QUERO
TRABALHAR
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Aos treze anos, no Museu do Ipiranga, eu vendia maçãs do amor num tabuleiro emprestado de uma senhora. Ela me dava parte do lucro.
Uma professora muito
querida, Dna. Margarida, conseguiu-me uma vaga na floricultura do bairro, onde
entrei como ajudante geral. Lavava a loja, limpava os vasos, fazia arranjos,
cortava espinhos, machucava a mão, fazia entregas. Trabalhava das 8 às seis da
tarde. E estudava à noite, indo e vindo à pé.
Dalí consegui uma
oportunidade como office-boy de farmácia. Ah, que maravilha! De domingo a
domingo com uma folga quinzenal. Aplicava injeções, entregava remédios, limpava
as prateleiras, arrumava os medicamentos, retirava os vencidos, fazia a faxina
da loja, atendia os clientes no balcão. Foi numa das entregas que vi algumas
bíblias na garagem da cliente. Ela prometeu-me um exemplar e, no mês seguinte,
em abril de 1979, deu-me uma de presente. Foi nela que Deus falou ao meu
coração. Um ano exato depois eu era batizado pelo Pr. Timofei Diacov na Igreja
Batista em Sumarezinho, São Paulo.
Fui vendedor de frezas e
brocas, atendendo ao telefone e entregando caixas à pé.
Eu queria ser bancário,
igual ao meu saudoso pai. Fiz mais de vinte fichas. Fui sozinho em todos estes
lugares. Consegui dez aprovações, escolhi o BCN. Ali comecei como contínuo,
atendendo a 400 funcionários, tanto na área interna quanto externa. Éramos
quarenta garotos, todos entre 14 e 17 anos. Fui promovido a auxiliar de entrada
de dados, saída de dados, despacho de dados, na área de informática. Trabalhava
com COBOL. Na crise de 1982 fui demitido. Então vendi seguros de vida,
loteamento de veraneio, chocolates e, sem outra oportunidade, ao lado de meu
irmão Daniel, fomos vender picolés na porta das fábricas. Buscávamos os produtos
num bairro distante e enchíamos o freezer, vendendo na rua. Nunca tive vergonha
de trabalhar, de usar macacão, de andar de sapatos rudes.
Trabalhar! No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à
terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. (Gn
3:19)
Depois daquilo fui
arquivista no Banco Geral do Comércio, jardineiro, e, enfim, entrei para a
Universidade de São Paulo, onde fiz carreira na área contábil. Trabalhei no
Instituto de Eletrotécnica e Energia, tendo criado o primeiro sistema
informatizado em DBASE III PLUS do departamento de controladoria, protótipo dos
meios complexos de hoje. Tinha carreira garantida, mas, ao receber o convite
para atender à igreja onde era membro (e preparava-me para o ministério
pastoral), declinei do serviço secular e fui trabalhar no serviço eclesiástico,
por um salário 80% menor à época (hoje seria muito mais). Em toda a minha vida a
palavra TRABALHO fez parte do vocabulário básico. E deve ser assim na vida de
todo homem honrado.
O meu trabalho hoje não
está na iniciativa privada, mas é tão suado e trabalhado como todos os outros:
literatura, escrita, visitação, atendimento aos enfermos, aconselhamento,
preparação e ministração de aulas, consultoria, impressão de boletins,
relatórios, conferências, viagens, incursões evangelísticas, administração etc.
O pastor é aquele que está acordado quando a maioria já dorme. E o faz com amor
e com dedicação, igual ou maior do que qualquer profissional da área privada. E
nem quero pensar em aposentadoria enquanto o Senhor me der vida e
saúde.
A sociedade mudou, mas o
homem não. No meu tempo adolescentes trabalhavam. Hoje é mais difícil, mas não
impossível (os pequenos aprendizes estão aí para provar o que digo). A
necessidade do trabalho é uma constante realidade. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que,
se alguém não quiser trabalhar, não coma também. (2Ts
3:10)
Entristece-me ver homens e
mulheres de 20, 30 e 40 anos na casa de seus pais, assistindo a televisão,
comendo pipocas, sujando a pia, trancados no quarto a navegar na internet, sem
ajudar em nada ao pai ou à mãe que, incansáveis, trazem com sofreguidão o
sustento para casa. E ainda ousam reclamar de algo! Suas desculpas? Estão
estudando para a especialização. Estão aguardando uma chamada de currículo
fornecido. Estão gripados. Estão depressivos. Têm medo de sairem sozinhos. Meu
Deus, que geração é essa? Um bando de dependentes desocupados! Os pais têm parte
da culpa, mas os filhos, ajuizados, não têm desculpas!
Entristece-me ver jovens
que querem emprego, mas não querem trabalho. Se não tiver direitos, carteira
assinada, se não tiver vale transporte, vale refeição, FGTS, décimo terceiro,
seguro de vida, convênio médico, indenização e etc não aceitam oportunidade
nenhuma. Aliás, tem que ser perto de casa, tem que ter direito a WIFI, tem que
ter banco de horas, ajuda ao curso e tantas outras coisas. Na verdade querem que
um empregador ajoelhe-se aos seus pés e lhes cubra de recursos. Onde vamos
parar? Diz o preguiçoso: Um leão está no caminho; um
leão está nas ruas. (Pv 26:13)
Que tristeza é ver homens
que não trabalham e vivem na dependência da esposa! E há muitas justificativas
para isso: o mundo tornou-se feminista, as melhores oportunidades estão com as
mulheres, não tem vaga para alguém na idade do marido, tem afazeres domésticos
que a esposa não poderia pagar para outro fazer etc. E então muitos homens,
confortáveis em seus sofás, bebem cerveja, assistem NETFLIX, não perdem os jogos
do BRASILEIRÃO, dando uma varridinha na casa, tirando o cocô do cachorro do
quintal, trocando a fralda do bebê ou cozinhando uma panela de feijão no fogão.
Valores invertidos! E não sou dos que não crêem que mulheres devam trabalhar
fora ou ganhar salários. Tenho esposa que trabalha honradamente e ganha mais do
que eu. Mas EU TRABALHO! Mas pela graça de Deus sou o
que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que
todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. (1Co
15:10)
O que quero dizer com esta
meditação?
1) Que o homem ou a mulher
que teme ao Senhor deve trabalhar. Aquele que furtava,
não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha
o que repartir com o que tiver necessidade. (Ef
4:28)
2) Que o trabalho visa
servir ao próximo antes de servir-se a si próprio, e que deve ser feito além do
que é pedido. Assim também vós, quando fizerdes tudo o
que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que
devíamos fazer. (Lc 17:10)Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos
homens. (Ef 6:7)
3) Que um jovem não deve
ser um peso para os seus pais, caso tenha corpo e mente perfeitos; que deve
procurar trabalhar e desenvolver a sua própria vida, tanto para si mesmo,
construindo os alicerces de sua existência, quanto para socorrer os pais quando
estes envelhecerem. E não deve querer começar por cima, exigir direitos, mas
aceitar os desafios e sofrer as carências (eu nunca tive vale refeição, vale
transporte e sempre trabalhei!) Mas, se alguém não tem
cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do
que o infiel. (1Tm 5:8); Com que purificará o jovem o seu caminho?
Observando-o conforme a tua palavra. (Sl 119:9). Jesus
é o nosso padrão: E crescia Jesus em sabedoria, e em
estatura, e em graça para com Deus e os homens (Lc
2:52)
4) Que um crente não deve
perder tempo com divagações, mas com coisas que constróem, que edificam, que
trazem progresso; não fomos chamados para treinamentos intermináveis, mas para
combates pontuais e diários. Porque cada qual levará a
sua própria carga. (Gl 6:5); O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar
dos frutos. (2Tm 2:6)
5) Independente da área, e,
mormente quando específica, cada um deve ser um obreiro incansável na lavoura de
Deus, dando o seu testemunho de crente, edificando os salvos, evangelizando os
perdidos e servindo ao próximo com amor e com cuidado. E
dizia-lhes: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai,
pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara. (Lc
10:2)
Que Deus ajude aos que não
trabalham por opção a terem uma mudança de atitude, e àqueles que já trabalham,
que o façam com maior dedicação.
Wagner Antonio de
Araújo
05/04/2017
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