CONTRA
OU
A FAVOR?
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É muito raro encontrarmos
pessoas de opinião íntegra, gente cujo comportamento não se altera com as
mudanças temporárias trazidas pelas circunstâncias. Geralmente se é contra
alguma coisa até que alguém afague, seja gentil, que apresente algo que altere a
sua guarda, a sua defensiva. A sedução é uma constante desde o tempo da serpente
e do casal Adão e Eva!
Na fé cristã vivemos esta
realidade de forma bastante evidente.
Somos contra alguma falsa
doutrina, estruturamos uma série de argumentos que comprovam a sua falsidade.
Mas num belo dia somos surpreendidos com uma coisinha boa aqui, outra ali,
coisas boas nas planícies das heresias e dos erros. A nossa guarda
cede e passamos a tecer elogios ao que antes condenávamos. Daqui há pouco nos
tornamos coniventes com o que considerávamos mal e adeus defensores da sã
doutrina....
Somos contra a fornicação,
o sexo fora do casamento, o namoro com relacionamentos físicos concretizados.
Pregamos e apresentamos bases sólidas na Palavra de Deus contra isto e
defendemos a família tradicional. Mas num belo dia alguém de nossa casa ou de
nossa intimidade fornica e gera uma criança. Aquela contrariedade toda torna-se
doce, consideramos que nem é tão importante o casar-se desde que haja amor e
respeito. E então a fortaleza de nossa opinião sucumbe ao grito que o sentimento
dá junto a muralha de nossa convicção. E já não somos mais contrários aos
relacionamentos sem casamento. Tudo era uma questão do quanto isto nos
afetava...
Somos contra a idolatria.
Temos resposta bíblica consistente com relação a esse assunto. Até que um dia um
padre bonzinho, dócil, que usa versículos e canta as nossas músicas ocupa a
mídia. Ele é mais gentil do que um pastor, é cativante e busca o amor. Então já
não temos hostilidade ao vê-lo proclamar a idolatria, a ter imagens de escultura
e praticar o sacrifício não cruento da missa. Já não fazemos caso do purgatório,
das indulgências ou da salvação pelas obras. Para nós a bondade daquele ministro
sobrepuja a convicção que antes esposávamos. E está implantado o ecumenismo
interior.
Somos contra o
carismatismo. Temos postura conservadora. Cremos que o Espírito Santo habita no
coração de todo crente desde o dia da conversão e que não há sinais externos
indispensáveis para tal realidade, uma vez que o maior deles é o fruto do
Espírito, a transformação de vidas. Mas alguém de nosso convívio é tocado por
esta chama e passa a praticar os supostos dons de sinais. Ele muda de vida e
torna-se mais dedicado. Logo nós nos sentimos vazios e interiormente desejamos o
mesmo fogo. Em pouco tempo abrimos mão dos conceitos que tínhamos sob o pretexto
de desejar o mesmo poder. E sepultamos qualquer convicção tradicional no túmulo
do passado, pois fomos seduzidos pelo empirismo emocional. Nasce um novo
carismático.
Somos contra a corrupção.
Vociferamos contra os políticos que roubam o erário público. Insultamos
publicamente as autoridades corruptas. Até que alguém de nossa estima e que nos
é próximo torna-se vereador, assessor, deputado, senador, e nos visita com
dádivas estatais. Ele sempre foi alguém de nossa confiança e possui recursos que
podem nos ajudar. Ele nos dá um cargo para o filho desempregado, uma secretaria
para a esposa, uma bolsa de estudos para algum membro da igreja, um terreno onde
construir um templo. Aos poucos já não chamamos de corrupção o uso do dinheiro
público com finalidades privadas ou religiosas, mas bênçãos públicas que o
Senhor nos concede. O pejo já não está presente quando sabemos que a verba veio
de obras públicas não realizadas, de eventos que não consumiram todo o recurso,
de indicações que tiraram a chance dos verdadeiros profissionais que poderiam
ocupar as vagas. E está aí um novo usuário da corrupção.
Gosto de ver o Apóstolo
Paulo a dizer:
Antes,
como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não foi sim e não. (2Co
1:18)
Paulo, ao ver Pedro agir de
forma dúbia, querendo viver como gentio na presença destes, mas como judeu
quando os conterrâneos estavam presentes, teve que aguentar o dedo em riste do
intransigente colega de apostolado:
E, chegando Pedro à Antioquia, lhe
resisti na cara, porque era repreensível.
Porque, antes que alguns tivessem chegado
da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi
retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
E os outros judeus também dissimulavam
com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.
Mas, quando vi que não andavam bem e
direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de
todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que
obrigas os gentios a viverem como judeus? (Gálatas
2.11-14)
Infelizmente a grande questão de opinião não é qual seja
ela, mas quanto ela custa. Se foi construída em cima de argumentos sólidos e que
satisfaziam a razão pessoal e a fé, se foi feita com a mais pura consciência da
verdade e se foi defendida ao longo de toda a vida, por que mudá-la? Ou não
éramos convictos ou então nos corrompemos. Daí funciona a frase: "Todo homem tem
seu preço; cabe a cada um determinar o seu".
Queira Deus que aqueles que fundamentaram as suas opiniões e
comportamentos na solidez das Escrituras Sagradas e que mantiveram-se fiéis às
suas interpretações de vida não sucumbam e não se vendam diante das
circunstâncias voláteis dos acontecimentos.
Afinal, em Deus temos alguém que é fiel, mas não apenas
fiel: alguém que é JUSTO.
Mas o justo viverá da fé; E, se
ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hebreus
10.38)
Wagner Antonio de
Araújo
04/10/2017
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