O SEU
DESTINO
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João Diabo. Esse era o nome
de seu pai. Um bandido de alta periculosidade. Diziam que sua faca era do
capeta. Com ela matara mais de setenta homens. Assaltos, roubos, estupros, tudo
isso. Ele, o Joãozinho, era fruto de um estupro destes. Sua mãe, pobre mulher,
humilhada pelo infeliz, tentava criar o menino da melhor maneira que podia.
Lavava roupas para fora, fazia diárias de limpeza e não deixava faltar o pão e a
roupa. Luxo isso não tinha.
No bairro a fama de João
Diabo era terrível. Todos tinham uma história pra contar. E quando contemplavam
o pequeno Pedrinho não tardavam a dizer: Pedrinho Capeta. "Vai seguir o destino
do pai; por que a mãe não abortou essa peste?" O menino crescia triste,
aborrecido, cônscio de que era fruto de uma desgraça. Sua mãe, contudo,
inspirava-lhe outros sentimentos: tinha-a como salvadora, pois se não fosse a
sua coragem e determinação, o seu fim teria sido uma coletagem
imediata.
Na escola era temido. E os
moleques malvados se aglomeravam junto a ele, dizendo: "Pedrinho, você tem que
seguir o seu destino. Você será do mal, venha conosco!" Pedrinho sentia vontade
de vingar-se de todos que lhe apontavam o dedo. Às vezes sentia desejo de tomar
uma faca da cozinha de sua mãe e matar a todo aquele que o insultava. Mas algo
dentro dele dizia: "Ninguém será dono do meu destino". E assim seguia, não sem
lutas e conflitos. Batia e apanhava na porta da escola, levava suspensão na
diretoria, sua mãe chorava muito por não ter bom resultado nos corretivos. Mas
assim ele seguiu.
Um dia, à porta do colégio,
os Gideões Internacionais, entidade internacional que distribuia novos
testamentos, estacionou uma kombi na frente do colégio. Alguns homens davam de
presente um exemplar do novo testamento, salmos e provérbios aos estudantes. Ele
pegou um e saiu a ler. Encontrando o encarte que dizia: "Está triste? Leia tal
coisa", imediatamente foi procurar. No início teve dificuldades, mas aos poucos
conseguiu identificar o que significavam aqueles números e letras. E um novo
mundo se abriu para ele. "Eu sou o dono do meu destino; não terei que ser como
meu pai".
Pedrinho converteu-se ao
evangelho. Fê-lo sozinho, no páteo do colégio, com o seu livrinho em mãos. Sua
transformação foi evidente. Logo descobriu uma igreja onde se pregava o Novo
Testamento e foi conhecê-la. Havia classe de adolescentes e ele identificou-se
com eles. Sua mãe, surpresa, viu no menino um novo filho, um menino diferente do
que o seu destino prometia. Pedrinho foi batizado e tornou-se um crente em Jesus
Cristo. Logo conduziu mamãe ao Senhor e passou a partilhar com os colegas a
mensagem de Cristo.
Quando tinha dezesseis
anos, pediu à mãe para visitar o estuprador que lhe gerara. A mãe, perplexa,
ficou muito entristecida. Mas tamanha foi a insistência, que lhe indicou a
cadeia e o nome do bandido. Pedrinho foi até lá, acompanhado de uma tia. À porta
da penitenciária recebeu a notícia: "Pedrinho, o bandido não quer recebê-lo;
disse que você não é gente, mas um erro e avisou-o para nunca mais procurá-lo,
senão ele mandará matá-lo". Imaginem a tristeza deste menino junto à tia. Até o
carcereiro comoveu-se. Este, imaginativo, disse: "Escreva uma carta e eu lerei
para o João Diabo". O garoto mais que depressa conseguiu lápis e papel e
escreveu o seguinte:
"João Diabo, aqui é o
Pedrinho, fruto de sua violência a uma mulher decente. Como filho de seus lombos
eu deveria seguir a mesma sina, andar nos mesmos passos de papai. Contudo eu
descobri que quem faz o destino somos nós mesmos e que não tenho o menor
interesse em seguir pelo caminho que o senhor seguiu. Pai, sou de Cristo e quero
que saiba que ainda há uma chance para o senhor: Deus mandou Jesus para ser
punido em seu lugar. Receba-o em seu coração e seja um novo homem. Não seja mais
João Diabo, mas João de Cristo. E se um dia precisar de mim e quiser me ver,
estarei aqui para lhe acolher. Com respeito, seu filho
Pedrinho".
Pedrinho soube que seu pai
nem quis ouvir a carta. Mas o carcereiro guardou-a. Dois anos depois, quando
João Diabo morreu numa rebelião, a carta foi colocada em seu caixão, seguindo
com ele para a campa fria. Pena que não seguiu em seu coração.
Com Pedrinho cumpriu-se o
que a Bíblia diz:
A alma
que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai
levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade
do ímpio cairá sobre ele. (Ez 18:20)
Pedrinho fez o seu próprio
destino. Decidiu que não seria réplica do próprio pai. Ele não estava fadado a
cumprir uma sina, a seguir o chamado do sangue. Pedrinho tornou-se um homem de
bem. Passou a ser conhecido como Pedro de Cristo, em antagonia com o estuprador
que lhe gerara, João Diabo. Pedro tornou-se um homem feliz e realizado, cheio
das dádivas de Deus.
E lá no Céu, onde Jesus
está, quando ouviu Pedrinho dizer: "Eu te escolhi, Senhor Jesus", foi como se
ecoasse novamente uma frase que o Senhor já dissera quando por aqui peregrinara
em Sua vida messiânica:
Não me
escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e
deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome
pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. (Jo 15:16)
Que dádiva incomparável a
do Senhor, que nos dá a bênção de não sermos escravos do fatalismo e do destino!
Podemos fazer diferente, podemos seguir caminhos melhores do que os de nossos
pais! Porém, ainda que livres neste sentido, foi a graça de Deus que operou
eficazmente na vida do rapaz, que não foi morto através de um aborto, que não
perdeu a vida nas brigas da escola e que não seguiu ao chamado do sangue, que
lhe inclinava para a vingança.
E sabemos
que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito. (Rm
8:28)
Se o leitor é daqueles que
acham que não há mais jeito para si, lembre: você faz o seu destino. E se
escolher seguir a Cristo, saiba: Ele já o escolheu primeiro. Glorifique-o com
amor e viva com fervor essa vida maravilhosa! Não mais João Diabo, mas Pedro de
Cristo!
Wagner Antonio de
Araújo
05/10/2017
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