sábado, 15 de agosto de 2020

memórias literárias - 909 - VOCÊ ME PERDOA?

VOCÊ
ME
PERDOA?

 
909
 
Era uma investigação criminal. O detetive trabalhava com a hipótese do dono do supermercado ter assassinado um adolescente que há anos o assaltara. Durante a investigação fê-lo sentir-se ameaçado, pois queria extrair dele a verdade. Ao final descobriu-se que o verdadeiro assassino era o comparsa do menino. Quando conseguiram prendê-lo o detetive foi até o empresário e, com a cabeça baixa, disse: "Eu vim aqui para lhe pedir perdão. O senhor me perdoa?"
 
Como a vida seria diferente se nós seguíssemos o exemplo de Jesus Cristo! "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!" (conforme Lucas 23.24). A expectativa do Senhor para com Seus discípulos era de que fossem tão perdoadores quanto Ele: Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas (Mt 18:35). E alguém pergunta: "E o julgamento? E a justiça? E a retribuição?" E a Bíblia responde: Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. (Hb 10:30). O nosso papel não é o de juízes, mas o de perdoadores.
 
Um marido que reconhece os seus erros, as suas infidelidades, a sua desonestidade, a sua falta de cuidados, e sinceramente procura o arrependimento e a reconciliação com a esposa seria muito nobre! O mesmo para com a mulher infiel, que desonrou os seus votos conjugais e não disse toda a verdade. "Você me perdoa?"
 
Um pai que agrediu os seus filhos ao longo da vida, com violência doméstica, com palavras ameaçadoras, a criar traumas irreparáveis para aquelas vidas, teria grande dignidade se, reconhecendo os seus erros procurasse a sua prole e dissesse: "Eu me arrependo e peço perdão!".
 
Um funcionário que traiu a confiança do seu patrão, do seu encarregado, do seu chefe, um soldado que não disse a verdade ao seu superior, ao reconhecer o erro, se buscasse o reparo, a confissão, a responsabilidade e dissesse: "Eu fiz o que não deveria ter feito e estou arrependido. Eu peço perdão!"
 
Um presidente, um governador ou político, que ganhou as eleições num estelionato eleitoral, mentindo aos que o apoiaram, prometendo um caminho político e seguindo por outro, fingindo ser inimigo de corruptos e abraçando-os no decorrer do mandato; que prometeu a verdade e seguiu pela mentira; que não sentiu compaixão e que zombou da lágrima cidadã; seria muito digno e nobre dizer ao povo que governa: "Eu errei; me perdoem!"
 
Uma igreja que destruiu o ministério de um pastor, transformando a sua vida num sofrimento, amordaçando a boca do boi quando debulhava (reduzindo o seu salário ou não pagando com justiça e com generosidade); que não o reconheceu nas horas certas e o desprezou nas celebrações da comunidade; bem faria se o procurasse em caráter institucional e dissesse: "Pelas lágrimas que provocamos no senhor e em sua família nós lhe pedimos perdão!"
 
O mesmo se dá a pastores que levaram uma igreja à desgraça, ao conflito, ao trauma, à briga entre irmãos, ao pecado, ao abandono da fé; que pecaram violentamente e fizeram toda uma geração de jovens cristãos abandonarem a moralidade e a dignidade, pois viram em seu líder um adúltero, um pedófilo, um ladrão, um estelionatário, um infiel, um ser violento e sem pudor. Que bênção poderia ser se esse obreiro procurasse a igreja e dissesse: "Não há palavras que expressem o quanto eu lamento por ter feito o que eu fiz. Mas vim pedir perdão!"
 
Se um dia judeus e palestinos baixassem as armas e as reinvindicações, as agressões e os ataques e se reconhecessem irmãos étnicos por parte de Abraão; se brancos e pretos, coreanos e americanos, argentinos e brasileiros, indígenas e invasores latinos reconhecessem seus erros e dissessem: "Nós erramos e queremos pedir perdão!", as coisas seriam tão diferentes!
 
Mas isso começa em nosso coração, não no coração do próximo. Começa na esposa que está em casa ou na que foi abandonada. Começa com o  filho com quem não tivemos demonstração de afeto, nos pais que abandonamos à solidão ou no asilo; nos avós que nunca viram os netos. Começa na igreja que magoamos, no pastor que maltratamos, no vizinho com quem não nos damos. Começa comigo, com você, conosco, um a um, pessoa a pessoa.
 
O meu perdão não depende da atitude de quem magoei. O meu perdão é gerado no coração de quem sabe que também é pecador e foi perdoado por Deus.
 
Nós perdoamos porque também fomos perdoados. Se não perdoarmos, não teremos experimentado a força e o poder do perdão.
 
PERDOA AS NOSSAS DÍVIDAS, ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS AOS NOSSOS DEVEDORES. (Mateus 6.12).
 
Você me perdoa?
 
Wagner Antonio de Araújo

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