OS SALMOS IMPRECATÓRIOS
A palavra “imprecação” significa praga,
maldição, desejo de que algo ruim aconteça a alguém ou a alguma coisa. Assim,
“salmos imprecatórios” são aqueles salmos que desejam o mal para os inimigos do
Senhor, para os maus, para os ímpios e para os gentios. Especificamente
encontram-se em expressões dos salmos de número 6, 7, 35, 40, 55, 58, 59, 69,
79, 109, 137 e 139.
Algumas expressões contundentes nestes salmos: “Ó Deus, quebre-lhes os dentes na boca; felizes os que derem
com os seus filhos nas pedras; arranque-lhes as presas de leão, ó Senhor.
Destrua-os em ira, destrua-os para que não existam mais. Que seus olhos fiquem
escurecidos, para que não possam ver, e faça com que seus lombos tremam
continuamente. Que sejam apagados do livro dos vivos e que não possam ser
registrados com os justos. Que brasas vivas caiam sobre eles; que sejam
atirados no fogo, em covas profundas das quais não possam
sair."
Aqui surgem as questões:
1. Será que realmente estes
textos são inspirados pelo Senhor?
2. Se são inspirados, como
harmonizá-los com a revelação do amor de Deus pela
humanidade?
3. Diante dos ensinos de
Jesus Cristo quanto ao amor pelos inimigos, como aceitar que estes textos tenham
sido inspirados pelo mesmo Deus?
4. Podemos usá-los para orar
e para desejar o mal aos nossos
inimigos?
Essas
indagações surgem na mente de todos os crentes, diante do aparente contraste com
o restante dos ensinos bíblicos. Teriam esses textos alguma explicação para
serem, de fato, expressão da revelação divina? Sim, teriam.
Vejamos:
1. A maioria deles foi escrita por Davi,
cuja autoridade representava a autoridade de Deus. Logo, os inimigos do rei eram
inimigos de Deus também.
2. O objeto dessas imprecações eram os
malfeitores, os idólatras, os ímpios, aqueles que eram conduzidos pelos ídolos,
que viviam na imoralidade e contra a vontade divina. Tratava-se da indignação
contra a impiedade. Eles foram alvo dessas
expressões.
3. As imprecações estavam no nível da
oração a Deus e não da vingança pessoal. Era a Deus que oravam, que pediam, que
suplicavam pela justiça sobre aqueles que deliberadamente transgrediam a vontade
do Senhor e que eram maus para homens. O vingador seria o próprio Deus que
poderia usar inclusive a homens nesse juízo (Nabucodonozor é chamado de servo de
Deus ao executar juízo sobre o próprio
Israel).
4. Tratava-se da crua manifestação de
indignação contra as atrocidades dos ímpios, similar a que sentimos quando vemos
as injustiças e crueldades serem perpetradas sem trégua em quaisquer lugares do
mundo.
5. O mal precisava de juízo; a idolatria
precisava receber a justa recompensa. A perseguição contra os justos deveria ter
a sua paga e isso motivava essas expressões duras, similares às nossas, quando
comtemplamos a impiedade contra Cristo.
6. O propósito dessas expressões era a
glória de Deus, a defesa da justiça e a condenação da impiedade. Não era o ódio
ao inimigo ou ao próximo, mas a indignação contra o mal e o desejo latente e
indomável de justiça. "Não
aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem? E não abomino os que contra ti se
levantam? Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de
fato" (139:21-22).
7. A revelação divina nas páginas das
Escrituras Sagradas (REVELAÇÃO
ESPECIAL) foi PROGRESSIVA. Assim os salmistas
ainda não tinham o conceito definitivo sobre um juízo retributivo universal, um
“juízo final”, como nós temos atualmente, de posse de toda a revelação especial
e escrita de Deus. Eles ansiavam por isso!
8. O Novo Testamento
também tem imprecações. Ouçamos Tiago: Eia,
pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós
hão de vir. (Tg 5:1)
Logo, não é uma prática pecaminosa.
9. O
Deus de Amor, revelado por Jesus, não anulou retribuição do mal. Paulo, em seu
discurso sobre o amor, afirma: “o
amor não folga com a injustiça, mas folga com a verdade” (I Co
13.6).
10. Jesus
foi claro em declarar a condenação da impiedade. “Nunca
vos conheci”,
“Apartai-vos de mim, vós, que praticais
a iniquidade”. Na
parábola do rei que não foi obedecido, Cristo afirma:
E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles,
trazei-os aqui, e matai-os diante de mim. (Lc 19:27).
11. Jamais
o amor de Deus anulou o exercício da justiça contra os Seus inimigos: E
ele vos responderá: Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim,
vós todos os que praticais a iniqüidade. (Lc 13:27)
12. No
além, debaixo do altar, as almas dos mártires clamam por justiça:
Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador,
não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Ap
6:10)
13. Assim, quando os salmos falam da recompensa
dos ímpios como justiça contra os seus pecados, estão exaltando a santidade do
Senhor e provando que haverá um juízo sobre os pecadores. Porque
verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que
havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue
dos seus servos. (Ap 19:2)
14. Quando olhamos os que mentem contra o
evangelho, os que propagam o homossexualismo, os que destroem os valores
familiares, os governantes que deixam o seu povo à míngua e o oprimem, os
assaltantes que matam inocentes, as empresas que soterram cidades com a
devastação de suas barragens, os políticos que roubam a nação, os bandidos que
seduzem a juventude, os traficantes que escravizam as suas vítimas, os pedófilos
que humilham os pequeninos, temos o sentimento inerente à justiça divina:
Até quando
maquinareis o mal contra um homem? Sereis mortos todos vós, sereis como uma
parede encurvada e uma sebe prestes a cair. (Sl 62:3)
15. Podemos orar com os salmos imprecatórios. Podemos pedir como pedem os seus duros
dizeres, mas apenas orar e confiar na justiça divina. Quanto aos inimigos,
devemos estender para eles as mãos e amá-los, ainda que isto nos custe a própria
vida, uma vez que não seremos os executores da vingança. Portanto,
se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber;
porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. (Rm
12:20).
Também nos disse o Senhor: Porque bem
conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o
Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. (Hb 10:30). Irai-vos, e não
pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. (Ef
4:26)
16. É importante que tenhamos
discernimento ao lê-la, não cometendo a injustiça de criticar aquilo que nos soa
como contradição. Não há contradições; o que há é falta de compreensão.
17. Agora compreendemos que os salmos
imprecatórios são orações ao Senhor pedindo justiça e que os ímpios sejam
punidos pela sua afronta contra Deus. Que usemos bem a Palavra do Senhor e que
por ela sejamos edificados!
Pr.
Wagner Antonio de Araújo
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