GERAÇÃO
ZUMBI
807
Saí com os
meus filhos para pagar um serviço do mecânico do meu carro. Descemos uns 5
quarteirões a pé. Eu cumprimento as pessoas, conquanto em São Paulo,
especificamente aqui no centro, as pessoas não sejam receptivas às saudações.
Sempre existem as que são. Quando o meu pequenino diz: "BATADI" ou a Rutinha diz
"BOA TARDI" as pessoas ficam encantadas. Elas se espantam ao verem crianças que
cumprimentam, que saúdam. E geralmente saem com a tarde mais feliz e mais
alegre.
Mas nem
todas. Posso dizer que nenhum adolescente ou jovem correspondeu às saudações do
Josué e da Rutinha. "Papai, acho que aquela mulher é surda. Por que ela não
respondeu ao meu boa-tarde?" Os rapazes e as moças andavam ou a subir ou a
descer a rua, enquanto tinham os olhos presos a um aparelho de celular. No
ouvido um par de fones e na cabeça um grande vazio.
Ela e os
demais jovens não responderam porque tornaram-se incapazes disto.
Tornaram-se autômatos, guiados por uma porcaria ambulante chamada MÍDIA, com a
qual eles imaginam estar conectados com os amigos e pessoas que por eles se
interessam, mas na verdade vivem numa solidão perigosa e constante, incapazes de
interagir com o mundo ao seu redor. Para eles o mundo restringe-se ao virtual,
ao distante e ao inerte. O mundo ao redor inexiste, exceto se significar uma
selfie para ser compartilhada...
Esta é a
geração que criamos, uma geração de zumbis, de seres despidos de alma. Essa
gente está subindo e tomando conta das instituições, do comércio, da indústria,
da educação, da saúde. E o que teremos? Absolutamente nada. Teremos um mundo
morto e sepultado, gente que clama por um coração, são os "homens de lata" da
fábula do Mágico de Oz. Para eles a guerra é um videogame, onde o joistick é o
botão da bomba e o "game over" é a destruição total.
Na igreja
essa gente despreza o culto. Com um celular à mão eles sentem-se donos do mundo,
rebeldes à orientação litúrgica nas celebrações ao Senhor. Eles não cantam os
hinos, não lêem em uníssono os textos bíblicos, não saúdam a ninguém que não
faça parte do time. São seres que se auto-exaltam, que desprezam os demais. E
onde esse mal começou? Em casa!
Naquele dia
em que o pai e a mãe ligaram a televisão para que os pequenos não atrapalhassem
as tarefas necessárias, o mal chegou. Depois, quando sem tempo e sem dinheiro
confiamos os filhos à educação tercerizada, desde a creche quando pequeninos,
até a faculdade com internato, entregamos os nossos filhos sem passar pelos
valores da família, do contato pessoal com o pai e com a mãe, sem o convívio
sadio de gente de carne e osso. Tercerizamos o ensino cristão e nada fizemos
para explicar a fé aos pequeninos. Nos dias em que deixamos de corrigi-los, de
repreendê-los, de castigá-los pelo mal que fizeram ou pelas tarefas que não
apresentaram criamos um mundo anômalo, sem leis, sem hierarquias, sem
recompensas e sem alma.
Nas igrejas
criamos o culto enlatado, repleto de coisas perfeitas, mas sem a presença de
Deus. Temos uma mesa de som complicadíssima, um sistema multimídia que faz
inveja aos shows de artistas famosos. Temos luzes e câmeras por todo canto e
transmissão ao vivo das atividades. Mas o povo, que se aglomera nas celebrações,
desaparece do convívio, do carinho, da solidariedade, do rir com os que riem e
do chorar com os que choram. Há alguns dias um pastor perguntou quem era a Dona
Amélia e lhe responderam: era a sua ovelha, que faleceu há seis meses atrás... O
pastor sequer a conhecia! Fizemos das igrejas casas de zumbis, cheias de pilares
e de ministérios de entretenimento, mas sem Marias aos pés de Jesus. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e
afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa
parte, a qual não lhe será tirada (Lc
10:41-42).
Que bom que
os meus filhos sabem dizer "boa tarde". Espero que quando crescerem não virem
zumbis também. Que Deus me livre disto. Educa a criança
no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. (Pv
22:6)
Wagner
Antonio de Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário