quinta-feira, 3 de outubro de 2019

memórias literárias - 807 - GERAÇÃO ZUMBI

GERAÇÃO
ZUMBI
807
Saí com os meus filhos para pagar um serviço do mecânico do meu carro. Descemos uns 5 quarteirões a pé. Eu cumprimento as pessoas, conquanto em São Paulo, especificamente aqui no centro, as pessoas não sejam receptivas às saudações. Sempre existem as que são. Quando o meu pequenino diz: "BATADI" ou a Rutinha diz "BOA TARDI" as pessoas ficam encantadas. Elas se espantam ao verem crianças que cumprimentam, que saúdam. E geralmente saem com a tarde mais feliz e mais alegre.
Mas nem todas. Posso dizer que nenhum adolescente ou jovem correspondeu às saudações do Josué e da Rutinha. "Papai, acho que aquela mulher é surda. Por que ela não respondeu ao meu boa-tarde?" Os rapazes e as moças andavam ou a subir ou a descer a rua, enquanto tinham os olhos presos a um aparelho de celular. No ouvido um par de fones e na cabeça um grande vazio.
Ela e os demais jovens não responderam porque tornaram-se incapazes disto. Tornaram-se autômatos, guiados por uma porcaria ambulante chamada MÍDIA, com a qual eles imaginam estar conectados com os amigos e pessoas que por eles se interessam, mas na verdade vivem numa solidão perigosa e constante, incapazes de interagir com o mundo ao seu redor. Para eles o mundo restringe-se ao virtual, ao distante e ao inerte. O mundo ao redor inexiste, exceto se significar uma selfie para ser compartilhada...
Esta é a geração que criamos, uma geração de zumbis, de seres despidos de alma. Essa gente está subindo e tomando conta das instituições, do comércio, da indústria, da educação, da saúde. E o que teremos? Absolutamente nada. Teremos um mundo morto e sepultado, gente que clama por um coração, são os "homens de lata" da fábula do Mágico de Oz. Para eles a guerra é um videogame, onde o joistick é o botão da bomba e o "game over" é a destruição total.
Na igreja essa gente despreza o culto. Com um celular à mão eles sentem-se donos do mundo, rebeldes à orientação litúrgica nas celebrações ao Senhor. Eles não cantam os hinos, não lêem em uníssono os textos bíblicos, não saúdam a ninguém que não faça parte do time. São seres que se auto-exaltam, que desprezam os demais. E onde esse mal começou? Em casa!
Naquele dia em que o pai e a mãe ligaram a televisão para que os pequenos não atrapalhassem as tarefas necessárias, o mal chegou. Depois, quando sem tempo e sem dinheiro confiamos os filhos à educação tercerizada, desde a creche quando pequeninos, até a faculdade com internato, entregamos os nossos filhos sem passar pelos valores da família, do contato pessoal com o pai e com a mãe, sem o convívio sadio de gente de carne e osso. Tercerizamos o ensino cristão e nada fizemos para explicar a fé aos pequeninos. Nos dias em que deixamos de corrigi-los, de repreendê-los, de castigá-los pelo mal que fizeram ou pelas tarefas que não apresentaram criamos um mundo anômalo, sem leis, sem hierarquias, sem recompensas e sem alma.
Nas igrejas criamos o culto enlatado, repleto de coisas perfeitas, mas sem a presença de Deus. Temos uma mesa de som complicadíssima, um sistema multimídia que faz inveja aos shows de artistas famosos. Temos luzes e câmeras por todo canto e transmissão ao vivo das atividades. Mas o povo, que se aglomera nas celebrações, desaparece do convívio, do carinho, da solidariedade, do rir com os que riem e do chorar com os que choram. Há alguns dias um pastor perguntou quem era a Dona Amélia e lhe responderam: era a sua ovelha, que faleceu há seis meses atrás... O pastor sequer a conhecia! Fizemos das igrejas casas de zumbis, cheias de pilares e de ministérios de entretenimento, mas sem Marias aos pés de Jesus. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada (Lc 10:41-42).
Que bom que os meus filhos sabem dizer "boa tarde". Espero que quando crescerem não virem zumbis também. Que Deus me livre disto. Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. (Pv 22:6)
Wagner Antonio de Araújo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...