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QUITÉRIA
&
SOLEDADE
QUITÉRIA era
uma crente fiel. Convertera-se em idade adulta, já casada, viúva, e batizara-se
numa igreja batista tradicional. Seu marido chegou a converter-se, mas faleceu
logo após o fato. Quitéria, então, dedicou-se ao Senhor com amor, empenho e
completa consagração. Enquanto podia locomover-se, não faltava a nenhum culto.
Estava sempre nos primeiros bancos. Frequentava a Escola Bíblica Dominical,
participava da Sociedade de Senhoras, era dizimista consagrada, ofertante
voluntária e hospedava com amor e dedicação a quem procurava o seu lar. Seus
filhos também eram crentes. Mas Quitéria envelheceu e suas pernas não deram mais
a resposta necessária. No começo ainda andava pela casa. Depois, só de cadeira
de rodas. E, por último, ficou restrita ao seu leito de dor. Quitéria não ficou
descrente. Pelo contrário, empenhou-se muito mais: pedia cultos em casa, enviava
seus dízimos para a igreja, convidava o pastor para almoçar, recebia as senhoras
para estudos em casa. Até pedia para que gravassem as mensagens do pastor para
que pudesse ouvir em seu aparelho de som. O seu telefone tornou-se um
ministério: orava com todos, ajudava, instruía, encorajava. E estava sempre
feliz, feliz com Cristo, feliz com Jesus.
SOLEDADE também
conheceu o evangelho. Estava ao lado de seu esposo. Juntos consagraram-se ao
serviço do Reino. Já em idade avançada, tudo faziam para participar das
atividades. Eram muito festeiros, muito alegres, mas também solidários e
tremendamente amorosos. Seu esposo morreu e, com ele, o empenho no Reino do
Senhor. Aos poucos Soledade foi perdendo o interesse pela igreja. Dizia-se muito
crente, falava de forma agradável com quem a procurasse para conversar. Mas não
sentia mais a alegria e o desejo de servir a Deus. Deixou de cooperar com a sua
igreja. Não dizimava, não ia aos cultos e sempre tinha uma boa desculpa: falta
de condução, falta de saúde, falta de mobilidade. Mas na verdade era falta de
temor do Senhor mesmo: sua hidroginástica, almoços no shoping e churrascos
familiares não faltavam.
Quitéria
morreu. Soledade também. Ambas foram sepultadas no mesmo cemitério. Uma lápide
parecida, flores semelhantes.
Mas o destino
de ambas pode ter sido absolutamente distinto.
Quitéria amou
ao Senhor de todo o seu coração e a Ele deu-se por completo. Mesmo com o marido
falecido ela não abortou Cristo de sua vida. Pelo contrário, dedicou-se muito
mais. Quitéria descansou no Senhor e ainda hoje, depois de muitos anos passados,
em sua igreja o seu nome continua sendo citado, lembrado e celebrado. Ela deixou
frutos e saudades. Saudades intensas de sua igreja. Saudades no coração de seu
pastor. Dela dão testemunho os irmãos, citando as palavras bíblicas: "E ouvi uma
voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora
morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e
as suas obras os seguem." (Ap 14:13)
Soledade coxeou
entre dois senhores: o Salvador e o mundo. Já há muito ela não fazia falta na
igreja, uma vez que a congregação aprendera a viver sem ela. Soledade deixou uma
grande dúvida no coração de seus irmãos de igreja: será que ela realmente era
convertida? Será que ela amava ao Senhor? Por que só servia a Deus quando o seu
marido era vivo? Por que tantas desculpas? Por que tinha tempo para a vida
social e para si própria e não tinha tempo ou condição de servir ao Senhor? Ao
invés de saudades e admiração Soledade deixou uma tristeza no coração da igreja:
não tinham certeza se sua fé era real. Aliás, os sintomas evidenciavam uma fé vã
e temporária, não a fé salvífica eterna e transformadora. Restou para a igreja
as lembranças de muitos anos atrás, quando ela e o marido serviam a Deus. Só
isso, mais nada.
Essas mulheres
realmente existiram, mas com nomes diferentes. Algumas coisas são reais, outras
apenas fictícias. Mas o comportamento de ambas é o retrato do comportamento de
tantas, esparramadas por nossas igrejas. A idade e as condições físicas não são
sinônimo de incapacidade espiritual e falta de comunhão. Um crente verdadeiro
não se afasta do Senhor, não perde a comunhão da igreja e nem deixa de ser fiel.
Já os crentes falsos são assim, possuem uma fé decadente. "Não tenho carro". Use
um ônibus! "Não tem ônibus". Peça carona! "Não tenho mobilidade física".
Solicite um culto em casa! "Meu dinheiro é pouco". Seja fiel no pouco, não só no
muito! "Estou entrevado" Escreva, telefone, chame o pastor ou os irmãos e atue!
Desculpas, desculpas, desculpas! Para estes cumpre-se a Palavra: "Assim
sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua necessidade como um homem
armado." (Pv 6:11)
As Quitérias
morrem e deixam saudades. As Soledades morrem e são esquecidas. E isso está na
Bíblia: "E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade
de Deus permanece para sempre." (1Jo 2:17).
Para a igreja,
Quitéria está no primeiro andar, no aguardo da grande ressurreição do Senhor;
ela é uma vencedora na fé. Ela deixou um rastro de luz pelo caminho e seu nome
está escrito nos Céus.
Quanto a
Soledade, nem a igreja e nem ninguém pode dizer com tranquilidade onde ela está.
Talvez o restaurante e o shopping possam afirmar com certeza: a cliente não
voltou mais e já a substituimos. Os festeiros poderão dizer: as festinhas que
ela nos oferecia acabaram e já encontramos outros realizadores. Mas onde estará
hoje Soledade? Só Deus sabe. Talvez até saibamos, mas gostaríamos de não
saber...Triste destino de uma crente nominal!
Foi o Senhor
mesmo quem disse: "Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." (Mt
7:20)
Que Deus
converta as Soledades de hoje, transformando-as em Quitérias. de
Jesus!
Wagner
Antonio de Araújo
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