APARENTE
COMUNHÃO
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Sou muito grato por cada
leitor que me dá a honra de sua preciosa e caríssima atenção. Só Deus poderá
recompensar à altura. Espero contar sempre com a sua atenção tão valiosa. Sei,
contudo, que, no universo de contatos, muitos não são realmente
pessoais.
Antigamente não havia tanta
facilidade de comunicação. Uma carta, por exemplo, levava dias para chegar,
senão semanas! Depois, com o telefone, os contatos tornaram-se mais próximos.
Nem todos tinham automóveis; assim, os deslocamentos ou eram feitos à pé, ou no
lombo do animal, ou através de trens, ônibus, barcos e aviões. Ter carro era
luxo. Com a indústria de automóveis e a popularização do transporte, as
distâncias encurtaram-se. Apareceu então o telex, o e-mail, as redes sociais. No
Brasil o whatsapp é o mais popular de todos os softwares de comunicação rápida.
Nele as pessoas estão teoricamente conectadas 24 horas por dia. Basta um chamado
e a outra pessoa atende. Não é maravilhoso manter-se em comunhão e em companhia
por todo o tempo?
Infelizmente o que parece
não o é, de fato. Os contatos
on-line por internet não são, nem de longe, o que se propõem ser! A maior parte
deles são apenas endereços, nada mais. Mesmo os grupos familiares, os grupos de
amigos e de classes, não são mais do que comunicações de massa com distribuição
de toneladas de materiais de mídia. Há muitos contatos e poucas pessoas; muitas
curtidas e poucos sentimentos verdadeiros. As saudações diárias, as imagens e
compartilhamentos diuturnos que circulam não são capazes de criar amizades ou de
operar a autêntica comunhão. Quem entra e espera comunhão acaba por frustrar-se
e manter-se na amizade de mão única! As pessoas nem se telefonam
mais!
A Bíblia já ordenava há
anos atrás: Não deixando a nossa congregação, como é
costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto
vedes que se vai aproximando aquele dia. (Hb 10:25) . Há pessoas que se utilizam de cultos transmitidos pela internet
por falta de locomoção ou distância intransponível de igrejas. Não é destes
que falo. Falo daqueles que substituiram a comunhão pessoal pela virtual. De
que forma as pessoas assistem em privado a uma pregação ou ouvem hinos pela
mídia? Comendo pipocas, lavando louças, fazendo as unhas, escovando os dentes ou
fazendo outras coisas. E como deveria ser feito, se o ambiente fosse
eclesiástico? (à moda antiga, porque o que chamam de igreja hoje está muito
distante do que de fato deveria ser) Se fosse no culto, ao vivo, ouviríamos a
pregação ou a canção com reverência, sentados, prestando atenção, em atitude de
oração, em comunhão com os irmãos. Um é o culto pessoal, na igreja ou num lar;
outro é o culto midiático, feito como um programa de TV: um show para
entretenimento com alguma coisa que se aproveita; nada
mais.
As amizades estão também
por aí. Milhares de "amigos" no facebook, centenas de nomes no whatsapp, mas a
maioria é apenas virtual. Poucos realmente se importam uns com os outros. Há
tantos pedidos de oração e tão pouca oração feita de fato! Quem sente falta dos
demais e mostra isso? Às vezes amigos estão a quinhentos metros de distância,
passam pela nossa frente, sabem que estamos próximos, mas não têm interesse
algum em visitar-nos, em serem encontrados pessoalmente, preferindo viver na
fantasia virtual. E somos assim com os demais também. Se peneirarmos as
amizades, pouca coisa sobra. E se alguém nos peneirar será que sobraremos na
lista de alguém?
Amor tem que ser pessoal.
Amor custa caro, exige sacrifício, presença, doação, preocupação. Amor e
comunhão reais devem ser expressos de forma pessoal, não apenas por ruídos de
máquina ou sinais escritos de caixinhas eletrônicas. Igrejas devem comer "um
saco de sal juntas", aprender a conviver, a suportar, a superar. Famílias devem
cearem juntas, passearem juntas, e, não raras vezes, brigarem juntas. Somos
humanos e o convívio é como um par de sapatos a lacear: às vezes machuca, mas
depois tudo se ajeita. Amigos precisam olharem-se nos olhos, partilharem um
passeio, uma visita, um pedaço de pão. A distância que nos protege dos atritos
comuns da convivência também mata as relações e o afeto. Falo dos que podem,
não dos que estão, de fato, privados pela distância ou
condições.
Se Jesus aqui estivesse em
pessoa a conviver conosco, Ele não substituiria o lava-pés por um lava-visor de
celulares. Para Ele gente junta em Seu Nome é a única receita de autêntica
comunhão verdadeira.
Tenho muito carinho pelos
meus contatos, que me dão a alegria de sua leitura a cada dia. Agradeço a Deus
pela vida de todos. Mas sei que muitos se limitam a ler uma ou outra linha, sem
aprofundamento pessoal.
A quem deseja mais que
isso, aconselho a fazer o que faço: escolher uma dúzia de pessoas, da família ou
de seu convívio, transformando-as em amigos de verdade. Eles valerão muito e não
serão apenas uma lista de nomes piscantes no aparelho de celular. Eles não serão
descartáveis como agendas velhas.
Wagner Antonio de
Araújo
12/01/2018
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