ISSO É
UMA
TRADUÇÃO?
572
Sinto-me agredido. E irei
protestar.
Sou usuário há muitos anos
da Bíblia Sagrada, versão João Ferreira de Almeida, versão ARA - Almeida Revista
e Atualizada no Brasil, da Sociedade Bíblica do Brasil. Uma versão clássica.
Agora a editora "presenteia-nos" com uma revisão da versão, ao gosto da
modernidade liberal, sentindo-se no direito explícito de tecer alterações em
toda a redação, não simplesmente porque havia algum erro de tradução, mas para
"soar bem" na leitura pública e para que as pessoas "não precisassem ir ao
dicionário" (deve ser realmente um tormento ter que consultar um compêndio que
enriqueça a compreensão da língua, num mundo onde só se ouve "tá ligado?",
"valeu", "deu ruim", "caô"...). Chamaram esta versão de NAA - Nova Almeida
Atualizada.
Resolveram retirar o "vós"
e o "tu" dos textos porque "ninguém" mais fala com esses pronomes é, no mínimo,
uma ignorância de quem vive no centro urbano de alguma capital. Além disto, em
Portugal, diz-se que "você é estrebaria", mostrando que não é uma linguagem que
demonstra superioridade na referência ao próximo. Estaria a SBB e seus
"intérpretes" reinventando a língua portuguesa de fala brasileira ao belprazer
de seu gosto pessoal? Será que ela conhece realmente a fala de todo brasileiro,
de todas as regiões? Além disto, nivelar as falas bíblicas à falta de
sacralidade e reverência na Bíblia já foi uma agressão tentada e conseguida em
sua outra "versão", a da "linguagem de hoje", além de paráfrases como "A Bíblia
Viva" (que é de outra editora e teve que revisar algumas vezes o seu texto para
torná-lo "apetecível" a todos os gostos...) . Já não tínhamos versões alteradas
em número suficiente? Era necessário destruir também o último reduto de
formalidade sacra que cristãos protestantes ainda possuíam, nesta versão de
décadas, os que não optavam pela versão Revista e Corrigida ou
Fiel?
Não discuto nem a questão
das fontes (Texto Crítico e Texto Receptus), cujos argumentos em favor do texto
Receptus nos levariam a muitas outras questões sumamente importantes.
Limitar-me-ei (ah, não se usam mais mesóclises, me desculpem!), eu me limitarei
a tecer comentários sobre a apresentação desta versão, às páginas IV a VII do
volume vendido (interessante: alguém ainda usa numerais romanos? Não estaremos
precisando de uma revisão desta versão recém-apresentada?)
Ouvir Jesus a falar "vocês"
e arrancar toda a oratória sacra do uso de pronomes pessoais na segunda pessoa,
seja do caso reto ou do caso oblíquo, foi o que destruiu, na língua inglesa, a
reverência nas novas "traduções" daquela língua, motivando um retorno constante
e crescente à velha King James ainda não alterada. Ela ocupa o lugar da nossa
Fiel ou Revista e Corrigida aqui. Transformar o livro de Deus num livro
contemporâneo, sob o pretexto de reviver o grego koinê em sua essência (vulgar),
não é argumento satisfatório.
A editora diz, em sua
defesa e apresentação da versão, que o que fez foi manter o ideal dos que
criaram a Versão Atualizada (apresentar um texto clássico na linguagem atual).
Dizem eles que tudo foi feito, consultando a "liderança evangélica". A quem
consultaram? Aos apóstolos neopentecostais modernos? Aos pastores que são
universalistas? Aos corruptos donos de igreja, envolvidos em corrupção? Aos
doutores criados no caldo do liberalismo teológico europeu? Aos que subiram nas
denominações na base do Q.I. (quem indica)? Aos formadores de opinião e grandes
consumidores de toneladas de exemplares bíblicos? Não há menção dos seus nomes
porque, se os mencionassem, talvez afastassem grande parte do publico sério que
irá consumir esse material.
A apresentação desta
"versão" afirma que mudou-se a ordem do texto grego e hebraico, que apresenta
primeiro o verbo antes do sujeito. Isto é, "mudaram" aquilo que estava escrito
para aquilo que queriam que fosse lido, porque julgaram que isso era melhor do
que o que existia. Eu pergunto: com que direito? O direito da maldita
"equivalência dinâmica", que afirma "formal ou literal sempre que possível;
dinâmico, sempre que necessário"? Assim, os "tradutores" sentiram-se no direito de trocar os pesos e
as medidas daquela época por aquilo que hoje se usa. Só não trocaram denários
por dólares ou reais por causa da inflação. Mas côvados, estádios, efas, batos,
foram substituídos por gramas, metros, litros etc. Claro, a nova geração não
possui dicionário e talvez o Google não tenha essas palavras em seu tradutor.
Temos que auxiliar o baixo nível educacional dos alunos e formandos do Brasil! E
viva a mediocridade e o analfabetismo institucionalizado!
Onde há "homens" no texto
grego ou no hebraico, os "tradutores" sentiram-se no direito de trocar por
"pessoas" ou "seres humanos". Bem ao gosto do atual momento de política de
gênero, ainda que digam, na apresentação, que não usaram linguagem inclusiva de
forma "ampla e consistente". Ah bom! Pelo menos Deus ainda é Pai e não
"pai-mãe"... Eu pergunto: com que direito alteraram as palavras? Eles se acham
agora o "Sagrado Magistério", que afirma não haver interpretação bíblica fora da
Santa Igreja Católica? Então a editora tornou-se a intérprete do texto,
mastigando a Palavra e vomitando na boca de seus leitores o que querem que
entendamos? Ocuparam o lugar do Espírito Santo?
A versão foi apresentada
porque queriam "aperfeiçoar o que já era excelente", voltando-se às novas
gerações. Penso que o que é excelente não deve ser alterado ou atualizado. Senão
não seria excelente. Verter o texto de Almeida, traduzido há tantos anos, por
mais uma das versões "ao gosto do freguês". A quem estes intérpretes querem
enganar? Usávamos Almeida Revista e Atualizada porque era uma versão de
TRADUÇÃO, com linguagem atualizada, não uma VERSÃO AO GOSTO DA
CONTEMPORANEIDADE, à luz de quem dirige a editora ou à luz dos mestres da
atualidade.
Não sei se a editora irá
tirar agora, de seu catálogo, a ARA (Almeida Revista e Atualizada),
substituindo-a pela NA (Nova Atualizada). Seria bom que viessem a público
comprometerem-se com a continuidade da publicação pelos próximos 50 anos. Temos
o direito de tê-la em mãos. Mas o que sei é que mais uma vez a Bíblia Sagrada
foi traída. O ex-padre Aníbal Pereira dos Reis escreveu, à época do lançamento
da Bíblia na Linguagem de Hoje, um livro severo, contra as versões
contemporâneas dessa equivalência dinâmica. Hoje os protestantes não protestam.
Apenas se calam, no avanço das mudanças basilares da fé, inclusive de suas
versões bíblicas.
O papel aceita tudo, diziam
os inimigos de nossa bíblias. Infelizmente as editoras estão conseguindo tornar
esse ditado verdadeiro.
Eu continuarei a usar a ARA
e nenhuma editora me obrigará a usar suas esdrúxulas e infiéis revisões mundanas
e politicamente corretas. E se a versão que uso sair do mercado, a SBB terá
conseguido o maior feito de sua história (que começou na década de 40 para
"derrubar" a então única versão bíblica de Almeida impressa no Brasil pela
Imprensa Bíblica Brasileira, já falida, autorizada pelas Sociedades Bíblicas
Unidas alguns anos antes - vede "O QUE DEUS TEM FEITO", de John Mein, da JUERP).
A SBB conseguirá levar o povo sério que fala um português correto migrar para a
versão Fiel da Trinitariana, que ainda mantém Almeida sem mexer em sua tradução.
Ainda, porque, se a moda pegar, logo também lançará uma "correção" de sua
versão...
Afinal, que direito temos
nós de adulterar o texto bíblico? Versões não são inspiradas. Mas, se uma
editora publicou por anos uma versão à qual chamou de útil e aceitável, que
direito tem de criticá-la e apresentar um substitutivo? Se a anterior não foi
boa, irão recomprá-la de cada usuário que a comprou por mais de sessenta anos?
Irão indenizá-los? Irão explicar o porquê ela não era tão boa
assim?
Esta é a minha
opinião. Respeitem-na! E que cada um tire as suas conclusões. E, se quiserem
discutir o que escrevi, poupem o seu tempo. Conheço cada um dos
contra-argumentos. Não sou dos que se convencem por causa de meia dúzia de
falácias. Eu tenho o direito de protestar. Ainda que não seja um protestante
historicamente (sou um batista JJJ, sou um batista clássico), sou um protestante
na prática, eu ainda protesto num mundo protestante sepulcral, que se comporta
como paisagem de fotografia...
Pastor Wagner Antonio de
Araújo, que ainda fala português, que também sabe consultar o grego, que
conhece os textos Crítico e Receptus e que ainda consulta dicionários, que
mantém-se usuário da tradução de João Ferreira de Almeida Revista e
Atualizada no Brasil enquanto a manterem em catálogo e que está indignado com o
que os atuais revisores fizeram à versão clássica ARA do
povo de Deus.
Mas o
Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; (1Tm
4:1)
E tenho
dito.
Wagner Antonio de
Araújo
01/12/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário