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O QUE
IGREJAS
PODEM
FAZER
DIANTE DA CRISE
DE
IDENTIDADE
EVANGÉLICA?
O fenômeno
sociológico que vivenciamos em nossos dias é de deixar qualquer estudioso
estupefato: tudo está se tornando igual, seja na indústria, no comércio, nos
serviços, nas escolas e, pasmem, nas religiões! Recebi há pouco cópia da nova
edição de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Os que conhecem sabem: Allan Kardec
sempre teve a foto com seriedade, severa, original. Nesta nova edição tudo já
veio adaptado: Kardec sorri, Jesus sorri e o Espírito da Verdade Sorri. Tudo é
dividido e mastigado para facilitar, como um curso prático de inglês. As
religiões estão se tornando iguais, idêntica, mudando apenas o nome, a
administração e suas doutrinas, geralmente escondidas e camufladas (para não
assustar os fregueses). Aliás, igrejas não têm mais MEMBROS, mas CLIENTES. Não
foi assim com a empresa aérea GOL? Antigamente, pelos aeroportos, ouvíamos:
"passageiros com destino a ...", hoje escutamos: "clientes da empresa x com
destino a ...". Somos todos clientes. Pelo rádio um apóstolo dizia: "não importa
de que igreja você é, a campanha das causas impossíveis também é para você!", e
assim estendia o seu círculo de consumidores. Outro, um ancião, dizia: "Morris
Cerullo ensina a investir 911 reais para receber a bênção. Pois nós publicamos
um livro que mostra ser isso mentira, e você poderá tê-lo por 6 prestações de 66
reais"...
O que fazer
diante de congregações que querem copiar a moda social de tudo? Recebi uma
mensagem publicada no blog de um padre, onde ele lamentava que a missa
tornara-se pagã, com berrante, água de cheiro, mães de santo, pagodeiros e
camarins de atores na celebração. Uma frase preciosa que li ali é que nas missas
atuais o que importa é o que um homem diz aos seus iguais e não o que Deus diz
ao homem. Sou obrigado a concordar com ele: hoje a interpretação das Escrituras
Sagradas tornou-se tão subjetiva e sem regras que até um jumento é capaz de
ensinar alguma coisa em algum púlpito. Pois já não houve um galo que profetizou
em línguas para o pastor interpretar ao povo?
Sou um
batista clássico. Ser clássico não significa ser de outra denominação, mas ter
uma postura teológica, litúrgica e espiritual definida. É ter opinião e não
ficar em cima do muro; é ter coragem e não temer ameaças ou perseguições; é
saber dizer não quando todos dizem sim; é buscar a qualidade e não meramente a
quantidade; é ensinar o sólido e o incontestável e não edificar sobre a areia
movediça das falsas interpretações; é ser permanente e não ser contemporâneo.
Contudo,
muitos leitores nem batistas são, mas são cristãos e são membros de suas igrejas
com amor e devoção. Muitos são pastores e também estão percebendo as mudanças
radicais trazidas com os avanços tecnológicos e a universalidade e
imediatividade das comunicações (internet, celular, e-mail, redes sociais etc).
O que fazer nesse inferno sem fim, que é capaz de criar um esportista que chuta
uma bola a ganhar 200 milhões por ano ou uma mulher despudorada que fica nua e
fala palavrões a ganhar fortunas e tornar-se celebridade? O que fazer nesse
mundo midiático onde um cantor mundano e desqualificado espiritualmente se torna
ícone de toda a juventude (e não importa mostrar-se seus erros, mentiras ou
mundanismo, nada disso importa para o novo estilo de
crentes)?
Creio que
para pastores e crentes que vivem esse drama, há somente um caminho, que
didaticamente separo em 9 passos bem claros e necessários. Para tanto baseio-me
no texto de II Tm 4.1-5.
I - PREGA A
PALAVRA - Igrejas que querem estar prontas para o uso do Senhor ou para o
arrebatamento devem ter púlpitos que preguem A PALAVRA, a Bíblia Sagrada.
Pregações fundamentadas nas Escrituras Sagradas, não em teólogos, em diretores
de cinema, em gurus, em líderes de redes e apostolados, de igrejas com ou sem
propósito, de teóricos ridículos, mestres de mentira ou criadores de pirotecnia
eclesiástica. Por falta de pregação bíblica o povo sofre e padece. Um púlpito
fiel de uma igreja pequena tem muito mais valor do que um púlpito forte de uma
mega-igreja. O primeiro indica o Céu; o segundo conduz ao Inferno. Pregadores
fracos, raquíticos, que não estudam, que caçam sermões de livretos ridículos de
esboços fracos ou de sites onde tudo já vem mastigado mais parecem com pessoas
que mascam arroz e feijão e cospem na boca do outro. Isso não alimenta e é
nojento. O sermão tem que começar de joelhos em terra, buscando graça, favor,
unção do Espírito Santo. Depois deve seguir por horas no estudo da Bíblia, das
traduções, dos dicionários e comentários. E então deve-se estruturar tudo numa
idéia clara e coerente com os ensinos do Senhor. Um sermão que não custou nada
não valeu de nada também. E para se pregar bem não é necessário ter a aprovação
do MEC; é necessário ter uma mensagem do Senhor, preparada e
fundamentada.
2 - INSTA
(INSISTE) - Igrejas boas devem ter pastores que insistam em seu ensinamento.
Quantas horas o povo de Deus gasta diante de um aparelho de TV, de um facebook
ou de um computador? Quantos pregadores midiáticos não invadem a casa de nossos
membros? Seria muito o pastor insistir no ensino? Não. O pregador deve insistir,
ensinar, QUER SEJA OPORTUNO, QUER NÃO. Todos os adolescentes estão a usar
preservativos? PREGUE CONTRA A FORNICAÇÃO. Todos os crentes estão se endividando
no cartão de crédito? PREGUE CONTRA A DÍVIDA. Os irmãos estão se tatuando e
colocando piercings? PREGUE SOBRE O TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO E OS SINAIS PAGÃOS
DE POSSESSÃO E ESCRAVIDÃO. E se reclamarem que a igreja é quadrada, é antiquada,
é tacanha, é conservadora, que procurem outra para frequentar. Mas saberão que
ali no meio deles houve um profeta (no sentido bíblico).
3 - CORRIGE -
Como sofrem as igrejas por falta de correção, de disciplina! Conheço uma igreja
que tolera casais gays como membros, mas nada faz por temer processos ou
entristecer famílias abastadas. Que pecado! Quem se faz amigo do mundo torna-se
inimigo de Deus! Conheço pastores que toleram fornicação no meio dos namoros,
outros que sabem que seus membros fazem negócios escusos e proibidos. Sei de um
pastor que consultou médiuns e outro que andava com um santinho no bolso, além
de outro que tornou-se membro de uma sinagoga também. Que hipocrisia! Ao querer
agradar dois senhores tais igrejas perdem a grande chance de corrigir na PALAVRA
os seus fiéis. E a regra é clara: onde passa um boi, passará uma
boiada...
4 -
REPREENDE- Puxe a orelha! Mas como? Cada um hoje se diz dono do próprio nariz!
Um pai não pode mais corrigir a um filho, nem a mãe à filha. Um pastor ou uma
igreja repreender alguém? SIM! Mas para que isso aconteça não podemos ter
telhado de vidro. O apóstolo Paulo chega a dizer: você, que diz que não se deve
roubar, rouba? Isto é, para que tenhamos moral e dignidade para ralhar e puxar a
orelha, devemos proceder do modo correto. Dias atrás ouvi de um pastor o
seguinte: "estou com mais de 70% da igreja sem cooperar financeiramente, não sei
o que fazer!" Perguntei-lhe: o senhor é dizimista, ofertante constante? "Eu?
Não. Pois eu ganho da igreja, logo, o meu dinheiro já está dizimado." Que
vexame! Façam o que eu falo mas não façam o que eu faço... Deus não se agrada
disso. Por isso uma igreja deve ter uma membresia e um pastor que buscam pautar
as suas vidas nos ensinamentos do Senhor e não numa prática teórica sem conteúdo
moral e de vivência.
5 -
EXORTA COM
LONGANIMIDADE E DOUTRINA - Quando as nossas traduções falam sobre EXORTAÇÃO e
ADMOESTAÇÃO, parece estarem falando da mesma prática. Apenas parece, pois não
estão. EXORTAR é ENCORAJAR, FORTALECER. Já ADMOESTAR é puxar a orelha. A Bíblia
manda que nossas igrejas fortaleçam os seus membros com LONGANIMIDADE, isto é,
por muito tempo, o tempo todo. Não devemos desistir das pessoas, abandonando-as.
É certo que devemos expulsar os falsos irmãos, os que penetram para tumultuar.
Mas aos irmãos legítimos e faltosos, devemos com a DOUTRINA fortalecê-los na fé
com ânimo redobrado. Mas é fundamental que tal encorajamento seja fundamentado
NA DOUTRINA e não com balelas, falsas promessas, com profetadas mentirosas ou
revelações compradas. É a DOUTRINA que irá fortalecer os irmãos em Cristo.
Ensinar-lhes a doutrina da depravação total, da graça e do chamado do Senhor, da
regeneração, da conversão, da justificação pela fé, da remissão dos pecados,
isso é que irá fortalecer o crente. A rocha é a Palavra de Deus, a rocha é
Jesus, e não um monte de besteiras de auto-ajuda.
6 - SÊ SÓBRIO
- primeiramente o sentido de lúcido, de quem não está alcoolizado. Mas também de
ser ajuizado, maduro, cônscio de seus deveres, em perfeito juízo para tomar
as decisões. Igrejas devem amadurecer na fé pelo ensino das Escrituras Sagradas
e pelo exercício da vida cristã. Essa sobriedade tem que existir no coração de
um pastor. Ele não deve ser fadado ao emocionalismo, sujeito a qualquer vento de
doutrinas, nem tampouco explosivo, estando no Monte Horebe num domingo e no Vale
dos Ossos Secos no outro. O equilíbrio é esperado. É melhor ter pouco sorriso e
muita paciência com serenidade do que ser emotivo, mutante e absolutamente
imprevisível. As pessoas buscam igrejas e pastores que sirvam de âncora e de
referencial ao longo dos anos e não apenas quando tudo vai bem. A sobriedade
evita a embriaguês diante de propostas mirabolantes de crescimento fácil. Tudo o
que é duradouro leva tempo e exige sacrifícios.
7 - SUPORTA
AS AFLIÇÕES - Há quem não queira suportá-las, temendo o que os amigos irão
pensar ou com medo dos mais fortes e divergentes. Essa covardia não edifica.
Coragem é o caminho. Afinal, nem os amigos e nem os líderes darão conta diante
de Deus pelo trabalho que as nossas igrejas ou os nossos ministérios exercem.
Deixemos que atirem sobre nós as pedras. Suportemos as dificuldades, as
angústias, as tristezas. Igrejas que buscam a fidelidade possuem auditórios
reduzidos, e quando pequenas, diminutos. Sei que há colegas que já celebraram
cultos de oração sozinhos. Não importa. Suportemos. Lembro-me de um pastor que
perdeu 70% da membresia. Um líder abriu um trabalho "avivado", prometeu bênçãos
e foi aventurar-se. O pastor, coitadinho, ficou na igreja, sofrendo calado, mas
firme e suportando as aflições. Não passaram-se 3 anos e todos, com exceção do
líder, voltaram. Por que? Porque viram no pastor e na maneira de suportar a luta
um exemplo que o suposto novo líder não dera. Vale a pena
aguentar.
8 - FAZE O
TRABALHO DE UM EVANGELISTA- E trabalhar como evangelista hoje é muito difícil. O
que é evangelismo para o neoevangelicalismo? É celebrar, é fazer louvorzão, é
dançar, é fazer barulho, é curtir, é encher casas e retiros, é tornar a igreja
grande. Isso não é bíblico. Evangelizar, na bíblia, é levar boas-novas aos
perdidos. Para tanto, é necessário que se apresente a perdição das pessoas, a
sua condição de condenado, o plano de salvação em Cristo e a maneira de
recebê-lo como Senhor e salvador. É preciso voltar ao PLANO MESTRE DO
EVANGELISMO. É preciso voltar a conduzir pessoas à oração de confissão, ao
discipulado, ao doutrinamento, ao batismo. Sem isso teremos grandes reuniões,
mas fracas igrejas. Cada crente deve ser um evangelista. Se não sabe pregar,
convide. Se não sabe convidar, envie cartas, escreva e-mails, use redes sociais,
ofereça o carro, mande imprimir folhetos, torne-se um Gideão Internacional
(distribuidor de Novos Testamentos), mas seja um agente portador de boas-novas
em Cristo.
9 - CUMPRE
CABALMENTE O TEU MINISTÉRIO - Igrejas devem cumprir o IDE de Jesus. Pastores
devem ser fiéis ao chamado que receberam por parte de Deus. E ministérios devem
ser cumpridos cabalmente, até o fim. O suco deve ser sorvido até o fim; a
ampulheta deve derramar toda a areia. Então o ministério estará cumprido. Nenhum
esforço é demasiado na Obra do Senhor, uma vez que Deus, em Cristo Jesus, já fez
de tudo e deu o Seu melhor por nós. Tudo o que fizermos será ínfimo, mas terá
que ser o TUDO. Todo o tempo, todos os bens, toda a atenção, toda a agenda, toda
a fidelidade, toda a dignidade, enfim, tudo. Chega de projetos que começam e
param, idéias que não saem do papel, cargos que se assumem e que tornam-se
inexistentes. Temos um Deus a quem prestaremos conta de tudo. Que façamos para
ele o melhor.
Era isso que
eu gostaria de ouvir de alguém se estivesse sentado no banco de minha igreja,
encorajando-me para lutar neste mundo injusto e desigual. É assim que encaro o
ministério e a igreja. Só assim teremos alguma identidade cristã para manter. Só
assim poderemos ainda levar com dignidade o nome IGREJA, CRISTÃO, DISCÍPULO,
CRENTE. Só assim teremos argumento e ação neste mundo em
crise.
Que Deus nos
ajude.
Wagner
Antonio de Araújo
Igreja
Batista Boas Novas do Rodoanel,
Carapicuíba,
São Paulo, Brasil
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