CRENTOLATRIA
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Eu moro em São Paulo e
tenho acesso à Rua Conde de Sarzedas. É o reduto dos evangélicos. Eu lá estive
para adquirir lembrancinhas para as mamães e buscar algumas bíblias. E, mais uma
vez, voltei estarrecido e perplexo.
Não se trata de dizer que
são lojas pentecostais ou neopentecostais. Hoje não há mais essa nomenclatura
divisória. Os evangélicos misturaram-se de tal forma que até membros das seitas
adventistas e mórmons estão com fatias deste mercado, com participações em
nichos de música e de estudos bíblicos. Isto seria inconcebível há alguns anos;
não hoje, porém!
Fui buscar uma bíblia da
que uso, Almeida Atualizada das letras extra-gigantes. Não encontrei loja que me
fornecesse uma sem letras vermelhas. A editora lança algo e o mercado tira o
resto da prateleira. A editora não parou de publicar; os lojistas é que querem
empurrar uma mercadoria só. Fiquei sem comprar.
Mas vi nas lojas, nas
vitrines, nos balcões e nas promoções bíblias novas, de versões de fundo de
quintal, bíblias modernas com retoques de marketing para serem adquiridas. Agora
lançaram a bíblia tupiniquim. Quem a edita já fez duas versões da bíblia e
coloca na capa: "esta bíblia vai falar ao coração do brasileiro". Então agora
temos bíblias ao gosto das nações, ao gosto dos fregueses? Adaptamos o texto
para o público? O tal editor, muito festejado e graduado, quando terminou a sua
primeira versão, apareceu nos congressos, empurrando outra. Eu, valendo-me de
conhecê-lo, perguntei: "você gostou do trabalho feito naquela primeira?" "Sim",
respondeu-me. "Então por que está fazendo outra? A primeira não estava boa?" Ele
saiu sem dar-me resposta. A quem essa gente deseja enganar? Vi uma tal versão
restaurada, outra reformada, outra histórica, outra da graça, e cada um muda um
pouquinho, para dizer que a sua é melhor. Quanto a bíblias de estudo, são uma
vergonha! Um pastor tradicional é contratado de uma grande editora e já comentou
todos os livros da bíblia e agora lançou a sua bíblia. Pelo que ele diz, que é
diretor, cantor, pregador, preletor, teólogo, doutor etc, precisaria de 3 vidas
de 50 anos para ter toda essa qualificação. Mas o povo, incauto, compra a idéia
de que é ele mesmo quem comenta. E compra as toneladas! Cada apóstolo, doutor,
dono de programa agora tem sua bíblia de estudo. Pensei: o que fizeram com a
Sagrada Escritura?
Entrei em outra loja.
Encontrei tudo dourado. Arcas da aliança com querubins, com andadores e com
réplicas das tábuas da lei e da vara de Arão. Só não vêm com a glória de Deus,
porque esta não se mistura com o mercantilismo diabólico. Havia roupas judaicas
com franjas para todo o tipo de evento. Shofares e berrantes de várias espécies.
Como o deus dessa gente é adaptável, é melhor tocar berrante e chamar o espírito
do que um shofar. E os óleos de unção? Meu Deus, que fedor! Cheiro de mirra, de
aloé, de bálsamo, de óleo de cozinha, quantos vidros e cores! Unção para vários
tipos de coisa. Pensei nos dias em que trafegava pelos corredores do shoping da
catedral de Aparecida do Norte: qual a diferença? As bugigangas só mudam de
tema, mas a idolatria é a mesma.
E a luterolatria e
calvinolatria? Uma aberração. Bíblia da reforma, devocional da reforma, livro de
Calvino, livro de Spurgeon, livro de Lutero. Fotos por toda parte, como se estes
nomes fossem os nossos santos protetores e diretores, que conduzem a nossa fé e
a nossa vida. Que moral temos para falar da idolatria de fora, quando criamos o
nosso próprio panteão de ídolos? Creio que se esses líderes do passado soubessem
o que esta geração fez com eles, teriam os ossos a tremer no
cemitério...
E a ostentação? Moda
evangélica. Moda saia santa. Moda terno da prosperidade. As mesmas ostentações
dos pastores da tevê vendida por eles mesmos, para ganhar um dinheirinho,
formando clones. E nas ruas pregadores em início de carreira, vendendo dvds e
cds de mensagens. "Irmão, tenho aqui uma mensagem poderosa de cura dos enfermos.
Leve-a por vinte reais". "Irmão, Deus me deu uma revelação e eu a venderei por
cinquenta reais em três dvds. Vamos levar?" "Irmão, quero te abençoar em sua
igreja. Cobro só a condução e a alimentação. Vamos fechar agenda?".
Imaginei Jesus naquela rua.
Uma guasca, um chicote bem caprichado e chutes aos montes naquelas prateleiras
malditas da ostentação evangélica. A música que ali tocava nada tinha de louvor,
senão de baladas para vender. "Chove, chuva, chove em minha vida, chove, chove,
chove..." Ah, Senhor, quanta coisa errada!
Comprei o que precisava.
Entre as mil lojas ainda há um restinho que se salva. Ainda há alguma livraria
que vende coisa que presta. Ainda há um ou outro crente verdadeiro. Mas
confesso: aquilo é um termômetro do quão distantes estão os evangélicos da
Palavra de Deus. Cabe a nós, pastores deste tempo e que enxergamos isto (a
maioria não enxerga) cuidarmos bem de nossas congregações, pregando o autêntico
evangelho e orando para que os fiéis não se misturem com essa geração
perdida.
Mas o
Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; (1Tm
4:1)
Wagner Antonio de
Araújo
13/05/2017
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