sábado, 8 de fevereiro de 2020

memórias literárias - 845 - EU SOU CULPADO

EU SOU
CULPADO

845
 
Por que a atual geração vive na mais mísera imoralidade, sem freio, sem pejo, sem limites, expressando toda a sua lascívia em público, levando a mídia e o comércio a adaptar-se ao estilo e ao gosto do século XXI? Por que há tantos tatuados, tantos com piercing, tanta gente nos pancadões, tanto palavrão na boca de todos, tanta mulher e tanto homem a fumar, beber, usar droga, a trair?
 
Essa geração não nasceu de chocadeira. Eles tiveram pais. O que esses pais serviram aos seus filhos?
 
Bem, muitos deles pouco viram os seus filhos. Mães tiveram que confiar o período de infância aos cuidados das creches, às mãos das cuidadoras. Pais trabalharam o tempo todo, ou à noite seguiam fora nos cursos de especialização. O longo tempo de percurso no transporte também contou. Quando ambos estavam em casa tinham muito o que fazer. Então ligavam a televisão, colocavam um DVD, mandavam os pequenos para a casa dos amigos ou dançavam as suas músicas com eles.
 
Essa geração nunca ouviu uma música clássica. Eles nem sabem quem foi Beethoven, Mozart ou Bach. Música, para eles, é o que rola na balada, é o funk carioca, o "proibidão", o rap e o rock. Agora também o sertanejo universitário. Os pais não ofereceram a boa música brasileira, a música raiz, a música com melodia, as canções com valores e com história. Eles apenas não queriam ser incomodados.
 
Também não sabem se relacionar. Saíam de casa para a creche, da creche para o transporte e nos fins de semana para as aulas de balet, natação, inglês ou nas festinhas dos amigos. Eles não sabem o que é sentar-se à mesa com a família reunida, não ouviram histórias de seus pais, de seus avós, histórias da casa onde moram, dos países de onde vieram as suas famílias, dos costumes, das tradições. Estas crianças vieram ao mundo e tiveram a ração para viver e sobreviver, os cursos para serem profissionais, mas não foram humanizados em casa.
 
Eles descobriram a sua sexualidade entre os amigos, na escola, no bairro onde moram, nas brincadeiras entre primos, e, recentemente, nas páginas da internet, no whatsapp, nos encontros do bairro, nas festinhas que frequentaram. Os seus pais, a geração originária dos que quebraram os padrões, considerou que eles deveriam experimentar de tudo e achar o que poderia trazer felicidade individual. Assim não tiveram limites: namoravam em casa, na plena permissividade, com a complacência de pais liberais. Pais deram aos filhos acesso à bebida alcoólica e, quando não, aos preservativos para evitar a gravidez. E, não raras vezes, foram às baladas juntos para fomentar o instinto sexual.
 
Qual o resultado disto? O mundo torpe e amaldiçoado onde vivemos. Não há um bairro nestas cidades em que se possa viver em paz, sem que haja uma festa com drogas e o barulho infernal dos ruídos chamados de "música moderna". A geração não tem respeito com os pais, chamando-os de você (e que não venham dizer que é só atualização de linguagem!) e tratando-os como iguais ou inferiores (pois são velhos e não sabem das coisas). Não sabem cozinhar, não arrumam os seus quartos, não varrem a casa, não ajudam em nada, consomem tudo e sentem-se depressivos. E conseguem colocar a culpa nos pais, na família, no mundo opressivo, no governo de direita e, quiçá em Deus.
 
Eu sou culpado. O meu leitor é culpado. Todos somos culpados. Um mal exemplo é sempre um ensinamento. Toda vez que escolhemos erradamente ensinamos a um jovem a fazer o mesmo. Quando entro numa via proibida, mesmo com um semáforo e uma placa proibitiva, eu sou culpado. Quando furo a fila do caixa eu sou culpado. Quando falo um palavrão eu sou culpado. Quando deixo de ouvir coisas de qualidade eu sou culpado. Quando não busco o conhecimento eu sou culpado. Quando não gasto um tempo com os mais jovens eu sou culpado. Quando não arrumo o quarto, lavo as louças, varro a casa ou cumpro o mínimo necessário para uma vida civilizada no coletivo eu sou culpado.
 
A geração que emporcalha o país é fruto das más escolhas das duas últimas gerações. Aí está a nossa fatura: um bando de pessoas cuja racionalidade é questionável. São filhos que queimam os pais para obterem o seguro de vida ou quando estes não aceitam um matrimônio com o mesmo sexo. São jovens que envenenam um professor quando este é contrário aos seus valores pervertidos. São funcionários que só  desejam direitos, independentemente de cumprirem o seu dever. São moradores que estendem a privacidade de suas casas à rua e na frente de nossas casas, importunando a todos e não dando espaço à liberdade alheia.
 
A considerar-se um cristão nesta minha crítica, a culpa também é nossa. Somos culpados quando jogamos fora os hinários de nossa igreja para que a juventude implantasse a sua música pobre e mundana, cheia de valores pervertidos e ruídos ensurdecedores. Somos culpados quando abandonamos o culto doméstico de nossas famílias. Somos culpados quando deixamos que pastores mundanos dominassem os púlpitos de nossas igrejas e pervertessem a fé de nossos membros. Somos culpados pela literatura ecumenista e atéia que as nossas editoras publicam, bem como em divulgar as novas versões pervertidas da bíblia. Somos culpados em pintar as nossas igrejas de preto e colocar latões como púlpito, apenas para transformá-las em palco de shows, do jeito que o Diabo gosta. Somos culpados quando não nos ajoelhamos no culto, quando não temos reverência ao nome de Deus e quando não vivemos o que pregamos.
 
Que Deus me perdoe a culpa que tenho nesta história. Eu ainda tenho filhos pequenos, os quais quero influenciar profundamente dentro de meu lar. Aqui eles não ouvem funk. Aqui eles não assistem desenhos suspeitos. Aqui eles não ouvem palavrões. Aqui eles não têm a liberdade de nos tratar como bem entendem. Aqui eles aprendem valores. Aqui eles sentam-se à mesa para comer e não vão dormir sem prestar o culto doméstico a Deus. Aqui eles sabem a diferença entre o certo e o errado. Quando nós partirmos, quando eles se casarem, estes valores nós queremos que eles levem para os seus lares. E que reproduzam tudo isso junto de suas famílias. E se Jesus voltar eles subirão também.
 
Que Deus me perdoe.
 
E que me ajude a ser exemplo e não ser mais culpado.
 
E você? Também tem culpa? Avalie-se.
 
Wagner Antonio de Araújo

 

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