OLHOS
BONS
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A candeia
do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu
corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso.
Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! (Mt
6:22-23)
A depender do nosso estado
interior teremos uma visão ou boa ou ruim de tudo em nossa vida. Lembro-me de
quando eu estava internado no hospital. Queriam cantar para mim, me contar
histórias. Eu pensava: "Eu não quero ouvir música, não quero ouvir conversas; eu
me sinto mal e não tenho ânimo!" Deus foi misericordioso para comigo e tirou-me
da enfermidade. Saí do hospital. Imediatamente pedi aos que cantavam e aos que
contavam histórias, para que as repetissem. Agora eu ouvia tudo com muito
prazer, desfrutando das melodias e dos contos! Eram as mesmas músicas e as
mesmas histórias, mas eu já não era mais o mesmo. Os meus olhos estavam ruins,
mas agora estavam bons!
Jesus Cristo disse que a
candeia, a luz, a iluminação de nosso mundo são os nossos olhos. Não
propriamente os físicos, pois ele falava para deficientes visuais também. Olhos
aqui significam a nossa percepção do mundo ao redor e interior e a maneira com
que reagimos diante deles. Se estivermos bem por dentro tudo será belo; se não
estivermos bem, nada terá valor. Um talher de prata, um prato de porcelana
chinesa e um faisão no jantar podem não significar nada de especial para alguém
que esteja mal por dentro. Já um prato de plástico, um pouco de arroz e um ovo
cozido podem ser a mais feliz refeição de alguém que se sente feliz e grato por
aquele momento! Os corações mais felizes não são os que têm mais recursos, mas
os que estão melhores por dentro, os que sentem mais gratos e
abençoados.
Acontece que somos ora um,
ora outro em nossa vida: às vezes os nossos olhos são bons; outras,
infelizmente, são ruins. Depois de uma briga familiar quem é que aprecia uma
bela viagem com lindas paisagens? Quem gosta de ouvir música com uma unha
encravada a doer? Quem aprecia um elogio depois de uma desfeita? A felicidade ou
a tristeza não estão do lado de fora; elas encontram-se dentro de nós mesmos, no
interior de nossa alma. Se conseguíssemos atingir o nosso âmago e tratar-nos por
dentro, solucionaríamos todo o nosso mal estar.
Richard Wurmbrund, o herói
da fé nas prisões russas no tempo do comunismo, foi condenado a viver numa
solitária por anos por causa de Jesus. Dizia ele, em biografia, que não havia
luz alguma na cela e apenas um pedaço de pão e um copo de água de quando em
quando. Se ele não aprendesse a ser grato por toda aquela limitação,
enlouqueceria. Ele era ministro do evangelho e precisaria da força do Senhor
para lidar com a prisão injusta e com as torturas a que era submetido (choque
elétrico, unhas arrancadas, cortes na sola do pé etc). Então ele fez as pazes
com a prisão, com a escuridão do local, com a limitação da cela de um metro por
um metro; passou a agradecer por todas as coisas, buscando dentro de si as mais
preciosas lembranças do tempo de ministério, dos anos que conviveu com a família
e também pensou no Céu, na Nova Jerusalém. Ele simulava que estava em seu
púlpito a pregar a Palavra de Deus. Ele decorava oralmente os seus sermões e
depois pregava-os para si mesmo. Após vários anos conseguiram tirá-lo de lá. E
ele venceu todas as lutas. Eu o conheci. Vi-o de longe, em sua única e última
vinda ao Brasil. Ele era tão iluminado que eu conclui que era um dos mais santos
homens do Senhor que já vira. Estava todo deformado, coxo, sem sola do pé, visão
precária, idoso. Mas era tão belo, tão sorridente, tão feliz! Os olhos de sua
alma haviam visto o Senhor! Os seus olhos eram bons! Decidi que não reclamaria
mais da minha vida, mas seria grato, pois não chegara a sofrer um por cento do
que esse homem sofrera. E não tinha um por cento da felicidade que ele tinha.
Isto teria que mudar!
Hoje eu celebro por tudo.
Celebro por um bife que me servem. Celebro por uma bala (rebuçado) que ganho.
Celebro por uma árvore florida no caminho. Celebro por uma nuvem incandescente
ao pôr-do-sol. Celebro até por uma febre, aproveitando o tempo convalescente
para orar. Celebro por uma carteira vazia, crendo que o Senhor me sustenta.
Celebro por um auditório de 5 pessoas no culto. Celebro por um vôo atrasado ou
por uma caminhada a pé. E celebro pelas coisas maiores também: pela esposa que
tenho, pelos dois filhos maravilhosos com os quais fui agraciado, pelo irmão que
Deus me deu, pela casa onde moro, pelo carrro que me conduz e pelo dia que mais
uma vez amanheceu ensolarado. E quando não estou bem por dentro, quando me
encontro entristecido pelas tantas lutas que enfrento, penso: logo virá o Céu,
logo virá o porvir e eu hei de ver o meu Redentor!
Aleluia!
Leitor amigo, que me
concede diariamente a dádiva da sua atenção para com os textos que escrevo, peça
ao Senhor por bons olhos! A casa onde mora, a rua ou o bairro onde se encontra,
as pessoas de sua família, o pão que come no café, as pernas que lhe conduzem, o
trabalho que lhe sustenta, tudo isso é dádiva. Se olhar com compaixão e
gratidão, verá muitos motivos para agradecer. Transforme a obra de arte da vida
num quadro de enorme valor, não pelo preço das tintas, mas pela qualidade de
quem a aprecia: o seu olhar. Olhe com bons olhos! E creia-me: o que não for bom
irá desaparecer e coisas boas começarão a acontecer. Pessoas de bons olhares
transformam as paisagens. Seja uma dessas pessoas.
Deus lhe
abençoe!
Wagner Antonio de
Araújo
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