quarta-feira, 17 de junho de 2015

memórias literárias - 210 - SOMOS COMO A NEBLINA ...

 
SOMOS COMO A NEBLINA...
210
São Paulo, Brasil, 10 de fevereiro de 2012
 
Mais uma vez a fragilidade da minha saúde expressou-se no peito, dizendo-me: "põe em ordem a tua casa..." ( 2 Rs 20.1)
 
Como os amigos sabem, tenho problemas cardíacos profundos, mantenho seu ritmo, pressão arterial, evito o inchaço no tórax com medicação (um dos remédios parou de ser fabricado, tenho consumido o que sobrou no meu estoque particular, Mexitil 200 mg).
 
Mas isso tudo não mantém alguém vivo. No momento em que o Senhor disser: "é certo que morrerás", eu irei. E como bendigo ao Senhor pelo perdão de meus pecados e pelo sacrifício que Jesus Cristo fez na cruz do Calvário em meu lugar! Em Cristo Deus me aceitou como um filho adotivo seu, lavou-me dos pecados e deu-me a vida eterna. Aleluia!
 
Enquanto dormia, pela madrugada, tive uma arritmia bárbara. Saltei literalmente da cama, assustando a minha esposa. Ela ficou perplexa, assustada. Eu, ofegante, sem ar, com uma dor intensa e contínua no peito. Seria infarto? Chamaria o resgate? O SAMU?
 
Como conheço de longa data os desequilíbrios do meu coração, corri para o andar de baixo, para tomar dose dupla de minha medicação, uma vez que sem ela certamente eu desmaiaria. Além do que a dor era intensa, como se eu tivesse levado um grande chute no peito. As pontas das mãos e pés adormeceram e eu já enxergava tudo amarelo.
 
Lembrei-me de um e-mail que recebi por estes dias de um pastor muito conhecido, que extraiu um rim e está se tratando numa casa de campo. Falou-me dos bem-te-vis e da importância que estava dando a coisas que até então estavam relegadas a um plano de menor importância. Dizia-me que queria dedicar-se às coisas que eram verdadeiramente importantes, priorizar o que realmente valeria à pena no resto do tempo que Deus lhe desse.
 
Tomei o meu remédio. Elaine, branca como a neve, mais uma vez desceu, colocou a mão em meu peito e ficou em oração, branda e contínua, amorosa e resigndamente, até sentir alguma melhora. O meu peito quase ameaçava arrebentar. Mas aos poucos, com a dose cavalar de propranolol e mexitil, analgésico e água, as coisas foram tomando novamente o seu rumo, restando apenas a dor e o mal estar.
 
Subi e fiquei na varanda, a tomar um pouco de ar, nesta quente madrugada de verão. Uma brisa mais fresca veio visitar-me. E a presença de Deus não me faltou.
 
Vivo no bonus desde outubro de 1982, quando os médicos mandaram minha mãe encomendar um caixão. Ela não o fez e eu esqueci de morrer. Ela se foi e eu fiquei. O médico também se foi e eu ainda estou aqui. Havia um propósito do Senhor. E eu bendigo a Deus por estar envolvido em um plano dEle, em uma senda que Ele mesmo colocou em meu caminho.
 
Mas sou mortal e talvez o meu prazo de validade esteja se expirando. Não tenho medo algum. Tenho gratidão! E tenho alegria. É claro que sentiria muito pelos meus entes que ficariam, principalmente a esposa amada, meu irmão e família, minha irmã adotiva, minha igreja. Mas certamente eles também seriam gratos pelo tempo que tivemos juntos.
 
Só que esse relógio (Kairós) não está nas minhas mãos. Só o Kronós. E neste eu ainda estou vivo. Eu melhorei. Adormeci. A dor passou. Acordei pela manhã sem dor e sem arritmia, sem falta de ar. O Senhor poupou-me novamente. Ele quis e fez assim.
 
Só quero viver o resto a dizer: "Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve". E quero realmente ouvir Sua voz: por onde andar? O que escrever? Onde te servir? O que dizer? O que sentir? A quem testemunhar? O que estudar? E não quero apenas  ouvir a voz; quero COMPREENDER a voz, pois muitas vezes Deus nos fala, mas nós estamos como que a ouvir só trovões, não discernimos a Sua doce e melodiosa voz. E a voz do Senhor é poderosa, ela "quebra os cedros do Líbano".
 
 Um dia ofereci-me ao serviço do Senhor. Quero gastar-me até o final. Não penso nunca em aposentar-me, talvez porque os anos ainda não pesaram nas costas, como em veteranos obreiros da Seara. Mas gostaria de morrer em serviço, pregando, escrevendo, orando, evangelizando, servindo.
 
Das três coisas que dizem realizar um homem, já fiz duas: escrevi um livro e plantei uma árvore. Ainda não tive um filho. Quem sabe o Senhor me abençoa neste afã e eu ainda tomo em meus braços um infante do Senhor vindo de meus lombos?  (pós scriptum: hoje, 2015, minha esposa espera a nossa filha. Aleluia!)
 
Bendigo a Deus pelos artigos que escrevi, pelos livros publicados só na internet (Crônicas, Páginas Soltas, Rota 44, Flor-de-Maio, Antes de Entardecer, Falando Francamente, Praia Grande, etc). Bendigo ao Senhor pelas igrejas que servi (Sumarezinho, Vila Mirante, Vila Souza, Boas Novas do Jardim Brasil, Bela Vista Osasco, Boas Novas Osasco/Carapicuiba, Vargem Grande, Sinai de SP). Bendigo ao Senhor pelas associações e convenções onde participei (CBB/CBESP/ABAFER/ABANOC/ABANORC/OESTE CAPITAL, OPBCB). Bendigo a Deus porque nenhuma capacidade eu teria se do Alto não fosse permitido, e unicamente para a glória e o louvor dEle.
 
Prosseguirei enquanto der. Até o fim. E o fim será só o começo.
 
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. (Ap 21:4)
 
São Paulo, Brasil, 10 de fevereiro de 2012
 

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