SENSAÇÃO
DE
MAL
ESTAR
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O Brasil vai tão mal que há
em cada brasileiro um sentimento de mal estar crônico,
generalizado.
Há quase 14 milhões de
brasileiros desempregados e, se contarmos os subempregados, somamos 23 milhões.
Não há perspectiva de melhoria a médio prazo. Empresas buscam jovens com
experiência. Se o país não permite que o adolescente trabalhe, como ter
experiência profissional exigida? Vi num shoping center da cidade uma mulher de
porte elegante, de linguagem culta, aparentemente uma professora, a trabalhar
como faxineira das mesas da praça de alimentação. Sem nenhum demérito à função
de faxina, essa mulher deveria estar numa sala de aulas, aproveitando todo o
preparo que recebeu. Mas não há emprego de professora para ela ou para milhares
de outros.
Não há saúde para o povo
brasileiro. Há doença. Esta progride a passos largos. Os hospitais, que deveriam
cuidar de saúde, são obrigados a cuidar de orçamentos, cortar vagas, retirar
leitos e buscar alguma ordem nas filas quilométricas de atendimento. Que
tristeza olhar os idosos em pé ou sentados há mais de dez horas para retirar uma
senha de atendimento! E, depois de tudo isso, agendarem uma consulta para seis
meses. Alguns já estarão sepultados, se encontrarem vagas nas sepulturas
públicas da cidade! Quando conseguem uma vaga hospitalar, encontram uma
enfermaria fétida, materiais a apodrecer nas lixeiras, falta de limpeza e de
cuidados. Um rato foi encontrado num freezer em que eram guardados os soros para
a cirurgia num destes hospitais!
Política? Não, não há. O
que há é apenas um poder dominante que finge fazer política. Estamos na ditadura
dos que dominam. Às vezes travestem-se de vermelho; outras, de azul. Mas os
financiadores são sempre os mesmos e a corrupção só faz aumentar. Retiraram os
vermelhos na esperança de sanear o poder público; não foi possível. As
empreiteiras e os bancos que financiavam os vermelhos também financiaram os
azuis. A corrupção denunciada a cada hora não nos cora mais, não nos causa mais
nenhuma surpresa, apenas desgosto e dor. Não temos mais nenhuma esperança de
justiça. Os autores estão nas casas luxuosas a fingir que cumprem prisão; os
mandantes estão em Brasília ou no poder dos estados. E o governo sinaliza mais
impostos, mais opressão contra a difícil renda de quem ganha alguma coisa. Somos
punidos pela prosperidade alcançada, e punidos pela miséria obtida. Enquanto
isso a mídia transmite o show de azedume entre ministros, juízes, procuradores,
políticos, advogados e sindicatos. Não se trata da verdade; trata-se de um show
para ir-se levando o tempo.
Há alguns dias o meu irmão
telefonou-me, pedindo que orasse por ele, pois estava a atravessar uma zona de
tiroteio numa cidade brasileira. Fizeram um viaduto imenso, que corta favelas, e
a tal via urbana transformou-se em brincadeira de tiro ao alvo por parte dos
criminosos. Quem entra por ela ora para poder sair vivo, ou, pelo menos, receber
um tiro não fatal. Preguei numa igreja em São Paulo que acabou de acercar o seu
patrimônio com eletricidade; por três vezes foi roubada nos últimos dias. Também
contratou um vigilante noturno. Colocamos grades em nossas casas e mantemos os
criminosos soltos pelas ruas. A polícia prende e a justiça solta. A inversão de
valores é completa nesta nação. Lembro-me do respeito que tínhamos quando a
polícia chegava no bairro. Hoje as pessoas jogam pedras nas viaturas e um
policial é tolhido de exercer a sua função!
A imoralidade tornou-se
regra, e o recato uma exceção. Levei meus filhinhos num parque da cidade. Mas
tive que ir à frente para achar locais por onde conduzí-los, uma vez que havia
duplas homossexuais a praticar explicitamente suas perversões, bem como casais
que transformavam árvores frondosas em suítes de motel. E os guardas nada podem
fazer, pois são poucos e moram próximos destes cidadãos. Eis aí a geração criada
pelos malditos psicólogos da década de setenta: é proibido proibir! O que isso
nos trouxe? Um país babilônico, sodomita e sem esperança. Safadões tornam-se
evangélicos, mas continuam na prática do pecado. A música não inspira mais,
apenas transpira. E o conhecimento? Apenas o que o celular, o google e a mídia
massiva produzem, abandonando o conhecimento profundo das coisas. Enciclopédias
nem existem mais; consultas são feitas pela internet. E viva o empobrecimento
desta pátria!
Para completar esta triste
constatação, igrejas há, e muitas! Mas o seu conteúdo dificilmente satisfaz a
Bíblia na qual alegam crer. Crentes eram definidos, tanto pelas vestes quanto
pelo trato. A fama de um crente girava em torno da honestidade, da seriedade, da
falta de humor (malicioso), da auto-segregação (não participavam dos eventos
sociais mundanos), do cristianismo encarado com fé e com fidelidade. Hoje? Bem,
não é preciso dizer muito. Temos igrejas com MMA (luta violenta), bailes funk
gospel, sex shop gospel, forró gospel e até macumba gospel, cujos rituais
recebem o nome de "ato profético", "unção" ou "mistério". As bugigangas da fé,
jogadas fora pelos idólatras que se converteram a Cristo foram trazidas para as
igrejas com roupagens novas, comportamento similar ao cristianismo oficializado
por Constantino em 323 dC. Em contraponto disto um número cada vez maior de
"desigrejados", criadores de suas próprias doutrinas, intérpretes de sua própria
fé. Vivemos os dias dos juízes no Velho Testamento, onde cada um buscava o que
melhor lhe parecia. Veja o sucesso de um pastor rico, de grande igreja ou que
fala bobagens; compare isso com alguém que busca ser bíblico e não flerta com o
modernismo. Os primeiros têm milhões de seguidores; os segundos, se tiverem
alguns, já estarão bem colocados!
Tudo isso gera um mal
estar. Há uma sensação de febre, de dor no estômago, de enxaqueca constante, de
calor físico e psicológico, de problema não resolvido, de bomba prestes a
explodir, de trabalho não finalizado, de saudades não se sabe de quê. Nós, os
mais maduros, temos saudades de um Brasil muito mais florido e bonito há trinta
anos. Mas os mais jovens, sentem saudade de um tempo que nunca viveram. Não há
rostos sorridentes, olhos brilhantes, corações confiantes ou opinião de vitória
em lugar algum, exceto particularmente no peito de um crente em comunhão, ou,
quando muito, numa pequena cidade do interior que colhe o fruto da agricultura
vencedora ou da praia, que sorve o creme dos royalites do petróleo. No mais,
sentimo-nos impotentes, desesperançosos, deprimidos, como se o sol do meio dia
estivesse escuro demais. Alegrias locais existem; mas como nação, só a
desilusão.
Se isto vai parar? Não sei.
Mesmo neste mundo perdido, prestes a sofrer o grande arrebatamento da igreja do
Senhor, ainda há alguns países em que as coisas caminham bem. Geralmente nestas
nações há emprego para todos, porque se entende que é um direito inalienável do
cidadão trabalhar e ganhar o seu pão. Quando não há vaga o próprio país o
auxilia, crendo que a prosperidade de todos gerará oportunidade para os poucos
desafortunados. Nestes países ninguém é considerado pobre para receber um
tratamento de saúde digno e decente. Assim como todos se encontram um dia num
caixão de cemitério, nestes países optou-se por unir a todos no fornecimento de
um hospital condigno, sem luxo, mas com bom tratamento. Estas nações não lutam
contra um poder dominador repugnante, autoritário ou corrupto. Pelo contrário,
as contas públicas são transparentes, são auditadas pela sociedade civil e os
cidadãos administram o poder que criaram. Políticos são servidores do povo e não
o contrário. Se forem bem, se mantém; se não, são simplesmente retirados. A
impunidade pode existir, mas é tão pequena que os cidadãos confiam na justiça.
Assim, pagam os impostos e vêem o país servido das mais belas vias públicas e
com serviços de qualidade. Por estarem educados estes povos valorizam os
professores, as bibliotecas e a cultura, dando às crianças e aos jovens todo o
recurso possível para o seu progresso. Ali a música sensual tem o seu reduto
próprio, mas no que é público está o patriotismo, a poesia, a beleza, a música
erudita. Não são raras as apresentações públicas de orquestras, corais, óperas e
grupos, sem o medo de um arrastão, de um roubo à mão armada ou de uma exposição
pública da família com coisas inescrupulosas. Infelizmente o terrorismo é um mal
real, mas é encarado com seriedade e combatido com eficácia. Quanto às igrejas,
infelizmente estão morrendo. Não porque o povo seja culto, ganhe bem ou leve as
coisas a sério, mas porque a tendência humana é abandonar o seu criador. O mundo
jaz no maligno. E Jesus disse que, prestes à sua volta, a fé se esfriaria de
quase todos, juntamente com o amor.
Há esperança para o Brasil?
Somente por um milagre. Somente quando os crentes cristãos levarem a sério a
oração particular, de joelhos, ou comunitária, clamorosa, implorando por uma
intervenção divina. Nesta intervenção faz-se necessária a mão de Deus em tudo:
em sepultar o poder público e as instituções corruptas, punir o crime, cuidar de
seus idosos com vigor e valor, remunerar professores e estabelecer escolas
altamente qualificadas, sanear pelas mídias a cultura, dando ao povo o direito
de acessar o que é culto, o que é construtivo, o que é respeitoso, e gerar nas
crianças o respeito, o patriotismo, a seriedade e a esperança de que, para os
seus filhos e netos, o país poderá ser melhor se levado a sério hoje. Será
preciso uma nova geração de gente honesta, culta, vigorosa, talentosa, temente a
Deus e cumpridora de seus compromissos.
Sou um daqueles que clama
pelo Brasil. Afinal, tenho filhos que viverão aqui, caso o Senhor não volte
agora. E tenho irmãos aos quais sirvo no evangelho, a quem quero ver felizes,
prósperos e sem esse mal estar que nos acomete a todos.
Wagner Antonio de
Araújo
08/08/2017
obs: Muitos nem lerão este
texto, alegando que é grande demais, que não têm tempo, que ficará para uma
outra oportunidade (que nunca virá). Caso você tenha lido, gostaria
antecipadamente de agradecer-lhe. São poucos os que se atrevem a escrever textos
longos nos dias de hoje. Eu sou um destes atrevidos.
Obrigado!
Obrigado por este texto pastor. As pessoas não lerão por ser grande. Não lerão por causa das verdades expostas. Assim que começam a ler desistem. Estou cansado de igrejas da moda que não trazem profundidade nos relacionamentos de seus membros. Prefiro as pequenas como a boas novas e a nova aliança. Deus te abençoe pastor. Norberto
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