INTOLERANTE
SOU
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Você não leu errado. Eu não
quis dizer "não sou intolerante". Quis dizer que sou intolerante mesmo. Não
apenas eu. O próprio Deus o é. A moda hoje é proclamar a condenação à
intolerância em todas as suas formas. E a generalização é sempre deficiente,
pois, em assuntos como matar, perseguir, torturar, humilhar, ninguém se diz
tolerante. A sociedade que quer ser tolerante não tolera o contraditório contra
os seus postulados. São intolerantes com os intolerantes. Políticas mutantes,
sociologia em movimento.
Mas eu sou intolerante
comigo mesmo. E o sou não por ser bonzinho, por ser melhor do que os outros. Eu
aprendi na Bíblia, a Palavra de Deus, de que devo ser intolerante com algumas
coisas muito comuns, que destróem e corrompem a vida de um cristão. Cito-as e
reflito quanto a elas a seguir.
1) INTOLERANTE COM O
LIBERALISMO TEOLÓGICO - Sim. Os livros atuais, com boas e poucas exceções,
expressam uma teologia diametralmente oposta aos valores milenares das
Escrituras Sagradas. Deixou-se de avaliar a vida pelos ensinos bíblicos e
teceu-se um manto de interpretação que coincida com os valores corrompidos do
Ocidente ou do Oriente, de acordo com o tempo. Assim, tudo o que antes era
ensinado como pecado transformou-se em mera citação de usos e costumes. O que
antes era princípio transformou-se em preconceito. O que antes era absoluto
tornou-se relativo. O que antes era fundamental transformou-se em acessório.
Crer em Inferno? Não é fundamental. Crer em Céu? é subjetivo. Acreditar na
ressurreição de Cristo? Mera fábula. Nascimento virginal? Pura insensatez. Basta
pinçar dos evangelhos os ensinos bons ali contidos e o resto não nos separará.
Juntos somos mais! Versões bíblicas são despejadas nas livrarias, com selos de
antigas editoras boas, e aos poucos corrompem os púlpitos de igrejas antes
fiéis. Num dia desses pedi a um pastor que me mostrasse um versículo trinitário
na primeira carta de João. Ele não o encontrou. E ficou perplexo. Eu disse: "no
afã de dar à sua igreja a versão que a sua denominação recomendou publicamente,
o senhor permitiu que o criticismo acadêmico destruisse irrecuperavelmente a
cópia do texto sagrado. Viu onde falhou?" Ele havia comprado duzentos exemplares
da tal bíblia, supostamente contemporânea, feita pelos estrelas das editoras
atuais.
2) INTOLERANTE PARA COM A
IMORALIDADE CONJUGAL - Tornou-se comum aplicar-se o divórcio aos casais da
igreja. Temos a classe de adultos, de jovens, de crianças e o grupo dos casais
de um único casamento e outro de diversos casamentos. Hoje o divórcio não inibe
ou causa tristeza; apenas identifica que alguém não foi feliz e reconstruiu-se.
Pior que isso: o ministério pastoral está sujando a sua plataforma. Por estes
dias um pastor falou imoralidades para uma mulher. Seu áudio foi divulgado. E
ele disse que já havia confessado e que a igreja não viu problemas. Outro, um
cantor desses grupos contemporâneos, pastor, confessou num congresso que vez por
outra vinha a São Paulo e servia-se dos préstimos das prostitutas e que
precisava de orações, pois constantemente caia nisso. E o povo achou lindo,
tanta sinceridade. Ele continua pastoreando e - pasmem, dirigindo encontros de
casais! Quando Paulo falava sobre ser marido de uma mulher, ele refletia apenas
a sua intolerância. Será? Não. Ele refletia o que Deus esperava do ministro e do
crente: fidelidade conjugal. Certamente que há casos em que tais recasados foram
vítimas. Reconstruíram suas vidas. Mas tolerar a pornografia, a traição, o
adultério, a imoralidade, trazida pelas novelas, programas de TV e páginas
virtuais, é outra história. Ou somos intolerantes para com o pecado que tão
ferozmente nos assedia, ou comamos e bebamos, que amanhã
morreremos!
3) INTOLERANTE PARA COM A
RAIZ DE AMARGURA - Ah, como temos rancor das pessoas! Como é fácil transformar
uma justa oposição a uma impura amargura! Mudamos de calçada ao contemplarmos
alguém de quem não gostamos. Tecemos comentários ácidos contra quem cortamos
relações. Pais quebram relações com filhos e estes com pais. Ficam sem falar e
isto por anos! Conheci um rapaz de um conjunto masculino, que cantava ao lado do
pai. Eles não se falavam há dez anos, mas cantavam juntos com o grupo, viajavam
juntos e não se toleravam! Como isto é possível? É possível quando esquecemo-nos
da bússola de nossa vida e transformamo-nos no nosso próprio oráculo de fé.
Manter rancor está em Wagner capítulo 3 versículo 2. E cada um cria a sua
própria versão. O ápice veio de um juiz federal que, publica e veementemente,
condenou a quem o criticava e dele dizia supostas mentiras, a "sofrer a ira do
profeta", fazendo o gesto de cortar o pescoço, típico dos terroristas e de
organizações ocultistas. O detalhe é que aquele cidadão diz-se crente evangélico
e que tem pastor! Um crente que crê no profeta islâmico e faz de sua vingança o
desejo do coração. Nada mais distante da luz do autêntico evangelho de
Cristo.
Sim. Eu não sou perfeito.
Eu não sou impecável. Eu sou um miserável pecador, cujos melhores atos não
passam de trapos de imundícia. Porém, conhecedor da Palavra de Deus, tenho a
obrigação de lutar contra essas tolerâncias ditadas pelo inferno e tornar-me dia
após dia intolerante, absolutamente intolerante.
Tenho que ser intolerante
para com o liberalismo teológico. Às favas com os livros modernos que me
afastam de Cristo, ou com as bíblias adulteradas da equivalência dinâmica levada
às últimas consequências! Manter-me-ei com a minha velha tradução, que não é
perfeita, mas que não maculou-se nas águas fétidas da incredulidade acadêmica do
século XXI!
Tenho que ser intolerante
para com a imoralidade. Quando o meu celular convidar-me a ver vídeos de
pornografia, vídeos de piadas chulas, vídeos de fofocas sobre gente pública que
nem conheço, deverei fazer como o Apóstolo Paulo: Antes subjugo o meu corpo, e o
reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma
maneira a ficar reprovado (1Co 9:27)
Tenho que ser intolerante
para com a raiz de amargura. Devo ter opositores, mas não deixá-los tornarem-se
demônios que me aprisionam ao ódio, à mágoa, ao rancor, ao ressentimento. Há
muito tempo aprendi a transformar inimigos em alvos de oração. Um pastor
perseguiu-me ferozmente, sem causa alguma. Suas palavras caíam no vazio em toda
parte por onde as semeava. Mas geravam em mim ódio profundo. Decidi orar por
ele, não orações do tipo "pese Tua mão sobre ele, Senhor!". Orava assim:
"Senhor, toma a vida do colega e o abençoe, apesar de tudo. Jesus morreu na cruz
por ele. Peço-Te que me ajudes a não guardar ressentimento dele, nem tampouco
vontade de vingar-me. Assim como o Senhor me perdoou, ajuda-me a perdoá-lo
completamente". Um dia encontramo-nos numa convenção. Ele, abatido, veio
pedir-me perdão. Eu lhe disse: "Há muito eu lhe perdoei. Fique em paz". Ele
chorou. O amor cobre multidão de pecados. E sara o coração despedaçado de quem
tem ressentimentos.
Que Deus nos ajude a sermos
fiéis, inclusive na intolerância.
Pr. Wagner Antonio de
Araújo
13/06/2017
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