ALEGRIA
OU
HIPOCRISIA
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Hoje pela manhã, ao sair de
casa, tirei uma fotografia e desejei um bom domingo aos meus amigos do facebook.
Como sabem, estou de luto (perdi o meu pai na fé Pr. Timofei Diacov) e estou
saindo de uma virose brava, com febre e tosse. Contudo, desejei saudar aos
amigos na alegria do Senhor. "Alegrei-me quando me disseram: vamos à Casa do
Senhor". (Salmo 122.1)
Foi o bastante para um
pastor liberal, destes que a minha denominação "adora", vir com o seu pitaco:
"não sei se olho para a foto ou se vejo o versículo; que contradição!". Quando
li aquilo perguntei: "Como? Isso é uma brincadeira?" O cidadão percebeu que não
agradou e bloqueou-me, sem esperar por uma resposta. E um outro contato, desde
há muito superior a todos, pois não precisa de igreja, assim expressou-se:
"Faltou um sorriso, cadê a alegria?"
As pessoas acostumaram-se a
cascas bonitas e envernizadas, a sorrisos plásticos e encomendados. Querem posar
bem para as fotos. São tão propensas a aparecerem que não perdem um relâmpago de
tempestade para darem um sorriso. Até num velório ou num culto de oração, quando
flagradas, querem mostrar os dentes brancos e impecáveis.
Lamento. Alegria não é
isso. Isso pode ser uma bela casca, um ditame da sociedade que exige boa
propaganda, ainda que o produto seja ruim.
Alegria, no sentido do
vocábulo, é um estado de contentamento, de satisfação. É estar bem dentro de si
mesmo. E isto não significa sorrir. Há muitos que choram através de um sorriso.
Há muitos que enganam quando sorriem. A alegria pode expressar-se num sorriso,
mas nem sempre.
Um moribundo, numa cama,
sem domínio de seus músculos faciais, não pode sorrir. Contudo, se seu coração
estiver em paz ele pode ter mais alegria do que qualquer um de
nós.
Um enlutado, que perde um
pai, uma mãe, uma irmã, uma esposa ou um filho, que diz adeus a quem tanto lhe é
caro, pode estar chorando de saudade, mas também alegre por saber do destino de
seu morto. A alegria não se expressa apenas numa boca cheia de dentes exibidos,
mas num coração em paz e agradecido.
Tenho gravada a última
oração do Pastor Timofei Diacov. A sua esposa, Tia Ruth Diacov, gravou-a
enquanto ele ainda tinha um pouco de consciência. Suas palavras foram: "Nada
para pedir, só para agradecer! Eu te amo, Senhor!" Em seus lábios não há
sorrisos, mas não encontro entre nós, mortais contemporâneos, uma alegria maior
do que aquela deste herói da fé nos seus noventa anos bem vividos ao lado de
Cristo.
Certamente que um coração
alegre aformoseia o rosto. Mas isto não significa que só me alegrarei por ir à
Casa do Senhor quando tudo estiver bem. A minha alegria deve vir do fundo do
coração, mesmo no meio das lutas e tristezas, mesmo que o meu rosto não expresse
tanto contentamento assim. Nunca vi Jesus gargalhar, nem tampouco há um único
registro de que ele estivesse a sorrir. Mas não houve no mundo quem mais se
alegrasse no Senhor do que o nosso Mestre!
Como
contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como
nada tendo, e possuindo tudo. (2Co 6:10)
Está
alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. (Tg
5:13)
Assim, quero encerrar este
texto dizendo: a alegria é mais profunda do que um rosto a sorrir. Ela pode ser
a diferença entre a PRÉDICA e a PRÁTICA. Porque uns falam de alegria e até a
proclamam com fotografias sorridentes, mas vivem tristes; outros, mesmo sem
dentes ou sem fotos expressivas, fazem o dia valer a pena, dedicando o melhor ao
Senhor, quer chova ou faça sol, quer estejam saudáveis, quer doentes; quer
estejam na celebração do nascimento de um filho ou de luto por um pai que
morreu.
Quero a alegria. Não me
contento com a aparência. Sou avesso a hipocrisias.
E chega de prosa, como
diria o saudoso Gióia Júnior.
Wagner Antonio de Araújo
29/10/2017
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