419
para que eu seja ministro de
Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de
Deus. (Romanos 16.16)
Ah! O "sagrado encargo"! O Apóstolo Paulo, servo de
Deus, semeador de igrejas e autor inspirado das Escrituras Sagradas, chamava o
anúncio do evangelho de SAGRADO ENCARGO! Queria ele estender a mensagem do
Senhor na Espanha; para isso comentou com os romanos sobre levar o "sagrado
encargo".
Paulo considerava o Evangelho de Cristo como SAGRADO,
vindo de Deus, separado para a glória divina, revelado pelo Espírito Santo,
respeitabilíssimo. Considerava o evangelho algo da mais extrema seriedade e não
assunto banal a ser discutido divertidamente nas rodas sociais. Falar dele era
algo especial, tão especial quanto os escribas consideravam o nome de Deus (ao
escrevê-lo, banhavam-se, trocavam de roupas e de tinta).
Também o considerava um ENCARGO. ou seja, uma
responsabilidade, um compromisso, uma forma de viver, uma obrigação. Paulo
chegou a dizer que não poderia ficar sem pregar o evangelho. Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois
me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! (1Co
9:16)
Hoje o Evangelho não tem sido considerado nem sagrado
e nem um encargo. Os crentes brincam com a Palavra de Deus nos vídeos cômicos do
youtube, abordando piadas com o nome de Cristo e fingindo orações para fazer
rir. O evangelho virou tema da roda de pastores intelectuais, que, ao sabor de
um bom vinho português ou um wisky escocês, discutem-no com ateus, com
romanistas e espíritas. Evangelho virou fonte de auto-ajuda e tema para
literatura de aeroporto, lido sem qualquer discernimento de sua
sacralidade.
E encargo ele já não é mais. Igrejas estão optando
por não ter compromisso com ele. Já não estudam mais a bíblia, as escolas
dominicais não passam de palestras de psicologia aplicada, os cultos diminuem a
cada ano, reduzindo a carga de atividades eclesiásticas. Os supostos "momentos
de louvor" (que não são muito mais do que ostentação humana) ocupam oitenta por
cento dos cultos. As atividades migraram para as casas que, sob o pretexto de
fazerem PG (agora tudo é por sigla, "pequenos grupos"), desenvolvem
entretenimento religioso mascarado de obra de evangelização. Pregar virou
diversão: joguinhos eletrônicos, jogos de entretenimento, estourar pipocas,
assistir um bom filme do universo gospel etc.
Ah, quanta saudade dos púlpitos que encaravam o
Evangelho como EVANGELHO, como "boa-nova do Reino de Deus", como mensagem
completa e perfeita do Senhor!
Que saudade dos púlpitos que pregavam as parábolas de
Jesus, uma a uma, considerando o ensinamento, a história, os destinatários, as
aplicações práticas, o apelo por conversão e por compromisso!
Saudade das mensagens sobre os milagres de Jesus, os
seus encontros, as curas miraculosas, os momentos marcantes onde o sofrimento
humano encontrava fim nas mãos santas do Cordeiro de Deus! Milagres que mudaram
a vida dos doentes e mudam a vida dos que os estudam com consideração e
respeito!
Saudade da exposição detalhada da história do Senhor!
Sermões que falavam sobre as promessas proféticas de um Messias, a sua
concepção, o seu nascimento, a sua infância, o início de sua obra, o seu
ministério, os seus sermões, a sua caminhada para Jerusalém, a entrada triunfal,
a limpeza do templo, a última ceia, a prisão, o julgamento, a via dolorosa, a
cruz da ignomínia, os fenômenos durante e após a crucificação, a gloriosa
ressurreição, as aparições, a ascenção do Senhor!
Pregava-se sobre o Céu e sobre o Inferno, sobre os
galardões, sobre o juízo divino, contra o pecado e à favor da consagração.
Pregava-se sobre a volta de Cristo e sobre como conduzir-se na Casa de Deus.
Também gastava-se tempo a explicar a graça de Deus, a perdição humana, os
decretos divinos, a soberania do Senhor. Púlpitos que evangelizavam, doutrinavam
e ensinavam o crente a viver com Cristo.
Há quanto tempo o meu leitor não ouve uma mensagem
sobre as parábolas do Senhor? E sobre os seus milagres? E sobre o sermão da
montanha? E sobre as suas curas? E sobre as conversões? E sobre o seu nascimento
(exceto no culto de Natal), a sua morte e ressurreição (exceto na Páscoa)? Hoje
o púlpito prega sobre tudo: sobre negócios, sobre vida conjugal, sobre
investimentos, sobre vitórias, sobre relacionamentos, sobre depressão, sobre
atletismo, sobre política e sobre ufanismo denominacional ou local. Tudo num
clima festivo de palco de escola ou de anfiteatro de universidade, ou ainda de
programa televisivo. Quanto mais camuflado for o culto, tanto melhor. Um bom
culto hoje é aquele que não se parece com culto, mas com
entretenimento.
O Sagrado Encargo anda desaparecido. Aliás, há
pastores que nunca o pregaram. Nem sabem do que se trata. Talvez ao lerem esse
título já o rotularão de "usos e costumes". Pobre geração do século vinte e um!
Tão moderna e tão mundana, tão complexa e tão desconexa! Os príncipes do
púlpito, vivos e envelhecidos, não são mais escalados para os púlpitos; os
demais já faleceram e a messe atual não produz mais pregadores qualificados em
abundância... Senhor, tenha misericórdia de Tuas igrejas!
Que Deus reaproxime os crentes, as igrejas, os
pastores e os leitores do Sagrado Encargo do verdadeiro evangelho de Cristo,
loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, o poder de Deus!
Que os púlpitos e os ministros do evangelho retomem o espírito do "sagrado
encargo" na pregação do evangelho do Senhor!
Wagner Antonio de Aráujo
03/03/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário