VERGONHA
DOS
PAIS
574
Aline conversa com a amiga
ao telefone: "Deus me livre, mana, eu nunca serei doceira. Credo! Ficar horas e
horas junto ao tacho no fogão, mexendo, mexendo, arrumando, experimentando,
misturando, esfriando, cortando, embrulhando! Isso não é vida pra ninguém! Eu
quero é me cuidar, não quero o meu rosto cheio de rugas e grosseiro! Já basta a
mamãe!" Na cozinha sua mãe enxuga o suor da testa e também uma lágrima que
deixou rolar com tristeza. O celular que Aline usava, bem como as suas roupas, a
escola onde estudava e onde conheceu a amiga foram conseguidos às custas dos
doces que sua mãe honradamente produzia.
Carlos chega em casa e
mostra a carteira de trabalho assinada. Conseguiu um emprego de técnico de T.I.
Sua mãe o elogia, dizendo: "Isso mesmo, meu filho! Não seja um burro como o seu
pai. Ele não deu pra nada na vida, virou pedreiro! Que vida sofrida nós levamos!
Mas você não vai seguir essa miséria. Parabéns pelo progresso!" Carlos vai para
o quarto, construído pelas mãos calejadas do pai. A mãe para a cozinha, com
fogão, geladeira, microondas e lavalouças, comprados com o dinheiro honrado de
seu marido a quem chamou de burro.
José visita o pai. Fazia
três anos que ali não aparecia. Foi mostrar-lhe o filho que aniversariava. E
falou com o garotinho: "Tá vendo, Júnior? Esse aí é o seu avô. Catador de
latinhas e de papelão. Não repare o fedor dele, é assim mesmo. Tive que aguentar
isso por muitos anos. Dê um abraço nele, vai!" O pai, aborrecido, nem quis
ficar. José morava numa casa boa com garagem, fruto do fedor do pai, das
latinhas que catou e do papelão que recoheu ao longo de trinta anos. E agora
ouvia tais afrontas de seu filho ingrato...
Você tem vergonha de seu
pai, por ser ele simples e pobre? Tem vergonha de sua mãe por não ter se cuidado
e não ser instruída? Pois deveria envergonhar-se. Foram esses heróis anônimos do
mundo, considerados refugo da sociedade, que lhe deram à luz e lhe supriram as
necessidades básicas. Quantas vezes papai e mamãe deixaram de comer algo
desejado para que você tivesse o leite especial que tomou na infância? Quantas
vezes andaram esfarrapados para que você tivesse o tal "tenis de marca" ou "o
celular de última geração"? Eles poderiam não ter a instrução que você tem ou a
sua cultura, mas tinham algo muito maior: dignidade e amor. Com a dignidade
doaram o seu tempo, a sua saúde e o seu suor para sustentá-lo; com o amor que
lhe dedicaram compraram comida, roupas, proveram-lhe um teto e estudos. Quem
teria que ter vergonha eram eles, por terem um filho tão orgulhoso e
mau.
Deus, ao escolher um pai
humano para o Seu Filho Jesus Cristo, não foi encontrá-lo nos palácios reais ou
nas empresas de sucesso. Não foi procurá-lo entre os letrados de Israel, nem
entre os que tinham grandes patrimônios. Foi achá-lo numa humilde oficina,
coberta de poeira e de farpas de madeira, talvez um tanto bagunçada, sem nada de
belo, mas cheia de dignidade e honra. Ele encontrou um carpinteiro de mãos
calejadas e de fronte suada. E fez dele o homem mais feliz do mundo, pois
deu-lhe a graça de cuidar do Filho de Deus. E Jesus, diferente de você, honrou o
pai que teve. Tornou-se também carpinteiro. Não é
este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas
e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele. (Mc
6:3)
Todo pai quer ver em seu
filho a realização de seus sonhos de conforto, de prosperidade, de estudos.
Certamente que os pais humildes lutam e labutam para dar um futuro melhor do que
o que eles tiveram em suas áreas de trabalho. Porém, se os filhos seguirem as
suas próprias sendas de sobrevivência, poderão sofrer tanto quanto eles, mas
serão honrados e poderão dizer com orgulho: "trabalho como o meu pai
trabalhou"; "ganho o meu pão com a dignidade como a minha mãe o
ganhou."
Doce é o
sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o
deixa dormir. (Ec 5:12)
O filho
sábio alegra seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe. (Pv
15:20)
Honra a
teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; (Ef
6:2)
Espero que os bons filhos
sejam melhores ainda com os seus pais e deles não sintam vergonha. E que os maus
se arrependam e busquem honrar os seus pais humildes. Porque no céu só entram os
regenerados pela conversão a Cristo, que souberam honrar os seus progenitores e
que não desprezaram os calos de suas mãos.
Pr. Wagner Antonio de
Araújo
04/12/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário