CONFLITO E
SOLUÇÃO
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Deus nos
permite vivenciar momentos de grande conflito interior, onde somos levados a
tomar alguma decisão, quer gostemos ou não. São situações em que decidir é a
única alternativa. Mudança de emprego, venda da casa, prosseguimento relacional,
um tratamento médico específico, o curso profissionalizante, o ministério no
Reino de Deus, a compra de um bem.
O conflito
está na falta de subsídios para sabermos qual a decisão mais apropriada. Se
fossem antagônicos ao que é bom, honesto, puro, correto a decisão seria fácil.
Bastaria optar pelo caminho bom, pela decisão construtiva, pela alternativa
digna. Mas há situações em que todas as possibilidades têm lados positivos e
quiçá, alguns negativos. A escolha faz-se difícil. Como
decidir?
Elias, o
tesbita, o profeta de Deus, vivia algo desse gênero. Após fenomenal vitória
contra os profetas de Baal e a proclamação nacional de que só o Senhor Jeová era
Deus, viu-se assustado diante da proclamada perseguição da rainha Jezabel, que
prometera matá-lo no dia seguinte. Correu ao deserto. Desejou morrer. Foi
despertado pelo Anjo do Senhor e teve as suas necessidades físicas supridas ao
lado do anúncio de que enfrentaria uma longa caminhada até a solução de seu
conflito. O imediatismo não fazia parte dos propósitos divinos para a vida de
Seu profeta.
Comeu por
duas vezes, bebeu água também e caminhou por um longo deserto de quarenta dias .
Esses desertos surgem na vida de quem tem decisões a tomar também. Não há nada
ao redor. Não há pessoas que possam ajudar. Não há abrigos disponíveis. A longa
caminhada é solitária, fortalecida apenas com a comida e a bebida que Deus
proveu. E que alento temos ao descobrir que a Palavra de Deus é comida, que o
Filho de Deus é a nossa alimentação e hidratação! "Eu Sou o pão da vida";
"Eu Sou a água da vida".
Ao chegar ao
destino, o Monte de Deus (só há um refúgio para aquele que conhece a Deus, nas
horas mais necessitantes da vida: buscar a face do Senhor!), é confrontado com a
pergunta: "O que fazes aqui?" Certamente Deus sabia o que ele fora fazer lá, uma
vez que até lhe deu suprimento para a caminhada. Mas era necessário que o
profeta expusesse o autêntico sentido de toda essa viagem, da busca pela
presença divina, com uma atenção focalizada e direcionada exatamente na
necessidade urgente. Elias, então, expõe sinteticamente o motivo: perseguição
religiosa, apostasia nacional, sobrevivência e risco de
vida.
Quando temos
decisões a tomar, e elas são urgentes e decisivas, somos expostos a turbulências
emocionais extremas. Nessa condição facilmente perdemos o foco do que realmente
buscamos. São as distrações da oração. Saímos da rodovia principal, da
autoestrada, e tomamos uma vicinal, uma estrada secundária, que não alcançará o
objetivo. Então já nem sabemos a razão da viagem. Elias sintetizou bem o que lhe
levara ali: ele sabia o que procurava. Será que no meio de nossa angustiosa
crise sabemos o que procuramos?
Deus lhe diz
para sair da caverna onde se refugiara e que se pusesse diante da presença
divina. A oração fora feita na caverna, num abrigo, um esconderijo da montanha.
Deus, contudo, iria responder-lhe quando, de fato, se expusesse claramente do
lado de fora. Nós somos semelhantes a isso: na confusão e no conflito nos
refugiamos em cavernas interiores, ainda que busquemos respostas de Deus.
Queremos que o sol brilhe em nosso caminho, mas nos refugiamos debaixo da árvore
com medo de queimaduras. Queremos o refrescar das águas, mas não entramos no
rio. Queremos conhecer e descobrir o que a situação tem para nós, mas temos medo
de sair do esconderijo seguro. Isto lembra Davi, antes de ser rei. Refugiou-se
no exterior, temendo Saul. Então um profeta lhe ordena: "Sai desse lugar
seguro". Para reinar era preciso estar no território, entrar na área geográfica
que lhe seria confiada. Em nossa busca pelas respostas divinas somos
confrontados com a necessária coragem, exposição e enfrentamento da
situação.
Elias
vivencia daí para frente uma experiência absolutamente única e exótica: um
conflito de forças e situações reais, visíveis, que podiam ser sentidas, temidas
e enfrentadas, até que novamente ouvisse a voz de Deus.
Primeiramente
Elias é exposto a um vendaval fortíssimo. Tal era a potência desse sopro que as
rochas do lugar se despedaçavam. Não se sabe em quê Elias segurou-se, ou se o
vento não o atingia enquanto soprava. Mas certamente fora algo por demais
assustador. Deus, contudo, não lhe falou ali. Aquilo não era o fim, era parte do
processo. Figuradamente enfrentamos algo similar na busca por uma resposta
divina à necessidade que se nos apresenta: um vendaval que arrebenta as rochas
da paisagem de nosso caminho. Uma situação em que a nossa realidade é devastada,
arruinada, destruída, as nossas âncoras são quebradas e tudo sai do lugar. A
impressão que temos é que, ao pedir a intervenção divina e a sabedoria para
decidir entramos num conflito maior do que o que tínhamos antes.
Em seguida
Elias experimentou um terremoto. Certamente que num tremor de terra não há lugar
que esteja seguro, não há chão que transmita estabilidade. Quem já passou pela
situação conta que é um sentimento de absoluta impotência e de completa
insegurança. Tudo treme, tudo afunda, tudo sobe, tudo convulsiona. Isto faz
lembrar a situação de Jó, servo de Deus, quando tentado por Satanás sob a
permissão divina. Para ganhar mais um adepto daqueles que maldizem a Deus o
inimigo trouxe uma catástrofe atrás da outra na vida, família e patrimônio do
homem: morte dos filhos, perda do patrimônio, destruição da saúde. Graças a Deus
Jó foi vencedor. Mas os terremotos em nossas vidas, nos momentos de decisão são
possíveis, reais e tremendamente difíceis.
Elias viveu
ainda uma terceira experiência: um fogo consumidor em todo o seu derredor. Quem
já enfrentou um fogão cujo forno explode diante de quem o manipula conhece a
experiência. Quem já mexeu com uma fogueira, cujo tronco explodiu em chamas
diante de si também sabe o quão danoso é um calor súbito sobre o corpo. O fogo
queima, traz calor insuportável, derrete materiais sensíveis à sua atuação,
queima a pele e cabelos. Elias enfrentou um fogo e não se sabe de que forma foi
atingido. Mas experimentou medo, pavor, desespero. Aquilo que o vento não
quebrou e levou, aquilo que o terremoto não aterrou ou elevou o fogo devorou. Em
nossa busca pela resposta nas decisões que tomamos somos também expostos a
situações similares. Pedaços de nós são levados pelo vento e a ordem das coisas
se torna um caos. Nossa estrutura afunda e outras partes, antes escondidas, são
expostas. Coisas que antes julgávamos tão importantes e permanentes são
queimadas, transformando-se em cinzas da noite para o dia.
E então veio
a paz. Um doce murmúrio, o som da tranquilidade e da brisa, aquela sensação de
descanso e ausência de conflito. Parece-se com a experiência de ouvir-se por um
tempo o ruído de um avião que decola e, então, quando sobe e desaparece o
aeroporto silencia, dando lugar ao som dos pássaros nas árvores e do vento nas
folhas. Uma experiência semelhante ao desligamento de um gerador à diesel, num
prédio, ligado por horas enquanto a energia elétrica faltava; quando cessa o seu
ruído a um silêncio gostoso e tranquilizante pelo ar.
Neste cenário
de sensações conflitantes, culminante com a abençoada paz de um cicio suave
Elias ouve a voz de Deus. O Senhor lhe pergunta as mesmas coisas. Pela terceira
vez Elias é conduzido ao seio da motivação desse encontro e dessa experiência.
Primeiramente quando decide ir. Depois quando está na caverna e é instado a
expor-se, saindo do esconderijo. Agora a mesma questão, após toda a experiência.
O propósito é claro: você realmente sabe o que quer? Você sabe o que lhe motiva
a buscar as respostas? Você ainda se lembra do porquê das buscas?
Nessa paz e
brandura Deus fala com Elias. Ordena-lhe para que volte à luta. Concede-lhe a
missão final de sua vida e promete-lhe que não é o único sobrevivente dos
autênticos servos do Senhor. Elias consegue ouvir a Deus após tudo isso. A
resposta veio-lhe clara e absolutamente cristalina. Ele agora sabe exatamente o
rumo a seguir, a prioridade da agenda e conhece perfeitamente a vontade de Deus.
Aliás, vontade diversa da sua propriamente, pois que fugiu do conflito. Ao
ordenar que retornasse ao ministério deixado Deus lhe mostra que nem sempre o
nosso coração está certo, que há razões maiores que as nossas e que a obra só
termina quando Deus assim determina. Não somos nós os donos de nossos
ministérios e de nosso tempo.
Qual é a
decisão que precisa tomar? Foi convidado a exercer algo e não sabe o que fazer?
Vislumbra a chance de morar em outra cidade e teme fazer a escolha errada?
Precisa decidir sobre qual tratamento se submeterá? Tem um convite ministerial e
não sabe se deve aceitar? Precisa comprar algo e teme perder dinheiro? Todos
esses conflitos fazem parte da experiência humana e causam tribulação, ansiedade
e temor. Elias nos mostra o caminho para a solução: expor-se, enfrentar, aceitar
a ação de Deus em nossas vidas, ainda que nos custe um terremoto na estabilidade
costumeira, ainda que se constitua num vendaval de nossos planos ou mesmo que
queime definitivamente tudo o que antes planejamos em nossos corações. Tais
conflitos são parte do processo, mas não são definitivos. Na luta pela resposta
precisamos estar sós com Deus e aguentar o desgaste, relembrando dia após dia,
momento após momento o motivo que nos leva a buscar a
resposta.
Quando formos
capazes de passar por tudo, enfrentar tudo e aquietar o coração, abandonando a
ansiedade e a sanha de responder a demanda com a nossa própria sabedoria ou com
as decisões que fabricamos, estaremos prontos a ouvir, de fato, a voz de Deus,
ouvir o que Ele quer nos dizer e entender com clareza o propósito dEle para com
a nossa história. O que é permanente ficará e o que é transitório passará. O que
importa brilhará e o que é mero enfeite desvanecerá. O que é relevante importará
e o que é distração não mais chamará a nossa atenção. Nós pensaremos no longo
prazo e não mais no hoje e no agora.
Que o leitor
tenha também a grata experiência de decidir a sua vida pela orientação de Deus,
assim como Elias. Este é o meu sincero desejo.
Wagner
Antonio de Araújo
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