quarta-feira, 8 de julho de 2020

memórias literárias - 902 - TEUS DEUSES

TEUS
DEUSES

 
902
 
E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito. (Ex 32:4)
 
Moisés estava lá no alto, em comunhão com Deus, a receber as tábuas do decálogo, os dez mandamentos. Cá embaixo estava o povo ansioso, afoito, cansado da espera e da falta de informações.
 
Arão, irmão de Moisés, escolhido sacerdote, estava entre o povo e Moisés. Decidiu ouvir o povo. Eles disseram: "Nada sabemos desse Moisés; faça um deus para nós". Ele, se por ameaça do populacho ou por fraqueza de caráter decidiu fazer a imagem de fundição, mesmo que tenha ouvido a ordem divina de não fazê-lo e de ter anuído à aliança em sangue que Moisés fizera entre Deus e o povo.
 
Forjou um bezerro, uma ridícula imagem oriunda das jóias que arrancaram das egípcias ao saírem do Egito. E proclamou: "este é o deus que tirou vocês do Egito! Aqui estão os teus deuses, ó Israel!"
 
O Deus Eterno, o Criador, Jeová, Javé, Elohim, o Sublime, o Altíssimo, opera a grande libertação destes quase dois milhões de pessoas e os trás para uma aliança. Eles aceitam o pacto e querem seguir para a terra da promessa. Mas na primeira prova que recebem, isto é, terem que aguardar o regresso do profeta da montanha da santidade, resolvem abandonar o Libertador e inventar um mito, uma fábula, um amuleto, uma mentira. A libertação era real - eles estaam ali; a narrativa deixou de ser verdadeira: a imagem forjada a instantes era a responsável pela epopéia. Como é fácil inventar uma narrativa mentirosa!
 
Faz lembrar um filho ingrato, que mora na herança deixada pelos pais, que teve o seu diploma conquistado com o suor de seus progenitores e que diz orgulhosamente: "consegui por mim mesmo sem a ajuda de ninguém!"
 
Também o homem curado que se gaba da boa saúde e se esquece do médico que o tratou. "Eu sou um atleta!".
 
Ou talvez aquele que venceu na vida e que diz: "A força do meu braço e do meu empenho conquistou tudo isso", e nem se lembra das noites em súplicas que muitos passaram diante de Deus, clamando pela sua colocação profissional e sucesso acadêmico! Também se esquecem daqueles que os recomendaram ao empregador ou institução onde trabalham!
 
Quantas igrejas se gabam de ter uma grande membresia ou um poder econômico muito forte, esquecendo-se de que os pioneiros, sim, aqueles pobres trabalhadores da Seara, foram os que empenharam a própria vida na concretização do ideal. Esquecem-se dos pastores que deram a vida no trabalho difícil de outrora, nas condições tão pequenas e na tecnologia tão primitiva. "Somos vencedores de um novo tempo!". Não haveria novo tempo se não tivesse havido alguém que início deu.
 
Ah, povo hebreu! Há um hebreu em cada um de nós! Ingratos para com Deus, criamos bezerros de ouro para adorar ao longo da vida. Sabemos que foi Deus, mas ousamos esquecer-nos disso! Sabemos que nossos pais foram heróis, mas os esquecemos em algum asilo! Sabemos que a nossa professora nos alfabetizou, mas tiramos o seu nome de nossa biografia! Sabemos que ingressamos na escola ou no trabalho por indicação de alguém, mas o desprezamos! A ingratidão é uma constante no coração de cada ser humano!
 
Nós sabemos o que aconteceu com os hebreus do bezerro de Arão. Morreram condenados pela idolatria voluntária a que se submeteram. E os sobreviventes não foram melhores que eles: morreram na areia quente do deserto, pois duvidaram do poder divino em conduzi-los à Terra Prometida. Sob a desculpa de estarem preocupados com os filhinhos que sofreriam, foram condenados a morte no caminho e os filhos com quem se diziam preocupados, entraram em Canaã.
 
Lancemos fora os nossos deuses! A saúde, o dinheiro, a linhagem, a linguagem, a naturalidade, a cultura, os amigos, o político, a desenvoltura, os poderosos. Todos eles juntos não passam de bezerros dourados e podres. Se o Senhor não nos der fôlego, se Ele não nos abrir as portas, se Ele não nos proteger ou não nos abençoar, seremos como a moinha que o vento espalha!
 
 
Adoremos ao Deus Único e Verdadeiro. E às favas com os bezerros de ouro que forjamos!
 
Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. (Sl 62:11)
 

Wagner Antonio de Araújo

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