DOCES
MEMÓRIAS
...
eu, papai,
Daniel e mamãe, 1973
793
Para que os
meus filhos dormissem com a mãe (eles dormem juntos numa cama baixa) coloco
músicas instrumentais cristãs. Rute, sem pestanejar, pede: "a número 2, papai".
É a pasta de músicas que ela mais gosta. Pensei no quanto estas músicas
representarão para mim amanhã, quando Rutinha tiver crescido. "São as músicas
que ninavam a Rute." E terão um valor incomensurável.
Olho para a
minha bíblia velha, a que ganhei em 1979 de uma cliente da farmácia onde eu era
office-boy. Sinto como se o tempo voltasse, lembrando-me do gozo da salvação e
do primeiro amor pelo Senhor, das vezes em que passava o horário de almoço no
banco onde trabalhei a ler as Escrituras. Vejo as anotações que fiz aos 14 anos
e contemplo ali uma vida em formação. Lembranças...
Meu irmão
Daniel disse-me, saudoso, que estava sentado no "trono da mãe", uma velha
poltrona feita sob medida para ela, herdada por ele. Aquela poltrona traz
lembranças da mãezinha a telefonar para as suas irmãs, a orar pela família, a
participar dos cultos caseiros. Memórias...
O
que fizermos agora criará memórias para toda a vida. Quando vejo a capa do LP de
Waldo de Los Rios, Sinfonias, e vejo a foto dele com uma camisa estampada,
lembro-me do meu pai em 1970, quando também usava camisas assim. É como se eu o
visse a ler o seu livro deitado na cama, com um abajur aceso. Sinto-me pequeno
novamente e lembro-me daqueles anos antigos.
Nós geramos
memórias no coração dos outros. A maneira como falamos, a forma como nos
vestimos, as palavras que utilizamos, os nossos costumes, os nossos trejeitos,
as nossas rotinas. Os nossos objetos, hoje tão simples e inexpressivos,
tornar-se-ão memórias para aqueles que se lembrarem de nós. A pergunta que cabe
é: serão boas as memórias que deixaremos?
Se formos
pessoas boas, que praticam o bem, que buscam a paz e a harmonia, que semeiam
flores e estabelecem valores, sim. Se, pelo contrário, formos pessoas passivas
ou más, que praticam coisas erradas, que vivem belicosamente e estragam a
harmonia alheia, que semeiam ervas daninhas em todos os jardins e vivem a
transgredir os valores cristãos e morais decentes, então seremos lembrados como
seres indesejados, trazendo à memória a triste frase: "já se foi
tarde..."
Saudades!
Coisa que faz sofrer, mas que também carrega a beleza do amor e da ternura! As
saudades se criam com memórias boas e benfazejas. Somos responsáveis em
conquistar boas memórias no coração dos que chegam ou dos que ficam aqui mais
tempo do que nós. Será que temos investido em deixar valores eternos? Será que
vivemos a fé cristã que alegamos ter com empenho, com responsabilidade e com
convicção? Será que levamos Deus a sério? Será que não quebramos os valores que
apregoamos verdadeiros?
É tempo de
construir memórias. Memórias boas, serenas, agradáveis, bondosas. Se amarmos
intensamente e se formos cumpridores dos valores bíblicos e dignos em nossa
vida, deixaremos em nosso lugar muita saudade. E as coisas que usamos, hoje
simples objetos úteis, serão revestidos de um valor abstrato tão sublime, tão
querido, que terão um valor inestimável.
A bengala do
meu pai, a sacola que ganhei de vovó, as fotos que herdei de meu avô, a bíblia
de minha mãe, o novo testamento do Pr. Timofei Diacov e um brinquedinho que foi
do meu irmão Daniel quando pequenino, são memórias preciosas para mim. Elas me
conectam com as coisas boas deixadas em meu coração.
O que
deixarei? Como serei lembrado?
Que cada um
de nós responda a estas perguntas com respeito. E se descobrirmos que não temos
cuidado de nossa vida e de nossos princípios, que nos corrijamos em tempo.
Afinal, não sabemos quando partiremos. Que estejamos prontos, com Cristo no
coração e com um testemunho que traga no coração de quem fica uma doce
lembrança.
Wagner
Antonio de Araújo
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