BENDITO
HOJE!
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Dispõe O Eterno Escriba e,havendo escrito, a
folha vira.E não há ciência ou devoçãoQue apague uma linha.E não há
pranto sofrido queRisque uma palavra.Ah, todo choro é
vão!
(RUBAYAT)
O que
foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há
de novo debaixo do sol. (Ec 1:9)
Inúmeros
filmes têm sido produzidos sobre viagens no tempo. Todos eles, contudo, esbarram
numa grande verdade: se, por um lado, podemos alterar o futuro com atos
realizados hoje (ou, na ficção científica, numa viagem no tempo), é plenamente
impossível alterar o passado e ainda manter a sua própria história do jeito que
é. Uma guerra evitada mudaria para sempre o futuro dos mortos no "front". Também
alteraria o curso dos acontecimentos e o presente que conhecemos jamais teria
existido. Numa ficção alguém diria: "Quem não garante que somos o fruto do
conserto de alguma história interrompida?" Nada mais
ilusório!
A frase do
Rubayat, provavelmente do poeta Omar Kháyyám, diz algo muito real: depois que a
página é escrita no tempo ela não pode ser mais alterada. Ela vira e segue em
frente. Não se pode alterar o que foi escrito. Não por mero fatalismo ou
determinismo (aqueles que dizem: "tinha que ser assim"), mas talvez pela pena
com mão dupla (o homem e o soberano Criador). Da parte de Deus houve a permissão
para que tudo acontecesse. Da parte do homem existiu uma atitude que provocou o
fato. Nada poderia ocorrer sem a permissão de Deus; mas as nossas atitudes, com
livre arbítrio limitado, foram próprias. Nossas ou daqueles que cuidaram de nós
quando não éramos senhores do próprio nariz (pais, cuidadores, a vida).
Quando olho
para a minha esposa penso: "E se eu não tivesse ido ao retiro de carnaval para
ser o pregador, teria conhecido a minha amada?" Eu estava de luto; acabara de
perder a minha mãe. Fui convidado para ser preletor no feriado de carnaval. Eu
poderia ter dito "não" à igreja que me convidara. Mas eu disse "sim". E este sim
fez-me encontrar Elaine e, com ela, o meu futuro como marido e pai de família.
Eu costumo dizer que Deus trouxe-me a esposa certa. Eu olho para a minha filha
Rute Cristina, flor da beleza e da candura, e penso: "Minha filha existe!" Olho
para o meu Josué Elias, esse tourinho forte e alegre e penso: "Meu osso e minha
carne!". Olho para a minha Maria Isabele, a raspinha do tacho, e digo: "Minha
caçulinha sorridente!" Tudo fruto da permissão de Deus e de uma decisão tomada
no passado ao dizer "sim" para um compromisso! Se eu tivesse dito "não" tudo
hoje poderia ter sido completamente diferente!
Ao mesmo
tempo penso nas pessoas que se foram e que não estão mais entre nós. Mamãe, por
exemplo, levou um tombo no seu quarto e por causa disso definhou e veio a
falecer. Eu penso: "Se eu tivesse acordado cinco minutos antes e ficado com ela,
isso não teria acontecido!". Penso no meu pai, quanta saudade! Eu, com a
experiência que tenho hoje, o teria compreendido muito mais e teria procurado
quebrar a grande barreira que ele mantinha em torno de si, mostrando a ele o
quanto era precioso ter a família junto de si. Mas ele se foi, a mamãe se foi e
eu não posso mudar isso! A página que o escriba escreveu, seja a pessoa, seja
Deus ou seja o tempo (ou a junção dos três) não tem retorno. Depois de
acontecido, o Rio do Tempo seguiu. Eles saíram na margem e nós continuamos a
navegar.
Se o passado
pudesse ser desfeito o próprio Deus teria voltado no tempo e impedido a rebelião
de Lúcifer, ou impedido que a serpente tentasse a Eva num momento de
vulnerabilidade. Se fosse possível voltar no tempo o próprio Deus teria
formatado o HD do universo e começado tudo de novo. E por que não o fez? Porque
não pode? Jamais! Ele pode todas as coisas, é onipotente! Mas Ele que é
o soberano e dono de tudo, estabeleceu regras para a Sua criação. E uma
delas foi que o que tivesse acontecido não teria mais como ser alterado. Para
trás não tem mudança. Só para frente.
Por isso leio
nas páginas benditas da Bíblia Sagrada:
E o que
estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. (Ap
21:5)
Assim
que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram;
eis que tudo se fez novo. (2Co 5:17)
E vi um
novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe. (Ap 21:1)
Se não posso
apagar os fatos do meu passado, posso tornar-me nova criatura do presente para o
meu futuro. Se não posso alterar coisas que se sucederam, que deixaram marcas na
minha vida, na minha história, no meu corpo ou nas minhas emoções, posso deter
as fatalidades futuras tornando-me senhor de minhas decisões e entregando-me
Àquele que pode conduzir-me ao pleno êxito de minha existência. Em 1980 o Pr.
Timofei Diacov, prestes a mudar-se para o interior de São Paulo, decidiu
distribuir folhetos evangelísticos em minha rua. No meio do quarteirão ele
pensou: "vou para frente ou entrego folhetos do outro lado da calçada?" Eu
estava chegando do trabalho naquele instante. Ele decidiu entregar no lado da
minha casa. Ali eu o encontrei, com ele conversei, por ele fui evangelizado e
fui convertido a Cristo. Bendita decisão que alterou o curso de minha vida!
Não me
escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e
deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome
pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. (Jo 15:16)
Nós temos a
opção de viver o dia de hoje só a pensar no dia de amanhã, em como será bom
fazer isto ou aquilo; a ter mais dinheiro, mais bens, mais liberdade e mais
saúde; podemos sonhar com o dia seguinte à pandemia e pensar no quanto o futuro
será um jardim regado. Mas estaremos destruindo esse próprio futuro se focarmos
o coração apenas no amanhã, pois ele depende do dia de hoje, das escolhas que
fazemos com as coisas que nos foram colocadas à mão. Se eu só pensar no quanto
serei feliz com os meus filhos grandes, saudáveis, instruídos, bem empregados e
consagrados ao serviço do Senhor, perderei a graça de tê-los nos meus braços
como criancinhas e bebês; não festejarei o primeiro passinho da pequenina, as
primeiras letras que o do meio escrever ou o dia em que a minha
mais velha fizer a primeira comidinha de verdade. Foi-me concedida a dádiva de
ter filhos tenros e pequeninos e eu devo viver esse tempo!
É preciso
sonhar, é preciso ter esperança, é preciso planejar. Mas tudo isso só terá
sentido se a vida de hoje for vivida como uma dádiva, uma bênção, um presente
que o Criador nos concede. Quem só pensa no destino perde toda a beleza da
viagem. Quem só pensa no futuro perderá a felicidade quando este chegar, pois
nunca soube viver o dia de hoje. CARPE DIEM, viva o dia, viva o hoje! Olhe ao
seu lado: está só? Há vizinhos e amigos que conhece, colegas de escola ou de
trabalho. Há irmãos da igreja e parentes mais distantes. Celebre a graça de
existir! Tem família? Uma esposa, um marido, filhos, netos, sobrinhos, irmãos?
Valorize-os plenamente, dê afeto e atenção, diga que os ama e o quanto são
importantes para você! Não deixe para dizer isso amanhã, quando a página do
escriba tiver recebido a última letra e por suas mãos for virada para sempre.
Tem pouco tempo de vida ou sente-se velho? Lembre-se de que muitos saudáveis e
jovens já faleceram e que você ganhou um tempo mais longo! Faça valer a pena ser
quem é e viver neste dia! Como cristão verdadeiro doe a Deus a sua devoção, o
seu amor, a sua consagração, o seu louvor, a sua atenção! Ele merece mais de
cada um de nós, pois é por causa dele que nos foi concedido O DIA DE
HOJE!
Que o seu dia
seja uma bênção!
Wagner
Antonio de Araújo