ARRANQUE O MATO
Wagner Antonio de Araújo
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Eu tive um sonho.
Sonhei que morava numa casa bonita, num terreno com caída para dentro. Nesse
sonho, eu fizera um jardim muito bonito, cheio de rosas, margaridas, hortências
e cravos. Mas no instante do sonho, tudo o que eu via era um matagal na frente
da casa, um terreno abandonado, cheio de mato, com mosquitos, lixo, entulho e
muita sujeira. Onde antes era um colírio para os olhos e um perfume para o
nariz, agora tornara-se um horrível testemunho de descuido e
abandono.
Pensei: "Cadê o meu jardim? Quem plantou esse mato? Eu só plantei flores, por que será que o capim invadiu tudo?" Lembrei-me, no sonho, que dia após dia eu cuidara do jardim com amor e atenção, mas que viajara por uns tempos, e estava chegando em casa. Certamente ninguém zelara, e o resultado era aquele: um desastre!
Então acordei. Pus-me a pensar na cena tão interessante que vira, e Deus conduziu-me à refletir sobre minha vida cristã.
Temos em nós um jardim, plantado pelo Senhor no dia de nossa conversão a Cristo. Deus coloca em nós rosas perfumadas, bonitas e viçosas, flores das mais variadas espécies, aromas e perfumes que alegram e agradam o Seu coração. Somos novas criaturas, somos transformados e enviados como luz no meio de trevas, sal no meio de um mundo deteriorado. Contudo, a ordem é para que cuidemos do jardim. "E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar." (Gn 2:15); "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor;" (Rm 12:11). Plantar foi obra do Senhor; cuidar desse jardim é a nossa responsabilidade.
Há coisas que só Deus é capaz de fazer, e as faz, quando é Sua vontade. Outras, contudo, Ele nos ordena fazer, e não adianta lançar sobre Ele a responsabilidade por realizar aquilo que nos está designado. Recordo-me de Paulo, a dizer ao seu discípulo Timóteo: "Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá." (1Tm 4:13). (Alguns há, hoje em dia, que querem que Deus estude por eles...)
Lembrei-me
também de Lázaro, o ressuscitado. Chamá-lo de volta à vida foi a tarefa de
Jesus: "E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro,
sai para fora." (Jo 11:43); porém, tirar a pedra e, depois, tirar suas
faixas mortuárias, foi tarefa dos homens: "Disse Jesus:
Tirai a pedra..." (Jo 11:39a);" ... Disse-lhes Jesus:
"Desatai-o, e deixai-o ir. (Jo 11:44b) . Assim também devemos a nossa
salvação à graça e ao amor do Senhor. Não poderíamos salvar-nos. Deus fez isto
por nós, enviando Seu Filho unigênito como sacrifício expiatório. Bendito seja
Deus por tão grande salvação! " Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." (Ef 2:8).
Porém, zelar de nossa vida, como a lavrar nosso jardim, é a nossa tarefa. Se não
o fizermos, o mato invadirá, e Deus não impedirá.
De onde vem
esse mato? Afinal, não plantamos mato, plantamos flores! O mato pode ter
aparecido no meio do estrume que adubou a terra, ou ter sido trazido pelos
pássaros, ou ter qualquer outra origem. Mas que ele surge, ah, isso surge! Que o
digam os lavradores de plantão, caso não capinem suas lavouras! Quem não arranca
o mato que nasce o tempo todo, ao invés de colher o que plantou, colherá
palha às pampas!
Imaginei que em meu
jardim mal-cuidado quatro tipos de mato tivessem crescido, similares àqueles que
crescem na vida de todo cristão que não vigia, que não ora, que não observa os
princípios do Senhor, que vive na carne, dela colhendo corrupção e
amortecimento.
1o. MATO: DESCONTROLE
FINANCEIRO
Diz a Bíblia: "A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis
uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei." (Rm 13:8).
Quem se endivida dá mau testemunho, além de tornar-se escravo de seus credores.
Há pessoas que devem porque emprestaram seu nome para amigos e parentes, que
lhes prometeram pagar corretamente, e hoje arcam com todas as conseqüências.
Tornaram-se fiadores. "Não estejas entre os que se
comprometem, e entre os que ficam por fiadores de dívidas,"(Pv 22:26) ;
"O homem falto de entendimento compromete-se, ficando por
fiador na presença do seu amigo." (Pv 17:18).
Há alguns que
vivem pendurados nos cartões de crédito, no cheque especial, nos cheques
devolvidos, nos financiamentos a curto e médio prazo, e, por não administrarem
bem ou por um desastre financeiro súbito, ficaram obrigados a pagar juros que,
não raras vezes, são superiores ao que entregariam ao Senhor como dízimo. Contra
o dízimo e ofertas fazem severas asseverações, mas contra os juros altíssimos
que pagam, não reclamam. Aliás, já nem conseguem pagar, e têm seus nomes em toda
a lista do comércio como maus pagadores. Que vergonha! Vivem de cheque especial
e de financiamentos múltiplos, e às vezes socorrem-se de agiotas.
Esse é o MATO
DO DESCONTROLE FINANCEIRO. Deus nunca desejou aos seus filhos esse tipo de vida.
E não adianta reclamar depois, dizendo: "Ah, Deus, que provação! Por que
permites? O Diabo está atacando a minha vida!" O Diabo? Não, o Diabo está é
agradecido pelo serviço voluntário! Não é o Diabo, e nem provação de Deus; é a
conseqüência da imprudência, de quem se propõe a construir um castelo e não tem
com que terminá-lo. Diz o Apóstolo Paulo: "Tendo, porém,
sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes." (1Tm
6:8). Por que tivemos que comprar aquela máquina que não nos serviu de nada? Por
que adquirimos algo tão caro, quando algo mais barato serviria igualmente? O
consumismo desenfreado se chama PECADO, e leva à falência. Geralmente, depois de
consumir, desinteressamo-nos do produto, e já saímos à caça de outro objeto. Que
escravidão! Somos chamados a não dever nada, nem uma agulha, nem uma moeda, a
ninguém. Somente o amor, esse sim, é nossa dívida.
2o. MATO -
RESSENTIMENTO
Ah, que mato
terrível esse, o dos sentimentos feridos! "Tendo cuidado de
que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura,
brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem." (Hb 12:15) ;
"Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e
toda a malícia sejam tiradas dentre vós", (Ef
4:31).
Lembro-me, lá na roça, quando as vacas, à tarde,
pastavam tranqüilas perto da casa de minha tia "Bastiana". Elas não comiam nada
naquela hora, mas estavam a mastigar sem parar. Era a ruminação: vomitavam o que
comiam pela manhã, e re-mastigavam inúmeras vezes. Ressentimento é isso: é
sentir novamente a dor, a ofensa, a tristeza, a injustiça, o mal-feito, etc. E
sempre nos achamos certos, justos, sempre temos toda a razão para nos sentirmos
assim. Somos os injustiçados. Só existe um problema: somos injustos também,
desmerecedores da graça. Se Deus nos tratasse como merecemos, ou como
gostaríamos que os nossos algozes fossem tratados, já há muito seríamos cinzas
ao vento. Mas Assim como "As misericórdias do Senhor são a
causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm
fim;" (Lm 3:22), assim também devemos ser misericordiosos com quem de nós
não merece muita coisa. Assim como Cristo nos perdoou, nós também devemos
perdoar. E todas as vezes que nos lembrarmos do que fizeram contra nós, também
nos lembraremos que já os perdoamos no amor de Cristo.
Perdão cura ressentimento. Perdão cura o ódio. E
perdão cura a própria pessoa, que pensa estar punindo aquele de quem mantém o
ódio e o ressentimento. Engana-se, pois a grande prejudicada é a própria pessoa,
cujo sangue e humor estão contaminados de mágoa, provocando toda sorte de
doenças psicossomáticas. Quando perdoamos, somos perdoados, e muitas
enfermidades conseqüentes são curadas também. Glória a Deus por
isto!
3o. MATO - IMORALIDADE
O terceiro mato é o MATO DA IMORALIDADE. Moralidade,
ética, decência, dignidade, honestidade, honradez, polidez, tudo o que se pode
encaixar num tema tão amplo, é o que esse mato tem destruído. Infelizmente a
história cristã está repleta de pastores que dão mau exemplo, e os nossos dias
têm sido pródigos nesse afã. Pastores que fogem com as secretárias da igreja, ou
que são flagrados em relações homossexuais com adolescentes; membros que mantém
vida dupla e casos com amantes; igrejas que vendem materiais contrabandeados em
nome da ação social; namorados que "adiantam as carroças na frente dos cavalos",
pelo simples fato de que "se um dia seremos um do outro, por que esperar?";
crentes que não honram suas famílias e igrejas, igrejas que exploram seus
obreiros e os demitem como se fossem a escória do mundo, etc.
Eu penso na juventude evangélica, a contemplar
apóstolos que negam um crime e, à seguir, fazem acordos, confessando o que não
fizeram, para safar-se de penalidades maiores. Penso em presidentes de
convenções que traem suas famílias, ministros de música que levam vida dupla,
pregadores de um sermão só, que condenam a prostituição e vivem a prostituir-se
em secreto. É o Evangelho da Porta Larga! Vejo pastores expulsos de suas igrejas
porque adulteraram, não se arrependeram, e levaram um grupo fiel, que dá
continuidade ao seu ministério. Meu Deus, que mundo é esse? Mas se eu não cuidar
do meu jardim, o mato da imoralidade virá destruir minha vida também, porque
também sou pecador. "Aquele, pois, que cuida estar em pé,
cuidado para não cair." (1Co 10:12) Devo vigiar, devo tomar cuidado,
devo arrancar o mal pela raiz, logo no começo. "Abstende-vos
de toda a aparência do mal. " (1Ts 5:22) ; "Fugi da
prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se
prostitui peca contra o seu próprio corpo." (1Co 6:18); "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos
em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu
sou santo. " (1Pe 1:15, 16)
4o. MATO - FRAQUEZA ESPIRITUAL
O quarto mato, o MATO DA FRAQUEZA ESPIRITUAL, é o
pior de todos. Porém, se os três primeiros forem tratados, ele não terá mais
forças para sobreviver, e cairá de maduro, destruído. Esse mato faz com que o
crente não tenha mais comunhão nem com Deus e nem com os irmãos em Cristo; faz
com que não sinta mais a presença de Deus; tira sua força e autoridade contra as
tentações; transforma-o num fracassado em tudo o que faz; descaracteriza a
beleza de Cristo em seu viver. "Portanto, os que estão na
carne não podem agradar a Deus." (Rm 8:8); "Sois vós
tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela
carne?" (Gl 3:3); "Porque o que semeia na sua carne,
da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará
a vida eterna." (Gl 6:8)
Para superar essa fraqueza, muitos irmãos, ao invés
de arrancarem esse mato pela raiz, usam de paliativos que nada resolvem, como a
freqüência a "louvores exóticos", a cultos frenéticos, com práticas emocionais
extremas, na geração de experiências avassaladoras, buscando uma "nova unção",
como se a "velha" tivesse perdido seu prazo de validade. Na verdade, a unção de
Deus nunca perde a eficácia, e chega às raias da blasfêmia a constante busca de
novas; é como se disséssemos a Deus que Sua graça não tem sido de grande
duração. Cautela, irmãos! Nós é que a abandonamos a consagração. Até o chamado
"primeiro amor", citado em Apocalipse, não foi "perdido", mas "abandonado":
"Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro
amor." (Ap 2:4)
Poder espiritual, tenha o nome que tiver, se obtém
através de uma vida onde haja SANTIDADE MORAL, SANTIDADE FINANCEIRA e SANTIDADE
EMOCIONAL. Sem isso, tudo é palha e mera ilusão, e o MATO DA FRAQUEZA ESPIRITUAL
cobrirá de palha, lixo, galhos infrutíferos e sujeira a nossa vida efêmera.
"E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e
orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu
ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra."
(2Cr 7:14)
Queira Deus que nós, com a graça de Jesus, e no poder do Espírito Santo, cuidemos do jardim que Ele plantou em nós, e não deixemos o mato tomar conta, e combatamos dia após dia os matos indesejados do descontrole financeiro, do ressentimento e da imoralidade, para que também o mato espiritual seja destruído, e sejamos como o Jardim do Édem em nossos corações! "E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam. " (Is 58:11)
Que Deus nos abençoe.
Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas Novas de
Osasco, SP
05/08/2007
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