segunda-feira, 29 de junho de 2020

memórias literárias - 897 - NAS MÃOS CERTAS

NAS MÃOS
CERTAS
897
 
No início do ano 2000 eu pedi a minha mãe para que bordasse um tecido como forma de recordação de seus traços e desenhos. Ela relutou, mas, vencida pela minha insistência, acabou fazendo dois. Um para o meu irmão Daniel e outro para mim. Ela partiu em 2005 e os quadros bordados ficaram como lembrança. O meu irmão cuidou bem do que ganhou, colocando-o numa moldura de vidro. Eu, infelizmente, não fui prudente. Ao reformar a minha casa para o casamento em 2011 não notei que o tecido ficou ao relento. A poeira, o tempo, a sujeira, carcomeram a obra de minha mãe. Aquilo tornou-se um farrapo. Um bom pedaço estava preservado, mas sujo. Procurei algumas pessoas para me ajudarem numa restauração. Todos eram unânimes: não há muito o que fazer.
 
Por estes dias resolvi pedir à minha sogra uma ajuda. Ela é, entre tantos talentos que tem, artesã. Levei o tecido e mostrei-lhe o estrago. Ela, com poucas palavras, disse-me: "verei o que posso fazer". E o tempo passou. Ontem, ao visitar-nos, trouxe-me um presente. Quando o abri fiquei perplexo: ali estava o quadro de minha mãe, restaurado, dando a impressão de que nunca sofrera qualquer desgaste! Ela o lavou, o limpou, aplicou um tecido atrás da trama desgastada e fez com que a obra feita pela minha mãe ganhasse vida depois de tanto abandono e infortúnios. Eu não sabia como agradecer!
 
Ao deitar-me, extremamente grato, pensei na semelhança do quadro de minha mãe com a vida humana. O simples fato de termos nascido já é uma obra de arte do Criador. Que dádiva sem tamanho o dom da vida! Infelizmente, após o nascimento, somos submetidos a tantos infortúnios, tantas tragédias e tantas dificuldades, que a obra torna-se borrada, estragada, esfarrapada. Quando olhamos para vidas que poderiam ser úteis e felizes, íntegras e prósperas, e as vemos em sua realidade destruída, sentimos dor e tristeza. Quantas vidas não passam de farrapos humanos! Têm o coração carcomido pelo ódio, pela solidão, pelo abandono, pelas agressões sofridas e pela revolta contra tantos sonhos não realizados! Gente rica, porém, vazia. Gente pobre e esquecida. Gente enferma e sem assistência. Gente velha e abandonada. Gente promíscua e mal amada. Gente viciada e sem libertador.
 
O meu pano abandonado é como a vida humana sem Deus: um tecido roto e abandonado. Diz-nos a Bíblia, a Palavra de Deus, que todos os homens são pecadores e, como tais, sujeitos ao completo abandono na eternidade, condenados a separação eterna de Deus. O pecado é um mal que corrói a alma, destrói o coração, afasta a semelhança divina e assombra o fôlego de trevas e de dor. Mas Deus não abandonou a Sua obra. Ele mandou ao mundo o único artesão capaz de restaurar a beleza original do sopro divino no homem. Jesus Cristo. Ele faz de cada homem que a Ele se submete o mesmo que minha sogra fez com o tecido perdido da obra de minha mãe: Ele restaura. Ele transforma. Ele refaz. Ele limpa. Ele costura. Ele ilumina. Ele dá vida nova. Através de Sua morte na cruz Ele perdoa os nossos pecados. O seu sangue simbolicamente lava o nosso coração, alvejando-o de forma completa e eterna. E a Sua ressurreição (Ele saiu da sepultura ao terceiro dia) nos dá vida, vitória, certeza e salvação. Ele restaura os farrapos humanos e nos faz novas criaturas!
 
Agora eu posso colocar num quadro o tecido restaurado e tê-lo como bem de família para os meus filhos queridos. A obra de minha sogra Masumi Okada tornou isso possível. Assim também eu e todos os pecadores que se submetem a Jesus Cristo podemos ser colocados no céu e desfrutar da presença e da companhia divina para sempre, através daquilo que Jesus fez em nosso coração, quando às Suas Santas mãos nos submetemos. Ele nos perdoou. Ele nos deu nova vida. Ele colocou em nós um novo coração. Ele nos adotou como filhos. Ele nos salvou. Aleluia!
 
Para terminar, quero lembrar-me do lindo hino de Norah Buyers e Joás Dias de Araújo, que tanto fala à minha alma - e quero crer, falará à alma de meus leitores também:
 

Nas Mãos de Deus
Norah Buyers / Joás Araújo

Nas mãos de Deus eu vou sereno e calmo
Nas mãos de Deus eu tenho plena paz
Vou sossegado até o fim,
Bem sei Deus cuidará de mim
Seguro estou nas suas mãos.

Nas mãos de Deus encontro segurança
Nas mãos de Deus certeza posso ter:
De libertar-me de aflições,
De angústias mágoas e tensões
Seguro estou nas Suas mãos.

Nas mãos de Deus eu posso ter vitórias
Aqui no mundo e enfim a glória herdar
Estou sereno e calmo assim
Porque Deus cuidará de mim
Seguro estou nas Suas mãos.
 
Wagner Antonio de Araújo

quarta-feira, 24 de junho de 2020

memórias literárias - 896 - ALGUMA DÚVIDA?

ALGUMA
DÚVIDA?
 
896
 
Nos últimos anos o sangue dos abortos foi derramado sobre a terra quente das nações, com a bênção dos governos e o sustento dos impostos.
 
A corrupção pública chegou a níveis insuportáveis em todas as vertentes ideológicas, ludibriando eleitores e destruindo as massas empobrecidas, sem acesso a dignidade mínima de uma sociedade organizada.
 
A família conforme Deus criou foi destruída, trazendo a tona velhos pecados escondidos, desta feita travestidos de virtude e impostos pelas organizações mundiais como algo a ser seguido. Quebra do gênero de nascença, fim dos paradigmas familiares, destruição do pejo e dos valores morais uma babilônia ao vivo e transmitida por satélites.
 
O cinema, a TV, a internet e todas as mídias construíram narrativas grotescas da fé cristã, transformando os cristãos ora em massa de manobra política, ora em ignorantes de baixa evolução ou terroristas contra o atual sistema de valores.
 
O carnaval levou às avenidas toda a sujeira da pecaminosidade humana, zombando de Cristo, transformando-o em ser revolucionário e indigno, perseguido pela polícia e companheiro do crime.
 
E então 2020 tornou-se o 2012 que não funcionou, ou o 1982 sem alinhamento de planetas. O mundo viu-se diante de fenômenos dos quais não tem controle e nem consegue administrar com racionalidade. Se 2012 não teve cataclismas e 1982 não teve fenômenos estelares, este ano o despejo de castigos veio com tudo.
 
Um virus maldito foi semeado no corpo humano e propagou-se a uma velocidade incontrolável. Fez a economia parar, afundar e destruiu os fundamentos de sustentação das nações. Enquanto escrevo uma segunda onda avassala os paises já devastados, enquanto o Brasil, com o seu medíocre governo em todas as esferas, ludibria as massas, finge controle e destrói o seu povo. Não há dinheiro público, não há serviços, não há comércio e não há perspectivas. Inúmeras promessas de remédio, nenhuma certeza e a tão esperada vacina custa a chegar. Pessoas morrem de fome. Em minha cidade 500 pessoas morrem por dia.
 
Como se não bastasse tamanha catástrofe, uma nuvem gigantesca de gafanhotos estraçalha as lavouras do Paraguai, invade e destrói a agricultura argentina e está a 130 quilômetros da fronteira com o Brasil. O celeiro do mundo está prestes a ver um rombo em sua cesta de produtividade. São 40 milhões de insetos por quilômetro quadrado, com uma fome voraz insaciável.
 
Para complementar a praga uma nuvem de areia, chamada Godzilla, absolutamente rara (conhecemos uma na era bíblica) está a cobrir por dias o Oceano Atlântico e segue rumo aos Estados Unidos e a América Central, não sendo improvável chegar à região norte do Brasil. Ela faz com que as trevas cubram o dia, além de poluir todo o ar. Exatamente o que aconteceu no Egito quando Deus despejou as suas pragas.
 
Bem, alguém ainda tem alguma dúvida sobre o período que estamos a viver?
 
JESUS CRISTO EM BREVE VOLTARÁ. Ou um juízo severo de equilíbrio histórico está a ser permitido pelo Senhor, que tem considerado punir o mundo pelo mal que tem produzido.
 
Preparemo-nos.
 

Wagner Antonio de Araújo

sábado, 20 de junho de 2020

memórias literárias - 895 - PÁGINAS SOLTAS - JURANDIR


JURANDIR

895
 
Era um congresso regional. O objetivo era estudar a Palavra de Deus. Convidaram o Jurandir para ser o preletor. Ele era conhecido por muita gente. Gostavam de ouvi-lo pregar. E pregou bastante. Pela manhã trouxe a teoria. À tarde a aplicação. E no culto da noite o apelo evangelístico. Tudo muito bom.
 
À porta, enquanto saudava os presentes e recebia os devidos cumprimentos, viu 5 amigos de longa data: André, Bernardo, Carlos, Diogo e Élcio.
 
- Mas que alegria, meus amigos! Vocês por aqui?
 
- Ah, sim, Jurandir, não queríamos perder a sua mensagem. Como estamos de férias resolvemos vir lhe escutar. E que mensagens boas! Meus parabéns!
 
- Obrigado, meus velhos colegas!
 
Eles eram amigos na mocidade. Membros de igrejas próximas, foram estudar na faculdade juntos. Prepararam-se e aguardaram convites.
 
André foi para os Estados Unidos. Ele dominava o idioma e era intérprete de americanos que vinham em conferências. Estabeleceu-se na Flórida como pastor. Foi muito bem sucedido.
 
Bernardo foi para o sul do país. Amante dos pampas e das montanhas, foi missionário e acabou se estabelecendo numa querência muito próspera. Era pastor e também produtor rural. Vendia leite e animais para o abate.
 
Carlos era erudito. Na faculdade já demonstrara o seu talento. Tornou-se professor no maior seminário da denominação. Tinha casa, carro, salário e muitas viagens. E muitos alunos para treinar.
 
Diogo administrava uma grande missão de construtores de igrejas. Desde pequeno ele aprendera a construir. Seu pai era mestre de obras. Ele pastoreava e construía capelas. Já estava na 45a. Era muito bem sucedido.
 
Élcio acabou sendo pastor-livreiro. Ele ajudava o professor na venda de livros teológicos e decidiu abrir uma livraria. Já possuia 5 filiais. Ele pastoreava uma igreja boa também.
 
Os amigos se abraçaram e decidiram jantar num restaurante da cidade.
 
- Jurandir, por que você ficou neste fim de mundo? Vila Fumaça? Com tantas oportunidades que surgiram acabou gastando a vida nesse lugarejo! O que aconteceu?
 
Jurandir sorriu, olhando para o prato.
 
- Eu lhe enviei um convite para vir pastorear na Flórida! - disse André.
 
- E eu consegui uma cidade alemã bem no alto da montanha em Santa Catarina para você, Jurandir! Você disse que não! - foi o que disse Bernardo.
 
- Eu tenho a consciência tranquila. Tinha vaga para lecionar 4 matérias onde você seria o máximo. Você sempre me dava desculpas  - Falou Carlos.
 
- Depois que ajudei você na construção do templo de sua igreja não nos falamos mais. - Foi o que Diogo disse.
 
- E eu havia lhe convidado para ser gerente da livraria daqui da região - Completou Élcio.
 
- CONTE-NOS COMO VOCÊ VIVEU ESTES ANOS, JURANDIR!
 
Então esse pastor de meia idade narrou a sua história, atualizando os amigos sobre os acontecimentos.
 
- Vila Fumaça era o fim do mundo. Quando comecei ali era terra que ninguém queria. Mas eu senti que Deus me conduzia para trabalhar com aqueles poucos irmãos. E eu obedeci. Não foi fácil. O salário sempre baixo, as dificuldades sempre grandes, mas aos poucos fomos nos acertando.
 
- Vocês me convidaram várias vezes e eu sou grato por isso. Até a igreja não compreendia a razão porque eu sempre recusava. Eles queriam que eu tivesse um progresso; senão por mim, mas pelos meus filhos. Eu explicava que eles eram importantes para mim e que não os deixaria enquanto não estivessem bem. E fomos vivendo.
 
- Quando completei vinte anos aqueles irmãos me deram um pacote de férias para que minha família viajasse com tudo pago. Fiquei muito grato. Foram quinze dias inesquecíveis. Enquanto estive fora eles trataram de fazer alguma coisa por mim.
 
- Abriram uma assembléia e discutiram a minha situação. Estavam tristes porque eu dedicara toda a vida a pastorear uma igreja num lugar tão pobre e eles queriam fazer algo por mim. Discutiram muito e concluiram que não era justo eu ter dado preferência a eles e nada receber como retorno. Leram aquele texto bíblico: E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui. (Gl 6:6). E concluíram que apenas o salário pequeno que podiam me pagar não era suficiente para demonstrar o carinho e a gratidão.
 
- Um dos membros possuía uma casa e três lotes ao lado. Os irmãos decidiram pedir que vendesse dois deles para a igreja por um preço bem pequeno e que doariam a mim. Um dos membros era dono de uma loja de materiais de construção e este decidiu vender o material suficiente para a construção de uma casa sem lucro e por 50% do valor, doando a outra parte. E os homens uniram-se em mutirão, enquanto as mulheres cozinhavam e faziam transportes e contatos.
 
- Enquanto estávamos em férias eles levantaram uma casa de 2 quartos com suíte, varanda e quintal. Também compraram de um irmão um carro semi-novo, pois o meu, de 20 anos, já estava no fim da linha.
 
- Quando cheguei de viagem foram me esperar no aeroporto. Mas, ao invés de me levarem para casa conduziram-me para a nova casa. Eu, a descer, não entendi nada, nem a minha esposa. Mas quando nos falaram do que havia acontecido nós saltamos de alegria e choramos copiosamente. A casa já estava mobiliada, o carro estava impecável e havia até uma pequena piscina ao fundo do quintal, junto à edícula dos fundos. Fizeram um culto no domingo, homenagenando-me e dando-me presentes que eu nunca havia ganho. Ganhei ternos, camisas, sapatos, e minha esposa e filhos roupas, objetos e brinquedos.
 
- Então, meus amigos, eu só posso agradecer a Deus por ter se lembrado de mim na Vila Fumaça. E a vocês, por se preocuparem comigo. Deus tem sido misericordioso!
 
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Ofereço este texto a todos os pastores que ousaram ficar em seus pequeninos lugares, servindo a um povo que tanto precisava da Palavra de Deus. E também para inspirar igrejas a que recompensem os seus pastores de longa data, não deixando de expressar o cuidado, o zelo e a merecida atenção. O Jurandir pode ser o pastor de quem me lê!
 
E se esta recompensa descrita não for a que experimentaram os pastores que me lêem, ou que nunca experimentarão em vida (não por falta de recursos e oportunidades das igrejas, mas pelo desprezo e a falta de gratidão que impera), creiam-me: Deus suprirá as suas necessidades mais dia menos dia. E lá no Céu, parada final de seu mnistério, receberão muito mais que isso. Receberão um "bom está, servo bom e fiel". E isto valerá mais do que tudo!
 

Wagner Antonio de Araújo.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

memórias literárias - 894 - A FÉ QUE FAZ VIVER - 05 - A FÉ QUE INSPIRA

05 - A FÉ QUE
INSPIRA
ouça:
 
Série:
A FÉ QUE FAZ
VIVER!
 
894
 
Olá! Aqui é o Pr. Wagner Antonio de Araújo.  Estamos analisando temas relacionados com A FÉ QUE FAZ VIVER. Hoje refletiremos sobre A FÉ QUE INSPIRA.

Eu tenho orado ao Senhor para que os meus filhos vejam em mim e em sua mãe a autêntica fé que possa inspirá-los. Inspirá-los a uma dedicação incondicional ao Salvador; inspirá-los a nunca desistirem de fazer a vontade de Deus; inspirá-Los a empregarem todas as suas forças no Reino do Senhor.

E tenho muitos exemplos que trago com carinho no meu coração.

Um deles foi o do Pastor Timofei Diacov. Um homem que não apenas deixou saudades, mas que deixou um exemplo altamente inspirativo. Quando criança passou fome, ao lado de seus irmãos. Quando adolescente foi trabalhar em diversas coisas que se lhe apresentavam: lavanderia, alfaiataria, doceria etc. Ele fez de tudo e vivia com muito pouco. Deus o converteu e ele foi chamado pelo Senhor para ser um pregador do evangelho. Estudou o quanto pôde. Preparou-se numa escolinha teológica que, antes de sua formatura fechou. Então candidatou-se a ser aluno no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro. Formou-se e foi consagrado. Pastoreou diversas igrejas no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Mais de sessenta anos de ministério. Escreveu milhares de artigos e deixou gravados centenas de programas radiofônicos. Ele descansou no Senhor, mas o seu exemplo perdura na minha vida, pois ele teve a fé que salva e que inspira.

Lembro-me de Sebastião Emerich. Um homem da roça, trabalhava no alambique. Um dia o Pr. Rodrigues & Rodrigues pregou o evangelho naquela fazenda e ele veio a converter-se. Analfabeto, aprendeu a ler na Bíblia. Em São Paulo foi trabalhar em Alphaville, tornou-se um almoxarife. E foi membro fundador da Igreja Batista em Sumarezinho. Um dia o Dr. Russell Shedd pregou naquela igreja e teve um debatedor à altura. Ele não entendia como o irmão Sebastião era tão profundo em suas considerações. Ele leu as Escrituras Sagradas 324 vezes (apenas as que computou) e nos últimos anos tinha o rosto brilhante, pois via a Deus em sua comunhão diária. Foi recolhido à presença do Pai com mais de noventa anos, deixando um exemplo inesquecível de fé legítima e inspirativa no Senhor Jesus.

Não posso me esquecer de meus pais também. Antonio Paulino de Araújo, um jovem que deixou Cambuí em Minas Gerais e veio trabalhar em São Paulo. Era analfabeto mas conseguiu chegar até o primeiro ano de engenharia civil. Adoeceu e deixou os estudos, ficando como bancário. Um homem duro, que não conhecia o amor e nem a compaixão. No entanto, depois de minha conversão, papai recebeu Jesus em sua vida e teve uma  profunda transformação. Prestes a ficar cego atravessava as madrugadas a ler a bíblia com vigor e longos períodos. Dizia ele que estava guardando no coração as palavras que o consolariam em épocas de escuridão nas vistas. Procurou cada pessoa que prejudicara antes de se converter e pediu perdão. O meu pai deixou um exemplo maravilhoso de transformação e de fé que inspira.

A minha mãe Elzira Bonfante foi outra inspiração. Quando eu me converti a Cristo ela ofendeu-se e chorou imensamente, pois dizia que eu havia rompido com a religião da família. Numa noite, no entanto, quando eu chegara da escola, ela veio à porta dizer que convertera-se fritando bifes. Contou-me que enquanto cuidava da carne na frigideira pensou em tirar um pedaço da imagem de escultura que estava pendurada no corredor. Quando viu o material, que consistia em jornal velho e arame, decidiu que à partir daquela noite só creria em Jesus Cristo, que não precisava de uma imagem, mas que estaria para sempre em seu coração. Mamãe foi transformada. Foi esposa fiel e primorosa, foi mãe virtuosa, foi crente dedicada. O pastor encontrava em suas orações e conselhos a ajudadora e a mãe de que precisava. A igreja a amava. Quando ela não pôde mais caminhar, os irmãos vinham celebrar o culto com ela. Em 2005 mamãe partiu. Mas a inspiração de sua fé permanece comigo até hoje.

Prezado ouvinte, a quem a sua fé inspira? Estaria você vivenciando os valores de Cristo a tal ponto, que outros, ao prestarem atenção em você se inspirariam a serem mais fiéis, mas consagrados, mais confiantes no amor do Senhor e no suprimento pela fé? Ou a sua maneira de viver não pode ser considerada como uma expressão inspirativa da fé? Não importa: ainda é tempo de reconstruir e de transformar a sua fé em inspiração. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras (Ap 2:5).  Deus pode restaurar a sua fé e reaquecer a sua vida de tal maneira, que também terá uma fé que inspirará a outras pessoas! E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. (2Cr 7:14). Que hoje seja tempo de regresso e de transformação. Que Deus nos abençoe. Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo


 

quarta-feira, 17 de junho de 2020

memórias literárias - 893 - LIDAR COM A INGRATIDÃO

LIDAR
COM A
INGRATIDÃO
 
 
893
 
Não é fácil e nem há um caminho pavimentado para aqueles que decidem lidar com a ingratidão. Ela é um mal oriundo do pecado, fruto do coração de Satanás. Entrou no DNA humano com a queda do homem e desde então tornou-se uma constante nas relações entre o homem e Deus e entre homens e homens.
 
Há exceções. Não falo destas. Infelizmente o próprio Senhor Jesus Cristo experimentou ingratidão em Seu ministério. Dez leprosos rogaram-lhe a cura. Ele os curou. Eles se foram. Um samaritano, porém, retornou e prostrou-se em adoração. Cristo diz: E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? (Lc 17:17). Noventa por cento dos agraciados são ingratos, a julgar por esta cena. Mas talvez não seja justo. O número de gratos seja menor ainda...
 
"Fazer o bem, não importa a quem". Uma frase maravilhosa. Porém, em se tratando da realidade, é normal, é lícito e é correto ter a expectativa da gratidão. Deus nos criou e tem a expectativa do louvor para a Sua glória. O Apóstolo Paulo em suas exortações e admoestações, afirmou: E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. (Cl 3:15). Faz parte da nova vida regenerada o espírito de gratidão. 
 
Para cada dez orações que fazemos nove são focadas no pedir, no rogar, no suplicar. Quantas pessoas pedem a Deus por algum parente, alguma enfermidade, alguma necessidade. Quando apaixonados regamos o travesseiro com as lágrimas em súplicas. Quando desempregados fazemos os tais "votos", prometendo o mundo para Deus. Quando desesperados imploramos o socorro. E depois? E quando as bênçãos chegam? Voltamos à normalidade: "obrigado, Jesus!" e "aquele abraço". Foram-se os votos, acabaram-se os momentos de súplica, o desespero deu lugar à rotina. E somos mais um leproso no cômputo da ingratidão...
 
E quantas pessoas nos ajudaram na vida e simplesmente não as agradecemos? Alguns conseguiram empregos por ação de alguém que as indicou. Outros adquiriram bens com o empréstimo amistoso de pessoas próximas. Pastores e obreiros conseguiram posições ministeriais por influência e ajuda de gente de bem e que se importava com eles. Muitos conseguiram solucionar problemas com a assistência alheia. Quantas vezes voltamos para agradecer? E, se voltamos, quais foram as atitudes de gratidão que tivemos? Talvez tão poucas, tão restritas, tão frias, tão distantes... Eu estou cansado e repleto de experiências de ingratidão. Porém hoje não...
 
Estou escrevendo porque me senti um privilegiado. Dificilmente um pastor recebe um "muito obrigado", seja por palavras, seja por suprimento por parte das ovelhas de seu ministério, seja por gente que sempre se beneficia de suas atuações. Mas hoje eu ganhei um agradecimento. Há tempos conheci uma pessoa, junto com minha esposa, que atravessava dificuldades praticamente intransponíveis em seu casamento. Solicitado em aconselhamento mostrei o que as Sagradas Letras diziam. Bem, hoje eu recebi notícias e uma palavra de gratidão. A família desta pessoa se refez. Não foi a primeira vez que esta pessoa agradeceu-me. Foi a terceira e com mais veemência ainda. Isso é um prêmio, uma dádiva, uma jóia na coroa da existência. Isso não tem preço!
 
Como eu lido com a ingratidão dos outros que não fazem isso? Como todo ser humano, eu sofro. Como pastor e como colega de pastores que já ajudei, sofro também. Não é fácil conviver com a ausência de um "muito obrigado" Aliás, nem é preciso dizer. O jeito e a postura do próximo mostram se houve gratidão. Mas, depois de sofrer com o desprezo característico, eu sou confortado por gente que me ama, gente próxima, e olho para o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que me amou primeiro, que me salvou sem que eu nada tivesse feito. Então recebo consolo, vigor e forças para continuar a caminhar, a servir, a semear, a operar a fé que me foi confiada. Ademais, recompensas legítimas só existirão no Céu. E não quero trocá-las nem para ser considerado filho de Faraó. Estou reportando-me a Moisés: Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. (Hb 11:26). A recompensa para Moisés era o Céu. E o é para mim e para quem me lê e ama a Jesus.
 
Sou grato a cada um de vocês que lê os meus textos. Sou grato por ter pastoreado igrejas e por ter ajudado pastores. Sou grato por ter você como meu leitor.
 
Sou grato pelos que são gratos, se alguma coisa que fiz valeu para alguém.
 
Bendito seja o Senhor.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

ofereço ao irmão que me agradeceu.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

memórias literárias - 892 - A CENA SE REPETE

A CENA
SE
REPETE
892
 
Minha filha Rute Cristina, à semelhança de toda criança e adolescente de hoje, deseja usar o celular/telemóvel o tempo todo. Esses joguinhos infantis, esses desenhos e musiquinhas, o seu prazer é ter esse aparelhinho na mão. Se não houver controle criaremos um monstro zumbi, que não fará mais nada senão olhar para o ecrã do aparelho. Então eu disse que deixaria na quinta-feira próxima que usasse o meu celular. Até aquele dia ela estaria privada do celular. Se me desobedecesse seria disciplinada.
 
No Jardim do Éden Deus criou o homem, dando-lhe a bênção de usufruir de tudo, exceto  de uma árvore específica, a da ciência do bem e do mal. Ele disse que as consequências seriam desastrosas e que não fizesse isso. Se o fizesse morreria. Seria a disciplina.
 
Enquanto eu estava a trabalhar em meu computador o meu filho Josué Elias entra e diz que Rute estava com o celular da mamãe. Eu pensei: "jamais. Ela me ouviu a dizer-lhe que não fizesse isso." Para aliviar a curiosidade eu fui até a sala procurá-la. Não a vi, mas escutei o som de um joguinho do celular. Então gritei: "Rute, onde você está?" Ela disse: "Eu tive medo, papai, eu estou escondida". Falei-lhe: "O que você está fazendo de errado? Você está a usar o celular que lhe proibí?" Ela, então, me responde: "Foi o Josué quem me entregou!"
 
Voltando ao Jardim do Éden, encontramos Eva perambulando por perto da árvore proibida e ouvindo com prazer os argumentos da serpente de Satanás. Ela comeu do fruto da árvore, levou também ao marido e este também comeu. Cônscios do erro, sentiram-se nus por dentro e por fora. Temendo serem descobertos buscaram abrigo e cobertas de folhas. Deus desceu ao jardim e chamou a Adão. "Onde estás?" Este respondeu: "Tive medo e me escondi". Deus lhe pergunta: "Quem te mostrou que estavas nu? Comeste do que te proibí?" A resposta foi esta: "A mulher que me deste me deu da fruta e eu comi".
 
Eu conduzi a Rute ao meu quarto, chorando. Ela estava desconsolada. Eu lhe mostrei que o que fizera fora errado. Além disso, acusar o irmão como o responsável de um ato seu era mais grave ainda. Ela estava triste e desconfortável. Então eu lhe contei a história de Adão e Eva e falei da semelhança que havia entre o que ela fizera e o que o primeiro casal também fizera.
 
"Mas, papai, o que posso fazer para consertar isso?"
 
"Você deve se arrepender de ter me desapontado tanto, de ter me desobedecido, e deve me pedir perdão e comprometer-se a não me desobedecer mais."
 
"Posso fazer isso sem olhar para o senhor?"
 
"Não pode não. Por que não quer olhar para mim?"
 
"Porque sinto vergonha."
 
"Você deveria ter sentido vergonha de me desapontar, de ter desobedecido ao papai. Agora terá que arcar com a consequência e, arrependida, pedir-me perdão, comprometendo-se a não fazer mais isso".
 
Ela chorou, sentiu-se desonfortável,  mas, por fim, com os olhinhos vermelhos pediu-me perdão e disse que jamais queria passar por isso novamente; por isso não iria me desobedecer de novo.
 
A história se repete. Os filhos e as filhas de Adão comportam-se como ele comportou-se. A desobediência está em nosso DNA humano. O homem é pecador. E Jesus não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem (Jo 2:25). Deus expulsou a Adão do Éden, mas fez a promessa de salvação num futuro que chegaria. Jesus Cristo é o cumprimento desta promessa. Minha filha teria acesso a esse perdão em Jesus Cristo também. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. (1Jo 4:10)
 
Para combater o pecado humano há somente um remédio: Jesus Cristo. Ele é o sacrifício que torna o homem aceito diante de Deus. Para termos acesso a isso são necessárias duas atitudes: ARREPENDIMENTO e FÉ. Por arrependimento se entende o reconhecimento do erro e o sólido desejo de não fazer mais o mal que se fazia. E por fé entende-se a confiança que temos em Sua promessa, de que seríamos por Ele aceitos e que teríamos forças para suportar a vontade de errar novamente. Ele nos daria graça e poder. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (I João 1.9)
 
Minha filha Rute aprendeu uma grande lição. E eu também fortaleci isto em meu coração: que assim como eu me desapontei com o seu erro Deus se desaponta com os nossos pecados. Mas assim como a perdoei e a acolhi (ela dormiu em meu colo e a mãe a levou para a cama!), assim eu não quero desapontar mais a Deus e quero adormecer em Seu colo.
 
Que Deus nos ajude.
 

Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 892 - QUEM CHOROU POR ELAS?

QUEM
CHOROU
POR ELAS?
 
892
 
Vindo, pois, Davi para sua casa, em Jerusalém, tomou o rei as dez mulheres, suas concubinas, que deixara para guardarem a casa, e as pôs numa casa sob guarda, e as sustentava; porém não as possuiu; e estiveram encerradas até ao dia da sua morte, vivendo como viúvas. (2Sm 20:3)
 
Eu não tenho pecadores de estimação, uma vez que pecado é pecado na vida de qualquer pessoa, inclusive na minha. Por isso me rendi a Cristo, pois sou um pecador. Mas, por Cristo, fui perdoado e transformado em nova criatura. Aleluia!
 
Dez concubinas. Quem eram essas mulheres na vida de Davi, o "homem segundo o coração de Deus"?
 
Eram suas amantes. Aliás, eu confesso que só aceito os textos por ele escritos porque tenho sólida, firme e inabalável convicção de que foram "INSPIRADOS" por Deus. Deus falou através de sua autoria. Mas dele, do homem, de sua moral e do sangue que molhava as suas mãos, não aceitaria. Festejamo-lo como "um certo pastorzinho", como o "herói que matou Golias", mas nos omitimos quanto aos seus gravíssimos erros, inclusive o de perseguir os filhos de Zeruia, chefes de seu exército e guarda, entregando o posto ao combatente Amasa, chefe da milícia chefiada pelo falecido filho Absalão.
 
Eram dez amantes de Davi. Dez das muitas que já tivera. Essas mulheres ficaram a tomar conta do palácio quando fugira de seu filho Absalão, usurpador do reino. Este, ao sentar-se no trono do pai, e para fazer-se execrável ao progenitor, abusou publicamente de tais mulheres, cometendo adultério grotesco e imundo. Depois, quando o pai recuperou o reinado e Absalão foi morto, reencontrou as mulheres e, como prêmio por terem ficado no palácio e terem sido agredidas transformou-as em prisioneiras até o resto de suas vidas.
 
Delas não sabemos o nome. Não sabemos qual a idade que tinham, se possuiam ou não filhos, se tinham ou não algum bem, se sofriam de alguma enfermidade, se eram tristes, revoltadas ou depressivas. Só sabemos que foram objeto nas mãos daquele que as possuiu à força, que transformou-as em escravas e que as puniu sem que fossem culpadas.
 
Ah, mulheres sem nome! Não se sabe quanto tempo viveram, se duraram muito, se algum dia puderam ver o sol mais claro ou a noite mais suave. Só sabemos que eram dez e que foram colocadas em custódia até que morressem.
 
Cada vez que leio isso me revolto contra os pecados de gente que esqueceu-se dos valores divinos! A Bíblia torna-se a cada dia mais verdadeira, pois, diferentemente dos livros religiosos falsos, ela não esconde o erro de suas personagens. Davi foi um homem cujo coração dobrou-se ao âmago da vontade de Deus, mas com absoluta certeza também foi um ímpio. Se não fosse a graça de Deus a operar em seu coração não haveria outro lugar senão o inferno para alguém que teve misericórdia seletiva, muito complacente com uns e mortal para com outros.
 
Seria lícita a bigamia, a poligamia, o concubinato naqueles dias? Era do agrado de Deus? Deixemos o Senhor Jesus Cristo responder: Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. (Mt 19:6). Para Cristo, o LOGOS de Deus (a própria Palavra revelada) não existia a possibilidade de três, quatro ou mais relacionamentos conjugais, mas um só. O que disto passasse era pecado, desvio da criação divina. Nas leis mosaicas havia o estabelecimento de regras sociais para essas anomalias, o que JAMAIS fora expressão da vontade diretiva de Deus. Ao receber as tábuas da Lei Moisés leu: Não adulterarás. (Ex 20:14). Adultério é a violação do compromisso e da fidelidade para com o cônjuge. Um cônjuge só. Por serem os homens detentores do poder, inclusive familiares, só restava às mulheres aceitar passivamente a imposição deles a realidade de seu futuro: ou esposas, ou concubinas ou o que tivesse. Triste vida destas senhoras!
 
Voltemos a essas pobres mulheres de Davi. Quem chorou por essas concubinas? Quem delas se lembra hoje para não deixar a sua memória perecer? Que sonhos ou desejos elas puderam realizar em suas vidas? Quem puniu o estupro de Absalão às suas míseras existências? Ninguém. Passaram pela vida apenas como objetos e seres em sofrimento.
 
Quantas mulheres assim existem hoje! Mulheres que apanham dos maridos, mulheres abandonadas com suas proles e necessidades, mulheres traídas bestialmente e expostas à vergonha e ao perigo! Mulheres que choram baixinho no cuidado para com os filhos enquanto são severamente agredidas por seus cônjuges, mulheres que deixam de comer para dar aos pequeninos o seu pão. Pior que isso são as que são privadas dos próprios filhos, roubadas, arrancadas do convívio de seus próprios rebentos! Mulheres que choram, lágrimas que caem quentes no chão frio, corações entristecidos.
 
Graças a Deus que não há santos que possam reinvindicar méritos diante de Deus. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; (Rm 3:23). Davi foi um pecador como qualquer outro homem, indigno da graça de Deus. Não só ele, mas seu filho Salomão, cuja moral foi imensamente pior do que a do seu pai. Porém, e bendito seja Deus, Jesus Cristo foi maior do que eles! E eis aqui está quem é maior do que Salomão. (Lc 11:31). Para Cristo, o Filho do Deus vivo, que nunca teve pecado e jamais desilude a quem O segue, a conversão, o arrependimento e a fé nEle é condicional para que se alcance a graça de Deus:
Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. (Lc 13:3)
 
Se ninguém chorou por elas, pelas concubinas de Davi, que a misericórdia divina possa alcançar as mulheres de hoje que choram por serem vítimas das violências do mundo. Que as lágrimas de mulheres sem nome não sejam anônimas diante do trono do Senhor. Não lágrimas de remorso por serem pecadoras e terem feito as piores escolhas, pois colhem do fruto que plantaram; mas aquelas que, oprimidas e conduzidas à força a comportamentos e situações que não pediram, choram de dor e de tristeza, de impotência e de solidão.
 
Que Cristo venha e, com Ele, o consolo!
 
Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do seu povo de toda a terra; porque o Senhor o disse. (Is 25:8). E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. (Ap 21:4)
 
O verdadeiro cristianismo tem que tratar as mulheres com dignidade. Se assim não fizer, não é cristianismo.
 

Wagner Antonio de Araújo

domingo, 14 de junho de 2020

memórias literárias - 891 - TROCA INFELIZ

TROCA
INFELIZ
 
891
 
Um velório. Um pai no caixão. Flores o cobrem. Pessoas choram. Três filhos, dois rapazes e uma menina. Ninguém chora como eles. Cada um tem uma carta manuscrita. Foram escritas pelo falecido, que as deixou nas mãos de um tio. Pediu para entregá-las ao pé do caixão.
 
Assim dizia a primeira:
 
"Carlos, meu filho, eu não tinha instagram para comunicar-me com você. Por isso escrevi com a minha caneta. Eu sinto orgulho do homem que você se tornou. Honesto, trabalhador, estudioso, foi uma honra ter sido o seu pai. Mas quero alertar-lhe: não viva num mundo virtual. Pode ser que sinta saudade de quem já partiu e esse alguém não terá como comunicar-se com você. Seja abençoado, filho querido."
 
A segunda tinha o seguinte recado:
 
"Jussara, querida filha, você saiu-se igual a sua mãe: linda, inteligente, brilhante. Quantas vezes eu quis vê-la bem de perto, falar com você, sentir o quanto você cresceu. Mas eu não tinha whatsapp para me comunicar e nem facebook para ver o seu rosto bem de perto. Contentava-me com a sua passagem pelo corredor de casa ao sair para a faculdade. Espero que se lembre daqueles que são de carne e osso, como eu fui, e que dependa menos de redes sociais para amar e ser amada. Um beijo, minha princesa."
 
E a última dizia:
 
"Airton, você é o mais velho. Também é o mais forte, mais vigoroso, mais ousado. Eu sempre admirei a sua força de vontade, a sua valentia, a sua coragem. Pena que não tinha tempo para mim. As horas de intervalo entre o trabalho e a faculdade, os finais de semana, estavam ocupadas com jogos virtuais, com as turmas que se encontravam nas lives e nos chats com câmera. Como eu não tinha celular não pude fazer parte daqueles que obtinham a sua atenção. Seja feliz, meu filho, mas se lembre de quem existe fora da sua mídia. Pode ser que descubra muito tarde que sinais eletrônicos não duram para sempre e que as pessoas reais estão do lado de fora. Deus te abençoe".
 
Esses filhos estavam inconsoláveis. A viúva, pobre mulher, não sabia se chorava pelo marido morto ou pelos filhos desesperados.
 
Quando a hora de fechar o caixão chegou os órfãos de pai depositaram seus aparelhos celulares telemóveis dentro do caixão, todos sobre o peito do pai. Deixaram-nos ligados com uma frase:
 
"Perdoe-me, papai..."
 
Tarde demais para aquele pai ver a mensagem. Tarde demais para aqueles filhos que trocaram o real pelo virtual.
 
Mas pode ser cedo ainda para quem me lê, caso esteja transformando o mundo virtual na única verdade de sua vida, esquecendo-se das relações humanas e afetivas necessárias para a prática do verdadeiro amor e da nossa humanidade. Quem se comunica por celular dentro da própria casa experimentará a maior solidão interior no dia em que não tiver mais a oportunidade do encontro pessoal com quem estava ao lado.
 
Que não troquemos o real pelo virtual. Que não nos esqueçamos que nada supre uma relação autêntica presencial. Na pandemia esses equipamentos são uma muleta necessária. Mas, quando terminar a praga, que amemos, que abracemos, que invistamos tempo com pessoas reais, que nos sintamos humanos, que sejamos cristãos e que ninguém morra sem sentir o afeto dos seus.
 
A todos o meu cordial abraço.
 

Wagner Antonio de Araújo.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

memórias literárias - 890 - A MANTINHA QUE GUARDEI

A MANTINHA
QUE GUARDEI
 
 
890
 
Míriam vivia com uma filha. Viúva e idosa, recebia amor e cuidados de todos os filhos, mas optou por morar com Giliam, a filha mais velha. Sua neta levava o seu nome: Míriam. Ela vivia bem, era crente fiel, amava a Jesus e vivera intensamente os seus noventa e dois anos. Mas sentia que a hora da partida estava próxima.
 
Chamou a netinha para uma conversa.
 
- Míriam, querida, venha aqui com a vovó.
 
Míriam, a neta, chegou-se sorridente. Chegara da faculdade, trazida pelo noivo atencioso. A vovó foi até o guarda-roupa e tomou uma velha caixa de papelão. Abriu-a e de lá retirou uma cobertinha de criança.
 
- Nossa, vovó, que linda cobertinha. De quem era?
 
Então vovó contou-lhe a história daquela peça de roupa.
 
- "Minha filha, eu tinha quatro anos de idade. Papai era muito amoroso. Ele tinha muito pouco, mas buscava suprir-nos do que fosse melhor. Eu e meus irmãos sentíamos frio e tínhamos cobertinhas já usadas, que nossas tias nos davam. Mas não havia nenhuma que pudéssemos chamar de nossas por completo.
 
-"Naquela tarde papai saiu para a rua do comércio e trouxe-nos um presente. Para cada filho uma mantinha. Justino, meu irmão do meio, ganhou uma de super herói. Isabel, minha irmã mais nova, uma de bichinho. E eu ganhei esta. Fiquei tão feliz, minha filha!
 
-"Depois que saí para festejar, resolvi voltar e disse ao papai: Papai, vou guardar esta cobertinha para toda a minha vida! Ele, emocionado como era, chorou. E me falou: Quando você ficar velhinha e sentir que a hora de partir virá, presenteie para a sua neta". Querida, hoje eu entrego esta mantinha para você.
 
- Vovó, não fale bobagem! A senhora não pode nos deixar! Nós não saberíamos viver sem a senhora!
 
- "Eu sei que vocês me amam, querida. E não sei quando o Senhor virá me recolher. Mas quero que você receba esta cobertinha e que cuide bem dela. Se você tiver filhos e netos, presenteie a uma filha ou a uma neta. E conte a história dessa mantinha. Se Jesus voltar antes você estará livre do compromisso. Mas se não voltar quero que a dê a uma descendente. Você faz isso para mim?
 
- Puxa, vovó! Quanta honra a senhora me dá! Eu não me sinto digna de cuidar de algo tão especial! Mas pode ficar sossegada que vou levar comigo por toda a vida. Eu me comprometo a passá-la para a filha ou a neta que tiver. E se não tiver ficará para o meu irmão. Combinado?
 
Míriam, a avó, beijou a Míriam, a neta. E, à luz do sol de outono, na janela, choraram e sorriram.
 
Compartilhar memórias de família é um bem precioso. Principalmente quando envolvidas com amor e com beleza. Coisas tão simples e baratas, como uma mantinha, tornam-se especiais e sem preço, pelo muito que representam, pela história que celebram, pelos elos que registram.
 
Feliz daquele que tem boas lembranças daqueles que lhes deram origem!
 
Wagner Antonio de Araújo
 
Oferecido à minha pequena Rute Cristina Farias de Araújo

 

memórias literárias - 889 - A FÉ QUE FAZ VIVER - 04 - A FÉ QUE IMPULSIONA

 
04 - A FÉ QUE
IMPULSIONA
 
889
 
Olá! Aqui é o Pr. Wagner Antonio de Araújo.  Esta é a série A FÉ QUE FAZ VIVER hoje falaremos sobre A FÉ QUE IMPULSIONA.

É muito triste ver tantos cristãos a sofrerem de depressão, de falta de motivação, de inatividade. Talvez por terem se deixado levar pelas falácias de Satanás encontram-se nesta situação. Outras vezes, contudo, assim estão por falta da operosidade da fé. A fé cristã autêntica, que salva, também é a mesma que dá forças para viver. Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. (1Jo 5:4).
A fé nos impulsiona quando nos sentimos com medo e desamparados. Elias foi um exemplo disto. Depois de levar uma vida inteira dedicada a Deus, servindo como profeta poderoso e repleto da graça do Senhor, sentiu medo e desespero. Ele havia enfrentado quatrocentos profetas de Baal, um ídolo de seu tempo. Após tal enfrentamento vencedor a rainha Jezabel prometeu matá-lo. Ele, que não temera nada e ninguém, agora corria feito fugitivo pelo deserto. Cansado após tanto caminhar, sentou-se debaixo de um zimbro e pediu a morte. Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais. (1Rs 19:4). Deus proveu para ele um alimento e a água necessárias. Um anjo o acordou e o fez comer. Mas estava tão depressivo que dormiu novamente. Então lemos: E o anjo do SENHOR tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho. (1Rs 19:7). Elias comeu, seguiu para o monte Horebe e ali Deus lhe manda dar meia volta e completar a sua carreira. Sim, Deus colocou um anjo em seu caminho. E Deus coloca um anjo no caminho de todo cristão que esteja passando pelo desânimo, pela depressão, pela tristeza e pelo medo. E disse: Não temas, homem muito amado, paz seja contigo; anima-te, sim, anima-te. E, falando ele comigo, fiquei fortalecido, e disse: Fala, meu senhor, porque me fortaleceste. (Dn 10:19). Esta foi a experiência de outro profeta, Daniel. E esta é a experiência de todo crente, de todo aquele que ama a Jesus. Ele disse: Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (Jo 16:33).
A fé nos impulsiona a completar a nossa carreira. No ministério cristão é a fé que nos leva a fazer o nosso dever: aquele que ensaia um coral ou um conjunto musical, muitas vezes sente-se desanimado por não contemplar os resultados que gostaria. Mas ele crê que o Senhor tem um plano e persevera. O resultado um dia aparecerá. O pastor que abre um trabalho vê-se muitas vezes atolado no desânimo: os membros não são fiéis, não há lares abertos para a pregação, a vizinhança não se sensibiliza pela pregação, os jovens não perseveram na fé. Muitas vezes ele chora baixinho, longe até da família, pois são lutas da obra do Senhor. E o que acontece? Deus lhe dá forças para não parar, para não desistir, para não esmorecer. Tu, porém, vai até ao fim; porque descansarás, e te levantarás na tua herança, no fim dos dias (Dn 12:13).
A fé nos impulsiona a crer no amanhã. Diz o hino de Bill Gaither, em versão do Pr. Luiz Roberto da Silva: “Porque Ele vive posso crer no amanhã, porque Ele vive temor não há, pois eu bem sei, eu sei, que minha vida está nas mãos de meu Jesus, que vivo está”.  A fé verdadeira diz: “Ele e eu vivo também; Ele venceu, eu vencerei também”. A fé verdadeira crê que a vitória já está garantida pelo Senhor. Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. (1Jo 5:4). A nossa vida aqui no mundo é passageira, é curta, é sofrida, é limitada. Nada do que usamos, temos ou ajuntamos é realmente nosso; tudo é emprestado. Mas a fé que temos no coração, ah, esta é nossa e irá conosco para o além. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. (Rm 14:22). Também lemos em Apocalipse: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem. (Ap 14:13). Quando morrermos, nos encontraremos junto de Jesus, como o ladrão convertido na cruz, que encontrou-se com o Salvador no Paraíso naquela mesma tarde. E, quando da volta do Senhor, viremos e nos ajuntaremos com Ele. E assim estaremos para sempre com o Senhor! Aleluia!

Ouvinte, como está a sua fé? Ela lhe impulsiona ou aprisiona? Ela o faz alçar um vôo mais alto ou o acomoda ao chão? A sua fé lhe conduz às alturas, onde Cristo está assentado, ou o mantém no abismo, repleto de dores e de insatisfações? Que saibamos que Deus tem para os Seus uma vida de profunda e maravilhosa graça, que nos faz lutar, construir, criar, desenvolver, perseverar, ousar, completar! Seja na criação dos filhos, seja no exercício da profissão, seja no concurso público ou nos estudos universitários, seja no trabalho cristão na igreja do Senhor, Deus nos impulsiona a fazer muito por Ele, através de uma fé viva e eficaz. Diz o antigo hino: “Sua fé Jesus contemplará, sim, o que Jesus promete, dá. Ele vê o coração e responde à petição, sua fé Jesus contemplará!”

Que assim seja para com todos nós e que Ele nos abençoe. Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

obs: gratidão a Maria Arlete Pereira de Abreu Bastos, um anjo em minha vida. Obrigado, mamãe portuguesa!

quinta-feira, 11 de junho de 2020

memórias literárias - 888 - BRILHO NOS OLHOS

BRILHO
NOS
OLHOS
888
 
Os meus filhos são queridos, são preciosos. Mas a minha Rute Cristina, que logo fará cinco anos (se Deus quiser), é muito especial. Ela está crescendo. E eu já descobri um mundo gigantesco dentro daquela cabecinha e no seu meigo coração. Ela tem a eternidade nos pensamentos. Pensa no céu, em Jesus e aplica tantas coisas que aprende a sua vida com Deus!
 
Mas ela estava triste. Fomos ver a sua vovó e os priminhos, apenas à distância. E ela convidou a priminha para vir em casa e passar a noite a brincar. Algumas vezes ela dormiu em sua casa, mas nunca a prima passou a noite aqui. E recebeu um não como resposta, pois talvez o pai não deixasse. Rute descaiu o semblante e chorou. Aliás, há dias que ela está triste por não ter essa alegria. O meu cunhado estava chegando em casa naquela hora e viu-a a chorar. Ao saber do que se tratava deu a autorização para a filha e o trato foi feito: os primos dormirão juntos em minha casa. Rute recobrou não apenas o brilho, mas o sorriso, a alegria e veio cantando de lá até aqui em toda a viagem de quarenta minutos. Eu, que a amo, vibrei de emoção ao vê-la feliz, alegre, saltitante. E lembrei-me de um texto:
 
A esperança adiada desfalece o coração, mas o desejo atendido é árvore de vida. (Pv 13:12)
 
Quando esperamos algo que nunca aparece, que nunca se concretiza, definhamos dentro de nós mesmos. O dia não é claro, o verão não esquenta, a felicidade não agrada, a música não inspira. Como é difícil esperar e nunca receber! O mais difícil, porém, é quando não há esperança para ter esperança, quando não há mais expectativa de futuro ou de novos projetos. Quantos aposentados, privados de seu trabalho, falecem pouco tempo depois, vítimados pelo sentimento de inutilidade e de vazio. Porém, quando uma esperança surge no caminho o rosto brilha. Brilha como o rosto de Jônatas, filho de Saul, que, após comer um pouco de mel, após dias sem alimentação, recobrou ânimo e vigor. "Estendeu a ponta da vara que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, tornando a mão à boca, aclararam-se os seus olhos. (1Sm 14:27). A esperança é como o mel.
 
Quer ver um apaixonado ter brilho nos olhos? Que a sua amada corresponda ao amor que lhe é dedicado! Ele dará beijos até nos postes da rua!
 
Quer ver um desempregado feliz? Basta receber uma comunicação da empresa onde deixou currículo, dizendo que foi selecionado para a vaga e que começará a trabalhar na segunda-feira. Essa pessoa não dormirá de felicidade!
 
Quer ver um moribundo recuperar ânimo? Basta receber exames novos e a voz do médico a dizer: "você vai se recuperar logo". Que felicidade!
 
Quer ver um pastor esquecido recobrar ânimo? Basta receber um convite caloroso de uma igreja para pregar em conferências ou (melhor ainda) ser conduzido ao ministério de uma congregação. Ele sonhará acordado!
 
Quer ver um pai feliz? Que ouça alguém dizer: "seu filho é um primor, que educação, que capacidade monumental ele tem!" Seu peito explodirá de felicidade!
 
Mas, acima de toda essa festa, e ainda que nenhuma das anteriores aconteça, o coração do crente fiel será reavivado no dia em que ele escutar do Senhor esta palavra:  Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; (Mt 25:34). Esse gozo eu hei de ter, e todos os que me lêem, se amam a Jesus Cristo também, o terão junto do Senhor.
 
OH, QUE DIA FAUSTOSO ESSE DIA SERÁ
QUANDO O SOM DA TROMBETA ECOAR
QUANDO CRISTO NAS NUVENS TIVER DE DESCER
PARA ASSIM ENTRE NÓS HABITAR! (Hino 114 do Cantor Cristão)
 
Por ora vou me preparar para a bagunça que os pequeninos farão aqui em casa.
 
Um abraço a todos.
 

Wagner Antonio de Araújo

segunda-feira, 8 de junho de 2020

memórias literárias - 887 - QUE MUNDO POBRE

QUE
MUNDO
POBRE
887
 
Assistia há pouco as grandes canções do sertão brasileiro. Nossos poetas cantavam a história dos boiadeiros, das famílias que migravam em busca de oportunidades. Poesias brilhantes e perpétuas que falavam das sementinhas, das paineiras velhas, do mourão do ipê, da porteira velha. Ah, como éramos ricos. Hoje? Cama, motel, traição, baladas, vergonha, palavrões, vida imunda! O sertão empobreceu.
 
Tínhamos oradores nas tribunas políticas, grandes discursos e mensagens épicas que marcaram gerações. "Eu tenho um sonho", dizia um. "Não vamos nos dispersar", dizia outro. Nos tribunais advogados e promotores faziam autênticos compêndios teóricos e práticos, ora defendendo ora acusando. Havia gente que se sentava na platéia só para ter o gosto de aprender a falar em público. Hoje? Só ouvimos palavras chulas, palavrões, grosserias, argumentações tão insignificantes que não duram cinco minutos. Discursos que corróem como câncer. A tribuna empobreceu.
 
Nos púlpitos tínhamos verdadeiros ícones da palavra. Ouvir um Rubens Lopes e um Éber Vasconcelos em nada devia para o melhor duscurso e oratória próprias dos tribunais ou das tribunas políticas, em termos de qualidade e de elegância. Apenas que o objeto de sua prédica era infinitamente superior ao daqueles. Pregavam como que numa batalha campal entre a luz e as trevas, entre o exército da luz e o poder da escuridão. E com a argumentação, a inteligência, a voz, a elegância e eloquência, permeadas e penetradas pelo poder do Espírito Santo, eram vencedores! Um Billy Graham no Maracanã, com o ilustre intérprete João Filson Soren pôde ver dez mil que se renderam a Cristo. E destes, a maioria foi fiel e muitos ainda vivem! Josué Numes de Lima, Tiago Lima, Artur Gonçalves, Timofei Diacov, Roque Monteiro de Andrade, eram vozes necessárias e inesquecíveis! Hoje? Olhem os vídeos, as lives e o farto material publicado. O púlpito empobreceu.
 
Nos lares os valores cristãos eram levados a sério. A honestidade não era apenas ensinada; era vivida. A grosseria não tinha vez e a educação era rígida. Modos à mesa, gentileza para pedir licença, agradecer, informar, tudo tinha um propósito e os pais mostravam o caminho. A oração era um momento de reverência e respeito, de encontro com Deus e de sacralidade doméstica. Filhos não falavam palavrões junto dos pais e a mentira não era tolerada. Hoje? Bem, não é nem preciso dizer. Veja as manchetes da mídia. Não há mais respeito algum e os lares tornaram-se dormitórios onde se tem internet rápida, comida, roupa lavada e pousada. Cada um cuida de sua vida. O lar cristão empobreceu.
 
Meus filhos são desta geração. Eu não sou. Não há mais porteiras ou paineiras velhas a inspirar canções. Não há mais políticos ou discursadores que marquem época, nem pregadores épicos que escrevam uma história da oratória sacra. Não há muitos lares que mereçam o título "lar cristão". Mas os meus filhos precisam de referências. Eles não possuem o cabedal de informações e experiências que eu possuo para discernir o quanto o mundo empobreceu. Então eu concluo que minha esposa e eu seremos o referencial deles.
 
Se nós falharmos eles falharão. Se nós nos omitirmos seremos cúmplices no estrago que este mundo pobre fará a eles. Não criamos os filhos para nós, mas somos responsáveis em dá-los à vida com referências que levem para o resto da vida. Eles serão gente adulta, pais, mães, trabalhadores, crentes, chefes e mães de família, crentes e brasileiros cidadãos. Terão profissão, terão paixões, terão uma história de vida. Assim como eu me lembro de mamãe quando penso em alguém que serviu por amor e que estava sempre feliz,  e do meu pai quando penso em honestidade e honradez, quero que os meus filhos se lembrem de nós pelos valores que desejamos incutir em suas mentes aptas ao ensino.
 
Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. (Pv 22:6)
 
Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, (Ef 5:15)
 
Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. (Mt 12:36)
 

Wagner Antonio de Araújo.

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...