UM
PAR
DE
MEIAS
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Ele estava
sentado na calçada. Sentia frio. Seus pés estavam descalços. Seu nome era
Aluísio. Não era um mendigo ou um andarilho. Era um homem triste e fracassado.
Fazia um mês que estava na rua. Perdera o emprego, brigara com a esposa, foi
agredido pelo filho e então, entristecido e acabado, decidiu sair de casa. Como
sói acontecer, os amigos desapareceram. Sobrou-lhe a rua tão
somente.
A menina
estava com a mãe na loja de roupas. Olhou para o homem na calçada e
disse:
- Mamãe, olhe
aquele homem. Ele sente frio!
- Deixa pra
lá, menina. Ele se arranja. Vamos comprar as roupinhas de frio.
Venha...
Elas entraram
e foram escolher suas roupas. Blusas, camisetas, calças, agasalhos, meias ...
Meias? Sim, aqui estava algo que a menina poderia fazer.
- Mamãe,
mamãe, posso pedir uma coisa?
- Sim, filha.
O que é?
- Posso pegar
um par de meias para aquele homem da calçada?
- Mas, filha,
ele vai jogar fora! Eles não dão valor para nada. Depois alguém doa algum par de
meias usadas. Pare de pensar nisso...
A menina não
ficou feliz. Foi até a porta da loja e viu aquele homem cabisbaixo, na calçada,
sujo e entristecido. E tremia de frio.
Voltou para a
mãe, que estava no caixa.
- Mamãe, por
favor, deixe-me levar um par de meias para aquele homem.
- Não
insista, filha. Ele se vira.
- Por favor,
mamãe, por favor, por favor..
- Está bem,
está bem. Vamos logo. Pegue a mais barata.
- Mas, mamãe,
ele sente frio. Deixa eu dar esta, é tão grossa e
quentinha!
- Ai que
menina!
Ela correu,
pegou um par de meias bem grossas, pretas, correu para o homem e
disse:
- Moço,
moço!
- Oi, meu
bem.
- Eu trouxe
para o senhor esse par de meias. Espero que elas aqueçam os seus
pés!
- Ô, minha
filha, muito obrigado pelo carinho! Deus te abençoe!
- Eu espero
que o senhor melhore e que as meias aqueçam também o seu coração..
Tchau!
E saiu
correndo.
Aquelas
palavras mexeram com a alma de Aluísio. Aquecer o coração? Como ela poderia
saber que o seu coração sentia frio? Ah, estava na cara! Ele não poderia estar
bem naquela situação. Lembrou-se de tudo o que ficara para trás: sua esposa, seu
filho, sua casa, seu carro, sua dignidade. Agora dormia na rua, com ratos e
baratas, comia lixo e não tinha amigos. Ele precisava aquecer o
coração.
Vestiu as
meias. Elas imediatamente aqueceram os pés, que cortaram o frio do corpo.
Sentiu-se melhor. Mas as palavras da menina fizeram-lhe enxergar que ali não era
o seu lugar. Caminhou até o posto de combustível e deu-lhe duas notas de dois
reais, pedindo ao frentista que lhe deixasse usar um telefone. Seria ligação
local. O frentista, comovido, emprestou-lhe o próprio celular.
- Maria?
- Aluísio?
Graças a Deus! Onde você está? Eu não aguento mais lhe procurar! O seu filho
está doente, não foi mais à escola. Ele se culpa! Pelo amor de Deus, onde você
está?
Bem, essa
estória terminou assim:
Aluísio
voltou para casa. O flho pediu-lhe perdão. A esposa o acolheu, deu-lhe um banho,
colocou as suas boas roupas e em quinze dias ele encontrou um trabalho, não do
jeito que queria, mas o que estava disponível. Em dois meses ele recolocou-se no
velho ofício.
Tudo que usou
na rua ele jogou fora; apenas guardou num quadro de vidro o par de meias grossas
que ganhara da menininha de bom coração. Embaixo, nos dizeres da obra, estava
escrito: "UM PAR DE MEIAS, PRESENTE DA MENINA QUE AQUECEU O MEU
CORAÇÃO.
Wagner
Antonio de Araújo
Que linda estória! Que benção se todos pudessem aquecer o coração de alguém!
ResponderExcluirSerá que damos oque realmente aquece ou damos as sobras . SENHOR tenha misericórdia de nós, nos ensina a amar como JESUS amou.
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