quinta-feira, 27 de setembro de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 30 - UM PAI QUE ERA MESTRE ...

30 -
UM PAI QUE
ERA MESTRE ...
 
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Lembro-me como se fosse hoje. Eu participava das inesquecíveis assembléias da Convenção Batista do Estado de São Paulo (nos tempos em que julgava valer a pena). Quando algum relatório da junta de educação teológica, do seminário de Bauru ou de outra comissão especial era anunciado, lá estava ele: o pai que ensinava. Pastor Josué Nunes de Lima. Tomava a palavra e, na primeira expressão conseguia o silêncio absoluto do auditório. Voz grave, firme, possante, meiga, certeira, de quem sabia e de quem orientava.
 
Ele era assim. O seu gabinete pastoral na Igreja Batista do Jardim Brasil, em São Paulo, mais parecia um atual gabinete de psicoterapia para pastores e líderes. Muitos iam até lá só para desfrutar um pouco do "colo" do pastor veterano. O seu grande gabinete, com uma biblioteca imensa, suas velhas poltronas e o tradicional cafezinho de máquina, era um conforto para os ministros tão necessitados.
 
Eu mesmo servi-me desse gabinete muitas e muitas vezes, não para buscar tratamento, mas para repartir o fardo. Eu pastoreava bem pertinho daquela igreja e o Pr. Josué me orientava. Ao me ver, exclamava: "Wagner, meu filho, você vai bem?" E então começávamos a conversar. Outras vezes eu desfrutava do gostoso café com "mistura" na casa dele, preparado com extremo carinho pela irmã Albertina, sua primeira esposa (ela faleceu no início dos anos 2 mil, vítima de câncer).
 
No seu ministério tudo se tornava célebre e importante. O Pr. Josué inventava nomes, cursos, matérias, instituições, programas de rádio e renovava sempre a sua grade de atividades. Eu perguntava porque. Ele, pacientemente me explicava: "Meu filho, eu embrulho sempre o mesmo presente com papéis diferentes. Mudo o nome disto ou daquilo e o povo recebe como novidade o mesmo material, o único verdadeiro, o evangelho de Jesus!" Ele tinha razão. Criava cursos do Rei, especializações, aperfeiçoamentos, inventava comitês e associações, inventou a câmara da cultura do bairro e assim tinha acesso aos comerciantes, aos empresários, aos professores e ao povo da região.
 
Ele conhecia bem o Jardim Brasil; crescera com ele! Iniciara o seu trabalho quando tudo era barro e terra, chácaras e sítios. Vira a região crescer. Criara os filhos ali e conhecia absolutamente tudo naquele bairro e arredores. Era amado, era querido, era confiante.
 
Nele eu via um pai. Quando atravessei um terrível vale emocional, quase perdendo o rumo, foi Josué quem me acolheu e me deu literatura apropriada, através da qual pude refletir sobre questões importantes. Quando precisei de oração, fosse por assumir outro ministério, fosse por não ter me casado à época, fosse por questões doutrinárias, era ele que me recebia com amor e carinho.
 
Ele foi também meu professor. Graduado e qualificado, concedeu-me através de sua universidade o grau de bacharel em teologia, curso que iniciei em outra instituição e terminei na dele. Ali também lecionei várias matérias aos alunos. Num curso de especialização de pastores fui aluno e depois professor. Josué confiava naqueles a quem preparava. Preguei várias vezes em seu púlpito. Ele tinha ciúmes daquele púlpito feito à mão sob encomenda. Para ele o "assim diz o Senhor" era fundamental e quem ali subisse deveria ter o recado do Senhor. Quanta honra, temor e tremor sinto ao lembrar-me de que pude pregar em seu púlpito!
 
Ele foi também pai. Pai dos pastores. Meu pai também. Eu pude servi-lo enquanto ele envelhecia. Fui seu motorista para visitar igrejas no interior de São Paulo. Levei-o a diversas partes. Também pude atendê-lo quando precisava de companhia e oração nos dias de luto pelo falecimento de sua amada Albertina. E dele recebi orientações que carregarei comigo para sempre. Ele era um OBREIRO APROVADO.
 
Pai e pastor: quantos são assim? Hoje muitos pastores não conseguem nem serem pais de seus filhos, quanto mais do rebanho e dos colegas mais novos! O respeito que Josué conquistara fazia dele o pai dos pastores. E pastor amado! Sua igreja o amava, o povo cristão de toda parte o amava. Era a referência de estabilidade, de biblicidade, de doutrina sadia e de orientação segura. Por isso a sua opinião tinha tanta importância.
 
Hoje me sinto órfão. Josué se foi. Já faz alguns anos. Não houve substituto. Ele ficaria triste ao ver a apostasia que tomou conta de nossos púlpitos e igrejas. Ele não aceitaria as mudanças que o mundo evangélico aceitou em seu território. Deus recolheu-o antes que visse o mal. Os homens compassivos são recolhidos, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal. (Is 57:1)
 
Tenho a idade que Josué tinha quando o conheci. Será que posso ser um pai espiritual para alguém, para algum cristão, para algum leitor? Sou pastor há mais de trinta anos; seria eu candidato a referência em alguma coisa? Eu não sei! O que sei é que quero caminhar nas sendas que aprendi com o meu velho e amado mestre, o meu orientador, conselheiro, pedagogo, psicólogo e amigo.
 
Meu pai e mestre, Pastor Josué Nunes de Lima. Hei de revê-lo um dia no Céu, meu amado e saudoso pastor!
 
Wagner Antonio de Araújo
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