SAIR
DO
PESADELO
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Desde pequeno eu sofro com
pesadelos, caso venha a dormir de barriga para cima. Posso dormir em qualquer
posição, menos nessa. O interessante é que eu percebo quando o pesadelo chega.
Ele vem sorrateiro, devagarinho. Há um leve sono que domina, manso, muito
tranquilizante. E, de repente, sem que se perceba, é como se eu caísse num
precipício: os braços e as pernas perdem os movimentos e eu, que não desejo ter
pesadelo, sinto-me aprisionado. Quero abrir os olhos e não consigo. Quero falar
algo, sair desta posição, mas sinto-me refém e dominado. Às vezes me desespero.
E foi muito cedo que descobri uma forma de me livrar do pesadelo. Nem sempre ela
funciona, mas, na maioria das vezes sim. Conquanto nesse estado eu tenha perdido
o domínio dos braços e das mãos, sempre sobra um pouquinho. Então, com muito
esforço, tento arrastar a mão pela barriga rumo ao rosto. O braço pesa uma
tonelada, mas eu tenho que tentar, e com rapidez, pois o pesadelo está chegando.
Vou arrastando a mão, subindo, subindo, até atingir o rosto. Então faço os dedos
caminharem com sofreguidão, passo a passo, pelo rosto. Ele passa pela boca, pelo
nariz, até atingir um dos olhos. E, em lá chegando, eu junto dois dedos e abro
uma pálpebra. Vitória! Consegui sair daquele sofrimento! Eu poderia mexer na
boca, no nariz, isso de nada adiantaria. Mas quando abro os olhos, saio da
prisão.
A Bíblia também nos fala de
uma prisão, a da frieza espiritual. Há muitos cristãos que não conseguem orar.
Eles até tentam, insistem, mas parece um pesadelo, aprisionando-os nas
preliminares da prece. Começam bem: "Senhor Deus, eu Te agradeço por mais este
dia..." e geralmente não vão muito longe. Planejaram orar bastante, mas não
conseguiram vigiar nem três minutos! Eles se perdem nas palavras, mudam os
pensamentos, decidem consultar o celular, abrir a janela, fazer qualquer coisa.
E pensam: "Depois eu continuo..." E o depois nunca chega. O Espírito Santo, que
habita no coração do crente, entristece-se e traz ao coração do discípulo uma
insatisfação profunda. Frustrado, pensa: "Por que eu não consigo fazer uma
oração completa, vitoriosa, verdadeira, que tenha começo, meio e fim, da qual eu
me alegre e me sinta verdadeiramente em comunhão?"
O motivo é que há dois
inimigos que nos aprisionam a uma vida de pobreza espiritual. O primeiro está
dentro de nós. Ele se chama CARNE. É a nossa natureza adâmica, que milita contra
a nova natureza espiritual. Ela não tem prazer na busca do Senhor; pelo
contrário, ela está entorpecida em seus próprios pecados. Basta abrir a Bíblia
para ler, ou dobrar os joelhos para orar que a manifestação da carne é certeira:
um sono inconveniente, um cansaço, uma indisposição profunda aparecem. Tais
sintomas inexistem se ligarmos o celular, assistirmos a vídeos ou buscarmos
outras atividades. Mas para orar ou para ler a Bíblia, ah, é um convite à
indisposição. Isto vem da carne. Porque a carne milita
contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro,
para que não façais o que quereis. (Gl 5:17)
O segundo inimigo vem de
fora. É Satanás, o inimigo, com os seus demônios. Eles nos odeiam e odeiam a
Deus. Eles estão condenados, mas não querem ir sozinhos para o Lago de Fogo.
Eles querem levar a todos os homens com eles. Quanto aos salvos, aos que
conhecem a Jesus, eles desejam evitar que tenham comunhão, desejam que sejam
infrutíferos e relapsos. Assim eles criam fantasias e tentam os homens. Na hora
da oração surgem inúmeras idéias de coisas para fazer: lembramo-nos de uma
tarefa inacabada, pensamos em pessoas diversas, entramos em conflito com
questões políticas, nos aborrecemos, ouvimos ruídos que não estavam audíveis
antes da oração. Enfim, somos de tal forma incomodados que sucumbimos e deixamos
de orar. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso
adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;
(1Pe 5:8)
Quem sente tudo isso na
hora da oração está envolvido no pesadelo espiritual: quer orar, mas não
consegue. Tenta, mas é incapaz de mobilidade; está amarrado à inércia de um sono
avassalador, sono da alma, que não consegue um diálogo criativo com o Criador.
Suas orações não passam de recortes malfeitos de frases incompletas. Sentem-se
aborrecidos e querem sair desse marasmo. Mas como?
Do mesmo jeito em que eu
consigo sair dos pesadelos: ABRINDO OS OLHOS! Desvenda
os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei. (Sl 119:18); Por
isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te
esclarecerá. (Ef 5:14). Jesus, quando selecionou
três apóstolos para vigiarem com Ele, achou-os dormindo, de olhos fechados. E
disse: E, chegando, achou-os dormindo; e disse a
Pedro: Simão, dormes? não podes vigiar uma hora? (Mc
14:37)
E como se faz isso? Da
mesma forma com que consigo acordar: forçando o braço, a mão e indo até o olho
para abrir uma pálpebra. Depois de aberta, a libertação vem. Assim é também na
vida de quem quer vencer na oração, ter vitória nos clamores: deve ousar e
avançar. Se orar em pensamento causa divagação, ore audivelmente. Se orar de
joelhos causa sono, ore andando. Se orar num ambiente fechado causa descanso
demasiado, ore na rua. Mas INSISTA ATÉ SAIR. Eu já aprendi que, quando estou
frio em minha devoção e em minhas orações, devo insistir, insistir e não acabar
um encontro com Deus de qualquer jeito, mas cumprir o roteiro que havia
planejado. Se me dispus a orar pela família, hei de apresentar um por um. Se
pela igreja, citarei cada irmão. Se pelo país, trarei à mente os problemas que
conheço. Se de joelhos sentir sono orarei de pé. Se parado sentir-me tentado a
pensar em outras coisas, orarei andando pelo quintal. E há algo que acontece
quando me disponho e insisto: o sono se vai, as amarras da frieza se vão e Deus
acende uma fornalha de ânimo na alma, trazendo prazer imenso em buscá-Lo em
oração.
Experimente. Não fique no
pesadelo. Leve o dedo ao olho e abra a pálpebra. Você
conseguirá.
Wagner Antonio de
Araújo
21/03/2018
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