PAULO,
PAULO,
SEJA
TOLERANTE!
426
"Prezado Apóstolo
Paulo:
Ref. Práticas de
Intolerância em Seu Ministério
Caríssimo companheiro de
jugo
Kharis Eyrene!
*
Encaminhamos esta carta com
os votos de que esteja feliz e no centro da vontade de
Deus.
Contudo, analisando o
conteúdo das epístolas que tem escrito às igrejas dos gentios, precisamos tecer
algumas observações e solicitar algumas providências.
Consta que o irmão vem
ensinando e propagando algumas coisas que, ao nosso ver, são incompatíveis com a
mensagem do evangelho.
O irmão solicitou que as
irmãs de Corinto usassem véu e que tivessem cabelos
longos.
O irmão sugeriu e
interpôs-se como modelo para recomendar que homens e mulheres não se
casassem.
O irmão ordenou que os
judeus abandonassem suas vestes cerimoniais e os ritos judaicos, adotando,
inclusive, a inobservância da circuncisão de seus filhos.
Também falou que o amor
conjugal entre pessoas do mesmo sexo era condenado por Deus e inadmissível na
igreja.
O irmão ordenou que não se
comesse carne dos açougues dos templos pagãos e afirmou que participar daquilo
seria banquetear-se com demônios.
Finalmente, tomou decisões
unilaterais de disciplina eclesiástica, condenando um homem que ajuntou-se com a
madrasta (ou mãe, não se sabe ao certo), dizendo que ele seria entregue a
Satanás.
Apóstolo Paulo, o irmão
deveria envergonhar-se de ser tão intolerante. Afinal, Cristo nos ensinou a amar
e a acolher a todos. Como nenhum de nós é Cristo, então não é possível exigir
uma imitação de Cristo por parte de ninguém. Logo, cada um tem suas próprias
características e opiniões e devemos respeitá-las, tolerando os irmãos
diferentes.
Gostaríamos que o irmão
reescrevesse seus textos, fazendo as seguintes
modificações:
1) Que as mulheres cortem
os cabelos ou os mantenham compridos do jeito que quiserem, e que o uso do véu
seja uma opção pessoal;
2) Que os homens se casem
ou se ajuntem à vontade, independentemente de serem homens com homens ou
mulheres com mulheres, e que desfrutem de todo o amor conjugal uns com os
outros;
3) Que os judeus observem o
que quiserem dos ritos mosaicos e das suas festividades nacionais; e não só
eles, mas que cada um dos gentios traga para a igreja os seus próprios costumes,
rituais, manifestações musicais e atos de culto, no enriquecimento mútuo e na
edificação da fé cristã;
4) Que os crentes comprem
toda a carne que quiserem, comam o que quiserem e participem de todas as
festividades pagãs que quiserem, independentemente de serem dedicadas a ídolos,
pois estes são apenas tipos e arquétipos sem valor; Deus não olha para
isso;
5) Que o irmão parasse de
falar em demônio, reino do mal, obras da carne, que só traz sentimento de culpa
e dedo acusatório às congregações.
6) Finalmente, que o irmão
autorize o rapaz que ajuntou-se com a mãe ou madrasta a viver a vida comum do
lar, fazendo dela uma esposa feliz.
Com zelo pela
Obra,
Concílio de
Laodicéia"
............
Como diriam os gaúchos,
"barbaridade, tchê"! Já imaginaram um absurdo destes?
Pois é. Isto não aconteceu.
Pelo menos não ali. Está acontecendo aqui, agora, no meio do mundo chamado
cristão.
E como
começou?
Em 323 A.D. Constantino,
imperador de Roma, oficializou o cristianismo como a religião oficial do Estado.
Como a porta de ingresso não foi a conversão, admitiu-se que cada um trouxesse
debaixo do braço o seu próprio deus, a sua própria cultura, os seus próprios
costumes, as suas próprias feitiçarias, a sua própria moralidade. Juntou-se tudo
e formou-se uma colcha intragável de paganismo. Ao longo da história desta
igreja inúmeros clérigos buscaram a vida monástica, os mosteiros, as grutas,
para fugir da orgia religiosa deste cristianismo forçado. Em séculos a massa
heterogênea transformou-se num bolo homogêneo de doutrinas, de dogmas, de
crendices, de tradições e de regras. Pouco do cristianismo original
ficou.
Um milênio e muitos séculos
depois, na década de 60 do século XX, o Papa Paulo VI convocou um concílio da
Igreja Católica Apostólica Romana. Deste concílio participaram as autoridades
eclesiásticas chamadas de Sagrado Magistério (Papa, Cardeais, Bispos). Durante
muito tempo discutiram as doutrinas e práticas cultuais católicas e chegaram a
um consenso: o catolicismo deveria abrir-se às outras expressões religiosas,
principalmente às chamadas cristãs sectárias (protestantes e pentecostais),
acolhendo a fé diferente, ainda que considerando a católica romana única
representante da verdade completa.
Lefèvre, um bispo francês,
opôs-se e iniciou um levante, um cisma no catolicismo. Sua tese era a seguinte:
"Se eu, como bispo católico, creio que a minha fé é a verdade, como posso
aceitar que outra fé, diferente da minha, também seja verdade? Se ambas são
verdadeiras (e discrepantes), ambas são falsas, porque se anulam. Logo, aceitar
que o catolicismo abra mão de suas tradições e fé em prol de outras maneiras de
crer é negar a própria fé. Queremos continuar católicos e não admitimos a
relatividade da verdade, que é unica." Esse bispo foi uma pedra no sapato de
Roma. E o é até hoje, anos depois de sua morte. Bento XVI o reconciliou
pós-morte, mas o atual Papa, Francisco, é o absoluto antagonismo de Lefèvre.
Essa onda de abrir mão da
fé para tolerar a fé alheia inundou o meio evangélico também. Antes, com modelos
teológicos e eclesiológicos claros, o mundo protestante e evangélico tinha um
modelo, um ideal e um limite; as pessoas aderiam buscando adequação a esta fé e
a este modelo. Começando com os luteranos e atravessando o presbiterianismo e o
metodismo, a onda chegou aos batistas e pentecostais. Hoje é muito difícil
distinguir quem é quem, pois o caldo é tão denso e são tantas as misturas, que
perdeu-se, inclusive, o motivo de se aderir à fé evangélica (ela tornou-se igual
a qualquer coisa, inclusive a nenhuma fé).
Em minha denominação, a
batista, a onda começou na outra América. Atravessou a Europa e, finalmente,
arrebentou no Brasil. Uma tsunami de mudanças, de alterações, de agir no
"politicamente correto". Hoje isso tem outro nome: "INCLUSÃO", "DIÁLOGO" e
"TOLERÂNCIA".
A carta fictícia lá em cima
teria o seguinte teor nos dias de hoje:
1) A igreja deve ser
inclusiva, recebendo pessoas em qualquer estado civil; não há necessidade de
mudar nada.
2) A igreja deve aceitar a
opção sexual de cada indivíduo e família, buscando incluí-los na normalidade do
serviço e da comunhão.
3) A igreja deve aceitar
toda manifestação cultural como boa e possível na eclesiologia; logo, podemos
usar os ritmos africanos das religiões ocultistas, o rock americano e europeu,
as músicas das tribos indígenas, a música contemporânea, o funk de favela,
qualquer uma, pois nenhuma é boa ou ruim em si; manifestam-se apenas como
expressões de uma cultura.
4) A igreja deve ser
totalmente democrática, optando pela forma de cultuar, de servir, de decidir as
suas questões, independente de qualquer regra pré-estabelecida, pois isso seria
uma intolerância e ditadura do poder religioso.Nem a Bíblia pode servir de
regra, uma vez que era a expressão de uma época antiga e
primitiva.
5) A igreja não é dona da
verdade, ninguém o é; portanto, a verdade deve ser relativizada, buscando um
consenso e uma tolerância entre as opiniões divergentes. Qualquer verdade é
verdade se crida e abraçada.
6) A juventude pode se
tatuar, usar piercings, drogas, bebidas, participar de festas e de vida sexual
ativa, desde que respeite ao próximo e mostre bondade em tudo o que
fizer.
7) O pastor deve ser, acima
de tudo, um agente do diálogo, nunca repressor, jamais intolerante; deve buscar
na contemporaneidade a resposta às questões de vida da comunidade, tornando-se
referência de boas escolhas.
Poderíamos estender a lista
à infinitude. Estes ítens nos bastam.
Isto prova uma coisa:
perdemos um MODELO, UM ALVO, UM PADRÃO. Antes o padrão era Cristo e o "assim diz
o Senhor". Hoje abandonamos o padrão e consideramos tudo como "opinião pessoal".
Isso é bem explorado no filme "A JORNADA", de Rich Christiano. "O pecado se
tornou lentamente aceitável para nós porque nós o vemos o tempo todo e não nos
choca mais. Satanás é mais esperto do que pensamos. À medida em que as pessoas
se tornavam mais liberadas, parecia haver cada vez menos convicção. Porque não
havia absolutamente qualquer autoridade; por isso as pessoas podem blasfemar
contra o nome do Senhor e não pensam nisso." Antes se dizia: "não roube porque
Deus diz que é pecado". Hoje se diz: "não roube porque é pecado"; então alguém
afirma: "esta é a sua opinião; a minha é outra". Na primeira havia uma
autoridade, um alvo, um padrão, um Deus de autoridade. Hoje não há mais fé, não
há mais padrão, não há mais uma uma voz de autoridade. E por que? PORQUE
DEIXAMOS DE SER CRENTES. Somos qualquer coisa, mas não somos crentes.
Parafraseando Lefrève, se o que eu creio como verdade na Bíblia não me é mais
absoluto, então não há verdade e não há sentido na fé.
Mas, bendito seja Deus, nem
todos foram atingidos por essa "TOLERÂNCIA", esse "DIALOGAR", essa "INCLUSÃO"
generalizada.
Assim,
1) Igreja não é O SEU
LUGAR, mas o lugar de quem está ligado a Cristo, por arrependimento e fé,
através da regeneração pela conversão.
2) O corpo não é papel para
ser rabiscado com tintas, vestido como palhaço ou furado como uma borracha; o
corpo é templo do Espírito Santo.
3) O sexo não é mero meio
de prazer, mas instrumento de perpetuação da espécie; meio de estabelecer o
padrão divino na criação da família e célula principal na formação de uma
sociedade cristã.
4) Homens com homens e
mulheres com mulheres não são opções que Cristo, em Sua Palavra, tenha tolerado,
permitido ou desejado; homem e mulher no princípio, no meio e no fim SEMPRE foi
o ato criador de Deus; o que passa disso é de procedência
maligna.
5) O Paulo que considerou
toda a sua herança judaica como refugo por causa da sublimidade de Cristo, tem a
mesma postura de uma igreja bíblica onde os costumes gentílicos e os pecados
pagãos são banidos; logo, não há espaço num meio cristão legítimo para a
admissão de bailes, de festas religiosas pagãs, de fazer do esporte um ídolo ou
de transformar a liturgia do culto numa colcha cultural de retalhos étnicos.
Também não há espaço para judaizar a igreja, transformando-a numa sinagoga,
observadora de luas novas, de sábados, de festas nacionais de Israel ou de meros
braços daquela nação. Somos da Nova Aliança no sangue de Cristo, que derrubou as
muralhas e de ambos os povos (judeus e gentios) fez um!
6) A igreja verdadeira não
admite outras verdades; para ela, Cristo é a verdade e a Bíblia é a regra de fé
e prática, não sujeita às correntes e vertentes culturais da contemporaneidade
sociológica; seus valores são milenares e não são reconciliáveis com o padrão
comportamental de qualquer tempo. Está no mundo, mas não milita com ele em sua
forma de pensar, agir ou conviver; sua proposta é muito, muito mais
elevada.
7) Num mundo
verdadeiramente cristão os homens são convertidos e são TRANSFORMADOS em novas
criaturas, não recebidos com os seus múltiplos pecados e tolerados como jóias;
8) A igreja do Senhor não é
uma costura de muitos membros de corpos diferentes, como um Frankestein sem
alma; ela é padronizada pelo Senhor Jesus, onde cada crente é instado dia e
noite a ser como o Seu Senhor, a andar como Cristo andou, a padronizar
comportamento e fé à Palavra de Deus; e isto é obra do Espírito Santo no coração
convertido, não a força de um condicionamento cultural ou massificação
psicológica ou doutrinamento político.
Finalizando.
(E sei que Paulo não me
ouve; é apenas força de expressão):
Paulo, Paulo, graças a Deus
você foi quem foi! Temos orgulho de você!
Bendito seja Deus por sua
vida de fidelidade ao Senhor, à Sua Palavra e à verdadeira
fé.
Que nos inspiremos em você
e em todos os outros apóstolos, colocando no topo o nosso Senhor Jesus Cristo,
para não nos tornarmos mortos e falsos como a maioria dos crentes
contemporâneos.
Seja Deus
engrandecido.
Pastor Wagner Antonio de
Araújo
* Graça e
paz.
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