terça-feira, 27 de agosto de 2019

memórias literárias - 802 - UM PURGATÓRIO

UM
PURGATÓRIO
 
802
 
Minha família era da roça, do sul de Minas Gerais. PURGA, ali, era a PULGA. Quando se falava de PURGATÓRIO, pensava-se no inseto. Quando eu cresci entendi que não era nada disso. PURGAR é PURIFICAR. Esse termo, PURGATÓRIO, diz respeito a uma doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, cuja afirmação é que as almas das pessoas que não são essencialmente ruins vai para um local de purificação e sofrimento, onde, depois de algum tempo de exílio, é liberada para adentrar aos portais celestiais.
 
Esse ensino sedimentou-se nessa igreja ao longo dos séculos, tendo sido promulgado pelos concílios de Lyon, 2o. (1274), de Florença (1438-1445) e o de Trento (1545-1563). Trocando em miúdos: cada pessoa paga pelo seu próprio pecado pessoal, ainda que cristã. Não tendo alcançado uma vida santa, repleta de boas obras, essa pessoa precisa de uma purificação. Assim, nesse lugar horrível a pessoa sofre e se purifica, preparando-se para o Céu. O sacrifício de Cristo, na cruz, não é suficiente para livrá-la destes pecados não mortais.
 
Esse até seria um local interessante para se acertar contas com Deus, não fosse por um detalhe: ele não existe. Além disso nenhum homem teria condições de pagar pelos seus próprios pecados, pois o preço é eterno. Assim, naquilo que dependesse do homem, ele jamais sairia dessa prisão.
 
PURGATÓRIO é o fruto do afastamento da Palavra de Deus. Igrejas e ministros do evangelho, quando não se satisfazem com o que está escrito, inventam uma série de bobagens e de desinteligências, afastando as pessoas da verdadeira fé cristã. O Apóstolo Paulo disse: Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. (Gl 1:8)
 
O ladrão que morreu ao lado de Jesus, numa das cruzes, deveria ter ido ao purgatório, caso tivesse manifestado arrependimento. Se fosse depender de si próprio, jamais poderia estar num encontro com Cristo do outro lado da morte, de imediato. No entanto, após manifestar arrependimento, ouviu do Senhor a seguinte afirmação: E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. (Lc 23:43)
 
Quando eu seguia a fé romanista aprendera que a salvação se dava através das boas obras. Ledo engano! A Bíblia diz: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. (Ef 2:8). O mesmo apóstolo Paulo, que escreveu o texto anterior, pergunta aos gálatas, que estavam regredindo na fé, retornando ao judaismo cerimonial: Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? (Gl 3:2)
 
Nenhum homem, por mais santo que seja, terá condições de entrar no Céu por méritos próprios. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; (Rm 3:23) Não existe um semi-inferno, um local intermediário para os meio-pecadores. Para Deus TODOS somos pecadores. Mas há algo que pode diferenciar-nos uns dos outros.
 
Há os PECADORES PERDOADOS, que alcançam de Deus a graça da salvação, e há os PECADORES NÃO PERDOADOS, que não recebem do Senhor tamanha misericórdia. Os que alcançam o perdão vão para o Céu, para o Paraíso, para a Nova Jerusalém. Os que não alcançam vão para o Inferno, para o Sheol, para o Lago de Fogo e Enxofre. Jesus diz que ambos ressuscitarão, mas terão destinos diferentes. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação. (Jo 5:29). E se não é por obras que se salvam os pecadores arrependidos, que bem é esse do qual Jesus fala? Ele mesmo responde: Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou. (Jo 6:29). Crer no Senhor é o que diferencia um e outro. Esse é o "fazer o bem" citado por Cristo.
 
Crer no Senhor é como abrir uma porta com a chave que dá duas voltas. Virar a chave uma só vez não abre a porta. São necessárias duas voltas. A primeira é a chave do arrependimento: Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, (At 3:19). Os pecados são apagados, isto é, saem de nossa ficha corrida e entram na do Senhor, que assumiu a nossa culpa. Sem arrependimento não há salvação. Se com o arrependimento são apagados, então não há o que purgar.
 
A segunda volta para abrir a porta do Céu  é a fé no Senhor Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Assim diz a Escritura: A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. (Rm 10:9); E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. (At 16:31). Somente Jesus Cristo é capaz de ser intermediário entre o Pai e o homem. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos. (At 4:12)
 
Quem se arrepende dos pecados e crê no Senhor TEM A VIDA ETERNA. Os seus pecados SÃO APAGADOS. Não precisarão purgar indefinidamente. Eles não se salvaram por si próprios, mas pela eterna graça de Jesus. Eles são agraciados pelo amor e pelo poder de Deus. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome. (At 10:43)
 
Não há purgatório algum, senão na cabeça de quem não conhece a BÍBLIA SAGRADA. Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. (Mt 22:29)
 
Por essa razão não precisamos rezar missas para os mortos, nem de corpo presente, nem de sétimo dia, nem de um mês, de um ano ou quantos forem. Os mortos não precisam de nossas rezas. Suas vidas foram encerradas e seu destino já foi traçado. Assim como o rico, da história do rico e de Lázaro, estava nas chamas do Hades, e Lázaro desfrutava do consolo no Seio de Abraão, e não tinham acesso a transferência de localidade, também quem vai para o Céu não desce ao Inferno; nem quem vai ao Inferno pode subir ao Céu. (Leia o texto em Lucas 16.19-31). Com a morte sela-se o destino. E não há alteração de domicílio após a morte.
 
Quem parte sem Cristo irá para o Inferno, ainda que lhe celebrem centenas de missas e lhe acendam milhares de velas. E quem parte convertido a Cristo, confiando só nEle para a sua salvação vai para o Céu.
 
Eu lhe pergunto: para onde irá o leitor se morrer hoje? Já experimentou entregar-se a Cristo?  Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; (Jo 11:25). Não importa o tamanho de seus pecados; se houver arrependimento e fé haverá libertação do juízo. E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniqüidades. (Hb 10:17).
 
Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, (Dt 30:19)
 
Que Deus lhe abençoe.
 
Obs: Escrito à pedido do meu amigo e mestre Pastor José Vieira Rocha
 
Wagner Antonio de Araújo
 

 

páginas soltas - 801 - JOSÉ SABE TUDO

JOSÉ
SABE-TUDO
801
A empresa não ia bem. Todos sabiam onde estava o problema: a corrupção da diretoria. As verbas eram roubadas e notas frias eram anexadas ao orçamento. Festas e gastanças, má administração e dinheiro para impedir a fiscalização. Tudo o que podia acontecer acontecia: era um desastre.

Então os funcionários resolveram se organizar. Formaram um grupo que denunciava e que apontava as falhas. Um deles, o José, era um orador nato, conquanto tremendamente limitado em seu linguajar chulo e inculto. As pessoas o perdoavam porque o que ele falava era fato. Ele não aceitava meias verdades. Ele dizia o que era certo. E, pelo jeito, José sabia de tudo, conhecia tudo, daria solução para qualquer problema.

Diante de tantos problemas o dono da empresa demitiu o diretor e contratou o José para assumir a direção da firma. José, mais do que depressa, aceitou. Os funcionários fizeram festa. Todos esperavam que em sua administração a empresa se tornasse lucrativa, desenvolvida e promissora. Ademais, queriam também uma melhoria dos salários. Eles tinham muita esperança em José. "Agora teremos um bom convênio, uma boa assistência, um refeitório bem suprido, férias bem remuneradas, melhores condições de trabalho, oportunidades. Viva o José!"

Assim que assumiu a função José demitiu o primeiro escalão, que lhe dera apoio ao cargo. Até os que foram seus aliados na indicação foram riscados do quadro de funcionários. Em seguida contratou seus primos para as funções melhor remuneradas. José cortou o orçamento dos departamentos, obrigando os chefes a dispor de funcionários e dobrar a carga de trabalho. Havia reuniões diárias e José, que não atentava para a função, continuava a criticar a empresa, a corrupção, a balbúrdia. Ele xingava a todos os que com ele não concordavam. Fechou o refeitório, alegando que quem quisesse que fosse comer no bar da esquina; cortou as horas extras, alegando falta de recursos e não recebia ninguém em seu escritório.

A empresa, que ia mal no mercado, passou a ir mal internamente também, correndo o risco de falir. O dono, preocupado com o seu patrimônio, não viu outra alternativa. Demitiu o José. Este, ao sair, xingou o quanto pôde, ameaçando a tudo e a todos. Por fim, depois do tumulto, o dono contratou um outro diretor, um técnico, de pouca conversa, de muito respeito e muito trabalho. Ele era culto, mas acessível. Era decidido, mas sabia ouvir; relacionava-se bem com todos.

Em dois anos a empresa voltou a liderar o seu mercado e a vida seguiu em paz.

O José? Ele sabia tudo, mas hoje ninguém mais sabe dele. Onde será que ele está?

Wagner Antonio de Araújo
obs: este texto é ficcional.
...

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

memórias literárias - 800 - ERROU PELA FORMA

ERROU PELA FORMA

Você pode estar coberto de razão. Se não souber como falar de nada adiantará estar certo.
 
A elegância, a boa educação, a ética, o respeito, a clareza, o bom senso, tudo isso concorrerá para que a sua idéia seja entendida, compreendia e, quiçá aceita.
 
Poucas palavras, mas valiosas e relevantes: é tudo do que se precisa para se fazer a diferença - e para melhor!
 
O falastrão, o grosseiro, o exagerado, o iracundo, além de não convencer, provocará um estrago ao seu redor, dificilmente reparável por outrem. Ele não fará mal apenas para si próprio, mas condicionará uma repulsa aos que pensarem semelhantemente, mesmo que não tenham a desinteligência deste.
 
Meditações relevantes num país de tanta confusão.
 
Wagner Antonio de Araújo

 

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

memórias literárias - 799 - EU CONFIEI ...

EU
CONFIEI...
799
Eu confiei no meu candidato político. Apostei todas as fichas nele. Briguei por ele e tornei-me adepto de carteirinha. Eu acreditava que ele resolvesse os graves problemas da nação. De repente as promessas de campanha não foram cumpridas e o que eu pensei que era solução tornou-se decepção. Eu sinceramente confiei.

Eu confiei no meu vigor físico. A minha alimentação era balanceada, fazia exercícios físicos regulares, tinha comportamento atlético e não deixava de fazer os exames anuais para checar se todos os índices estavam normais. A promessa era de que, se eu me cuidasse e fizesse tudo certinho teria saúde até o fim. Mas de repente uma doença apareceu. Ela veio da noite para o dia. O meu vigor sumiu; o meu apetite acabou; a minha cor mudou e estou acamado. Eu realmente confiava no meu vigor físico.

Eu confiei no amigo. Ele sempre fora tão leal, tão sincero, tão presente. Ele conhecia as minhas lutas, os meus desabafos, as minhas particularidades. Eu estivera presente em sua história tantas vezes! Ele nunca, nunca me trairia. Mas, infelizmente, me traiu. Contou para os outros as minhas confidências e renegou as coisas que dizia acreditar. Eu, que tanto confiei nele, agora vejo-me perplexo com o seu comportamento.

Eu confiei na minha religião. Eu acreditava sinceramente que estava certo. O ministro que pregava e que exercia as práticas do meu credo parecia ser tão íntegro, tão correto, tão cumpridor dos compromissos! Ontem ele foi preso por pedofilia. Disseram-me que ele fazia coisas erradas com os filhos dos membros da religião. Eu, que deixava os meus filhos perto dele, senti calafrios! Eu confiei nele!

Eu confiei em mim. Eu achei que era senhor da situação, que não seria escravo de ninguém, que só faria o que desejasse. Eu cria que jamais quebraria as regras que considerava verdadeiras. Mas quê! Eu quebrei a minha própria confiança! Eu experimentei algumas drogas que os amigos ofereceram e, diferentemente do que achava, acabei por tornar-me dependente. Eu disse que o álcool não me escravizaria, mas hoje bebo cada vez mais e não sou capaz de parar. Eu disse que deixaria o cigarro na hora em que quisesse e hoje ando com um tubo de oxigênio do meu lado. Eu afirmei que seria fiel à minha esposa e não fui. Eu disse que nunca decepcionaria o meu filho e o decepcionei. Eu confiei em mim e falhei...

....
Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! (Jr 17:5)
....

Quem faz de si próprio, dos outros ou de ideologias humanas a sua âncora tende a afundar tão logo surjam as contradições. Nós somos pecadores e todas as nossas ideologias e plataformas são construídas no pecado. Assim, cedo ou tarde, descobrimos que confiamos em algo que não valia a pena.

Mas há alguém fora desse esquema, fora do império de nossa insensatez, fora de nosso domínio, que merece e pode nos dar segurança, confiança e estabilidade. Esse alguém é JESUS CRISTO. Ele, Filho do Deus vivo, por quem e para quem tudo foi criado, tem em Suas mãos o domínio de tudo e JAMAIS nos decepcionará. NEle nós podemos confiar. Sua palavra é a verdade, Sua promessa é real e Sua presença é consoladora. Se nEle confiarmos poderemos dizer: o que me pode fazer o homem? Se confiarmos nEle e não em nós mesmos poderemos dizer: Ele é o meu Salvador. Se confiarmos nEle e não nos políticos poderemos dizer: Ele é soberano e dEle emana todo o poder.

Que tal confiar no Senhor?


Wagner Antonio de Araújo

terça-feira, 20 de agosto de 2019

memórias literárias - 798 - CULTO NO RODEIO

CULTO
NO RODEIO

798
Os cantores de música gospel emporcalham a autêntica fé cristã. Longe de semear a Palavra de Deus, eles cumprem agendas empresariais para venderem mais e mais, enriquecendo a si próprios e aos seus produtores. Para motivar as vendas e aglutinar públicos, eles cantariam até no Inferno, não para resgatar almas da perdição, mas para fingirem que está tudo bem onde estão. Não importa a vida de quem aplaude, desde que consumam a sua pseudo-arte.

É com essa tristeza que li há pouco que ocorreu um show gospel no rodeio de Barretos, interior de São Paulo. Ali já saculejaram os artistas de música sertaneja, de forró, de axé e de todos os gêneros de entretenimento despudorado. No mesmo palco, sem qualquer distinção entre entretenimento e culto, sem que haja qualquer compromisso por parte dos que assistem, dos que tocam ou dos que cantam, a manchete é que "a diva do mundo gospel abalou".

Sim. Abala com certeza. Abala a esperança de ver esse moderno mundo gospel produzir alguma coisa que presta. Desde que passaram a copiar a música gospel americana em suas pérfidas mercadorias de consumo, as igrejas perderam e Satanás ganhou. E, com o gostinho brasileiro de fazer festa com sensualidade, as coisas travestem-se de shows quentes e barulhentos.

As igrejas perderam a sua música religiosa, privativa de quem buscava a adoração a Deus. As igrejas perderam os hinos através dos quais propagavam a mensagem de salvação aos pecadores. Perderam os grupos, os conjuntos, os irmãos que formavam seus ministérios de propagação da fé e de salvação de vidas. A música transformou-se em entretenimento. Hoje canta-se "Glória, glória, aleluia" até na zona do meretrício, sem que a prostituição dê lugar à santidade. Não há mais ministérios como Vencedores Por Cristo, Logus, Elo, Novo Alvorecer, Milad, não há mais nada...

Os pastores perderam os seus músicos. Sim, porque músicos cristãos verdadeiros não possuem mais espaço nos cultos. Eles dão lugares aos músicos híbridos, que durante a semana e nas sextas e sábados tocam para os grandes ícones da música popular contemporânea, seja nos estádios, nos ginásios ou nas apresentações especiais, e no domingo, se tiverem agenda, eles tocam durante um período do culto. E não irão ouvir a pregação ou participar da celebração, porque ainda têm compromisso na balada da esquina. Tocam muito bem, só não crêem no que cantam, ou vivem no fio da navalha, coxeando entre dois senhores.

O evangelho perdeu a eficácia. Semelhantemente a um antiácido em pó, que, envelhecido ou úmido, não tem mais efervescência, a mensagem do Senhor banalizou-se a ponto de ser dita por travestis, por chefes do tráfico de drogas que até mestrado em teologia fazem, por gente que defende o aborto e a libertinagem sexual. As editoras bíblicas criam suas versões novas e adulteradas, ao gosto do freguês. E os pastores, em sua maioria, não fazem juízo de valor.

Eu digo que o Reino de Deus perdeu, mas, na verdade, não perdeu. Deus está a passar um prumo pelo Seu povo ainda remanescente na Terra. Esse prumo está provocando a distinção entre os que são dEle e os que são de Satanás. A verdadeira música cristã não está nos palcos de entretenimento, mas na alma de quem, com fé e santificação, apresenta a Deus a confissão de que Jesus Cristo é o Senhor. Não está na fama dos endinheirados cantores gospel, mas, não raras vezes, no pobrezinho que glorifica ao Senhor com hinos cuja letra e música não foram banalizados pela permissividade. Está nos cultos que colocam Jesus Cristo como Senhor e que não provocam aplausos, mas dedicação e consagração. Como é diferente cultuar a Deus em uma igreja que não está alinhada com o falso evangelho! E como há poucas assim hoje em dia!

Os pastores são os responsáveis pela liturgia de seus cultos. Se forem coniventes com o pecado, se aceitarem qualquer fogo estranho no altar do culto (que não é a plataforma, mas o espírito com o qual se presta a adoração) saberemos que mais uma igreja apóstata foi edificada. Se, contudo, o pastor primar pela distinção entre o sacro e o profano, entre o santo e o contaminado, entre o que é bíblico e o que não é, certamente agradará a Deus, ainda que desagrade até a sua denominação corrompida. Ele sabe que terá críticas e auditórios diminutos, mas povoará o Céu e receberá um "bem-vindo" do Senhor Jesus, o supremo pastor de nossas almas.

Até a volta do Senhor assistiremos muitos rodeios com espetáculos gospel para o entretenimento de quem não tem compromisso com Jesus. E os incautos ainda dirão: "glória a Deus!", "Aleluia", "Vitória do Evangelho". Os santos dirão: "Senhor, derribaram os Teus altares", "Tem misericórdia" e "Ora vem, Senhor Jesus!"

Continuemos na senda do Calvário, sem olhar para o atalho da libertinagem gospel. Só pela cruz chegaremos ao Céu.

Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 797 - A FÉ PROVADA

A FÉ
PROVADA
 
797

Quando a minha fé provada for
E o temor me dominar,
Vem, Senhor, com Teu amor
Todo o medo afastar!
 
Quando o medo se mostrar
Tão intenso e tão cruel,
Vem, Senhor, me transformar
Em um servo mais fiel!
 
Quando a dúvida fatal
For mais forte que a visão,
Vem e torna bem banal
A ansiedade sem razão!
 
Que a fé provada possa,
Na fornalha da aflição,
Gritar: Justiça Nossa,
Vem curar-me o coração!
 
E o caminho, antes íngreme,
E a esperança, antes tênue,
Conduza à vitória insigne
De uma fé sobreexelente!
 

Wagner Antonio de Araújo, 20/08/201

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

memórias literárias - 796 - SOU CRENTE E MUNDANO

SOU CRENTE
E
MUNDANO
 
796
 
No domingo você prega. Na segunda você renega o que pregou.
 
No culto você canta. Na semana você blasfema, xinga e usa linguagem chula.
 
Na igreja você ouve a mensagem bíblica. E no celular, no computador e na TV você dá ouvidos às mensagens de Satanás, que usa o existencialismo, o hedonismo, o pragmatismo e a carnalidade. Ouve o que as atrizes das novelas ensinam sobre trair os maridos, escuta o que os saradões têm a dizer sobre serem viris e mulherengos; segue o que as músicas populares ensinam quanto à prática da vida. Ao invés de reproduzir o ensino que aprendeu na igreja, reproduz o que apreende no caminho e no interregno dos cultos.
 
Na igreja você diz que só crê em Deus. No facebook você afirma que nada há mais importante que você mesmo.
 
Entre os irmãos você posa de moralmente correto. Entre os amigos só você e eles sabem o que diz e o que faz.
 
Você sabe que deve ser fiel ao cônjuge. Mas trai prática e virtualmente.
 
Você sabe que deve obedecer aos seus pais. Mas não só os desobedece como os agride verbal, moral e fisicamente.
 
Você sabe que deve ter um só Deus. Mas abriga no coração um ídolo do futebol, outro da política e outro do fisiculturismo.
 
Você diz que é crente. Mas não é.
 
Você é um hipócrita.
 
Arrependa-se.
 
Caso contrário irá para o Inferno. E lá não terá a opção de dar um pulinho no Céu, para variar...
 
Wagner Antonio de Araújo

 

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

memórias literárias - 795 - UM PAR DE MEIAS

UM PAR
DE MEIAS

795
 
Ele estava sentado na calçada. Sentia frio. Seus pés estavam descalços. Seu nome era Aluísio. Não era um mendigo ou um andarilho. Era um homem triste e fracassado. Fazia um mês que estava na rua. Perdera o emprego, brigara com a esposa, foi agredido pelo filho e então, entristecido e acabado, decidiu sair de casa. Como sói acontecer, os amigos desapareceram. Sobrou-lhe a rua tão somente.
 
A menina estava com a mãe na loja de roupas. Olhou para o homem na calçada e disse:
 
- Mamãe, olhe aquele homem. Ele sente frio!
 
- Deixa pra lá, menina. Ele se arranja. Vamos comprar as roupinhas de frio. Venha...
 
Elas entraram e foram escolher suas roupas. Blusas, camisetas, calças, agasalhos, meias ... Meias? Sim, aqui estava algo que a menina poderia fazer.
 
- Mamãe, mamãe, posso pedir uma coisa?
 
- Sim, filha. O que é?
 
- Posso pegar um par de meias para aquele homem da calçada?
 
- Mas, filha, ele vai jogar fora! Eles não dão valor para nada. Depois alguém doa algum par de meias usadas. Pare de pensar nisso...
 
A menina não ficou feliz. Foi até a porta da loja e viu aquele homem cabisbaixo, na calçada, sujo e entristecido. E tremia de frio.
 
Voltou para a mãe, que estava no caixa.
 
- Mamãe, por favor, deixe-me levar um par de meias para aquele homem.
 
- Não insista, filha. Ele se vira.
 
- Por favor, mamãe, por favor, por favor..
 
- Está bem, está bem. Vamos logo. Pegue a mais barata.
 
- Mas, mamãe, ele sente frio. Deixa eu dar esta, é tão grossa e quentinha!
 
- Ai que menina!
 
Ela correu, pegou um par de meias bem grossas, pretas, correu para o homem e disse:
 
- Moço, moço!
 
- Oi, meu bem.
 
- Eu trouxe para o senhor esse par de meias. Espero que elas aqueçam os seus pés!
 
- Ô, minha filha, muito obrigado pelo carinho! Deus te abençoe!
 
- Eu espero que o senhor melhore e que as meias aqueçam também o seu coração.. Tchau!
 
E saiu correndo.
 
Aquelas palavras  mexeram com a alma de Aluísio. Aquecer o coração? Como ela poderia saber que o seu coração sentia frio? Ah, estava na cara! Ele não poderia estar bem naquela situação. Lembrou-se de tudo o que ficara para trás: sua esposa, seu filho, sua casa, seu carro, sua dignidade. Agora dormia na rua, com ratos e baratas, comia lixo e não tinha amigos. Ele precisava aquecer o coração.
 
Vestiu as meias. Elas imediatamente aqueceram os pés, que cortaram o frio do corpo. Sentiu-se melhor. Mas as palavras da menina fizeram-lhe enxergar que ali não era o seu lugar. Caminhou até o posto de combustível e deu-lhe duas notas de dois reais, pedindo ao frentista que lhe deixasse usar um telefone. Seria ligação local. O frentista, comovido, emprestou-lhe o próprio celular.
 
- Maria?
 
- Aluísio? Graças a Deus! Onde você está? Eu não aguento mais lhe procurar! O seu filho está doente, não foi mais à escola. Ele se culpa! Pelo amor de Deus, onde você está?
 
Bem, essa estória terminou assim:
 
Aluísio voltou para casa. O flho pediu-lhe perdão. A esposa o acolheu, deu-lhe um banho, colocou as suas boas roupas e em quinze dias ele encontrou um trabalho, não do jeito que queria, mas o que estava disponível. Em dois meses ele recolocou-se no velho ofício.
 
Tudo que usou na rua ele jogou fora; apenas guardou num quadro de vidro o par de meias grossas que ganhara da menininha de bom coração. Embaixo, nos dizeres da obra, estava escrito: "UM PAR DE MEIAS, PRESENTE DA MENINA QUE AQUECEU O MEU CORAÇÃO.
 
Wagner Antonio de Araújo

 

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

memórias literárias - 794 - PAPAI, ESTOU AQUI ...

PAPAI,
ESTOU AQUI...
 
794
 
Enquanto eu trabalhava no computador a editar programas de rádio, concentrado nas mídias, nos tratamentos com softwares de delay e nos cortes necessários das partes dos programas, o meu filho Josué Elias de 2 anos de idade saiu da sala onde dormia o soninho da tarde e veio para o meu escritório. Sentou-se na poltrona e disse, em sua língua infantil: "Papai, aqui...". Eu olhei para ele, sorri, dei-lhe um beijo de ternura e continuei o meu trabalho. Uns cinco minutos depois lembrei-me dele e, quando o contemplei, vi a cena mais linda do dia: ele, no afã de ficar bem próximo de mim, que estava tão ocupado, decidiu esperar na poltrona e ficar quietinho. O sono o dominou e ele adormeceu tranquilo e feliz, porque estava junto do papai.
 
Eu confesso que não consigo escrever isso sem derramar algumas lágrimas. Essa ternura infantil, esse amor não fingido, essa dependência emocional e completamente pessoal do papai (e da mamãe, certamente), é algo que encanta. Ele estaria mais confortável na sala, mas não gozaria da minha companhia, ainda que atarefado. Ele preferiu dormir aos meus pés do que descansar longe do papai. Ele necessita sentir-se acolhido, amado, acarinhado, percebido. E para ele o seu pai é o seu herói.
 
Ah, como isso me inspira! Lembro-me do Senhor Jesus a dizer aos Seus discípulos: Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele. (Lc 18:17).  Leio de forma clara a mensagem do Senhor: "Sejam como esses meninos pequenos, que amam estar com os seus pais; amem estar com o Pai Celestial!". Sim, um desejo interior puro, sereno, direto e real: estar aos pés do Pai! Há uma canção tão bonita que diz: "Eu só quero estar onde estás, habitar em Tua presença" (Don Mohen, na Cantata Deus Conosco). Trata-se de QUERER IR, DESEJAR IR, TER PRAZER EM IR até Deus. É um desejo que nasce de um amor precioso, do afeto, da ternura, uma atração pura da alma que ama ao Pai celestial. Foi o que levou Jesus a gastar madrugadas tão preciosas, necessárias para o seu sono, em oração ao Seu Pai celestial. Ele, que O conhecia pessoalmente antes de nascer (o único ser pré-existente), que havia visto o Seu rosto Santíssimo, que convivera com Ele desde a eternidade, sentia falta desse encontro puro, perfeito e privado com o Pai. Ele se tornara Deus-Homem e saíra do Céu enquanto peregrinava por aqui. Por isso sentia falta e queria estar com Ele em oração.
 
"Oh, meu Deus, como eu queria ser assim também! Como eu queria ser um Josué Elias que corresse aos Teus pés maravilhosos e santos, e dizer-Te com ternura: "Aba, Pai, estou aqui, só para ficar conTigo..." Mesmo que eu nada tivesse a dizer-Te! Mesmo que nada fizesse. Mesmo que fosse só para adormecer aos Teus pés! Eu não tenho dúvidas de que Tu, que me fizeste à Tua semelhança, sentiria a mesma ternura, o mesmo amor e o mesmo carinho que eu senti pelo meu filho que escolheu ficar comigo!"
 
Sei que ainda é tempo. Eu oro, eu O busco, mas não com a singeleza do Josué Elias a me buscar. Eu tenho tanto que crescer! E, como um paradoxo ontológico, quanto mais eu crescer no Senhor menor ficarei; e quanto mais maduro eu for mais criança eu me tornarei. E terei a singeleza do meu filho e poderei também dizer: PAPAI, ESTOU AQUI. ISTO É O BASTANTE. OBRIGADO POR ME ACOLHER. E, calado na paz do Senhor, descansarei.
 
Obrigado, Josué Elias, pela lição que me concedeu.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

 

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...