O MORTO É QUEM MENOS IMPORTA
O MORTO É
QUEM MENOS
IMPORTA
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Dia de Finados é dia de
visitar cemitérios.
Algumas igrejas dedicam-se
a evangelização dos visitantes. Outras procuram sítios para descansar. Enfim, um
feriado.
Dos que visitam cemitérios
o grupo daqueles que pensam nos mortos é mínimo. A maioria está lá para outras
coisas.
Uns lá estão para cumprir
um compromisso social ou religioso. A família espera que se visite o cemitério
no Dia de Finados. Outros vão até lá para limpar o túmulo, acender velas,
colocar flores e rezar pelo ente querido. Nós sabemos, pelas Escrituras
Sagradas, que tais práticas não valem nada diante de Deus. Além disto, o morto
não cheirará as flores, não enxergará o clarão das velas e não ligará para um
túmulo caiado.
Outros vão para levar
familiares e deixar as crianças se divertirem. Formam grupos que consomem as
flores, os pastéis, o caldo de cana, os cataventos para a criançada e passeiam
pelos parques arborizados ou túmulos suntuosos. Estão ali para passear com a
família.
Um grupo bem pequeno,
porém, procura o cemitério para uma homenagem pessoal a quem partiu, uma
reflexão mais profunda sobre a vida de quem deixou uma lacuna, orfanou alguém,
deixou alguém viúvo. Esse grupo está lá para celebrar para si a memória de quem
foi tão importante e precioso; se deixa flores é para lembrar a si próprio o
valor que aquele ente tem em sua vida.
Mas o mundo contemporâneo
jaz cada vez mais no maligno e importa-se cada vez menos com o outro,
principalmente com o falecido.
Saí com a minha família
para visitar o túmulo de minha mãe. Desisti a 2 quilômetros da entrada: havia
uma fila imensa de carros para entrar no morro de acesso. Se ali ficasse
perderia umas cinco horas. Decidi não visitar o túmulo de meu pai, em outro
cemitério da zona sul de São Paulo pelo mesmo motivo. Levei a família para a
casa da vovó Masumi, onde almoçamos. Dali fomos ao cemitério onde o irmão de
minha esposa foi sepultado.
Logo na entrada encontrei o
comércio ambulante de flores e de velas. Vasos de 10, de 5 e de 3 reais. No
outro lado do estacionamento várias barracas com quitutes, sorvetes e sucos. E
no parque gramado de sepulturas um tapete colorido de vasos encantadores,
homenagens dos familiares aos seus queridos. Homenagem bonita de se ver no chão,
mas que não tem muita relação com a prática e com os assuntos de quem deposita
os enfeites.
Ao descer até o túmulo e
ver onde o meu falecido cunhado estava sepultado, passamos a ouvir um grupo de
mulheres a dois metros de distância. Elas falavam de tudo e com voz alta. Riam,
falavam bobagens, discutiam política, preço de condomínio, faculdade dos filhos,
custo de vida, verrugas nas costas e a última receita de bolo. Não respeitavam
as famílias que buscavam no silêncio do parque ou na solidão de um gramado e de
uma placa o instante da reflexão e da homenagem. Notava-se que eram mulheres
escoladas; contudo, escola não é berço de educação e nem significa superioridade
moral ou intelectual.
Assim que minha sogra, irmã
e filha se retiraram para tomar água próximas do carro, solicitei àquelas
senhoras que, respeitosamente, falassem um pouco mais baixo, pois estava
atrapalhando quem também desejava refletir em outros assuntos que não fossem os
delas. Imediatamente elas protestaram, agredindo-me verbal e violentamente,
dizendo que para isso há uma capela, que eram livres e que tinham direitos. Elas
disseram que continuariam a falar o quanto quisessem e que pessoas como eu não
tinham nada com isso. Alertei-as de que estávamos num cemitério e que o local
inspira respeito pelos demais familiares e sepultados. Elas, contudo,
professoras, discutiram sobre os seus direitos e sobre o quanto eu estava
invadindo a liberdade delas de se expressarem como
quisessem.
Esta é a sociedade
contemporânea, criada pela ideologia de esquerda e pelo pecado latente: somos
seres cheios de direitos. Os deveres? A esquerda e o pecado nem querem saber. O
que importa é o meu direito de protestar, de molestar, de falar alto, de fazer
imperar o que eu quero. E os incomodados que se mudem. Tais professoras chegaram
a sugerir-me que eu arrancasse o meu morto e que o levasse para um lugar
privativo. Isto porque eu apenas pedi respeito e silêncio, pois fora ao
cemitério não para conversar, discutir política ou passar receitas de bolo, mas
pensar no cunhado que eu nem conheci, irmão de minha esposa e que morreu no
final da sua adolescência.
O que faziam essas senhoras
ao pé da sepultura de um familiar? Nada que prestasse, certamente. Estavam ali
por um compromisso social, estavam ali para acompanhar outrem, estavam ali com o
coração em outras plagas. Então por que foram? De que valeu tal visita? Apenas
incomodaram os demais. Imaginei os anos que se passarão, caso Cristo não
regresse antes. Imaginei estas senhoras sepultadas. Imaginei os familiares,
filhos e netos, criados nessa educação refinada, a visitar os seus túmulos
também. O que estarão fazendo? O que conversarão? Será que terão alguma
lembrança das defuntas? Certamente que não. Pelo contrário, os rapazes falarão
sobre o Coríntians e o Palmeiras, e as mulheres trocarão receita de doce de
pimenta.
É preciso respeitar a
memória dos outros! É preciso respeitar o lugar onde se está! Antes de exigir os
nossos direitos, devemos cumprir com os nossos deveres! Não é o contrário! Nunca
foi! Mas essa formação tem que começar no lar, em casa, na família. Aprendemos a
respeitar o próximo em casa, quando exigimos o respeito à mãe, ao pai, aos
irmãos, aos tios, aos avós, aos vizinhos. E também na igreja, onde respeitamos a
hora do culto, o momento da oração, a entrega dos dízimos, o horário das
atividades, o pastor. Aprendemos na escola, quando obedecemos às regras,
respeitamos os professores, convivemos com os colegas, satisfazemos às
exigências das matérias. Aprendemos trabalhando, quando cumprimos o horário de
expediente, quando produzimos aquilo para o que fomos contratados, quando
tratamos com dignidade os patrões e os empregados. Um cristão tem que ser
respeitoso. Quem não respeita não é cristão.
E o morto? Este continuará
esquecido. Amanhã não será mais Dia de Finados. Os cemitérios se esvaziarão. As
flores murcharão. As velas virarão parafina retorcida e derretida. Os
estacionamentos estarão livres novamente. E os mortos continuarão sepultados,
tão esquecidos quanto antes. E quando a geração imediata passar, eles nem serão
reconhecidos, pois não terá sobrado memória viva de sua
existência.
Graças, porém, a Deus, que
os que fazem a vontade de Deus permanecem para sempre. Graças a Deus que a nossa
vida está escondida com Cristo, em Deus. Graças a Deus que, se o nosso
tabernáculo terrestre se desfizer (o corpo morreu), temos um novo, feito pelas
mãos de Deus, no Céu. E graças a Deus que um dia os mortos em Cristo
ressuscitarão!
Os homens esquecem os seus
mortos. Mas Deus não esquece de Seus filhos. Para Ele todos eles vivem. E vivem
para Ele. Aleluia!
Pastor Wagner Antonio de
Araújo
São Paulo, 02 de novembro
de 2016
lembrando hoje
de
mamãe
Elzira,
papai
Antonio
e o cunhado
Jorge
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