sexta-feira, 4 de outubro de 2019

memórias literárias - 808 - CALE A BOCA, PAI...

CALE A BOCA,
PAI...
808

Estava eu com o meu filho Josué Elias a repor os víveres alimentícios no supermercado. Ele adormeceu no carrinho. Muitos clientes passavam e achavam a coisa mais linda. Enquanto eu comprava cereais uma filha passou gritando com o pai: "Cale a boca, pai. Você nem tente levar isto, senão vai ver...!"

Eu olhei. Era uma mulher de uns trinta anos, com um filho de uns dez, a falar com o pai (e avô do menino), talvez com uns setenta. Ele, sem graça, abaixou a cabeça e seguiu com o carrinho de compras. Ela, dona da situação, foi guiando o próprio filho nos outros corredores. Pensei: "Lá vai a fatura que essa mulher irá receber amanhã...". Sim, a gente colhe o que planta!

Já se foi o tempo em que filhos respeitavam os pais e jamais os tratavam como "você". No Brasil esse pronome de tratamento pode significar maior proximidade e intimidade, mas perde no quesito respeito e hierarquia. Se eu ou o meu irmão chamássemos papai ou mamãe de você levávamos um belo tapa, merecidamente. Hoje são raros os filhos que chamam os pais de senhor ou senhora, e raro está ficando o tratamento de papai e mamãe; geralmente chamam os pais pelo nome ou por apelido.

Tempos estranhos esses. Tempos que agridem ao Deus que criou a família. Ele ordenou aos filhos: "Honra a teu pai e a tua mãe" (Êx 20.12). A honra significa respeito, cuidado, tratar com dignidade, com respeito. Diz a Bíblia sobre o tratamento dos mais novos aos mais velhos: Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do ancião; e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR. (Lv 19:32). Cãs são os cabelos brancos; os mais jovens deveriam honrar os mais idosos. No Japão era comum abaixar-se para saudar os mais velhos. Hoje o mundo despreza o idoso.

Noé teve poder amaldiçoante sobre o filho que zombou de sua situação desconfortável pelos efeitos da uva. Ele desnudou-se. O filho, ao invés de ajudar, saiu zombando do pai. Todos sabemos o que ocorreu: E disse: Bendito seja o SENHOR Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. (Gn 9:26). Após a revelação da Lei de Deus isto tornou-se impróprio e proibido para qualquer pessoa. Nós devemos abençoar, jamais amaldiçoar. Mas serve de exemplo para avaliarmos as consequências do desrespeito para com os pais.

Lembro-me com tristeza daquela senhora que surrava o pai na escadaria de sua casa, no bairro onde eu morava. Eu ficava a observar da lavanderia, pois dava para ver a escadaria. As pessoas gritavam com ela. Anos depois ela converteu-se. Sofreu nas mãos dos filhos e morreu esquecida no asilo. Frutos amargos de uma vida sem Deus. Se houve conversão houve perdão. Mas, como para Davi, a espada não saiu do seu encalço.

O Apóstolo Paulo ordena a Timóteo o tipo de tratamento que deveria dar aos idosos da igreja, quando tivesse que repreendê-los: Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos moços como a irmãos; (1Tm 5:1). Os mais jovens devem honrar aqueles que atravessaram a longa jornada da vida e aproveitarem as experiências que obtiveram. Isso a gente aprende em casa; na falta do exemplo, aprendemos na Bíblia. O celular, a mídia, a TV, o cinema e a música são péssimos professores. Pais que amam os seus filhos pequenos os mantém afastados destes demônios.

Eu não creio que a volta de Jesus Cristo vá demorar. Mas se Ele não voltar em breve e eu envelhecer (mais), e tiver o privilégio de ver os meus filhos crescidos, peço a Deus que eles aprendam tudo o que devem saber em termos de temor de Deus e de respeito para com os mais velhos. Jamais quero ter o desprazer de ouvir a minha filha a dizer: "Cale a boca, pai.". Não é isso que ela aprende conosco.


Wagner Antonio de Araújo

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