terça-feira, 31 de dezembro de 2019

memórias literárias - 835 - MAIS UM ANO OU UM NOVO ANO?

MAIS UM ANO
OU
UM NOVO ANO?


835
 
Olá! Aqui é o Pr. Wagner Antonio de Araújo. Conta-se que um homem quis testar a sabedoria de um ancião. Tomou um pássaro na mão e escondeu-o com as duas mãos por trás do corpo. E perguntou ao ancião: “senhor, este pássaro está vivo, está morto ou está solto?” O ancião respondeu: “Depende de você, meu jovem”.

O pássaro desta fábula é o ano novo. Ele está nas mãos de quem o tem. Alguns o matarão. Outros o deixarão viver. E outros o soltarão.

Os que o matarão são os que farão dele um ano qualquer, mais um tempo nesta vida cansativa que acumula grande rotina insuportável: acordar, tomar café, sair para o trabalho, trabalhar, almoçar, trabalhar mais, voltar, ir à escola, voltar para casa, jantar, tomar banho e dormir novamente. Aqueles que pensam no ano como um contínuo novelo de tempo que estabelece rotinas cansativas e sem sentido, só continuarão a caminhar como irracionais, comendo, bebendo e dormindo, esperando o novelo acabar. Para alguns, de fato, irão terminar no ano que vem. Acabarão por morrer. Outros só seguirão até o outro ano.

Os que deixarão o pássaro viver são os que valorizarão o tempo recebido. Viver é uma dádiva. É uma grande pena saber que há pessoas que se dizem ministros do evangelho, que estão dando cabo da própria vida, deixando a família abandonada e outros cristãos escandalizados. Eles mataram o pássaro enquanto voava e nunca terão a conclusão lícita de sua existência. Deixar o pássaro livre é acreditar que o ano poderá trazer um céu de brigadeiro para um vôo feliz e tranquilo, ainda que nuvens e ventos venham pelo caminho.

O ano novo será uma bênção se você for uma bênção. O ano novo terá muito amor se você amar. O ano novo terá muito sustento e recursos, se você se dispuser em acreditar em Deus e se colocar à disposição do trabalho. Deus dará a bênção para cada manhã ensolarada e também para aquelas onde as nuvens cobrirem o brilho do sol. Sempre há um amanhã mais feliz e um entardecer mais inspirativo. Um ano novo só será novo se andarmos em novidade de vida, crendo em Jesus Cristo e fazendo dEle o sentido de nossa existência. Uma velha canção diz assim: “Por que nasci? Para que viver? Se eu morrer, para que vou morrer? Qual a resposta eu pergunto, qual a resposta para mim? Encontrei alguém que me ama, na cruz por mim se entregou. A minha vida dei a Ele, os meus pecados perdoou! Estou aqui para Jesus amar, estou aqui pra o Senhor servir, eis as respostas às perguntas, eis a resposta: é Jesus!

Que neste novo ano Jesus Cristo seja a resposta para construir o ano mais feliz de sua vida! Que Deus lhe abençoe!
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo

 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

memórias literárias - 834 - ENQUANTO ESTOU...

ENQUANTO
ESTOU...

 
834
 
São do Senhor Jesus Cristo estas palavras: "ENQUANTO ESTOU NO MUNDO, SOU A LUZ DO MUNDO" (João 9.5). Sua palavra não significava temporaneidade de sua posição eterna, a luz do mundo. Jamais! Ele foi, é e será a luz do mundo. Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. (Jo 1:9).
 
Sua palavra tinha a ver com a temporaneidade da posição que ocupava. Ele ESTAVA no mundo. Era um homem, um mestre, um pregador daqueles dias, era o Messias enviado na plenitude dos tempos. Mas aquela posição de peregrino enviado às aldeias de Israel estava por terminar. Ele seguiria para ser entregue aos ímpios religiosos, políticos desonrados e o sanguinário império romano. Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios. (Mc 10:33). Nós sabemos que isso aconteceu. Ele foi morto por crucificação no monte Calvário. Sua obra, porém, não parou aí: Ele ressuscitou dentre os mortos, aleluia! Após quarenta dias foi assunto aos céus. E ao quinquagésimo dia enviou o Consolador, o Espírito Santo, para estar com a Sua Igreja.
 
Alguém poderia considerar que era bom demais ter Jesus por ali para sempre. Ele curava, libertava, proclamava a fé, transformava os corações, gerava esperança nas massas, era tudo o que todos precisariam ter para sempre. Mas isso não seria para sempre. Talvez alguém, após os acontecimentos de sua crucificação alguém pudesse pensar: "meu Deus, Ele pregou aqui perto, eu estive lá, eu vi os seus milagres, eu contemplei a Sua Pessoa, mas não fiz caso. Como me arrependo por ter perdido a chance!". Sim, nós só damos valor às coisas verdadeiras quando as perdemos. E só tomamos consciência de sua finitude quando acabam.
 
Isso nos leva a meditar sobre as coisas que temos hoje e que não perdurarão para sempre.
 
Filhos pequenos. Sim, aquele choro da madrugada, aquelas briguinhas uns com os outros, aqueles passeios no parque, a choradeira na porta da escola, a luta para que façam a lição de casa, as lições que aprendem, a família seguindo junta para a igreja nos domingos. Quanta coisa envolvida num ambiente de pais cristãos que criam filhos! Porém, para a tristeza momentânea de tantos, esse tempo acabará! Filhos crescem (ou morrem), pais envelhecem (ou falecem), estudantes vão morar sozinhos e o lar paternal se torna solitário e nostálgico. Abrem-se as portas dos quartos dos pequenos e tudo o que se vê são camas vazias, armários com fotos antigas e chinelos abandonados após o crescimento. Filhos crescem.
 
Pastores de igrejas passam. Muitos deles desenvolvem brilhantes ministérios, pregando a Palavra de Deus, fazendo visitas, desenvolvendo maravilhosos projetos, semeando o amor, procurando a glória de Deus. Muitos membros das igrejas acreditam que isso jamais acabará, pelo que não valorizam o tempo que se chama HOJE e relegam a atenção e a participação a um futuro que nunca chega, um comprometimento que prometem sempre para o ano próximo, que jamais se torna presente. Mas pastores passam. Eles podem adoecer e morrer. Eles podem ser convocados pelo Senhor para novos campos missionários e deixarem a igreja local. Eles podem deixar o trabalho por prioridades que surgirão em questões familiares e pessoais. E, de repente, um ministério que caminhava pujante é confrontado com a dura realidade do final de um ciclo. Quantos se arrependem por não terem valorizado o que tinham! Quantos chorarão o fim de uma era! Mas pastores também passam!
 
Empregos acabam. Algumas pessoas desenvolveram carreiras promissoras e prósperas, viram a empresa crescer, trabalharam duro para conquistar as posições que conseguiram, deram o suor, o tempo, a dedicação os anos de vida para um trabalho que tanto amavam. Mas da noite para o dia, por causa de negócios e oportunidades, os proprietários decidem vender a empresa e entregar a administração para outros. Estes, que não vivenciaram um único dia da história anterior, chegaram para encerrar as atividades da firma, que competia com a nova proprietária. Demitem a todos os funcionários, indenizam com aquilo que a lei ordenar e colocam fim numa saga. Eu conheci inúmeros cidadãos que choravam os seus velhos empregos, as suas empresas, as suas histórias e dedicação. Conheci gente que morava nas casas da firma, que criou os filhos nas escolas internas oferecidas, que andava com o uniforme até em dias de folga, e agora choravam o fim de uma carreira. Empregos também passam. Posições profissionais não são eternas.
 
Eu poderia seguir e comentar muitas outras coisas: a reunião de família no Natal e no Ano Novo; os encontros das turmas da escola e da faculdade onde se estudou; os retiros de jovens e de associações dos quais se participou; as férias em determinadas colônias e clubes; os encontros de amigos e as visitas aos avós. Tudo passa. Tudo se acaba. Tudo tem um fim. Somente a alma humana fica e atravessa a morte, seguindo para a eternidade. E lá desfrutará de algo definitivo: ou viverá eternamente com Deus, na Nova Jerusalém, por ter encontrado salvação em Jesus Cristo, ou seguirá para o Lago de Fogo e Enxofre, nas trevas, por ter ignorado o convite dos céus.
 
Tudo passa. Este Natal já passou. A véspera já foi. O ano novo também se tornará ano velho. Algumas pessoas de nosso convívio irão falecer. Outras irão nascer. Mas nada será como foi agora. As fotos que tiramos à mesa e as pessoas que conosco estiveram jamais estarão todas juntas no mesmo formato, com a mesma motivação e no mesmo número que agora, com raríssimas exceções. Eu, que amo fotografar, tenho os últimos 25 natais fotografados e vejo ano a ano as mudanças dos que se sentam à mesa natalina.
 
ENQUANTO ESTOU. Esta frase é muito contundente. Enquanto estou aqui devo viver, devo desfrutar, devo valorizar, devo celebrar. De nada adianta chorar o leite derramado ou perder o sono pelas coisas que ainda não aconteceram. Precisamos ESTAR. Estar aqui e agora. Temos que olhar para a esposa ou marido que temos, os filhos que conosco vivem, os amigos que possuímos, os irmãos em Cristo que congregam conosco em nossas igrejas, os trabalhos e desafios que aceitamos, a nossa vida profissional e estudantil que abraçamos, e celebrar, vivenciar, valorizar, aproveitar. E sermos gratos.
 
Pois háverá tempo em que não mais estaremos, em que não mais seremos, em que não estaremos juntos.
 
E o ENQUANTO do qual falamos  terá se cumprido. Já não será presente. Tornar-se-á página passada.
 

Wagner Antonio de Araújo

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

memórias literárias - 833 - DOIS EVANGELHOS

DOIS
EVANGELHOS
833
 
O de Jesus: tem cruz, renúncia sofrimento, resignação, humilhação.
 
O das novas igrejas: "Venha servir a Deus conosco: oferecemos alegria, realização, consolo, abundância e posição de liderança e destaque diante dos que lhe rodeiam!
 
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O de Jesus: exige abandono do mundo e de suas paixões; não comporta a vaidade, nem a luxúria, nem a libertinagem, nem a promiscuidade.
 
O das novas igrejas: "Jesus lhe aceita como é: você é importante, não importa se esteja traficando tóxicos, adulterando, se a sua sexualidade é diferente do normal ou se vive de forma bizarra; há espaço para todos no Reino de Deus!"
 
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O de Jesus: primeiro o próximo e as suas necessidades; andar a segunda milha, dar a outra face, não revidar, não vingar-se, não cultivar o rancor.
 
O das novas igrejas: "Você não é bobo, você tem que se impor e que todos os outros se danem e vão para o Inferno! Não seja otário, não seja massa de manobra, imponha-se e seja um leão, um tigre, um Sansão; nós lhe daremos as estratégias para vencer a todos!"
 
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O de Jesus: garante a vida eterna, tesouros no céu, a ressurreição dos mortos e a presença de Deus a cada dia.
 
O das novas igrejas: "Nós estamos focados na vida aqui na Terra, queremos o que é nosso, queremos o poder de filhos, queremos tudo restituído; ressurreição é coisa com a qual não lidamos. Deus somos nós mesmos, eu sou Deus!"
 
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Bem, a escolha é de cada um. Jesus morreu, ressuscitou, vai voltar e habita o meu coração. Não tenho espaço para o outro evangelho, o das novas igrejas, cujo deus é o próprio ventre, cujo futuro é o lago de fogo e enxofre e cuja mensagem vem de Satanás.
 
Jesus Cristo e Sua velha mensagem me bastam.
 
É só isso.
 
Wagner Antonio de Araújo

 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

memórias literárias - 832 - SHOW GOSPEL

SHOWGOSPEL

832
 
A palavra GOSPEL vem do inglês GOD SPELL, que significa "Palavra de Deus". As músicas cristãs ganharam esse selo nos Estados Unidos. Elas englobam grande gama de estilos, valores, tradições, tendências. Tornaram-se grande fonte de lucro e sucesso. Inúmeros crentes iniciaram suas vidas de cantores ou instrumentistas em igrejas e, ao atingirem um certo sucesso, abandonaram o Reino e tomaram o rumo do mundo secular. A música evangélica dos negros americanos, a música tradicional sulista, o bluegrass, o country, tudos possuem a sua versão gospel.
 
Esse termo veio ao Brasil na década de 80 com o surgimento das igrejas neopentecostais. Até então as músicas restringiam-se aos cultos nas igrejas ou às obras de evangelização. Com o advento do selo e, consequentemente, do sucesso da exposição pública, criaram-se inúmeros selos gospel e um negócio pra lá de lucrativo apareceu. Logo os empresários muniram-se de uma carteira rentável de cantores e grupos e passaram a oferecer espetáculos públicos. Primeiro nas feiras restritas. Depois, com a inclusão da televisão, do rádio, da internet, foi questão de tempo invadirem as casas noturnas e os teatros, tornando-se uma opção religiosa de entretenimento público. O catolicismo copiou o mundo evangélico e absorveu esse universo cultural gospel, fazendo o seu próprio caminho, confundindo o auditório com músicas similares ou até iguais. O que foi comum para ambos é que distanciaram-se o mais que puderam das igrejas e dos cultos religiosos, tornando-se um fim em si. Grande parte desses cantores, grupos, conjuntos e organizações usam as igrejas como clientela para a venda de shows e ingressos, bem como de músicas em plataforma de mídia. Há alguns anos passaram a usar a política para conseguir grandes oportunidades de espetáculos públicos e cachês vultosos dos municípios e dos estados. Há shows gospel pela tv, pelo rádio, pelos rodeios e até no carnaval. Pastores espertalhões e mundanos, inclusive de denominações tradicionais, criaram os seus próprios blocos carnavalescos, emporcalhando a doutrina da santidade da Igreja.
 
Enquanto escrevo contemplo a Justiça no Rio de Janeiro impedindo um show gospel na virada do ano por ser a cantora esposa do parceiro musical do prefeito, que também é artista gospel. E eu me pergunto: SHOW GOSPEL? Onde está isso na Bíblia? Afinal, para quem quer se identificar como cristão, é necessário encontrar fundamento bíblico para o exercício de seu ministério.
 
Não há fundamentação no Novo Testamento para um espetáculo de entretenimento com a Palavra de Deus cantada. Não é só por falar de Jesus que uma música é credenciada para ser instrumento didático no ensino bíblico.
 
Alguns dizem que através da música gospel nos shows da noite, nos bailes, nas baladas, nas tvs, estão a levar a Palavra de Deus. Ledo engano. Se o que cantam estiver de acordo com a Palavra de Deus e se ao cantarem não fizerem caso da seriedade e da reverência de seu cântico, estarão lançando pérolas aos porcos, mercadejando o evangelho. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem. (Mt 7:6). Pregar o evangelho é tornar-se padrão a ser seguido, não amoldar-se conforme o ambiente pecaminoso onde se está. Jamais na história do verdadeiro evangelho as igrejas se sujeitaram ao padrão do mundo; pelo contrário, serviram de padrão no ensino, na pureza, na didática, na cultura. Hoje o mundo dita as normas da igreja, e as músicas gospel são um canal dessa interação.
 
Os pecados dos cantores gospel, de forma frequente e assoladora, envergonham os que se chamam evangélicos ainda, uma vez que cantar e não viver é um contrassenso, uma abominação, uma mentira e Deus não está nessa história. Cantores que começam bem, crescem e de repente abraçam causas diferentes, seguindo a onda do politicamente correto, só prestam um desserviço ao Reino de Deus e cometem escândalo ao evangelho. Quando chegam a um nível de remuneração e de fama precisam estar sintonizados com a opinião da maioria, para não terem o insucesso e o conhecido "deslike" em suas publicações. Em resumo: mercadejam-se, vendem-se, deixam-se levar e renegam o Salvador a quem supostamente cantavam. Mas não têm raiz em si mesmos, antes são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam. (Mc 4:17); Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. (1Co 10:32).
 
A música cristã começou o seu desenvolvimento após a geração apostólica, com recitação de textos e musicalização de ensinos. Posteriormente os instrumentos foram introduzidos. O propósito sempre fora litúrgico, para o culto, e não para diversão dos cristãos. Na era de ouro dos evangelistas criaram-se as campanhas de evangelização: um pregador munia-se de um bom músico e cantor, que fazia a introdução às conferências, elevando o auditório espiritualmente. Mas o propósito do cantor era sempre secundário: a pregação era o alvo. Não estava em curso um espetáculo, mas um culto. Na década de oitenta surgiram os "worship" de comunidades, criaram-se as "equipes de louvor", em detrimento dos grupos ou conjuntos. As músicas, que eram cristocêntricas e evangelísticas (ou eram dirigidas a Deus para adórá-lo ou aos homens para buscá-Lo) aos poucos tornaram-se antropocêntricas e egoístas (de "nós" passaram a usar "eu", e "para Deus" tornou-se "a mim"). Se antes se dizia: "Tu és o nosso Deus" agora se cantava "Eu sou importante". E o culto eclesiástico passou a ser secundário, entronizando o homem no lugar de Deus. Nas palavras de Cristo o próprio EU passou a ser o "abominável da desolação", sentado no trono de Deus, no lugar onde jamais deveria estar.
 
Não, leitores. A música cristã não presta para show e espetáculo de entretenimento. Ela deve servir para adoração divina, para confirmar e confessar as verdades bíblicas, para ensinar os valores da vida cristã e conduzir homens ao arrependimento e a fé no Senhor. Elas não devem colocar o cantor ou o músico num pedestal, transformando-o num empresário da fé. Quem faz da música cristã um meio de enriquecimento serve a MAMOM, não a JEOVÁ. E terá por eternidade o Inferno.
 
Não precisamos de shows. Não precisamos de artistas. Não precisamos de celebridades. Não precisamos de gente que usa a música cristã para galgar cargos públicos e elegerem-se como deputados, governadores ou prefeitos. Aliás, é o que mais se vê hoje em dia: pastores e cantores usando os seus fãs como eleitores, garantindo um futuro promissor para as suas carreiras e famílias, às custas da fé pública. Isto é abominação, não ministério.
 
Voltemos ao evangelho. Voltemos ao cântico congregacional de hinos antigos, que têm teologia bíblica e reverência na execução. Cantemos a Palavra de Deus, não as bobagens de mentes pervertidas de mundanos. Aprendamos a fé com as canções de qualidade, aprendamos a pensar, aprendamos a servir! Se a música gospel não me tornar mais crente, mais santo, mais envolvido com a Bíblia, com a oração e com a minha igreja, se ela me levar a parecer com o secular e não com o sacro, então essa música não serve para mim.
 
Show gospel? Estou fora.
 

Wagner Antonio de Araújo

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

memórias literárias - 831 - SÓ 25%

SÓ 25%
 
831
 
Não mais que um quarto. Apenas 25% do total.
 
Parece desperdício, mas não é. É universalidade do convite. É o amor evidenciado a todas as criaturas. Mas Deus sabe: três quartos das sementes serão completamente perdidas. Serão investimento sem retorno. Mas ainda assim o Seu amor faz com que não se economize recursos. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. (2Pe 3:9)
 
Jesus contou-nos, na "Parábola do Semeador", que as sementes foram lançadas. O Senhor não guarda as sementes para dias e lugares apropriados. Ele as espalha por toda parte e lugar. Isso Ele delegou à Sua igreja também: E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16:15). A ignorância não poderá salvar a ninguém. Se fosse assim Ele teria ordenado que os discípulos não contassem as boas-novas a ninguém; os indígenas e outros povos ignorantes poderiam salvar-se por desconhecimento. Mas não foi assim. Pelo contrário, não há outro modo ou nome que salve. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos. (At 4:12).
 
Mas as sementes, a mensagem do Senhor, esparramada pelos quatro ventos, terá apenas quatro tipos de recepção, e apenas um será eficaz.
 
Haverá aqueles que darão ouvidos, mas rapidamente se esquecerão do que ouviram. Eles até apreciarão a palavra, a música, a cerimônia, a Bíblia, as coisas do Senhor. Mas Satanás rapidamente retirará de suas mentes e coração o que ouviram e a semente não germinará. Eles estarão perdidos para sempre. Seus corações representam 25% da mensagem que não foi aceita eficazmente.
 
Haverá aqueles que até escutarão, mas que não terão persistência ou perseverança. São sementes nascidas nas pedras. Eles farão o contrário do que seria preciso fazer: Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. (Mt 24:13). Eles até poderão ser contados nas fileiras das igrejas e de projetos evangelísticos e sociais por algum tempo. Mas não ficarão para sempre. Eles estão sempre buscando respostas e insatisfeitos com o que encontraram. Estão sempre com o coração dividido e, nessa luta, o evangelho sairá de suas vidas e encontrarão outras muitas falsas soluções. Serão o outro quarto das sementes que não foram avante.
 
Há aqueles que pensam ter encontrado o caminho, mas quê! São plantas sufocadas nos espinhais! Nasceram no meio de tantas coisas que não conseguem impor a sua própria existência. São como ervas daninhas no meio de outras: apenas ocupam um espaço que não lhes pertence. Assim vivem uma duplicidade o tempo todo: querem a Cristo, mas estão sufocados com as preocupações, com os compromissos, com as agendas cheias, com a vontade da família, com as exigências sociais, com o agrado aos amigos, e jamais sairão da estaca zero. Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. (1Rs 18:21). Eles são mortos-vivos na fé: nem se convertem e nem abandonam um contato mínimo com o Reino. Estão inertes. Representam um quarto perdido nas sementes do Senhor. Perdido? Não! Desprezado pelos homens, esta é a melhor explicação. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. (Jo 15:20).
 
Há um quarto que deu certo. A semente caiu na terra, os passarinhos não comeram, não havia pedras que diminuissem a terra nem espinheiros sufocantes Elas não apenas nasceram, mas cresceram, se desenvolveram, floriram e frutificaram. Elas funcionaram, produzindo uma safra abundante e saudável. São as vidas alcançadas pela autêntica Palavra de Deus. São pessoas que foram encontradas no pecado, na marginalidade, nas falsas religiões, no ateísmo, na promiscuidade, no ocultismo, nos braços do Diabo. Quando ouviram a Palavra, e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Cristo, foram libertadas pelo Filho de Deus, regeneradas, transformadas em novas criaturas e feitas filhas adotivas do Pai. Juntamente com os infantes que faleceram antes da idade da razão e os loucos que não tinham condições de escolha, ocuparam a vaga de uma das moradas do céu e estarão com Cristo por toda a eternidade. E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. (Jo 10:28)
 
Por este quarto que vingou, que produziu e que se salvou valeu a pena toda a semeadura.
 
Resta-nos saber: a que grupo pertencemos.
 
Wagner Antonio de Araújo
 
 

 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

memórias literárias - 830 - PASTOR DOIDO

PASTOR
DOIDO

830
 
Quando o autêntico evangelho de Cristo é pregado acontecem duas reações. Uma da parte de quem tem Jesus. Outra por parte de quem não tem. 
 
Aquele que tem Jesus em seu coração, que foi regenerado pelo poder do Espírito Santo, que recebeu a adoção de filho, a justificação pela fé e a vida eterna, recebe a Palavra de Deus com temor e tremor. Ele analisa o que está sendo pregado à luz das Escrituras Sagradas. Ele pede a Deus que lhe desvende os olhos e que o faça enxergar. Se a Palavra de Deus foi apresentada corretamente ele se submete à mensagem. Se for exortação ele é encorajado a consagrar-se mais e mais. Se for admoestação ele aceita a reprimenda, conserta a sua vida e procura agradar a Deus de forma melhor e mais constante. O seu coração é a boa terra onde nasceu a semente da salvação. Ele aceita o cultivo.
 
Já o que não tem Jesus no coração pode até parecer-se um cristão, um crente, uma pessoa que congrega e que possui funções eclesiásticas. Mas ao invés de admitir a mensagem e submeter-se a ela, a reação é adversa: ele ataca o pregador. Ele o chama de doido, de maluco, de retrógrado, de imbecil, de fanático, de lunático, de inconsequente. Ele ofende-se, reage com violência ou com ironia. Ele não se submete à Palavra de Deus, mesmo lendo na Bíblia tudo o que escutou na mensagem. Ele prefere seguir os seus instintos, a sua maneira tradicional de viver, o seu evangelho feito de placebo e continuar a fingir aos crentes de que é um cristão e viver no mundo como se não conhecesse o evangelho. Ele costuma chamar os ministros de tolos e diz que é impossível seguir a Bíblia e ser feliz.
 
Isso não é novidade. O Senhor Jesus Cristo, que enviou os Seus servos como pregadores da Sua mensagem, afirmou: Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. (Jo 15:20). Os verdadeiros ministros do evangelho devem ter isso em mente quando escutarem lamúrias, gracejos, zombarias ou acusações por parte de alguns ouvintes. Uma mensagem fundamentada na Bíblia terá reações positivas na vida de quem é de Jesus, e certamente negativa na vida dos falsos crentes. Os cristãos resplandecerão na fé com o poder da Palavra. Os falsos crentes só terão críticas, justificando-se diante de si e de seus iguais, buscando razões para não mudarem de vida.
 
No final dos tempos veremos as consequências. Se cremos na Bíblia, sabemos o que irá acontecer. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação. (Jo 5:29). Deus já decretou o resultado de nossas escolhas. Por isso eu peço a cada dia: "Senhor, dá-me um coração igual ao Teu, disposto a obedecer, a cumprir todo o Teu querer, dá-me um coração igual ao Teu!".
 

Wagner Antonio de Araújo

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

memórias literárias - 829 - ESTOU EM OUTRA

ESTOU EM
OUTRA
829
 
Na minha cabeça não há lugar para coisas que eu não tenha decidido colocar.
 
Músicas populares do momento? Estão bombando no youtube, nas redes sociais? Não sei quais são e nem quem as canta. Eu só tenho espaço para músicas do Senhor, músicas cristãs, músicas que edificam, que não são feitas por gente que engana as igrejas ou que oferecem o que o mundo quer ouvir. Na minha cabeça tenho hinos, tenho músicas selecionadas, instrumentais. Há espaço para a boa música instrumental ou popular atemporal, que fale da fauna, da flora, que conte estórias ou histórias, que acrescente e que transmita valores.
 
Pregadores famosos? Famosos onde, aqui no meio das massas ou no céu? Eu não me guio pela fama, pela popularidade, pelo tamanho de suas igrejas ou pela amplitude de seus assuntos. Daniel o profeta era muito amado NO CÉU e é dessa gente que eu quero me aproximar sempre. E sermões eu ouço de quem vive o que prega, não de quem prega e não vive. Os meus pregadores podem até ser analfabetos, impopulares e desconhecidos aqui. Mas quando os ouço percebo que Deus fala comigo. Eles estão fundamentados na Bíblia e só nela. Por isso famoso é só Jesus, o resto é auditório.
 
Projeto de crescimento de igreja? Eu só me envolvo com um: o do Novo Testamento: pregar, ensinar, batizar e enviar. E só. Se eu fizer isso já terei consumido todos os anos que me restam de minha vida. Não preciso pintar a minha igreja de preto para estar na moda satânica disfarçada. Não preciso de um púlpito de latão para ser jovem e mundano. Não preciso me vestir sensualmente com calça agarrada e rasgada. Não preciso usar barba de lenhador e nem camisa com selo fashion. Basta que eu me apresente modestamente, com respeito e sobriedade e pregue a Palavra. Quem quiser, que siga a Jesus. Quem não quiser que enfrente as consequências.
 
Seguir cegamente o que as denominações e editoras mandam ensinar? Eu só obedeço a Deus. Como batista sou daqueles que defendem a liberdade de consciência e que entendem que doutrina não se muda. A Bíblia não precisa ser relida, reinventada, reimpressa em linguagem de bordel ou de campo de futebol. Ela é sublime na linguagem culta que sempre foi lida e pregada. Não preciso rebaixar o meu Deus; Ele me dá a mão e me eleva, inclusive na linguagem. Não preciso seguir os "coachers" modernos, os "personal faith", só preciso seguir a Cristo, revelado nas Escrituras Sagradas, ensinado na Escola Bíblica Dominical e nos cultos. Se isso não for suficiente, que os demais procurem outros grupos, que eu não abrirei mão da minha obediência à Palavra.
 
Adaptar-me aos tempos modernos? Sou moderno, o que não significa ser concorde com as modernidades. O mundo jaz no maligno. A moralidade foi jogada na sarjeta. O padrão litúrgico das igrejas agora se baseia nas plataformas de show business e nos programas de auditório que fazem sucesso. Eu não preciso ser youtuber ou inspirar-me em fórmulas de curtidas. Quero continuar a ser um representante daqueles que se satisfizeram em Cristo e que não precisam pintá-lo ao gosto do freguês. Basta-me ser quem sou, basta-me ser normal e não modernólatra.
 
O que? Quer que eu esteja na sua?
 
Perdão! Eu estou em outra!
 
É o que tenho a dizer.
 

Pr. Wagner Antonio de Araújo

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

memórias literárias - 828 - HÁ QUATORZE ANOS ATRÁS

QUATORZE ANOS
ATRÁS

Um dia triste. Muita saudade.
 
Há quatorze anos minha mamãe partia.
 
Informei sobre a sua morte com estas palavras:
 
Mamãe partiu.
 
Daniel e eu estamos
 
sem chão para pisar.
 
Era ela o nosso esteio humano,
 
a nossa alegria, a nossa
 
razão humana de viver.
 
Agora ela se foi.
 
Depois de 16 dias de
 
martírio hospitalar,
 
seu coraçãozinho parou
 
de bater.
 
Aguardou-me para orar
 
com ela, despedindo-a
 
na paz e na certeza
 
da missão cumprida.
 
Alguns já passaram
 
por essa dor, mas eu lhes
 
digo: é dura demais.
 
Mamãe morreu às 18 horas de
 
hoje.
 
Daniel e o pastor estão indo
 
ao hospital, para a liberação
 
do corpo.
 
Seu velório será na
 
IGREJA BATISTA DE
VILA POMPÉIA, sp
 
AV. POMPÉIA, 867
TELEFONE (0XX11)
3673-7925 OU 3873-8755
 
TALVEZ O ENTERRO SEJA
 
À TARDE, NÃO SEI.
 
SERÁ EM EMBU DAS ARTES.
 
PORÉM, MAIORES DETALHES
 
SÓ MAIS TARDE, NO MEU
 
CELULAR, OU NOS TELEFONES
 
DA IGREJA DA POMPÉIA.
 
AGRADEÇO O CARINHO DE TODOS.
 
"Senhor, dá-nos a serenidade
suficiente para aceitar a Tua vontade,
e para conviver com o tremendo
vazio que estamos sentindo,
e que será para o resto de nossas
vidas!
Tenha de nós misericórdia!"
 
WAGNER ANTONIO DE ARAÚJO
DANIEL PAULINO DE ARAUJO
(011) 9699-8633
3672-6738
 
Depois, de posse das informações, complementei:
 
Deus abençoe o carinho
de todos os irmãos,
que estão telefonando, ou
enviando e-mails, ou enviando
mensagens no telemóvel.
 
Só Deus poderá recompensá-los.
 
Já tenho as informações precisas.
 
Mamãe chegou à
Igreja Batista de Vila Pompéia.
Seu corpo já foi preparado
e enfeitado.
 
É muito difícil saber que
 aquela que
lhe deu à luz um dia,
está cheia de formol
e pó-de-serra, por dentro, uma vez
que seu corpo iria explodir
de tantos medicamentos tomados.
 
Sei, é apenas seu tabernáculo
terrestre. Não há dúvidas.
Mas foi nele que aprendemos a amar
mamãe e foi dele que saímos.
 
VELÓRIO
IGREJA BATISTA DE
VILA POMPÉIA, sp
AV. POMPÉIA, 867
TELEFONE (0XX11)
3673-7925 OU 3873-8755
 
Estive por lá há alguns instantes,
mas sucumbi ante a visão saudosa
e perpétua, desse adeus (que
é "até breve")
 
Talvez não consiga velá-la,
pois já estou no meu limite
em termos de remédios cardiovasculares.
 
Sou humano. Sou um ser
normal. Também sucumbo.
E, hoje, eu posso dizer
com toda convicção:
eu não estou agüentando
o peso desta dor!
Orem por mim!
Orem pelo Daniel!
Orem pela Milu!
E pela Izamara, que está
acompanhando junto conosco!
 
Se eu lá não estiver,
estarei aqui, na sala, da minha casa.
 
Na igreja informarão aos
que quiserem vir e me dar um abraço.
 
CULTO DA SAUDADE
13 horas, no
templo da igreja.
 
 
SEPULTAMENTO
Após o culto,
o enterro seguirá para
o
CEMITÉRIO
MEMORIAL PARQUE
PAULISTA
na Rua Jorge
Balduzzi, 520,
em EMBU DAS ARTES,
altura do km
275 da Rodovia
Régis Bittencourt,
a estrada para Curitiba.
 
E então, após tudo isso, fiz um texto à respeito de tudo. Partilho com os meus leitores.
 
Daniel & Pr. Wagner - DIVAGAÇÕES PÓS-TUDO
 
Não consigo dormir.
 
Dormi durante a tarde, à custa de remédios, enquanto mamãe era homenageada em velório e enterro. Uma decisão do meu irmão, querendo preservar-me de mais sofrimento, uma vez que passara a madrugada e o princípio da manhã junto ao caixão, e não suportava mais tanta dor, ausência e solidão.
 
O que dizer? O que falar? É como se o mundo não tivesse mais cores, os sons não tivessem mais ruídos audíveis, como se o ar não fosse mais suficiente e o tempo não significasse mais nada. Viver, morrer, nada mais faz sentido.
 
Quanta história esses 16 dias de UTC do Hospital São Joaquim da Beneficência Portuguesa, reservou para nós! Coisas que certamente esqueceremos, com o passar dos anos, mas que aconteceram, e isso não se pode negar.
 
A internação de mamãe. Na cama, quase afogando-se, enquanto os bombeiros chegavam para removê-la, ela disse à Milu: "Cuida bem do Wagner e cuida da casa". Depois, ao chegarmos ao hospital, e removê-la para a tomografia, após sair, suas últimas palavras à minha prima Leila: "Eu te amo", e já não disse mais nada. A hora em que meu irmão Daniel chegou do Rio de Janeiro, junto com seu sócio Renato, e o desespero de ver minha mãe à beira da morte.
 
Os dias se seguiram, e o mundo praticamente parou em nossas mentes. Não vimos mais jornais, noticiários, não sabemos mais o que aconteceu no planeta. O nosso planeta era mamãe, e ela estava sofrendo. Vê-la entubada, pela primeira vez, foi a morte para nós. Meu Deus, ela dormia "tranqüila", se é que se pode chamar esse tipo de sono de tranqüilidade. Visitas ao meio-dia e às dezoito horas. Cada médico plantonista com um jeito diferente de falar: uns, dando muita esperança, dizendo que houve melhoras nos rins, nos índices de glicemia, no sangue, nos órgãos, e que diminuiram a medicação e a respiração mecânica. No outro plantão, tudo caía por terra, porque agora ela estava cada vez pior. E na manhã seguinte, num eterno círculo vicioso, melhoras e pioras se sucediam.
 
Lembro-me quando, junto de meu irmão, vimos mamãe começando a acordar. Seus olhos se abriram. Mas eram olhos diferentes, grossos, com a parte branca engrossada. Seu rosto ficou vermelho e ela tentava tirar os canos. Acalmamo-la, mas nosso desejo era ajudá-la, arrancando tudo. Seríamos presos, se o fizéssemos. Alguns parentes também viram minha mãe assim, chamando (imaginaram que fosse) "Jovê", "Nina", a sua irmã mais velha e mais doente, que sofre com enfermidades longas.
 
Lembro-me do dia em que uma frente fria passou aqui por São Paulo. Aliás, o tempo aqui na capital está tão triste, o sol não se firma, também não há estabilidade, parece que a Natureza chora mamãe. Nossa mente faz associações que lhe confortem e consolem, não é mesmo? Bem, naquela tarde, após vê-la, meu irmão iria embora. Então eu disse a ele que passaria a madrugada no hospital. Ele perguntou-me: "você acha que ela irá morrer hoje?" Eu disse: "Não sei, mas tenho que ficar por aqui, disso eu sei". E fiquei. Primeiramente meus primos Edemir e Eneida, vieram ver-nos e conversar. Ficamos até altas horas. Depois, sozinho, recebi a visita do amigo e irmão Serginho, vice-presidente da Boas Novas. Ah, ficamos a conversar longamente, e a orar também. Mas às 11 horas eu iria usar minha carteirinha para ver minha mãe. Contudo, as enfermeiras estavam em troca de plantão, e eu vi minha mãe bem rápido, para não atrapalhar. Perguntei se poderia vê-la às 3 da madrugada e saber notícias. A enfermeira explicou-me que vê-la ela autorizaria, mas passar informações, só a médica, pois seria anti-ético da parte dela. Ah, se todos os pastores também aprendessem a respeitar a ética cristã e ministerial!
 
ÀS 3 da manhã estávamos lá, Serginho e eu. Uma enfermeira veio à sala de espera, dizendo: "o senhor é o filho da Dona Elzira, certo? A enfermeira-chefe está lhe chamando". O coração já saltou de medo e preocupação. Teria minha mãe falecido? Estaria já a chamar a família? Corri para a porta de entrada, lavei as mãos e vesti o avental. A enfermeira, do corredor, disse: "Venha, ela está a chamá-lo". Corri. Então mandaram-me entrar numa sala, onde estavam 5 enfermeiras. A chefe falou: "Bem,... nós estamos morrendo de vergonha... mas todo mundo aqui já sabe .... que a Dona Elzira tem um filho pastor ... e nós queríamos que o senhor orasse pelos doentes aqui do Choque. Eles precisam, e nós também..." Aliviado, mas excitado pela surpresa, disse: "Mas como assim? Ir de leito em leito?" Elas disseram "Nâo, porque alguns não aceitariam, mas podemos orar aqui mesmo".
 
Fiquei agradecido ao Senhor, porque até lá, no hospital, à beira da morte, mamãe estava a dar o seu testemunho, sendo reconhecida como uma mulher abençoada, cujo filho deveria ser alguém de bem também. Aliás, um dos comentários ali feitos é que nós dois, Daniel e eu, éramos os visitantes mais constantes, contínuos e fiéis de uma paciente. Orei emocionadamente por cada doente, cada enfermeira, cada médico, cada funcionário. E orei também por minha mãe. Enquanto orava, Deus tocava em meu coração para que eu repartisse a Sua Palavra com eles. "Em quantos funcionários vocês são?" Elas disseram: "60 aqui na UTC". "Então eu hei de conseguir 70 Novos Testamentos, ou 70 bíblias, para lhes dar de presente, até um pouco antes do Natal". Ah, elas sorriram e fizeram festa, como quando recebemos a notícia alegre de que alguém está melhor de saúde. "Mesmo que minha mãe ainda estiver aqui, ou se tiver saído para a vida, ou ido aos braços do Pai, eu voltarei". "O senhor poderia orar de vez em quando aqui?" "Mas é claro que sim! Contem comigo!" E ali estava um ministério novo, criado por Deus, através do sofrimento de mamãe! Ainda não tenho os novos testamentos, ou as bíblias inteiras, mas creio que o Senhor as dará, para que eu as encaminhe para eles, até antes do Natal.
 
Penúltimo dia. O médico nos disse que minha mãe estava além dos 70% aceitáveis de gravidade, e que agora a infecção hospitalar havia coberto o seu corpo. Disse-nos que as úlceras estavam abertas e jorrando sangue, e que não havia medicamento que desse jeito à sua pressão. Falou-nos que tentariam alguma coisa, mas que, infelizmente, o mais natural, seria o caso "evoluir para o óbito". Evoluir??? Meu Deus! Saímos de lá abatidos, acabados. Lembro-me, no corredor, quando tentamos ir à capela orar, e encontramo-la fechada..., ter confortado o meu irmãozinho Daniel, quando eu mesmo é que precisava de conforto! Mas eu sou o mais velho, e tenho a obrigação de ser forte, e o Espírito Santo supriu-me de conforto o coração. Aleluia!
 
Quem dormiu à noite? E na madrugada? E na manhã? Cada toque do celular ou do telefone, era uma punhalada em nosso peito, que aguardava com expectativa fúnebre a notícia funesta e fatal do estado de mamãe.
 
Por fim, o meu irmão iria visitá-la à tarde. Quis que eu ficasse. Mas eu tinha certeza de que deveria ir, uma vez que poderia ser a última despedida, ou então, que algum milagre ocorresse.
 
Faltava meia hora para as 18, e eu senti no coração que deveria fazer uso, mais uma vez, da minha carteirinha. E fiz. Ao entrar, vi-a já com a boca arroxeando, sua cor empalidecendo, poucos medicamentos pendurados, e o seu coração em compasso lerdo, lerdo para o que víamos nos outros dias. E ouvi em meu coração A VOZ, que dizia: "Ore agora". Ah, essa voz! Foi essa  a voz que me fez despedir o irmão Antonio, esposo da irmã Isabel, que morreu em meus braços! Foi essa a voz que me fez informar aos vice-presidentes que, logo após ir aos Estados Unidos, eles passariam por um funeral. Essa Voz, do Espírito Santo, me iluminou a orar. E orei, motivado por Ele: "Senhor, tua serva já cumpriu a sua missão, de forma brilhante e maravilhosa! Foi excelente esposa, primorosa cristã e a mãe mais maravilhosa do mundo! Não deixe-a sofrer mais! Seu corpo não suporta tanta luta! Dá-lhe o descanso necessário! Em nome de Jesus. Amém.  Mamãe: muito obrigado por ser quem a senhora é. Daniel e eu a amamos muito! Agora, mamãe, siga em frente, descanse, vá para os braços de Jesus! Logo, logo, estaremos juntos, para sempre!" Orei assim, enquanto sentia, em sua testa, o último calor de vida. Nesse momento, a máquina do coração, indicava 55 por minuto, e caiu para 50, 45, e a enfermeira disse: "Tem mais alguém aí para entrar? Diga para entrar agora". Corri e chamei meu irmão Daniel, que entrou e pôde despedir-se dela. Ao saírmos, meu tio Carlos Bonfante e minha prima Cristina também entraram, e foi na visita da Cristina, que mamãe expirou. O Daniel falou: "ela esperou a sua bênção, mano". Seja Deus engrandecido.
 
Então o forte fez-se fraco, e desandou. Caí em profunda dor, sentimento, tristeza, amargura, desespero. Fiquei em casa, com tias e parentes, e irmãos da Boas Novas, que vieram fazer-me companhia. Obrigaram-me a dormir  um pouco e a comer algo (dois dias sem dormir, e quase isso sem comer). Quem conseguia dormir? Às três estava eu, Izamara e Domingas aqui, e o povo havia descido para a igreja. Corri para lá também.
 
O Daniel quis segurar-me, mas quê! Tive que ficar juntinho do corpo dela. Ah, estava ela vestida com seu vestidinho mais usual e querido. Fizeram-lhe uma cirurgia pós-morte, para retirada de vísceras, pois a barriga estava explodindo e o sangue jorrava por todo canto. Quantas bolsas de sangue e litros de remédio ela não tomou em 16 dias, e os rins não deram conta? Encheram-na de pó-de-serra e de formol. Cheirava remédio e desinfetante. E os cuidadores, iam fazendo o enchimento com galhos de flores e folhas. Meu Deus, meu Deus, meu Deus! Quando foi que imaginei ver minha mãe assim?
 
Enfeitaram-na com crisântemos brancos, com um véu muito fino, grampeado nas beiradas. Cada ruído do grampeador, era uma martelada em nossas carnes e em nossas mentes. Meu Deus! Depois, com ela preparada, estávamos lá, ombro a ombro, Daniel e eu, os filhos de Elzira! Agora éramos só nós dois, e a Milú, e mais ninguém! Estávamos sem aquela que nos gerara! Ela partira com Jesus. E, fisicamente, estava morta. E, espiritualmente, estava longe, muito longe, na eternidade, no Paraíso, e nós ficamos!
 
Vir e ir. Voltei, trazido pelos irmãos, e comi alguma coisa, retornando para o velório. As pessoas estavam a chegar, mas eu não consegui conter-me, ao ver suas irmãs chegarem, e verem o rosto da irmã querida ali, morto, no caixão. Suas palavras, suas lágrimas, sua dor, foram insuportáveis. O meu coração começou a ter arritmia forte, e senti que algo estava a acontecer. Conhecedor de minhas limitações, o meu irmão ordenou que eu voltasse, trazendo-me para casa. E deram-me calmantes, com os quais dormi até bem depois das 17 horas, hora do sepultamento lá longe, em Embu das Artes. Fiquei triste, por não ter estado junto. Mas tudo o que eu tinha que fazer pela minha mamãe, eu fiz em vida, e isto eu sei que ela soube, e Deus também sabe. Meu irmão, saudável, esteve até o final, e falou-me da multidão de gente, entre amigos, irmãos em Cristo, empresários, executivos, pastores (mais de 30), gente de nosso relacionamento e amigos da internet, todos despedindo-se da "mãezona" Houve a necessidade de alugar-se um carro à parte e a mais, por causa de tantas e tantas homenagens de coroas de flores. Mamãe, nós te amamos! 
 
E agora, primeira noite definitiva, sem a expectativa de alguma ligação do hospital (até desligamos os telefones, para descansar), sem a esperança de vê-la sentar-se no seu "trono" da sala, sem aguardá-la para comprar as frutas que gostava, sem arrumar sua cama confortavelmente, para que dormisse, sem ligar o rádio na REDE MELODIA, sua rádio querida do coração, sem dar corda no seu relógio despertador quebrado, que ela mantinha funcionando, mesmo sabendo que não tinha mais ponteiros (e quando ameacei jogá-lo, ela disse: deixa ele funcionar, tadinho), cá estou, pensando alto, com os dedos, no teclado do computador, sabendo que o e-mail já está a terminar e, que depois, ao desligar a máquina, só sobrará um vazio, um vazio do tamanho de minha mamãe! Que saudades da senhora, mamãe Elzira! Como irei conviver com sua ausência?
 
Pedi licença da igreja e estou pedindo licença aos amigos e irmãos também. Meu irmão e eu nos ausentaremos por uns dias. Não sei para onde vou, o que vou fazer, mas sei que não posso ficar aqui. Tudo me lembra a mamãe, e as emoções estão frescas, à flor da pele. A Milú, coitada, está arrasada, porque foi ela quem cuidou de minha mãe como perfeita enfermeira, e convive conosco desde 1982. Ela está a sofrer barbaridades. A Izamara, secretária da igreja, esteve conosco, está conosco e não arredou o pé, sendo de uma gentileza e prestatividade à toda prova, e certamente o Senhor a recompensará muito pelo que fez, e nós também.
 
Não sei quantas centenas de telefonemas que Daniel e eu recebemos, mas certamente ultrapassaram os 500. Os e-mails que continuam a chegar, passaram dos 1000. E eu agradeço por todos eles. Os responderei a todos, mas, com o tempo, quando voltar, porque, agora, não tenho cabeça para nada. Sei que vou me dedicar a Deus em dobro, porque esse é o caminho e também essa era a vontade de minha mãe. Quero viajar para pregar o evangelho aonde Deus me chamar, e aguardarei o que Deus terá à minha frente. Quero casar-me e ter os meus filhos, e lhes dizer o quanto fui abençoado, com a mãe que Deus me deu. E quero testemunhar a todos: o Senhor é fiel, o Senhor é sábio, o Senhor é misericordioso. Hoje eu não sinto ter sido atendido em minha oração, mas eu sei que fui, e o que mais importa é o que eu sei, mediante a Bíblia, do que o que eu sinto, em meu coração; pois a bíblia é eterna, e as minhas emoções são passageiras, e não sou guiado pelas emoções, mas pela Palavra de Deus.
 
Continuem a escrever. Estou recebendo as mensagens, vou guardá-las com amor e carinho, meu irmão também, e vou respondê-las. Só esperem uma semana e pouco, para que voltemos a reconstruir a vida.
 
Um abraço.
 
Wagner Antonio de Araújo

 
 

 

memórias literárias - 827 - IMPORTA OBEDECER A DEUS

IMPORTA
OBEDECER A
DEUS

827
 
Obedecer a Deus e não a vontade dos outros. Ninguém dará contas de nossa alma no dia do juízo. Somente nós e sozinhos. Se obedecermos a Deus agora, entregando-nos a Jesus, O teremos como nosso advogado eficaz, que apresentará a quitação de nossa dívida e do pagamento de nossa pena. Caso contrário, estaremos condenados.
 
Obedecer a Deus e não às conveniências, buscando estar bem com todos, deixando a todos felizes. A felicidade das pessoas dura pouco; geralmente enquanto nós as satisfazemos de alguma forma. Quando não somos mais necessários elas nos abandonam, cuspindo-nos como se cospem os chicletes sem açúcar. Deus, pelo contrário, não nos tem por descartáveis. Somos almas eternas pelas quais Ele mandou O Seu Unigênito Filho morrer.
 
Obedecer a Deus e não para agradar gente de nosso convívio. Agradar às pessoas só traz frustrações. As pessoas muitas vezes querem escolher as nossas coisas, as nossas decisões, as nossas metas, querem nos escravizar aos seus próprios desejos. Depois, quando estivermos presos aos compromissos assumidos, reféns de tentar agradar a gregos e a troianos, nos encontraremos completamente abandonados à mercê das consequências das más escolhas. Ninguém deve escolher os nossos caminhos. Devemos seguir o coração de Deus. Nem o nosso próprio coração, pois é miserável, pecaminoso e enganador.
 
Obedecer a Deus e não ao corpo. O corpo quer sensualidade, quer prazeres, quer paz e sossego. Pelo corpo estaríamos mumificados, sem esforço algum. Mas devemos subjugar o corpo e tomar as decisões de acordo com a razão e a fé, a vontade de Deus e a Lei do Senhor. Se assim não fizermos seremos seres imprestáveis, jogados na beira da sarjeta da vida, fadados à pena social e à miserabilidade inútil.
 
Obedecer a Deus é a melhor escolha.
 
Vamos fazê-la?
 
Wagner Antonio de Araújo

 

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...