O
CRENTE
"BÍBLIA
GASTA"
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Elaine, Rutinha e eu
tentávamos hoje chegar até a igreja onde sirvo ao Senhor atualmente (Igreja
Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, SP, Brasil) e não pudemos. O
trânsito estava impossível. Só rodamos por alguns quarteirões e regressamos para
a garagem. Fui ao bagageiro pegar a minha bíblia e lá não estava; Elaine estava
com ela ao colo e deu-ma. Então falei-lhe: "Pois é, querida, a minha Bíblia está
bem gasta; parece que está cada vez melhor." E completei: "Assim também é o
crente fiel: quanto mais gasto, mais experiente".
Assim é a vida cristã:
quanto mais tempo de vida com Deus, maiores experiências ganhamos e maior
sabedoria adquirimos.
No início, quando
entregamos o coração para Jesus, tudo é novidade, tudo é lindo, tudo é novo.
Igual as bíblias novas que adquirimos: beiras douradas ou vermelhas, capa
novinha e sem sujeiras, páginas limpíssimas, sem um amasso sequer. Dá gosto
olhar para ela. Quando somos crentes novos tudo é festa: enxergamos os crentes
como pessoas sem problemas e sem manchas; a igreja é o melhor lugar do mundo; os
hinos fazem o Céu descer à Terra e não há coisa mais bela do que a vida nova que
recebemos do Pai.
O tempo passa e a bíblia
vai sendo gasta (há quem não a leia e a mantenha intacta; ela fica nova, porém,
inútil...). Começamos a romper as beiradas douradas, a abrir páginas outrora
coladas, a fazer orelhas, a amassar pelo uso. Já não está tão nova, tão bonita
quanto era; mas, por outro lado, como nos é útil! Assim também é o viver
cristão. Aprendemos que os crentes têm problemas e muitos têm manchas.
Aprendemos que a igreja nem sempre é o melhor lugar do mundo. Aprendemos que
muita música cantada não corresponde à vida vivida e quem canta às vezes não
vive. Mas nem por isso deixamos de valorizar a vida nova que o Pai nos
deu.
Passa o tempo e a bíblia
perde o brilho, perde o verniz, perde a beleza de um livro novo. Contudo, em
suas páginas diversas, vamos escrevendo aquilo que Deus nos ensina. Marcamos
textos, anotamos idéias, colocamos datas, grifamos, e, não raras vezes, sujamos
inadvertidamente o livro, seja com uma xícara de café que vazou, seja com um
pedaço de bolo que caiu na página, seja com a terra ou com a água do ambiente. A
minha bíblia, por exemplo, chegou a encharcar-se quando fiz um aconselhamento
debaixo de chuva.
Também a vida cristã é
assim. O primeiro amor se vai. Aquele ânimo, o entusiasmo característico de quem
nasce de novo perde-se com o passar do tempo. Várias anotações, riscos e
rabiscos são incluídos na história de nosso viver: experiências alegres de
festas, momentos de luto e tristeza; aborrecimentos diversos que nos derrubam;
soerguimentos maravilhosos em dias de depressão. Deus nos levanta e, junto com a
restauração, dá-nos as marcas da experiência. Aprendemos a rir, a chorar, a
enfrentar a tentação e a não errar nas mesmas coisas que erramos antes. As
anotações feitas em nós permanecem para sempre, à luz da orientação bíblica e do
Espírito Santo em nós.
Com o tempo compramos
outras bíblias para comparação e estudo. Mas a nossa bíblia, aquela que nos
acompanha dia após dia, essa torna-se mais do que especial. Ela tem a nossa
cara, ela conhece as nossas preferências, ela nos serve de companheira, de
bússola, de âncora, de ferramenta e arma. Eu tenho várias bíblias, até por força
do ministério que exerço. Contudo, esta bíblia que uso tornou-se "a minha
bíblia". Se eu vou a algum culto ou se vou ler devocionalmente, nenhuma outra
serve; tem que ser a minha. Se não a tenho comigo até uso outra, mas sinto falta
da minha companheira.
A nossa vida também ganha
essa referência. As experiências que ganhamos com Deus tornam-se muito
importantes. As experiências dos outros são bonitas, podem até ser mais ricas e
mais complexas. Mas nada substitui a nossa comunhão verdadeira, do dia a dia, de
um Deus a quem conhecemos, de um Deus que nos conhece, de uma vida aos pés do
Salvador.
A bíblia nova é boa, mas a
gasta é melhor. O início da vida cristã é maravilhoso, mas a continuidade dela,
através da perseverança, é melhor ainda. Um crente gasto é um crente experiente,
cuja vida vale a pena e cujas orações são encorajadoras. Ninguém fica jovem para
sempre, nem mantém a bíblia nova sem defeitos, se a usar de verdade. Mas as suas
palavras, escritas em tinta, com o tempo serão impressas na alma, escritas com o
dedo de Deus no coração do crente. Ah, como é bom ser um crente
gasto!
Tenho em minha biblioteca
algumas bíblias assim. A minha primeira, a primeira de minha mãe e a primeira de
meu pai; a do Pr. Timofei Diacov, a do Pr. Onofre Cisterna etc. Mas espero que a
minha predileta fique para os meus filhos, se Jesus não voltar enquanto vivo.
Esta bíblia está bem gasta e quero ser também um crente igualmente gasto, não
estragado, mas experiente, cheio de vivência com o Senhor.
E você, leitor amigo, é
crente "bíblia nova" ou é crente "bíblia gasta"?
Wagner Antonio de
Araújo
28/03/2018
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