LÁGRIMAS
DE
UM
PASTOR
Ele estava ali, agachado,
com a mão no rosto a chorar, enquanto com a outra segurava o cajado. Chorava
baixinho, mas chorava sentido. Suas lágrimas quentes caíam no solo, enquanto as
ovelhas pastavam à beira do lago e os cães corriam ao redor para assegurá-las
sem dispersão.
- Amigo, o que houve? Por
que chora?
Ele chorou mais um
pouquinho, enxugou as lágrimas e disse:
- Choro a ovelha que morreu
ontem. Tão querida ela me era!
Eu olhei o seu rebanho;
havia tantas! Para mim eram todas iguais: todas peludas, cheias de lã,
saltitantes, barulhentas, comilonas.
- Mas o senhor tem tantas!
Por que chora por uma que morreu? Estou vendo tantas pequeninas, outras prenhas,
não terá um prejuízo muito grande.
Ele olhou-me com
sentimentos e disse:
- Eu não cuido do meu
rebanho como se fosse gado de corte. Eu as conheço uma por uma. E são
insubstituíveis. Aquela ovelha eu a vi nascer. Eu a acompanhei por anos. Ela era
tão especial!
Pensei um pouco e
disse:
- Mas o que uma ovelha tem
de tão especial que não possa ser substituída?
- Eu as amo. Por isso são
especiais.
Aquilo chocou-me. O amor
que esse pastor tinha pela ovelha fazia toda a diferença. Não importava se
outras dezenas tivessem um porte físico similar, se eram praticamente iguais. O
amor não generaliza; o amor identifica. E para quem ama ninguém pode ser
substituído. Aos olhos daquele pastor cada ovelha era
especial.
Falei para
ele:
- Perdoe-me por ter sido
insensível. Eu lamento a sua perda.
Saí dali bastante afetado
no meu interior. Eu, pastor também, mas de gente, de um rebanho que não era meu,
mas de Cristo, talvez tenha aprendido mais sobre o pastorado com aquelas
lágrimas e carinho do que com inúmeros compêndios teóricos sobre ministério.
Ser pastor é saber amar, é acompanhar. E sentir falta quando se vai.
Espero ser um pastor
melhor. E amar as ovelhas do Senhor sob meus cuidados.
Wagner Antonio de
Araújo