PRATO
FEITO
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"De onde, Senhor, veio este arroz? Tão saboroso, tão bem feito, onde terá
sido colhido? Quantas mãos não trabalharam em sua produção, desde a seleção das
sementes, o preparo da terra, os arados, a semeadura, os cuidados com as plantas
novas, o uso de pesticidas, a mantença do terreno pantanoso ou outro tipo de
cuidados, a colheita e o seu armazenamento, a venda da produção, o transporte, o
distribuidor, o ensacamento, a colocação no supermercado, quantas mãos e quanto
zelo!
"Não é
diferente pensar nestes feijões tão bem feitos e apetitosos, com os pedaços de
linguiça e bacon, com os temperos, o alho, o sal. De que salinas foram tiradas
as peças de sal? Em que maquinários passaram? E o bacon, junto com a linguiça,
de que porcos vieram? Onde foram criados? Como foram transportados aos
frigoríficos? E a cebola aqui derretida? Quantos processos até chegar à
mesa!
"Esta salada,
tão bem temperada, simples, mas tão preciosa! Duas folhas de alface, rodelas de
tomate, cebola fatiada, salsinha e cheiro verde distribuídos! Este azeite que
encanta, de que oliveiras terão vindo? Seriam de Portugal, da Espanha ou de
algum produtor deste país? Quantas noites ao sereno as azeitonas passaram,
quantos processos não se seguiram até que o azeite virgem e saboroso não fosse
extraído!
"Este bife,
bem temperado, de que boi ou vaca terá vindo? Será do sertão de Goiás com seus
pastos belíssimos ou do Mato Grosso, com suas montanhas fenomenais? Seriam
rebanhos mineiros, perto das Altaneiras ou daquelas serranias do sul de Minas?
Que tipo de gado seria? Rebanhos holandeses, montana, bonsmara ou
utrablack?
"Já este copo
de suco de laranja, que refrescante, que delícia! Imagino os pomares do estado
de São Paulo, beirando as rodovias, aquelas laranjas amarelinhas que, antes de
serem frutas, encantaram a todo motorista que trafegou por aqueles locais, com o
indescritível perfume da flor da laranjeira! Estes copos simples, de modelo
comum, de que areias fizeram a provisão do material de sua composição? Como
foram os fornos onde foram forjados?
"Eu Te dou
graças, Senhor, por esta refeição neste bar da esquina, um prato feito bem
barato, comida de trabalho, conquistada com o suor do meu rosto, pela qual,
neste momento Te agradeço. Amém. Obrigado pelas cozinheiras, pelo vendedor, pelo
atendente, por aquele que lavou a louça e por todos que trabalharam na confecção
do meu almoço. Em nome de Jesus. Amém.'
- Garçon, me
traz a conta, por favor? Já vai dar o horário do turno da tarde e eu não posso
perder...
Wagner
Antonio de Araújo
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