VIDA QUE
SEGUE
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Uma companhia de seguros
veicula uma campanha pelas redes de televisão. O locutor diz que você deve
deixar um seguro porque, depois que morrer, as pessoas ficarão tristes, mas isso
passará e "é vida que segue". A mensagem é a seguinte: você não irá fazer falta,
seu dinheiro sim. E a tristeza aparente vai passar, porque o que importa na vida
é a minha vida, não a vida de quem se foi.
Nada mais exato para
explicar a filosofia das gerações de hoje. O que importa é a minha vida. E se
você faltar, a minha vida irá seguir. O seu problema não tem valor para mim. Só
eu ou as minhas prioridades importam.
Isto nos leva até a estrada
de Jerusalém a Jericó, onde um moribundo jazia, assolado por salteadores. Roubaram-no e
surraram-no, deixando-o semimorto. Passaram por ele três tipos de indivíduos. Dois deles religiosos e
um outro apenas um rejeitado samaritano. Os dois religiosos eram líderes. Um era levita, trabalhava para
Deus no templo. O outro era sacerdote, uma função mais importante ainda; ele era
um intermediário entre o povo e o Senhor. Ambos passaram pelo moribundo e nem
deram bola. Viram-no esparramado, sangrando e destituído de tudo. Mas seguiram a
filosofia do "vida que segue" e foram em frente.
O mundo de hoje é
assim.
O motorista corta o outro
nas ruas, avenidas, estradas e caminhos. Não sinaliza, não tem respeito, invade
o espaço destinado para o carro do próximo. Alguém buzina, reclama, xinga. Ele
nem liga; ele não tem nenhum respeito pelo outro. O que importa é seguir em
frente. Vida que segue.
O trabalhador entra na
empresa. Aos poucos invade a função alheia, chamando a atenção da chefia. Quando
uma vaga de liderança aparece ele derruba a todos, tomando aquele lugar. Mau
quisto pelos colegas, adulador da chefia, sobe sem pejo e sem respeito para com
ninguém. Perde os poucos companheiros. O que pensa? Vida que
segue.
O amigo é convidado para
jantar. Faz amizade com a esposa do companheiro. Enamora-se dela. Trai a sua
confiança. A esposa abandona o marido e segue com esse intruso. O amigo
protesta, reclama, ameaça, mas quê! Os dois seguem nesta dinâmica. E o amigo
traído? Sinto muito; vida que segue.
O pastor convida um colega
para não deixá-lo sem ministério. Confia-lhe uma classe de escola dominical,
algumas visitas, uma congregação. O novato aproveita a deixa e mina a confiança
da igreja no veterano obreiro. Consegue um motim. O pastor vai embora. O invasor
oferece-se para dirigir o ministério. E consegue. E o pastor que saiu? E a
confiança, a ética, o respeito? O invasor (e, quiçá a igreja) pouco se importa.
É vida que segue.
A fila do caixa está
grande. O cliente da frente derrubou algo. Tomo o seu lugar. Ele xinga. Eu nem
ligo. Vida que segue.
Ah, filosofia do Inferno,
provérbio do Diabo! Vida que segue é o pecado da inveja, do roubo, da cobiça.
Está aliado ao completo desprezo pela vida e felicidade do próximo. Se eu tiver
que lhe derrubar para passar, farei isso. Quanto a você, sinto muito. Vida que
segue.
Na parábola citada por
Jesus, apenas um samaritano não seguiu. Parou para acudir ao viajante assaltado
e massacrado. Condoeu-se de sua dor. Quem sabe chorou por ele. Se não chorou,
agiu como quem sentia a sua dor. Limpou-o, colocou remédio, muntou-lhe em seu
animal, levou-o à hospedaria, mandou que tratassem dele e prontificou-se a
voltar. Ele colocou-se à disposição. Para ele a vida só segue se pudermos
carregar aquele que sofre conosco, amenizando as suas
dores.
Jesus contou a parábola
falando do que Ele faria conosco. Sentiria a nossa dor. Sofreria a pena pelos
nossos pecados. Enxugaria as nossas lágrimas. As nossas dores levaria sobre si.
E seria o nosso eterno sumo-sacerdote, vivendo para interceder por nós. Oh,
bendito seja o tremendo amor de Cristo! Bendito seja esse exemplo completo e
soberano, que nos mostra alguém capaz de só seguir em frente se nos tiver ao
lado!
Quem o segue deve
lembrar-se: Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os
pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. (Jo
13:14)
Vida que segue? Não. Vida
que serve.
O resto é morte. O resto
não segue.
Wagner Antonio de
Araújo
14/08/2017
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