20
SEGUNDOS
717
Uma dolorosa
experiência. Um vacilo breve e a ameaça de uma tragédia ímpar, perpétua,
inimaginável!
Estávamos no
Shoping Center D em São Paulo. Elaine e nossos filhos, Cleide, minha cunhada, e
seus filhos. E Milú.
Enquanto as
mulheres olhavam roupas e compravam presentes de aniversário eu fiquei com as
crianças. Fomos caminhar pelo corredor e compramos sorvetes (gelados, de cone),
para amenizar o calor. Josué, o meu filho, ainda é de colo; sujou-se com o
sorvete e eu fui jogar o guardanapo no lixo. Enquanto me virei para depositar o
lixo a Rute desapareceu. Ao voltar-me para as crianças com o olhar vigilante,
dei pela sua falta.
Naquele
momento o céu e a terra caíram em minha cabeça.
- Gaby,
Felipe, onde está a Rute? Onde ela está?!"
Os pequenos,
pobrezinhos, olharam-me assustados. Não tinham o que responder. Eu, desesperado,
olhei por todos os lados. Havia uma escada rolante a dez metros. Olhei para
baixo, para ver se ela lá se encontrava. Não havia sinal da
menina.
Os pelos de
meu braço e os meus cabelos eriçaram-se. O meu coração disparou no peito. O meu
olhar amarelou. Eu entrei em desespero.
O que teria
acontecido com a minha Rute? Onde estaria ela? Teria sido sequestrada por algum
marginal? Estaria ela a correr para algum lugar e, acidentalmente, caído? Ou
perdeu-se e agora não sabia onde estávamos? Alguma mulher teria agarrado em seu
braço e a levado de nós? E agora? Como será a minha vida? O que direi para a
Elaine? Onde pedirei socorro? Aos seguranças do shoping? Irei a qual delegacia?
Pedirei para que algum canal de TV divulgue o desaparecimento? Meu Deus, o que
será de minha vida agora?
Pensei no
rostinho da Rutinha. A sua alegria em ter vindo ao shoping. O seu desejo de
brincar na piscina de bolinhas. A sua vontade de ganhar um balão de gás. A
alegria por estar com os priminhos. Uma tarde tão boa, onde comemorávamos o
aniversário de minha esposa, transformar-se-ia em tragédia, em vazio, em dor, em
sofrimento.
Tudo isso
passou pela mente. E eu, num ímpeto de desespero e de clamor, gritei no
shoping:
- R U U
U T E E E !!!!!!!!!
O meu grito
foi tão grande e tão possante, que fiquei rouco imediatamente. Todos do andar e
da parte de baixo ouviram. Uma mãe com uma criança do mesmo tamanho travou,
pasma e atônita. As pessoas talvez pensassem: "Meu Deus, o que aconteceu com
essa tal de Rute?"
A minha
pequenina correu no corredor em minha direção. Ela estava branca. Sem perceber
caminhara sozinha sem os demais e estava uns 25 metros à nossa frente. Mas ela
conhecia a voz do seu pai. Ao ouvir-me correu prontamente em minha direção,
desesperada por pensar que fizera algo de errado. A mãe que ficara atônita abriu
um sorriso e fez sinal com as mãos, dizendo: "Pai, calma; sua filhinha está aí,
graças a Deus!"
Quando vi a
minha Rutinha o coração saltou dentro de mim de tão alegre. Ao mesmo tempo o
corpo respondeu com um alívio e uma angústia. Alívio por tudo ter sido resolvido
o problema e angústia pela consciência de ter me descuidado na atenção
necessária. E qual foi a duração desta narrativa toda?
20
SEGUNDOS!
Sim, apenas
isso! Nem meio minuto! Quem não passou por isso pode dizer: "mera tempestade em
um copo d'água". Mas para quem atravessa o problema o tempo sai do CRÓNOS e
entra para o KAIRÓS, uma contagem muito diferente, muito mais rica, muito
diferente dos poucos segundos. Para mim foi uma eternidade e eu sentia-me
cansado por tantos acontecimentos; para a realidade não havia acontecido quase
nada, apenas um descuido momentâneo de 20 segundos!
O que aprendi
com tudo isso?
1)
VIGILÂNCIA - Um mero vacilo na vigilância e podemos caminhar para um
problema gigantesco. Isto me lembra o que o Senhor Jesus ensinou: E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai (Mc
13:37). Também me lembro de outra de suas frases: portanto, sede prudentes como as serpentes.(Mt
10:16).
2)
PROVIDÊNCIA - Contemplar o problema com inércia não resolve a situação.
No momento em que senti a ausência de minha filha a primeira providência após
olhar e nâo vê-la foi gritar. E, graças a Deus, funcionou! Se eu nada fizesse
provavelmente teria dores de cabeça posteriores. Faz-me lembrar do texto de
Provérbios: Se te mostrares fraco no
dia da angústia, é que a tua força é pequena. (Pv 24:10). Lembra-me também a pergunta de Deus a Moisés, quando dizia que não
poderia livrar os hebreus de Faraó: E o SENHOR disse-lhe: O que tens na mão? E ele disse: Uma vara.
(Ex 4:2). Deus usa o que tivermos; no meu caso, um
grito.
3)
FIDELIDADE - Na minha angústia pensei em como seria se o problema fosse
sério e real. Graças a Deus tudo não passou de um desencontro. Mas, e se de fato
a minha filha tivesse sumido? E se ela desaparecesse temporária ou para sempre?
Deus continuaria a ser Deus e não nos deixaria desassistidos. Ele nos
capacitaria a enfrentar todo e qualquer tipo de crise, tanto as de fácil solução
quanto as insolúveis. Não veio sobre vós tentação, senão
humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes
com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. (1Co
10:13); E disse-me: A minha graça te basta,
porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei
nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. (2Co
12:9)
4)
GRATIDÃO - Oh, como fui grato pela volta da Rutinha! Chorei depois! Mas
em todas as circunstâncias o meu coração teria que ser grato. Mesmo que as
consequências tivessem sido funestas. Há um Deus soberano sobre todas as coisas
e Ele, somente Ele, sabe do futuro e das coisas pelas quais teremos que passar.
Que cada uma delas seja para a Sua glória. Nada temas
das coisas que hás de padecer... Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da
vida. (Ap 2:10). Porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. (Fp 4:11). Em
tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
(1Ts 5:18).
Espero que a
minha experiência tenha sido útil para algum pai que tenha filhos pequeninos (a
não descuidar-se nem para jogar um papel no lixo) ou para algum irmão que passa
por problemas inesperados ao longo da vida. Há um Deus soberano que não nos
abandona em nenhum momento. Ele saberá conduzir-nos em vitória, mesmo que a dor
também se fizer presente.
Wagner
Antonio de Araújo
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