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UM PAI
QUE
ERA
MESTRE ...
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Lembro-me
como se fosse hoje. Eu participava das inesquecíveis assembléias da Convenção
Batista do Estado de São Paulo (nos tempos em que julgava valer a pena). Quando
algum relatório da junta de educação teológica, do seminário de Bauru ou de
outra comissão especial era anunciado, lá estava ele: o pai que ensinava. Pastor
Josué Nunes de Lima. Tomava a palavra e, na primeira expressão conseguia o
silêncio absoluto do auditório. Voz grave, firme, possante, meiga, certeira, de
quem sabia e de quem orientava.
Ele era
assim. O seu gabinete pastoral na Igreja Batista do Jardim Brasil, em São Paulo,
mais parecia um atual gabinete de psicoterapia para pastores e líderes. Muitos
iam até lá só para desfrutar um pouco do "colo" do pastor veterano. O seu grande
gabinete, com uma biblioteca imensa, suas velhas poltronas e o tradicional
cafezinho de máquina, era um conforto para os ministros tão
necessitados.
Eu mesmo
servi-me desse gabinete muitas e muitas vezes, não para buscar tratamento, mas
para repartir o fardo. Eu pastoreava bem pertinho daquela igreja e o Pr. Josué
me orientava. Ao me ver, exclamava: "Wagner, meu filho, você vai bem?" E então
começávamos a conversar. Outras vezes eu desfrutava do gostoso café com
"mistura" na casa dele, preparado com extremo carinho pela irmã Albertina, sua
primeira esposa (ela faleceu no início dos anos 2 mil, vítima de câncer).
No seu
ministério tudo se tornava célebre e importante. O Pr. Josué inventava nomes,
cursos, matérias, instituições, programas de rádio e renovava sempre a sua grade
de atividades. Eu perguntava porque. Ele, pacientemente me explicava: "Meu
filho, eu embrulho sempre o mesmo presente com papéis diferentes. Mudo o nome
disto ou daquilo e o povo recebe como novidade o mesmo material, o único
verdadeiro, o evangelho de Jesus!" Ele tinha razão. Criava cursos do Rei,
especializações, aperfeiçoamentos, inventava comitês e associações, inventou a
câmara da cultura do bairro e assim tinha acesso aos comerciantes, aos
empresários, aos professores e ao povo da região.
Ele conhecia
bem o Jardim Brasil; crescera com ele! Iniciara o seu trabalho quando tudo era
barro e terra, chácaras e sítios. Vira a região crescer. Criara os filhos ali e
conhecia absolutamente tudo naquele bairro e arredores. Era amado, era querido,
era confiante.
Nele eu via
um pai. Quando atravessei um terrível vale emocional, quase perdendo o rumo, foi
Josué quem me acolheu e me deu literatura apropriada, através da qual pude
refletir sobre questões importantes. Quando precisei de oração, fosse por
assumir outro ministério, fosse por não ter me casado à época, fosse por
questões doutrinárias, era ele que me recebia com amor e
carinho.
Ele foi
também meu professor. Graduado e qualificado, concedeu-me através de sua
universidade o grau de bacharel em teologia, curso que iniciei em outra
instituição e terminei na dele. Ali também lecionei várias matérias aos alunos.
Num curso de especialização de pastores fui aluno e depois professor. Josué
confiava naqueles a quem preparava. Preguei várias vezes em seu púlpito. Ele
tinha ciúmes daquele púlpito feito à mão sob encomenda. Para ele o "assim diz o
Senhor" era fundamental e quem ali subisse deveria ter o recado do Senhor.
Quanta honra, temor e tremor sinto ao lembrar-me de que pude pregar em seu
púlpito!
Ele foi
também pai. Pai dos pastores. Meu pai também. Eu pude servi-lo enquanto
ele envelhecia. Fui seu motorista para visitar igrejas no interior de São Paulo.
Levei-o a diversas partes. Também pude atendê-lo quando precisava de companhia e
oração nos dias de luto pelo falecimento de sua amada Albertina. E dele recebi
orientações que carregarei comigo para sempre. Ele era um OBREIRO
APROVADO.
Pai e pastor:
quantos são assim? Hoje muitos pastores não conseguem nem serem pais de seus
filhos, quanto mais do rebanho e dos colegas mais novos! O respeito que Josué
conquistara fazia dele o pai dos pastores. E pastor amado! Sua igreja o amava, o
povo cristão de toda parte o amava. Era a referência de estabilidade, de
biblicidade, de doutrina sadia e de orientação segura. Por isso a sua opinião
tinha tanta importância.
Hoje me sinto
órfão. Josué se foi. Já faz alguns anos. Não houve substituto. Ele ficaria
triste ao ver a apostasia que tomou conta de nossos púlpitos e igrejas. Ele não
aceitaria as mudanças que o mundo evangélico aceitou em seu território. Deus
recolheu-o antes que visse o mal. Os homens compassivos
são recolhidos, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal. (Is
57:1)
Tenho a idade
que Josué tinha quando o conheci. Será que posso ser um pai espiritual para
alguém, para algum cristão, para algum leitor? Sou pastor há mais de trinta
anos; seria eu candidato a referência em alguma coisa? Eu não sei! O que sei é
que quero caminhar nas sendas que aprendi com o meu velho e amado mestre, o meu
orientador, conselheiro, pedagogo, psicólogo e amigo.
Meu pai e
mestre, Pastor Josué Nunes de Lima. Hei de revê-lo um dia no Céu, meu amado e
saudoso pastor!
Wagner
Antonio de Araújo
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