Crônicas de
Verão
01 - Domingo, 01 de fevereiro de 2004
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AROMA DE
PINHO CAMPOS DO
JORDÃO
Na manhã deste
domingo eu visitei o ponto de pregação de nossa igreja, situado no bairro de
Vila Souza, zona norte da capital paulista. Ali, na casa da irmã Leontina, pude
servir ao Senhor, pregando a Sua Palavra, como mensalmente o faço. Eu os visito
de quando em quando.
Ao chegar, somente a
dona da casa estava presente, aguardando o início do culto. Porém, em seguida,
chegou o querido irmão Israel. Ele, com sua alegria peculiar, o seu jeito
humilde e simples, abraçou-me, dizendo: "bom dia pastor! Que bom estarmos na
Casa do Senhor!" E, com o seu abraço, veio também a nostalgia, pois ele estava
usando o Pinho Campos do Jordão.
Eu conhecia o aroma,
porque trabalhei em farmácia aos 13 anos. Eu entregava remédios, aplicava
injeções e limpava todas as prateleiras, inclusive de perfumaria. Então, quando
limpava a parte dos cosméticos, abria a tampa dos desodorantes, para conhecer os
seus aromas. E o pinho era um desodorante bem em conta, e de um cheiro
duradouro. Por isso identifiquei com facilidade o perfume do
Israel.
Ele estava bem
alinhado. Um moço humilde, com os seus quarenta e poucos anos, sem carro, sem
casa, sem posses, dono apenas de um excelente caráter e de uma vida ilibada,
poderia gastar o seu domingo dormindo, passeando, pescando, indo jogar bola,
enfim, fazendo o que quisesse. Mas escolheu servir ao Senhor, mesmo cansado pela
labuta diária do trabalho. E veio contente à igreja, com um sorriso nos lábios,
bíblia à mão e muita fé no coração. Para ele, o ponto alto da semana é o Dia do
Senhor.
O Israel me fez
lembrar os crentes da roça. Ah, aqueles crentes valiosos! Geralmente labutam na
roça e na beira dos rios durante toda a semana, de sol a sol, calejando as mãos
no manuseio de foices e enxadas, suando a face e criando couro na sola dos pés.
E, ao chegar o domingo, dia de descanso, acordam bem cedinho, assim que o galo
começa a cantar (lá para as três da manhã), e se trocam, colocando uma marmita
na sacola e pegando a sua bíblia surrada e bem marcada. Com coragem pegam a
estrada.
E
andam, andam, andam. Os que têm cavalos conseguem fazer isso com menor esforço.
Mas, a grande maioria, vai à pé mesmo, sem medir a distância por quilômetros,
mas por léguas. Sobem morros, descem barrancos, e vão caminhando. Lá pelas dez
da manhã chegam ao templo, perdido no meio do alto da montanha. Abrem a igreja,
varrem tudo, passam um pano nos bancos, afinam a viola, recebem os outros que
vão chegando, e louvam ao Senhor longamente. Depois o pregador, pessoa simples e
sem muito estudo, abre a boca e fala tudo o que sabe, às vezes sem homilética
alguma, mas com toda a fé e boa vontade do mundo. Daí, após umas duas horas, o
culto termina e eles vão até o gramado, estendem as toalhas e tiram a bóia fria
para fora, comendo gostosamente o seu arroz, feijão e ovo frito, ou um pedaço de
frango e uma boa fruta para sobremesa. As crianças brincam, os jovens conversam,
as mocinhas sonham, e logo o sol avisa que é hora de picar a mula, seguindo de
novo, pois não há tempo para dois serviços na igreja num só dia. E lá vão os
heróis da roça, de volta para os seus rincões, não sem antes suar muito, andando
à pé e, não poucas vezes, descalços (o sapato e a "roupa boa" é só para a hora
do culto).
Se alguém tinha motivos para não servir a Deus, esse alguém era o
roceiro crente. Podia descansar, ficar em casa o dia todo! Mas não, ele luta,
labuta, se dedica. E, ao chegar em casa depois da viagem, cansado, ainda tem que
arrumar a tralha toda para pegar no batente cedinho, no dia seguinte. Tem roçado
pra cuidar, geralmente que nem dele é, uma vida muito difícil! Porém, é esse
mesmo roceiro que não mede esforços para que chegue o próximo domingo. Ele serve
a Deus por prazer!
Nós, aqui da
geração urbana, aprendemos a viver com facilidades. E colocamos tanto empecilho
no serviço do Senhor! Tudo é difícil! Cantar no coral? Fazer evangelismo?
Participar de atividades especiais? Ir à igreja de manhã e à noite? Tenho
conhecimento de que duas igrejas internacionais muito conhecidas, estão
orientando os seus milhares de membros a não virem ao templo, mas participarem
do culto pela internet apenas, é mais fácil. Lá no site eles encontram pregações
para todos os gostos. Será que tem oração específica também? Cada um faz o seu
pratinho de refeição espiritual. Seus líderes apenas solicitam que os dízimos
sejam enviados corretamente através do cartão de crédito, não precisando mais
preocuparem-se com nada. Eu aplaudo a
tecnologia, eu também a utilizo (é por ela que envio os meus textos!). Mas, será
que é assim que Deus quer que o sirvamos, isto é, solitariamente, sem esforço e
inter-relações eclesiásticas? Um serviço solitário, dentro da minha casa, fácil,
cômodo, seguro, num tempo livre que tiver, substituiria o esforço pelo
Reino?
O
Israel é um exemplo pra mim. Para ele o Dia do Senhor é uma bênção. Quando chega
a tarde ele sai com um maço de folhetos, deixando-os nas casas. E não tem
preguiça. Ele diz que Jesus fez muito mais por ele, portanto, tem prazer em
servi-lo.
Como precisamos de
israéis em nossas igrejas! Como precisamos ser israéis em nossa
devoção!
Agora, toda vez que
eu sentir o aroma do pinho Campos do Jordão, me lembrarei desse jovem valoroso,
que ama a Jesus, e procurarei também amar mais a Jesus, dedicando-me melhor e
com mais empenho ao Senhor.
Um abraço a
todos.
Pr. Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas
Novas de Osasco, SP
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