EU
TINHA
QUE
VIR...
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Uma cena chamou a minha
atenção no aeroporto, enquanto aguardava a família que viria me buscar. Uma
senhora saiu pelo desembarque aos prantos. Foi amparada por familiares que
vieram buscá-la. Certamente um familiar muito querido ou amigo próximo teria
morrido. Dor como esta somente quem já passou pode avaliar. Eu já passei. Sei o
quanto é difícil. Pessoas que moram distantes, pessoas que estão geograficamente
separadas, há tão pouca oportunidade de convívio pessoal!
Lembrei-me de um episódio
do antigo seriado OS PIONEIROS. Uma senhora celebrava os seus aniversários todo
ano, mas, para a sua decepção, os filhos, que moravam distantes (e as distâncias
eram maiores no século dezenove, com estradas ruins nos Estados Unidos) jamais
vinham para a celebração. Um dia a mulher conversou com o pastor e pediu para
celebrar antecipadamente o seu próprio velório. O ministro da igreja, atônito,
quis saber o porquê. Explicada a situação, concordou com o evento e convidou a
igreja para a reunião. Antes, porém, ela enviara telegramas de notificação do
falecimento aos parentes.
Quando a cerimônia teve
início os familiares chegaram. Filhos, noras, netos, todos. Então, diante da
sala repleta, ela deixa o quarto onde escondia-se e sai viva e bem vestida. Os
filhos surpreendem-se e ralham com ela pelo blefe. Ela, então, explica: "Filhos,
foi a única forma de reuni-los comigo; eu de fato irei morrer; mas por que vir
no meu sepultamento, quando eu não terei mais a oportunidade de vê-los? Vocês
estão aqui hoje e já é o meu presente de velório; celebremos o meu aniversário!"
O episódio termina em lágrimas e em declaração de amor pela
matriarca.
Nós fazemos de tudo para
participar de um velório. Deixamos as atividades, pedimos dispensa do trabalho,
ausentamo-nos das aulas, interrompemos as férias, tudo para cumprir o
compromisso social com o defunto e demonstrar que ele era importante e
relevante. Queremos que a família saiba. Mas este tipo de valor potencializado
no ato do velório poderia ser antecipado para a prometida visita que nunca se
fez. Poderia ser vivido com a pessoa ainda apta a alegrar-se com a nossa
presença. Poderia ser desfrutada com flores de verdade entregues na mão e não
flores às toneladas que lhe servirão de mortalha. Se perguntassem para uma
pessoa a sua preferência, se gostaria de um velório cheio de gente ou de amigos
e parentes mais próximos, certamente ouviriam-lhe dizer que gostariam de ter as
pessoas presentes em vida. Depois de morta a pessoa nada vê e não saberá do
suposto afeto e consideração.
Flores em vida desabrocham.
Flores que enfeitam a morte apodrecem. Algumas vezes só poderemos dar as
segundas, mas, se ainda tivermos chances, que entreguemos os ramalhetes
perfumados aos queridos que estão vivos.
Wagner Antonio de
Araújo
04/10/2017
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