A
DECADÊNCIA
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Limpo os meus cds. Encontro
alguns bem antigos, de jovens que louvavam ao Senhor. Procuro os seus telefones,
alguns muito velhos. Consigo contatar alguns.
Um deles cantava tão
bonito, tantos hinos sacros! Tornou-se pastor, já está com meia idade. Com um
perfil tão eclesiástico tornou-se modernista. Deixou a música-solo e agora
meteu-se num ministério de crescimento de igreja. Pai e filho. Milhares de
pessoas. Nenhuma sombra do que ouço no velho cd.
Encontro outro. Um
arranjador inteligente. Apresentava-se em noites missionárias. Tinha um
repertório eclético, mostrava-se comprometido com o evangelho. Encontro-o. Toca
em bares e boates americanas. Ganha a vida na noite. Frequenta uma igreja aos
fins de semana. É reconhecido como ministro de música. Opina sobre tudo,
inclusive sobre gênero e ecumenismo. Olho para o meu cd e pergunto: o que foi
que aconteceu?
Vejo outro. Uma linda
jovem, cantora. Ligo e descubro que abandonou o evangelho para ser promotora de
vendas. Tornou-se conceituada. Fez faculdade teológica para vender perfumaria.
Lembro-me da igreja a investir em seu seminário. Quem sabe conseguiram um
vale-perfume vitalício, não?
Tomo a minha agenda de
telefone e procuro os colegas. Este: pastor humilde na periferia, como era bom
ouvir suas prédicas! Encontro-o como palestrante de rede hoteleira e conselheiro
de esportes. Não há uma única menção ao evangelho.
O outro era seminarista
estudioso. Descubro-o numa universidade alemã bebendo a filosofia
existencialista e arrotando afrontas ao evangelho no qual fora criado. Que
tristeza!
É muito raro ouvir-se a
frase: "a igreja tal deu posse ao novo pastor; ele está fazendo um bom trabalho
e a igreja está se tornando mais e mais espiritual". O que ouço é o contrário: a
cada novo ministro que assume o desgaste da igreja tradicional avança,
transformando-a num clube religioso. Jogam os bancos e os púlpitos pela janela e
enchem o salão de computadores, baterias, cadeiras e poltronas. No lugar do
púlpito há um móvel de ostentação com frases de efeito. E o ministro está mais
para desfile fashion de jeans e tenis de marca do que pregador do velho
evangelho.
Não vejo como isto mudará.
Não há volta. E não se trata de um mero e conhecido "conflito de gerações". A
questão é muito mais profunda, global e ontológica. Não foi apenas a copa da
árvore que modificou-se; a raiz e o caule também. A videira deixou de sê-lo; o
fruto é outro. Por isso as editoras bíblicas não cansam de refazer suas versões,
ao gosto do freguês, motivadas pelas imposições dos líderes das grandes seitas
que deixaram o rol da ortodoxia evangélica. Hoje tudo é mutante. Tudo, exceto a
verdade; esta foi abandonada, porque não conseguiram torcê-la.
Tempos difíceis.
Uns poucos remanescentes
ainda se mantém; espécimes raros de uma linhagem em extinção. Extinção na
Terra, povoamento do Céu. E em breve tudo se cumprirá.
Wagner Antonio de
Araújo
16/03/2018
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