele aprovava. E Ele concedeu.
 
Em 2011 Elaine e eu contraímos núpcias, sob as bênçãos divinas e com muitos irmãos, amigos, familiares e pastores como testemunhas. Foi um casamento para toda a vida até que a morte venha a nos separar. E uma dedicação incondicional à Sua vontade.
 
Durante 3 anos Deus não nos deu a graça de gerar vida, pelo que, mesmo desejosos, agradecíamos a Deus pela nossa união sem filhos. Mas não hesitávamos em clamar, em pedir, em esperar. Só iríamos desistir quando assim o Senhor tornasse claro e irreversível.
 
Em 2014 veio a notícia: do ventre de minha esposa o Senhor me dera a graça de gerar uma filha. Quanta alegria! Em 2015 nascia a minha primogênita, Rute Cristina. Dela tenho falado muitas e muitas vezes. Em 2016 outro aviso: mais uma dádiva a caminho: era o meu filho Josué Elias, que hoje completa 3 anos. E no ano passado, enquanto pastoreava a Primeira Igreja Batista em Ribeirão Pires, São Paulo, Brasil, as boas-novas de uma terceira dádiva, a minha Maria Isabele, que nasceu neste ano. Deus sabia. Deus quis e fez assim! Bendito seja o Nome dEle!
 
Hoje celebro o aniversário do meu menino, do meu garoto, do meu gigante. Ele, que nasceu saudável e inteligente, tem sido a alegria de nossa casa. Extremamente emotivo, amoroso, carinhoso, sempre nos alegra com seu sorriso e com suas surpresas. Ele corre até nós e diz: "mamãe, abraço!", "Papai, estou feliz!". Quando saio por alguns minutos e retorno, ele vem ao encontro como se eu tivesse estado fora por anos, a saudar-me: "Oh, papai! Saudades!" Não há dinheiro do mundo que pague tamanha dádiva!
 
Então eu volto à pergunta: será que há alguma razão, algum motivo para o Josué Elias existir? Sim. A vontade de Deus. A graça de Deus. A permissão de Deus. A concessão de Deus. Não há razão maior que essa. O meu querer, o querer de minha esposa, tudo isso foi importante. Mas, acima disto, está Deus, que operou a geração desta vida, desta criatura, deste homem, deste conhecido dos céus desde a fundação do mundo, antes que a própria vida fosse criada.
 
Bendito Deus, agradeço-Te pelo meu filho! Agradeço-Te por tê-lo e por poder chamá-lo de filho! Louvo-Te pelas condições que me deste para gerá-lo, pelo lar e pelo recurso para criá-lo, pela oportunidade de ensinar-lhe a Tua Palavra e pela bênção de olhar em seu rosto e poder dizer: "Eu te amo". Louvo-Te pela mãe especial, Elaine, maravilhosa, crente verdadeira, incansável, dedicada, amorosa e paciente, e pela mãe adotiva e ajudadora, a Milú, que, junto com a mãe, cuida dele com carinho. Ajuda-me, Senhor, a ser um pai segundo o Teu coração. Em nome de Jesus, amém.
 
Parabéns, meu Josué Elias Farias de Araújo, pelos seus três anos de idade.
24 de abril de 2020.

Wagner Antonio de Araújo, seu pai.

sábado, 18 de abril de 2020

memórias literárias - 871 - EX-MINISTRO

EX-MINISTRO
 
 
871
 
Ontem ocupava os noticiários das mídias nacionais e internacionais. A sua opinião e as suas decisões eram fundamentais para o país. Ouviam-no, avaliavam o que dizia, seguiam as suas diretrizes, criticavam-no, elogiavam-no; enfim, estava no centro das atenções. De repente foi substituído. E hoje ele é página virada para os jornais e noticiários. Na semana seguinte haverá quem pergunte quem foi essa pessoa. Este mundo é muito injusto. Hoje nós somos os habitantes de nossos lares. Amanhã seremos retratos em cima da estante. E depois nem isso...
 
Mas o fato é que nós nos focamos de tal forma no hoje e no terreno, que nos esquecemos do eterno e celestial. Lançamos todas as nossas fichas no atual e no assunto do dia e nos esquecemos do eterno e do atemporal. Quem se lembra do ministro da saúde de seis anos atrás? E do deputado com maior número de votos em 1920? Ninguém. Quanta gente sofre infarto, derrame cerebral, convulsão emocional e problemas sérios por causa de preocupações e imaginações momentâneas, esquecendo-se de que tudo passa, tudo sempre passará?
 
Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; (Cl 3:2)
 
E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; (Ef 2:6)
 
Ao ler, em minha biblioteca, textos cristãos escritos durante a gripe espanhola no início do século 20, ou artigos evangélicos preparados durante as duas grandes guerras ou mesmo sermões durante a intervenção militar da década de sessenta, percebo que os que se mantinham com os olhares em Cristo, que pensavam no Céu, que valorizavam o eterno e não focavam o coração no temporal conseguiam traduzir a vontade de Deus e gerar esperança e viver com o coração além da crise.
 
Mais uma vez evoco a lembrança de Sebastião Emerich, o meu mestre da Palavra de Deus na Igreja Batista em Sumarezinho, São Paulo, Brasil, quando eu tinha apenas 14 anos. Em uma de minhas últimas visitas àquele nonagenário servo de Deus, há alguns anos atrás, vi em seu rosto o brilho de um anjo. Ele tinha costume de ler seis ou oito vezes a Bíblia em um ano. Perguntei-lhe:
 
- Irmão, o senhor ainda lê seis ou oito vezes a Bíblia durante um ano?
 
Ele respondeu-me:
 
- Não, Wagner. Tenho lido uma vez.
 
Eu então observei:
 
- Uma vez ao ano, irmão Sebastião?
 
E ele, com um sorriso, respondeu-me:
 
- Não, uma vez ao mês...
 
Quantos de nós gastamos horas diante dos celulares, dos noticiários, acompanhando até o espirro dos ministros que passam, as opiniões que mudam, os debates que não cessam, as crises que não dão trégua, as ameaças que se renovam, a desesperança que voa para longe, e não olhamos para o Alto, para Cristo, para as páginas da revelação divina do Senhor! Sebastião passou pela segunda guerra, pela intervenção militar e por todas as crises econômicas contemporâneas. Mas ele estava tão distante daqui, tão longe de tudo isso, que o seu rosto brilhava o brilho dos anjos!
 
Quem olha para Cristo vive acima das circunstâncias e já se encontra em glória interior.
 
Oh, Senhor, que eu também seja assim.
 
Espero que o meu leitor também busque o mesmo.
 

Wagner Antonio de Araújo

domingo, 12 de abril de 2020

memórias literárias - 870 - EU IMAGINO

EU
IMAGINO
 
870
 
No auge desta quarentena fomos impedidos de celebrar a Deus o culto que lhe é devido em reuniões de irmãos. As nossas igrejas estão fechadas. Os cultos são por internet. A comunhão é à distância. Eu sabia que o fim dos tempos iria chegar, preguei muitas vezes sobre isso e agora vejo o quão difícil é enfrentá-lo. Um Domingo de Páscoa com igrejas vazias!
 
Ao ler as notícias sobre esse virus e sua mortífera rotina diária ouço vozes que dizem nunca mais podermos sair sem um pano na boca, jamais voltar ao normal em nosso convívio e não ter mais a liberdade do ir e vir como acontecia há dois meses. O mundo como conhecíamos acabou.
 
Fico a imaginar, com esperanças dispersas, um eventual novo ano e a celebração da Páscoa. Crentes em lágrimas saindo de suas casas e reunindo-se nas igrejas, livres novamente para darem a Deus o seu culto comunitário. Pais a olharem para os filhos, emocionados, lembrando-se do sofrimento do isolamento deste ano. Pastores em lágrimas ao verem os salões de culto repletos de fiéis que prestam culto com emoção ao Senhor. Que saudade do convívio fraterno, do abraço apertado e da liberdade de estar próximo dos que amamos!
 
Será que teremos isso? Será que as coisas voltarão ao normal? Há um ano eu estava participando do café da manhã e da celebração da ressurreição na Primeira Igreja Batista em Ribeirão Pires, São Paulo, Brasil. Jamais imaginaria que em tão pouco tempo tudo iria mudar. Hoje as igrejas estão fechadas, sem perspectiva alguma de melhora. Pelo contrário, o virus torna-se forte e letal. Haverá um amanhã?
 
Certamente que no Céu haverá. E aqui, haverá?
 
Eu não sei. Eu queria passear com os meus filhinhos, queria ir aos parques, à piscina, estar com pessoas e novamente obter um tempo normal de vida. Mas hoje não posso.
 
Não posso ver, não posso prever, mas posso orar e confiar. Confiar nas promessas de Deus e na Sua vontade, que é boa, agradável e perfeita.
 
Eu só confio em Ti, ó meu Senhor!
 
Wagner Antonio de Araújo

 

quarta-feira, 8 de abril de 2020

memórias literárias - 869 - SEM PÁSCOA?

SEM
PÁSCOA?

 
 
869
 
O mundo ocidental atravessa a Semana chamada Santa sem as celebrações da Páscoa. Como é possível? Um ano atípico em toda a história! As igrejas estão fechadas, as reuniões proibidas, as datas e o calendário alterados. Fábricas de ovos de Páscoa desesperadas, pedindo pelo amor de Deus para que comprem os seus estoques enormes, o comércio a amargar prejuízos vultosos e terríveis. Então não teremos Páscoa?
 
Eu gostaria de afirmar categoricamente que NÓS TEREMOS PÁSCOA. E por quê?
 
1) A palavra PÁSCOA vem do hebraico PESAH, do latim PASCHA e do grego PASKHA, cujo significado é "passar por cima" ou "passar por alto". Alude ao dia em que o anjo da morte ceifou a vida dos primogênitos egípcios e libertou os hebreus da escravidão secular, levando o povo para a terra da liberdade. Deus ordenou que esse dia fosse comemorado pelos judeus. Naquele dia era sacrificado o cordeiro que salvaria a família, simbolizando o dia em que o próprio Cordeiro de Deus  salvaria o povo de Israel e, quiçá, toda a humanidade crente. Era uma festa longa.
 
2) Os cristãos inventaram a sua própria PÁSCOA, quando passaram a celebrar a última semana da vida de Cristo e dar a cada dia o significado alusivo aos acontecimentos. O domingo antecedente é o "Domingo de Ramos", a quinta-feira é o "lavapés", a sexta-feira é "da Paixão", o sábado de "aleluia" e o domingo é o dia da "ressurreição". É importante que se diga que estas festividades não eram celebradas pelos cristãos primitivos. Somente a partir do século 2 da era cristã há registro de tal celebração e no Concílio de Nicéia, em 325, são estabelecidas as diretrizes do festejo. Quem as celebra hoje nesta data é a Igreja Católica Apostólica Romana.
 
3) Cristãos protestantes e evangélicos não celebravam a Páscoa, uma vez que para eles não há nenhum ritual ou ordem específica para que tais eventos aconteçam anualmente. Porém, após o concílio Vaticano II, onde a Igreja Romana perpetuou o seu famigerado ECUMENISMO, muita coisa simbólica e comum passou a ocorrer em todas as igrejas, inclusive certos ritos similares. Os crentes conservadores USAVAM a Semana "chamada" Santa para cultos temáticos alusivos à vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Era tempo de CONFERÊNCIAS DE PÁSCOA.
 
4) O paganismo tomou conta das celebrações em toda parte. O ovo de chocolate passou a ocupar o foco das atenções estomacais da criançada. O motivo das celebrações tornou-se secundário. O importante eram os ovos de Páscoa. Esse paganismo veio de tradições antiquíssimas dos adoradores da deusa Ostera, deusa da primavera. Ela era representada por uma mulher ao lado de um coelho e tinha um ovo na mão. Simbolizava fertilidade. Após o Concílio de Nicéia, em 325, os cléricos aproveitaram o paganismo e alteraram as simbologias: Ostera tornou-se Maria, e os ovos passaram a ser presentes (caros, no início, só para os nobres) e depois, com o contato dos espanhóis com os maias e os astecas, transformaram-nos em chocolate.
 
5) Deus nunca mandou celebrar a PÁSCOA entre os cristãos. Estes são costumes pagãos. Não existem ovos de coelhos, não há festa de fertilidade, não há dias santos para os crentes. TODOS os dias são santos para eles. Contudo, o tema da Páscoa, que para os cristãos tradicionais sempre foi a última semana da vida de Jesus e a sua gloriosa ressurreição, mantém-se intacto, sem um arranhão: o tema da PÁSCOA, da libertação, não será alterado.
 
6) Pela primeira vez na história recente o coelho e os ovos foram aprisionados da maioria das mesas; as celebrações cheias de mistério não serão realizadas presencialmente e os cortejos e procissões não acontecerão. Pela primeira vez o povo quase cristão poderá olhar para o Cristo verdadeiro da Bíblia e ouvir finalmente a Sua mensagem: mensagem de arrependimento de pecados e de nova vida através de Sua graça e sacrifício. Jesus Cristo vive!
 
7) A minha sugestão para todos os verdadeiros cristãos que me lêem: celebrem com suas famílias CULTOS QUE RECORDEM A ÚLTIMA SEMANA DO SENHOR E A SUA RESSURREIÇÃO. Seria maravilhoso que dos microfones dos pastores que transmitem seus cultos on-line fossem lidos trechos do evangelho sobre a paixão, a morte e a ressurreição do Senhor. E que as pessoas celebrassem a vida eterna que Ele nos trouxe, pois é o Cordeiro de Deus que tira o pecado de todo o que nEle crê!
 
Feliz PÁSCOA, com CRISTO!
 

Wagner Antonio de Araújo

segunda-feira, 6 de abril de 2020

memórias literárias - 868 - REINO DIVIDIDO

REINO
DIVIDIDO
 
868
 
Existem reinos divididos. Um derrubará o outro dentro deste reinado. Jesus Cristo formulou esta definição ao enfrentar os fariseus. Eles O acusavam de militar pelas forças de Satanás. Jesus então disse que um reino dividido não prospera, não vence e nem subsiste. Isto vale para todas as categorias de poder.
 
Assistimos isso no Brasil. Enquanto uns seguem as recomendações médicas para a quarentena - e têm poder para isso, outros, na contramão de tudo, querem a alforria do confinamento, usando todas as armas, argumentos e quiçá, violência, para tanto. Um país dividido não vence ninguém. Ou reconhecemos um inimigo comum e o enfrentamos ou nos matamos no meio do conflito.
 
Empresas divididas não prosperam. Se a diretoria for para um lado e o segundo escalão para outro; se a presidência determinar algo e os demais seguirem por outra estrada, não haverá esperança para a firma. Pelo contrário, ela será o seu próprio algoz.
 
Igrejas divididas fecham. Se a doutrina bíblica disser algo e a direção da igreja seguir por outro caminho, haverá ruptura e ela deixará de ser igreja (chamados para fora) e se tornará mais uma seita, mais um grupo a seguir os seus próprios mestres pelo comichão que têm nos ouvidos.
 
Corações divididos não prosperam. Jesus também afirmou que ninguém pode servir a dois senhores. Ou se ama a um e se engana ao outro ou o contrário. Assim não pode haver amor por duas pessoas, paixão por duas pessoas, relacionamento conjugal bígamo ou polígamo. Ou o nosso coração é de alguém ou não é de ninguém, e quem estiver nesse negócio será réu e vítima ao mesmo tempo.
 
A fé dividida não prospera. Dizer que se confia no Senhor não pode dividir-se com o desespero, com o medo doentio ou com a busca por outras soluções. Ou Deus é o único plano ou Ele não é plano nenhum. Ou dedicamos a nossa vida inteiramente a Ele ou então não temos parte em Seu reino. Por que O chamamos de Senhor e não fazemos o que Ele nos manda? Ele nos manda confiar, descansar, amar, servir, ser útil e orar intensamente, jamais esmorecendo.
 
Eu não posso unificar o país nesse poder político dividido entre o sensato e o irracional. Eu não posso solucionar o problema de uma empresa que briga consigo própria ou com igrejas que abandonaram a fé. Eu não posso resolver o problema de gente que não ama de verdade a quem prometeu fidelidade. Mas eu posso cuidar de mim, do meu coração, da minha família, do meu relacionamento comigo mesmo. Eu não preciso ser o meu próprio vilão e nem minar a minha vitória interior.
 
Eu posso render-me ao Senhor e pedir humildemente para que Ele unifique o meu coração e a minha mente e assim não serei eu mesmo um reino dividido.
 
Wagner Antonio de Araújo

 

domingo, 5 de abril de 2020

memórias literárias - 867 - DE NADA OU DE TUDO

DE NADA
 OU
DE TUDO
867
 
José Carlos de Tudo era o seu nome. Ele ocupava três cargos muito importantes, cobiçados e de repercussão nacional. O primeiro era o de líder de sua denominação cristã, tendo exercido o pastorado de grandes igrejas. Atualmente era uma espécie de decide-tudo de sua denominação. O segundo cargo era político: ele presidia o diretório de um partido de grande poder nacional e estadual. Tudo passava pela sua mão antes de ser decidido. Até o presidente da República o consultava de quando em quando. O terceiro era hereditário: ele era proprietário de uma grande indústria: tinha mais de cinco mil funcionários e administrara bem a herança recebida.
 
José Carlos de Nada era o nome do outro. Ele tinha três coisas em comum com o primeiro, mas às avessas. Ele era um pastor bem modesto de uma congregação pobre e distante na denominação do outro José Carlos. Ele também era do mesmo partido do outro, mas não ocupava nenhum cargo. Era apenas um filiado. Sempre o procuravam quando precisavam de seu voto. E o terceiro: fora funcionário da grande indústria do outro, tendo se aposentado dela há poucos dias. Como vêem, eram muito próximos e muito distantes.
 
José Carlos de Tudo adoeceu. Ele ficou terrivelmente enfermo. Foi internado às pressas e padeceu grandemente. Um batalhão de solidariedade se levantou. Na denominação cristã onde era líder o fluxo de mensagens nas redes sociais foi contínuo e constante. Igrejas fizeram vigílias, cultos, reuniões de oração e clamor pela recuperação de sua saúde. No partido político todos manifestavam o desejo de seu breve reestabelecimento. Grandes vultos nacionais entravam e saíam do hospital, principalmente quando as câmeras da TV estavam posicionadas e quando repórteres se dispunham a entrevistá-los. E na indústria de sua família os funcionários temiam a sua morte e a instabilidade de uma sucessão com pessoas que não procedessem como ele. Foi muita comoção.
 
José Carlos de Nada também adoeceu, tão ou mais grave do que o outro. Ele também ficou terrivelmente enfermo. Mas, diferentemente do primeiro, não tinha como ser internado num hospital particular. Ele era aposentado e não tinha convênio médico. Ele enfrentou as filas do hospital público. Pegou senha, esperou dias até ser chamado. Depois teve que pegar novas senhas para os exames. Na igreja alguns oravam por ele e outros pensavam em quem iriam convidar para sucedê-lo. Alguns enviavam pedidos de oração, quase nunca curtidos ou repercurtidos. Entre os colegas de trabalho apenas dois telefonaram, manifestando solidariedade. Não houve alguém que pudesse socorrê-lo adequadamente nesse seu sofrimento.
 
José Carlos de Tudo teve todo o tratamento necessário, todas as UTIs disponíveis, todos os remédios possíveis. Ele padeceu por duas semanas e, infelizmente, veio a falecer. Sua morte atingiu em cheio os meios de comunicação. Na denominação o seu retrato e as lamentações dos conhecidos líderes eram intensas. Nas igrejas havia choro e lamento. No partido político fizeram-lhe mil homenagens, sabendo que, quanto mais demonstrassem comoção, mais próximos estariam de ocupar o lugar dele. E na indústria houve dispensa do trabalho por três dias, pois foi o tempo de velório e sepultamento. Havia cinco canais de TV, a presença de toda a diretoria da denominação, o diretório do partido político e a diretoria da empresa com centenas de empregados. Foi assim que José Carlos de Tudo encerrou a sua vida.
 
José Carlos de Nada também morreu, mas no corredor do hospital, antes de fazer o último exame que iria determinar que tipo de remédio iria tomar. Ele não suportou tanta dificuldade. Os médicos notificaram a família e encaminharam o corpo para o IML (Instituto Médico Legal). Como a igreja ficava distante do cemitério e não tinham dinheiro para pagar um funeral caro, decidiram fazer o culto de despedida no velório do campo santo. A denominação foi avisada, mas sequer expressou condolências. Pelo contrário, pediram que pelo menos pagassem a anuidade dele na entidade onde estava filiado. Dos cinquenta membros da igreja vieram dois carros cheios, contando com a família. No partido político, quando souberam de sua morte, entraram no cadastro e anotaram "falecido", para que não ocupasse mais espaço no banco de dados. E na indústria onde trabalhou mandaram fazer uma coroa bem baratinha, porque só dois ex-colegas entraram na "vaquinha" para pagar a homenagem. Trinta pessoas se fizeram presentes. E tiveram que sepultar rápido, porque precisariam daquela área barata para outro funeral. E assim José Carlos de Nada encerrou a sua vida.
 
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Tristes realidades.
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Wagner Antonio de Araújo

sábado, 4 de abril de 2020

memórias literárias - 866 - A PRODUÇÃO DA PACIÊNCIA

A PRODUÇÃO
DA PACIÊNCIA

 
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. (Rm 5:3-4)
 
Richard Wurmbrand, um pastor-mártir, fundador da VOZ DOS MÁRTIRES, esteve enjaulado por anos sem luz, sem espaço e com um horrível ruído de água a pingar. Segundo ele, houve um tempo em que ou enlouquecia ou fazia amizade com aquele ruído, transformando-o em algo imperceptível. Assim, ele aprendeu a conviver com o incômodo.
 
A paciência é suportar algo sem reclamar, aguentar o sofrimento, a dor, a saudade, o desconforto, e ainda ser senhor de sua racionalidade e de suas próprias emoções. Os anglo-saxões lidam melhor com a questão do autocontrole emocional do que os latinos. Independente de nossa origem, a paciência segundo Deus está acima de nossa tendência étnica. Há pessoas que expressam pouca emoção por fora, mas explodem em úlceras por dentro.
 
A paciência segundo Deus é um aprendizado. E um aprendizado longo e difícil. O caminho da paciência é pedregoso, cheio de crateras, difícil de seguir e repleto de surpresas. Mas o seu destino é a maturidade espiritual. O texto bíblico citado diz que quem atravessa tribulações debaixo da graça de Deus aprende a ter paciência. E quem adquire a paciência enche-se de experiência.
 
Como é bom falar com quem já experimentou sofrimentos! Como é bom estar ao lado de quem já enfrentou dificuldades! Quando fiz a cirurgia para a retirada de um tumor (hidrocistoma) foi bom ouvir quem já havia passado pela faca e atingira a superação da dificuldade! Quando fiz meus exames escolares foi bom conversar com quem já era formado e que já conhecia o caminho das provas. Quando iniciei o meu pastorado foi bom ouvir pastores veteranos, cuja paciência produziu vasta experiência e poderia trazer-me esperança. Sim, a experiência gera a esperança.
 
Esperança de quê? Esperança de dias melhores. Esperança de vitória e brilho do sol. Esperança de superação. Alguém, em alto mar, com um navio à deriva, varrido por ondas avassaladoras, sem comunicação e sem rumo, pode perder a razão e deixar que o infortúnio ceife a sua vida. Mas alguém no mesmo barco, experiente, que já enfrentou todas as marés e já viu inúmeras tempestadas, pode tranquilizar os companheiros e dizer: "isso vai passar; logo nos acharão!". Alguém assim nutre a esperança e a esperança nutrida não traz confusão.
 
Estamos todos confinados. Avós só vêem netos pelo celular. Pais não podem ganhar o pão e precisam confiar que haverá mundo após a pandemia. Agentes de saúde enfrentam o inimigo e se questionam se vale a pena. Policiais, bombeiros, eletricistas, motoristas e tantos outros não podem deixar o trabalho e precisam confiar na proteção divina e nos cuidados da higiene. Como conseguir aguentar?
 
É preciso pedir a Deus paciência. É preciso estimular e regar as mudas da gratidão em nossos corações. "Trarei à memória o que me pode dar esperança" (Lamentações 3.21). Buscarei ser grato, mesmo num ambiente esgotado de convívio forçado e espaço diminuto. Há muitos que sofrem muito mais do que nós. Há muitos que estão na rua! Serei grato pela comida repetitiva e pela sobremesa rotineira, agradecerei mesmo não podendo gastar em churrascos ou comidas caras. Serei grato!
 
E farei do desconforto que tenho (dores no corpo, falta de privacidade, isolamento social, medo da enfermidade, falta de atividade profissional) uma oportunidade para investir no eterno e transcendente, sabendo que o temporal e momentâneo são tão pequenos e mutantes. Até ontem ia aos shopings, aos parques, ao turismo e à igreja, e hoje nada disso está disponível. Se a minha vida for construída sobre valores eternos então o que é temporário encontrará o seu lugar. Foi o que Paulo afirmou quando passou necessidades e depois teve o suprimento:  porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. (Fp 4:11)
 
Encerro esta reflexão com a letra escrita pelo oficial sueco do Exército da Salvação, AUGUST LUDVIG STORM, que, conquanto tenha sofrido uma paralisia na coluna aos 37 anos, invadido diuturnamente pela dor física, ainda tinha paciência e graça para compor, cantar e pregar! Eis suas palavras, belamente traduzidas por Alice Östergreen Deniszczuk, imortalizada em áudio pelo Pr. Feliciano Amaral:
 
1. Graças dou por esta vida, pelo bem que revelou.
Graças dou pelo futuro e por tudo que passou.
Pelas bênçãos derramadas, pela dor, pela aflição,
pelas graças reveladas, graças dou pelo perdão.

2. Graças pelo azul celeste e por nuvens que há também,
pelas rosas no caminho e os espinhos que elas têm;
pela escuridão da noite, pela estrela que brilhou,
pela prece respondida e a esperança que falhou.

3. Pela cruz e sofrimento e pela ressurreição,
pelo amor que é sem medida, pela paz no coração;
pela lágrima vertida e o consolo que é sem par,
pelo dom da eterna vida sempre graças hei de dar.
 

Wagner Antonio de Araújo

quinta-feira, 2 de abril de 2020

memórias literárias - 865 - PALÁCIOS OU CASEBRES

PALÁCIOS
OU
CASEBRES
 
865

Alguns homens são palácios; outros, casebres.
 
Casebres existem aos montes; palácios não.
 
Palácios são construídos para durar, para governar, para enaltecer, para dignificar. Sua robustez, sua estrutura, sua beleza, sua segurança encantam e valorizam um reino.
 
Casebres são feitos ao deus-dará, com as sobras do que se achou e para durar apenas por uma temporada, por um instante. São descartáveis e sem posteridade; não passam de poeira que vagueia pelos séculos.
 
Palácios são moradas dos nobres, dos reis, dos soberanos, dos que têm genealogia e tradição. Seus salões, suas salas, suas cozinhas e dormitórios são dignas das mais altas e dignas sociedades.
 
Já os casebres quando muito acumulam gente, ratos, goteiras, sujeira e temporaneidade. Seus habitantes dariam tudo para sairem de seus alojamentos rumo a algo mais digno. Basta uma tempestade mais forte e suas tábuas e telhados se vão ao sabor dos vendavais.
 
Os palácios não. Eles foram feitos para suportar as intempéries e desastres, as investidas da chuva, dos ventos, das saraivas e dos raios. Além disso, possuem fortalezas de proteção, muralhas construídas ao seu redor, protegendo-os dos inimigos. E em seus cantos superiores há as torres de vigia, que constantemente verificam o que se passa.
 
Na verdade palácios e casebres são apenas analogia ao tema do que falo. Não falo de construções de pedra, cimento, madeira ou palha. Falo de homens, mulheres, seres humanos, pais, mães, trabalhadores, políticos, gente de toda espécie e de toda classe social. Há palácios na pobreza, bem como casebres entre os poderosos.
 
Um homem-palácio é uma pessoa nobre, de bom coração, de alma elevada e de valores imortais. Para ele a palavra vale tanto quanto o próprio nome. Dizer a verdade, ter lealdade, jamais contradizer-se e manter os compromissos são tesouros de sua alma.
 
Já o homem- casebre não tem nada disso, ainda que more no mais alto palácio de pedra, que ocupe a cadeira mais poderosa de um povo ou que tenha mais poderes na mão do que todos os súditos de seu império. A sua alma é um casebre. Quando abre a boca não fala como os nobres, mas como um plebeu. Quando assume um compromisso não tarda a quebrá-lo, de acordo com as vantagens que tiver. Para ele pessoas são como as peças de seu casebre: trocam-se quando se quebram, vende-se quando se vê bom negócio.
 
Os filhos dos homens-palácio têm tradição, têm educação, têm respeito para com o próximo e procuram acrescentar valores na construção das memórias de sua linhagem. Para eles um bom caráter vale mais do que um bom negócio. Assim, na educação de seus filhos procuram dar o exemplo, mostrar como se faz a coisa certa, investir naquilo que não esfarela com o tempo. Os homens-palácio deixam memórias. Os homens-casebre deixam alívio aos que ficam.
 
Que tipo de homem tenho sido? Um homem-palácio, que possui a beleza, a imponência e a importância de um palácio secular, cujo exemplo, a luta, o amor, a abnegação, a sabedoria serão tesouros para os que me sucederem ou serei um homem-casebre, que só pensa no pão de hoje, no benefício do agora, independente dos valores que viverei? O que deixarei na memória dos que me conhecem?
 
Palácios têm história. Homens-palácio têm biografia. Assim como um palácio levou décadas para ser construído e séculos para montar a sua história, um homem-palácio vive a vida com a dignidade de um rei, buscando o trabalho digno, a educação e o esmero, o falar educado e construtivo, o comportamento honesto e corajoso. O homem casebre não se importa com a herança que deixa, com o mau exemplo que constrói ou com o dissabor que provoca. Seu deus é o próprio ventre e seu destino é a terra por baixo de seus pés. Homens-palácio duram para sempre. Homens-casebre não passam de uma geração.
 
Por fim homens-palácio possuem o princípio da sabedoria: o temor do Senhor. Para eles temer a Deus, amá-lo e amar ao próximo sintetiza os valores de suas vidas. Para eles Jesus Cristo é mestre, senhor, autoridade, modelo e meta. Já para os homens-casebre a sabedoria está em juntar bens, ter vantagem em tudo, passar a perna no próximo e tornar-se notório como próspero. Pobre casebre, se não queimar o próprio dinheiro com suas doenças ou a idade deixará tudo para que o filho ou o neto dê fim. E acabou-se a história de um casebre.
 
Caro leitor, somos palácios ou somos casebre?
 
Que respondamos com sinceridade enquanto nos miramos no espelho de nosso coração.
 
Que Deus me ajude a ser palácio.
 

Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...