DIVINA
ACUSAÇÃO
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Roubará o
homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos
e nas ofertas. (Ml 3:8)
Não se trata de uma
acusação desprovida de fundamentos. Ela foi pronunciada diante do vazio no
gazofilácio do templo de Jerusalém, após a restauração de Israel, que estava
cativo em Babilônia. O povo esqueceu-se de Deus; priorizou o orçamento pessoal.
Abandonou a assistência do templo.
Não se trata de uma
acusação feita por quem não tinha nada a ver com isso. Foi o próprio dono do
Templo quem averiguou o comportamento desonesto do povo restaurado. Deus é quem
o acusava.
Logo, Ele tinha absoluta
razão e absoluto direito de acusar. Não apenas isso, mas de
punir.
Isto mudou? Não. Os
liberais cansam de tentar provar que não há mais dízimos no Novo Testamento, que
os dízimos do passado eram para a Velha Aliança e para os levitas. Ledo engano.
Na boca de Jesus ouvimos isso: Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e
desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis,
porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. (Mt 23:23). Jesus Cristo salientou o que era mais importante, mas não
desprezou a prática do dízimo.
Quando a Igreja de Cristo
foi fundada o dízimo expandiu-se em cem por cento. E
vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia
de mister. (At 2:45). Para estes felizes
cristãos escatológicos, que esperavam Cristo para os seus dias, os bens
materiais não tinham importância se não fossem compartilhados. Eles vendiam tudo
e faziam um caixa único. Essa prática, conquanto motivada por um espírito de
amor e de compartilhamento, não se mostrou sustentável ao longo do tempo,
gerando distorções e terminando com a primeira grande perseguição contra a
igreja em Jerusalém. Surgiram viúvas helenistas que não se sentiam alcançadas
pelo sustento comum e surgiram mentirosos, que diziam dar tudo e retinham uma
verba emergencial. Ora, naqueles dias, crescendo
o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus,
porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. (At 6:1); E
reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a
depositou aos pés dos apóstolos. (At 5:2)
Estabelecidos os primeiros
tempos da igreja encontramos o Apóstolo Paulo a estabelecer regras. Ofertas eram
para ajudar os pobres e necessitados e deveriam ser levantadas no primeiro dia
da semana, dias de culto já naqueles princípios: No
primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar,
conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar.
(1Co 16:2)
O dinheiro recolhido também
servia para sustentar os pregadores do evangelho. Assim
ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho.
(1Co 9:14); Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós
recolhamos as carnais? (1Co 9:11); Os presbíteros que governam bem sejam
estimados por dignos de duplos honorários, principalmente os que trabalham na
palavra e na doutrina; (1Tm 5:17)
Logo, ofertar na igreja
foi, desde o início, compromisso dos cristãos, e o dízimo foi uma referência
administrativa para que tanto a igreja quanto os crentes tivessem um sustento
adequado, além de prover aos ministros do evangelho um digno salário. Aliás, que
todos fossem trabalhadores e que ganhassem o seu próprio pão. Assim teriam para
si e o que repartir com a igreja e com os necessitados. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que,
se alguém não quiser trabalhar, não coma também. (2Ts 3:10); Aquele que furtava,
não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha
o que repartir com o que tiver necessidade. (Ef
4:28)
Deus nunca precisou do
nosso dinheiro, nunca estabeleceu um pedágio para a salvação e nunca julgou
ninguém pelo seu patrimônio. Aliás, uma mulher sem patrimônio, mas com uma
generosidade que colocou em risco o seu próprio pão, foi por Ele elogiada: Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que
lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha. (Lc
21:4). Se, por um lado nunca foi comprado por
dinheiro, por outro avaliava o apego ao dinheiro de alguém que não conseguia
viver sem reparti-lo. E Jesus, olhando para ele,
o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos
pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele,
pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.
Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente
entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!(Mc
10:21-23)
Sob o pretexto de não estar
debaixo da lei mosaica muitos cristãos sem igreja ou, como dizem, "fora da
instituição" abandonaram a prática do dízimo (que é um mínimo contribuído, já
que no pensamento da igreja primitiva TUDO era do Senhor - e continua sendo!) e
propagam uma auto-gestão de seus recursos (que nada mais é que a mantença do
dinheiro consigo próprio para o que bem desejar).
A estes fica a acusação
divina, com as suas severas consequências: Esperastes o
muito, mas eis que veio a ser pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para
casa, eu dissipei com um sopro. Por que causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por
causa da minha casa, que está deserta, enquanto cada um de vós corre à sua
própria casa. (Ag 1:9)
Cuidado, cristão! Não se
estribe na falácia da liberdade libertina de não ter compromisso com a Casa do
Senhor! Tal casa é a Sua igreja, a igreja local onde você assiste, onde se forma
o Corpo de Cristo em que está inserido, onde reparte e recebe, onde ajuda e é
ajudado, onde semeia e colhe. Pode ser uma congregação de duas ou três pessoas
ou uma grande catedral bíblica. Seja fiel e não dê margem a receber a acusação
divina quanto ao roubo das coisas de Deus.
Um abraço a todos, mesmo
sabendo que não terei retorno de quase ninguém. Quando escrevo sobre coisas
felizes e sobre bênçãos, recebo muitos retornos. Quando a espada corta do lado
inverso (espada de dois gumes, que é a Bíblia), o silêncio reina. Mas não me
importarei. Isso é antigo: ... e lhes falarás e lhes
dirás: Assim diz o Senhor Deus, quer ouçam quer deixem de ouvir. (Ez
3:11)
Wagner Antonio de
Araújo
28/02/2018
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