1o.
PRÊMIO
242
Petrônio era
um jovem trabalhador. Era cristão e muito ambicioso. Queria ficar rico. Os
estudos que tinha não eram qualificados e submetia-se a funções bastante
modestas. Em conversas com o pastor sempre recebia conselhos para que
agradecesse a Deus pelo que tinha e que buscasse estudar mais e aproveitar as
oportunidades que lhe surgissem, desde que fossem lícitas.
Começou a
trabalhar numa farmácia. E transformou-se em pouco tempo num querido e estimado
atendente. Aplicava injeções, recomendava profilaxias, falava sobre medicamentos
e buscava atender a todos da melhor maneira. O gerente o ensinou a comprar das
distribuidoras, a buscar as melhores ofertas e a manter o estoque em dia.
Petrônio era tido como o "médico da região", não por medicar indevidamente, mas
por ter informações precisas e seguras e por atender bem a
todos.
Certo dia o
pastor precisou de um remédio e foi à pé à farmácia. Caminhando e pensando,
aproximou-se da drogaria e viu ao longe o Petrônio rodeado de gente. Parecia que
estava distribuindo alguma coisa. Chegou-se perto e ouviu: "Mané? O seu é o
gato; Zé, o seu é a vaca; Aloísio, está aqui o tatu". O pastor, perplexo,
percebera que o Petrônio estava vendendo papéis do "jogo do bicho" (uma
contravenção brasileira muito popular nos grandes centros). Quando ele terminou
de distribuir os papéis e viu o pastor, sua fisionomia mudou. Ficou branco e
vermelho, e foi perguntando:
- Oi, pastor,
como vai, tudo bem? Posso ajudar?
- Sim,
Petrônio. Pode ajudar a si mesmo, explicando-me o que acabei de ver. Você está
vendendo jogo do bicho?
- Ah, pastor,
é só uma ajuda no orçamento, coisa pouca. Logo vou parar com isso e ficar só com
a farmácia.
- Petrônio,
lembre-se de que isso é contra a lei e que não é dessa forma que Deus nos ensina
a ganhar o nosso pão!
- Pastor, os
políticos são os primeiros a quebrar a lei; logo, não estou fazendo nada que as
autoridades não saibam e não façam pior.
- Petrônio,
você é crente! Você tem um testemunho para dar! Deus é o nosso sustentador e não
deseja que você duvide de Sua graça! Não é necessário fazer serviço extra em
algo que vicia, que leva um a ganhar e todos a perder, não é digno um cristão
meter-se com a jogatina!
- Vou pensar
nisso, pastor! Ore por mim! Obrigado!
Naquela semana
o pastor orou muito e pensou no que faria. Afinal, Petrônio era um bom crente,
mas infelizmente fora fisgado pela tentação das riquezas. Lembrou-se da Palavra
de Deus, que dizia: Mas os que querem ser ricos caem em
tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem
os homens na perdição e ruína. (1Tm 6:9); Porque o
amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se
desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. (1Tm
6:10)
No mês
seguinte, no domingo pela manhã, quando o culto começava, Petrônio chegou com a
família. Estava trajado diferente, com óculos escuros, deixara um carro enorme e
caro no estacionamento, estava rodeado de irmãos que beijavam sua esposa e
admiravam seu veículo. O pastor insistitu para que todos entrassem.
Findo o culto
o tesoureiro veio falar com o pastor.
- Pois não,
irmão. O que há?
- Pastor, acho
que Deus atendeu às nossas necessidades! - Entregou-lhe um envelope à mão,
contendo um cheque de um milhão de reais.
- O que é
isto, irmão? Quem entregou?
- Foi o
Petrônio.
- Chame-o, por
favor.
Logo chegou o
Petrônio, sorridente, alegre, com uma caixa de bombons finos para o
pastor.
- E aí,
pastorzão? Tudo certinho? Gostou do dízimo? Espero que esteja
feliz!
- Explique-me
o que é tudo isso, Petrônio. Onde arrumou esse dinheiro
todo?
Então ele
contou que numa noite da semana sobrou um bilhete do jogo do bicho e ele não
teve tempo para devolver. E o número do bilhete ganhou uma grande soma, pois foi
sorteado com valor acumulado. Ganhara dez milhões de reais. Sua primeira atitude
fora a de agradecer a Deus e de entregar o dízimo.
- Pastor,
estou cumprindo Mateus 6.33. Antes de gastar comigo, quero entregar aquilo que é
de Deus!
Naquele
momento muita coisa passou pelo coração do pastor. Um milhão de reais! "Ah,
ministro do Senhor, chegou a hora de erguer aquela escola anexa com a qual você
sempre sonhou! É tempo de comprar o terreno ao lado para expandir o templo e
fazer classes de Escola Bíblica Dominical! O ônibus para buscar os crentes sem
condução e a compra do terreno para a congregação! Deus atendeu às suas preces!
Aleluia!" Sim, ele pensou nisso. Em seguida lembrou-se do texto da tentação de
Jesus: E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me
adorares. (Mt 4:9). Percebera o quanto seria maravilhoso ter os recursos
para a Obra de Deus e o quanto seria desastroso quebrar o ensino bíblico sobre
como ganhar dinheiro e não ser escravizado pelos jogos de azar. A riqueza de procedência vã diminuirá, mas quem a ajunta com o
próprio trabalho a aumentará. (Pv 13:11). Era uma contravenção e, como
tal, pecado, mau testemunho. Não fora roubado, mas não era do jeito bíblico de
se conseguir recursos.
Então
calmamente falou para o sortudo Petrônio:
- Irmão, os
bens que chegam fáceis, também se vão facilmente. Não é assim que Deus nos
sustenta. Não aceitarei esse dízimo e lhe digo que não foi uma maneira boa de
conseguir recursos. Orarei por você para que o Senhor abra os seus
olhos.
- O QUE,
PASTOR? Quem é você para impedir que eu ajude a minha igreja? Vou depositar esse
dinheiro sim. A igreja não é sua! Você não tem o direito de fazer isso! Exijo
que a igreja decida!
E, de fato,
abriu-se uma assembléia de membros para tratar da questão. Diante da quantia
vultosa da oferta e das necessidades pelas quais a igreja passava, ainda que o
pastor expusesse de forma clara o ponto de vista bíblico sobre como ganhar
dinheiro e como sustentar a Obra de Deus de forma lícita, o povo acatou o desejo
do Petrônio e exigiu que se aceitasse a doação. O pastor, entristecido, ciente
de que o povo estava julgando a questão na carne e pela cobiça, solicitou a sua
exoneração da igreja, pois não poderia conviver com o desrespeito aos valores
bíblicos da licitude de recursos e do bom testemunho desejado pelo Senhor aos
seus servos. A congregação pouco ligou. Eles estavam felizes pelos muitos
recursos que viriam. Petrônio ainda decidiu dar mais 5% como gratidão pela
compreensão de todos.
O tempo
passou. Petrônio divorciou-se da esposa e pagou pensão pelos 2 filhos que tinha.
Comprou fazenda, casas e abriu 3 farmácias. Amaziou-se com uma mulher que lhe
roubou grande parte do que tinha nas contas. Abriu um processo contra ela e
gastou 2 farmácias e parte da fazenda. Com tantas contrariedades adoeceu e teve
que tratar-se no exterior, consumindo o que restara. Em pouco tempo Petrônio
estava pior do que podia imaginar: sem saúde, sem dinheiro, sem família. E a
igreja, tão generosa com a oferta que recebera, agora não tinha princípios
cristãos para usar para com ele, uma vez que aderira a um ministério
neoapostólico e tornara-se rede de um embusteiro da TV. Todos os recursos que
adquirira foram vendidos para pagar os programas de televisão e depositar na
conta do apóstolo. O templo tornou-se oficina mecânica e os membros
esparramaram-se por outras igrejas e pelo mundo.
O pastor? Ah,
este continua pastoreando num bairro próximo. O pão não lhe faltou, os filhos
estão na faculdade e a igreja está feliz. Afinal, quem tem Jesus e Sua Palavra é
verdadeiramente rico e não se arrepende! A bênção do Senhor
é que enriquece; e não traz consigo dores. (Pv
10:22)
Wagner Antonio
de Araújo