DEUS
FALHOU?
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"Jesus é
nosso amigo,nunca vai se afastar. Ele nos livra do perigo e ao nosso lado sempre
está." Cantamos isso e muito mais para as nossas crianças. Como conciliar
tal afirmação com a tragédia de Brumadinho e com todas as tragédias humanas que
enfrentamos? Sobre Brumadinho temos certeza de que diversos cristãos que
confiavam na proteção divina estão hoje soterrados na lama. Senhoras fiéis,
jovens devotos, crianças que aprendiam sobre a Palavra de Deus, não foram
poupadas pela lama fétida da empresa sanguinária. O que aconteceu? Teria Deus
falhado? Jesus não funcionou? Costumo ler muitos pedidos de oração. Quando a
pessoa melhora ou a causa é conquistada, leio: "Deus é fiel, Ele nunca
falha". Mas quando isso não acontece, saímos com a deixa "Era o
melhor". Afinal, Ele é fiel para aqueles a quem socorre e infiel aos que
larga ao léo? Ou quando não somos atendidos dizemos que era a vontade dEle só
para nos vermos livres do fardo da decepção?
A música
gospel e os púlpitos estão repletos dessas afirmações. E, infelizmente, por
falta de conhecimento bíblico, muitos de nós propagamos esse tipo de fé. Uma fé
triunfalista, num Deus que cura, que socorre, que faz milagres, que transforma e
que nunca falha (isto é, que faz alguma coisa acontecer). Nós nos omitimos
quanto aos pedidos que não são atendidos ou às tragédias nas quais não fomos
personagens. Afinal, a pimenta nos olhos dos outros não arde nos nossos. Tenho
certeza de que há crentes em Brumadinho que estão desconfortáveis com a sua fé,
pois terão que conviver com a ausência de pessoas a quem amavam e que confiavam
em Deus; e, ainda assim, não foram poupadas. Como explicar a fé ou justificá-la
para si próprios ou para os filhos?
Nos dias de
Jesus muitos diziam que uma tragédia era castigo sobre pessoas más. Cristo
afirmou categoricamente: "pensam que tais pessoas eram mais pecadoras? Não,
de forma alguma; eu afirmo a vocês que irão perecer do mesmo modo se não se
arrependerem de seus erros". Isto é a condensação do texto de Lucas 13.1-5.
Jesus afirmou que as tragédias não são necessariamente condenação sobre
pecadores grosseiros; elas podem não ter ligação com o pecado. No mundo tereis aflições". (Jo
16:33)
Os primeiros
cristãos não pensavam como as igrejas de hoje. Eles pagaram um preço alto demais
para os padrões de hoje: pagavam com a vida! Se nós disséssemos a eles que
acreditávamos que Deus iria poupar-nos de todo desemprego, de toda enfermidade
ou de tragédias naturais (ou fabricadas, como a de Brumadinho, onde a empresa
Vale do Rio Doce deixou uma barragem de rejeitos de minério explodir sobre a
cidade e a população), eles diriam: "Se esperamos em
Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." (1Co
15:19).
Eles sofriam
de todo lado: primeiro dos judeus, que achavam o cristianismo uma idolatria.
Eram banidos das sinagogas, tinham os seus bens confiscados, eram apedrejados
por blasfêmia e impedidos de viver nos lugares de origem. Depois pelos pagãos
que, sob o pretexto de ateísmo e de ocultismo (celebração da Ceia do Senhor e do
batismo) os acusavam de trazer azar ao império. Além disto recusavam-se a adorar
aos deuses e ao imperador. Então eram exilados, crucificados, transformados em
diversão pública, tochas humanas, erguidas para iluminar as arenas e os
estádios. Pais e mães viam os seus filhos serem devorados aos pedaços pelos
leões e por outros animais. Casais eram estraçalhados por gladiadores e por
feras. Onde havia espaço para o tipo de fé que propagamos hoje? Não, eles não
criam em Jesus como proteção contra catástrofes, doenças ou problemas. Se assim
fosse a fé cristã teria sido extinta! Eles criam em Jesus porque queriam ir para
o Céu, para o Paraíso, para a Nova Jerusalém! Eles criam em Jesus porque queriam
perdão para os pecados e a paz com Deus! Dizem os historiadores que eles
cantavam hinos ao Senhor, proclamando a vitória final na ressurreição dos
mortos!
Então eu
creio que se faz necessária uma reavaliação de nossa fé. Deus nos protege? Deus
nos cura? Deus está conosco na caminhada? Deus faz milagres? Sim, claro que
faz! Eu sou testemunha disto, tendo visto o Seu milagre no meu sistema
cardíaco. PORÉM isto não significa que eu serei invencível, que jamais
atravessarei problemas, que serei poupado em uma tragédia ou que nunca
adoecerei. Até poderá acontecer se Ele tiver um propósito, mas não
necessariamente. Enquanto estou no mundo sofro as suas agruras. Foi para me dar
a vida eterna que Cristo morreu por mim. Porque, se
vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte
que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. (Rm 14:8). O Apóstolo
Paulo afirmou: Porque para mim o viver é Cristo, e o
morrer é ganho. (Fp 1:21). Devemos celebrar a nossa fé trancedental,
de um Deus que nos salva deste mundo tenebroso e nos prepara para a vida eterna.
Sim, o cristianismo de hoje lançou raízes neste mundo e esqueceu-se do Céu!
Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da
terra; (Cl 3:2). Estamos mais ocupados em preparar as pessoas para
um triunfo temporal e olvidamos de nossa situação de peregrinos numa terra
estranha! Não peço que os tires do mundo, mas que os
livres do mal. (Jo 17:15). O mal aqui mencionado não é a tragédia ou
o problema que enfrentamos na vida, mas a influência e a ação de
Satanás.
Foi assim que
Jó acreditou no Senhor. Ainda que ele me mate, nele
esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante dele. (Jo
13:15). Ao perder tudo Jó não amaldiçoou a Deus, como sua mulher
queria (Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua
sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. (Jo 2:9). Há muitos cristãos
que abandonam a fé no meio das provações e das dificuldades. Sobre isso Jó
também disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu
tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do
Senhor. (Jo 1:21). Paulo afirmou: Sei estar
abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas
estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância,
como a padecer necessidade. (Fp 4:12). Ele também
responde: Porque eu estou pronto ... a morrer em
Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. (At 21:13). Sim, a fé cristã
nos ensina a viver, a lidar com as tragédias e a crer na vida eterna! Ela nos
ensina a morrer com segurança!
Encerro esta
meditação com um trecho do velho hino de August Ludwig Storm, em 1891, hino que
compôs para o Exército da Salvação:
Graças
pelo azul celeste
e por nuvens que há também,
pelas rosas no caminho
e os espinhos que elas têm,
pela escuridão da noite,
pela estrela que brilhou,
pela prece respondida
e a esperança que falhou.
e por nuvens que há também,
pelas rosas no caminho
e os espinhos que elas têm,
pela escuridão da noite,
pela estrela que brilhou,
pela prece respondida
e a esperança que falhou.
Segundo a
minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes,
com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu
corpo, seja pela vida, seja pela morte. (Fp 1:20)
Wagner Antonio de
Araújo
07/02/2019
membro da Igreja Batista Cidade IV
Centenário, São Paulo, Brasil
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